No século XIX até o início do séc XX, passar horas num cômodo apreciando música não era hábito exótico ou demasiado requintado, contudo, afirmar este ser um hábito mundano, soa como um saudosismo carregado de ingênuidade, visto que atribui normatividade reducionista à tarefa engenhosa, e fatalmente seleta, que é a apreciação musical. Outrora passava-se mais tempo apreciando obras, mas não ao factóide mais passível de assimilação - a permear o símbolo do que é clássico no imaginário-coletivo: de quê o antigo é melhor que o moderno. Tal defesa de que as composições seriam mais sofisticados em outros tempos- como uma alusão à uma ambiência mais erudita - são desprovídas de lógica; suas premissas não justificam a magnitude da questão pós-moderna, suas faculdades partem da superfície do que é a gestalt na psiquê, e reduz um engenhoso contexto histórico-material através de meia-dúzia de palavras. É um fetiche reducionista, relflexo do próprio vexatório dinâmismo vigente, digo, da necessidade efêmera e descartável a permear & substanciar intrinsecamente - de forma totalitária - o quotidiano de quem está no regime imperialista. Dado o paradigma, é válido salientar que fatalmente tal exacerbo dionisíaco interagir-se-á diretamente com os pré-requisitos do que a sociedade adotará - símbolos & totem - para atribuir o cargo de detentor-dos-conhecimentos aos seus próprios indívduos.
A indústria cultural usufruindo da cibernética como ferramenta-mediadora, irá corroborar no imaginário alheio a precocidade conceitual e taxativa. Nas organizações dissossiadas do imperialismo, como em tribos indígênas e comunas anarquistas, há também a figura-pública que recebe prestígio dos demais devido aos seus atributos intelectuais, o pajé o é entre os índios; porquanto, a posteriori o professor é desvirtuado do âmago de sua genuína-referência nas relações humanas - das poucas que o ser estabelece de forma pluricultural - pois ele é coagido por um restritivo aparato-burocrático - de caráter engessador - a esmiuçar sua didática a fim de que se excite a quantidade da produção-mecanizada nas instiuições educacionais, submetendo, assim, o trabalho do docente a formação de mão-de-obra direcionada ao suprimento da ecônomica estatal, sobretudo no que tange a produção interna.
Análoga e paradoxalmente ocorre semelhante coesão no prisma das artes; alguns valores conceituais que agem diretamente no moral que se desencadeou no pós Segunda Guerra Imperialista estão etimologicamente presentes na expressão-humana que mais se oferece - digo, das artes - mas que o estudo direcionado do quê é essa expressão na psiquê, e de como ela acontece, mesmo que haja estética em Lascaux e que os pré-socráticos façam alusão ao tema do belo - é algo recente, à guisa de estudo multi-disciplinar; pois nota-se históricamente que o tema da estética - entre os estudiosos - corroborou-se de forma paulatina, acompanhando os limites tecnológicos de suas épocas, e ratifico: o estudo pormenorizado das artes e de sua misé-en-scene, aprofundou-se com a própria necessidade tórrida do capitalismo-primitivo, repercutindo, assim, na especifição do conhecimento; essa tendência permeará no ambiente acadêmico de modo geral, sendo oriunda do meio do século XVIII.*1
A acadêmia será perpetuadora do clássico conceitual, pois, entrementes em que ela se especifica para que se distancie do que ela chama de senso-comum, a mesma também dita ao próprio senso-comum o que pensar. Da dicotomia academicista.
O conceito do clássico como sinônimo de equílibrio, de métrica e proporção, é um resgate às virtudes gregas que veneravam a simetria, como na anatomia do homem, ou o equílibrio na arquitetura cívil, e também na temperança dotada na jurisprudência...
A renascença ressalvou tais valores novamente, contudo, ocorre que tampouco a produção grega, bem como a renascentista, não dotavam em seu contexto-social do prestígio que recebem contemporâneamente, digo, a Monalisa não era a intocável Monalisa do Louvre, de que Bach fôra enterrado numa cova de indigente, e Galileu tivera complicadíssimos empecilhos para comprovar a matemática copérnica, Giordano Bruno morre queimado em praça pública, e que mesmo venerado, Michelangelo fosse chamado de louco por muitos. Logo, o clássico não pode ser óbvio ao contexto em que é produzido, pois fundamenta-se no que é fundamentalmente idiossincrático.
Ocorre que o imperialismo do séc. XXI goza das inúmeras reformas estéticas já debatidas, somando isto ao extâse indústrial, dá-se ensejo à incompatiblidade entre consumo e produção, acarretando ao desequílibro da percepção individual no que tange a própria arte-moderna; digo, de que não apreciamos quase nada do que está sendo feito atualmente.
Porquanto, a pós-modernidade não se completa como conceito, pois não há um perímetro que diga onde acaba a própria modernidade, logo, ao sistema imperialistas ela não existe como história, contudo, no século XXI aprecia-se música em dois minutos, então, não obstante a sociedade pós-moderna como macro-estrutura ainda inexistir, que existe o pós-modernismo - como conceito -, existe.

*O refinamento do açúcar é o exemplo corroborador do que foi o positivismo no moral ocidentalista; do acúcar mascavo - de cor amarronzada - tira-se o que se denomina: impurezas, para deste modo, restar somente "açúcar". A química é a ciência a corroborar a ramificação do conhecimento, na química separa-se tudo para que se ache o elixir, aliás, a alquimia - sua progenitora - causava menos mal para com a sociedade...
As demais ciência projetaram seus métodos infra-cartesianos sob o que já fôra postulado pela química; o direito-cívil ramifica-se demasiado, a psicologia, biologia, medicina, artes, engenharia, a política, a gramática - ad hoc.
O que ocorre quando se descarta muito para supostamente encontrar o que é excelso? Cria-se, primeiro conceitualmente, muito lixo - para depois o produzir sem remorso; a isto chamamos coesão; esse lixo resta ao lumpem, o lumpem é, como Marx postula, o miserável. E termino com Marcuse: "Quem substituiu o proletário?"

Bibliografia:
Riddley -A Filosofia da Música - p. 9-31
Winckelmann - Reflexões sobre a imitação das Obras Gregas - p. 78-83.
Baudelaire - O pintor da vida moderna - pág 120 - 129
Habermas - O Discurso Filosófico da Modernidade - cap. 1.
Vygotsky - Psicologia da Arte, p. 7-80.
Adorno - Indústria Cultural.
Maknho, Nestor - Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários (Mett, Arshinov, Valevski, Linski).