São muitos os desafios que se apresentam para o profissional da geografia na contemporaneidade diante do atual processo de globalização, da evolução tecnológica e das questões ambientais, tornam cada vez mais importante a atuação cotidiana do Geógrafo, quer seja na área de pesquisa quer seja no campo educacional (que por sua vez não é indissociável da pesquisa). A interdisciplinaridade da Ciência Geográfica permite formar competências e habilidades que possibilitam o desenvolvimento da capacidade de avaliar e estudar a interdependência e as inter-relações entre natureza e sociedade, dentro do contexto histórico, econômico, político e ambiental. Sobre essas mudanças ocorridas, Cavalcanti (2002, p. 102) coloca que:

“As atividades profissionais têm sido, assim, ampliadas, e se tornado mais complexas, para atender às necessidades da sociedade atual. Esse contexto incide sobre a formação dos geógrafos, que têm sido chamados para desempenhar tarefas que vão além das mais tradicionais, como o planejamento, o mapeamento de recursos naturais, o zoneamento ecológico, o ensino.”

Diante das mudanças no mundo atual, o geógrafo precisa estar preparado para enfrentar esses novos desafios na atuação profissional. Considerando que a formação inicial se dá nas Instituições de Ensino Superior, é preciso que as mesmas se adequem a essas novas exigências, não só as de mercado como também as sociais. De acordo com Callai (1999, p.18):

“(...) um curso de Geografia deve dar conta de abrir os caminhos, mas também de estruturar e fundamentar bem esses caminhos para que o geógrafo tenha a base se sua formação muito sólida, capacidade de reconhecer as possibilidades de especialização em que poderá atuar e , mais do que isso, tenha condições operacionais de desenvolvê-la.”

A formação do professor que ensinará Geografia deve ser orientada para a compreensão e interpretação do espaço geográfico nas escalas local-global-local, exigindo “[...] domínio de seus conceitos e categorias [...]” (STRAFORINI, 2004, p.175).

Sobre as habilidades do profissional em Geografia, Callai (1999) coloca que “o geógrafo como profissional tem que dar conta de interpretar a realidade, fazendo a análise do espaço enquanto um resultado do trabalho do homem”. 

O profissional em Geografia necessita de uma formação específica e continuada devido seu objeto de estudo, o espaço geográfico, ser algo dinâmico passível de constantes análises. Esse profissional deve ter conhecimentos significativos que o orientem a fazer estas análises.

Para Callai (1999), os cursos de formação do geógrafo devem pensar nos aspectos pedagógicos que irão definir o perfil e a identidade desse profissional. Para isso é necessário que se tenha claro o que se espera do geógrafo do mundo atual para o desenvolvimento de seu trabalho como técnico, pesquisador e professor. É preciso, pois, estruturar e fundamentar teórico metodologicamente esses caminhos de forma sólida para que a função técnica cumpra também sua função social no sentido de superar a dicotomização entre o bacharel e o licenciado, ambos devem ter a mesma importância dentro de sua formação e da estruturação do curso de formação.

O curso de Geografia do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da UFG oferece a formação inicial em duas modalidades distintas: licenciatura e bacharelado. O bacharelado possui habilitaçõesem Análise Ambientaleem Planejamento Urbanoe Regional.

- Análise Ambiental (Bacharelado): habilitado a efetuar estudos e atividades de pesquisa ambiental, como o diagnóstico geoambiental, realização de estudos de impactos antrópicos nas paisagens, avaliações e monitorias ambientais, com ênfase nos mapeamentos temáticos.

- Planejamento Urbano e Regional (Bacharelado): poderá atuar nas atividades de pensar, analisar e organizar os espaços urbanos, e estão aptos a participarem em trabalhos de reordenamento territorial, como os zoneamentos econômicos e geoecológicos, abordando os aspectos socioculturais, políticos e ambientais.

- Licenciatura: habilitados a atuar nas atividades de ensino, nos níveis fundamental e médio, ministrando a disciplina Geografia, ou no ensino universitário, para trabalhar com disciplinas dos cursos superiores de Geografia ou em áreas afins.

De acordo com Arrais (2005), há um grande leque de lugares de atuação do profissional de geografia: escolas, órgãos de planejamento ambiental e regional, empresas de consultoria, Universidades, centros de pesquisas, ONG’s, etc. No entanto este autor ressalta que o principal lugar de atuação do geógrafo continua sendo as escolas e Universidades públicas; o campo de trabalho do bacharel também tem aumentado, mas as linhas de atuação em que o mesmo pode atuar, não são exclusivas do geógrafo, ao contrário ele disputa espaço com profissionais de diversas áreas.

O profissional licenciado em Geografia pode atuar na docência nos ensinos fundamental e médio e no ensino superior em disciplinas do próprio curso de Geografia ou em outros cursos de áreas afins. Mediante essa atuação do licenciado em Geografia, se faz presente a necessidade de se discutir a formação desse profissional que tem um importante papel na formação de cidadãos conscientes e capazes de atuar na sociedade (Santos, 1994). Mas é importante ressaltar que “formar cidadãos requer como condição que seja exercida a própria cidadania” (Callai, 1999, p.31).

Há um consenso, hoje, sobre a necessidade de modificações na educação brasileira em meio às necessidades do mundo atual. É pensando nisso que tem sido travado um intenso debate sobre políticas públicas para a educação e para a formação de professores.

Cavalcanti (2002) destaca que estas discussões têm sido feitas muito no campo da pedagogia e do magistério e pouco nas áreas de conhecimento específico como no caso da Geografia. Ela afirma ainda, que isso tem ocorrido inclusive nas próprias instituições de ensino superior responsáveis pela formação desses licenciados, e que tanto professores quanto alunos têm uma perspectiva de formação de um profissional pesquisador, planejador sem uma identidade de professor.

Isso aparece na prática educativa dos professores dos cursos de formação que desarticulam (ou simplesmente não articulam) os conhecimentos específicos de sua área de seus tratamentos pedagógicos. O aluno desse curso adquire um conhecimento técnico deslocado de sua abordagem pedagógica para o momento de sua atuação profissional.

Assim, a formação do futuro professor deve ser desenvolvida em uma perspectiva reflexiva, sinalizando uma nova postura docente: o aprender a ensinar, a partir da articulação dos saberes escolares, desenvolvendo competências e habilidades do modo de pensar geográfico, levando à construção da aprendizagem por parte do aluno, que deverá fazer uso desse conhecimento no dia-a-dia.

Cabe às instituições de formação docente definir objetivos claros que possam ser cumpridos, proporcionando uma melhoria na qualidade do ensino no geral, essencial para a construção de uma cidadania crítica na sociedade brasileira.

Devem-se levar em consideração também, os desafios da profissão docente. Um dos maiores desafios para a atuação do professor no Brasil, está na questão salarial que está intimamente ligada ao desprestigio da profissão. Segundo estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Brasil possui um dos menores salários para professores dentre 38 países pesquisados. A média salarial de um professor de ensino médio no início de carreira no Brasil é de R$994,80 por mês, ficando atrás de países como Argentina, Chile e Malásia respectivamente.

A menor renda está na região nordeste com média de R$822,92 por mês. A maior renda está na região norte com média de aproximadamente R$1.213,20 por mês. A região centro-oeste ocupa a terceira maior renda com média de R$1.034,20 por mês.

Ao analisar a pesquisa que levantou, ainda, dados sobre a demanda de profissionais em educação no ensino médio e na segunda fase do ensino fundamental (até então, 5ª a 8ª séries), percebe-se que a questão salarial está intimamente ligada a demanda no caso da região norte. No nordeste a demanda é alta, mas observa-se que devido ao pouco investimento na área da educação, há pouco interesse por parte dos estudantes de ensino médio nos cursos de licenciatura.

A demanda varia de região para região, mas independente disso o interesse pelos cursos de licenciatura é cada vez menor. Dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) apontam que isso ocorre devido aos baixos salários, a violência nas escolas e a superlotação das salas de aula. Condições estas que contribuem para o desprestigio da docência enquanto profissão. Esta mesma pesquisa revelou que mesmo dentre os ingressos nos cursos de licenciatura é grande o número de evasão, principalmente em áreas como Física, Química, Matemática e Biologia.

De acordo com a CNTE o percentual de evasão dos cursos de licenciatura em Geografia no Brasil em 1997 é de 47%. Um estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) revelou que de1990 a2005 os cursos de licenciatura em Geografia no Brasil formaram 88.549 estudantes. Em meio a estudos de demanda e número de concluintes em cursos de licenciatura de Geografia chegou à conclusão que apenas 26% dos docentes de Geografia têm formação específica nesta área, porém alguns destes são habilitados por possuírem algum curso de qualificação fora de sua formação inicial.

Observa-se que o número de jovens interessados na carreira do magistério é cada vez menor devido os baixos salários e as condições desmotivadoras no ensino, que estão diretamente relacionadas ao desprestígio social que vem sido atribuído a profissão nos últimos tempos. Mas especialistas alertam, se isso continuar a ocorrer em breve o Brasil sofrerá uma crise na educação devido à falta de profissionais na área. 

Esse alerta serve para a área da Geografia que dentre as outras áreas de conhecimento tem sofrido um grande desmerecimento devido o inevitável equívoco que faz com que pessoas que não conseguiram perceber sua importância a associem diretamente a uma matéria chata, decorativa e descritiva.

Esse é um outro desafio do licenciado em Geografia, demonstrar ou até mesmo ele perceber o papel social e político que o conhecimento geográfico tem em meio à sociedade e na formação da cidadania. Haja vista que a presença da Geografia na escola não é neutra, tão pouco sem motivo aparente, pelo contrário, sua presença obedece a propósitos políticos e pedagógicos bem definidos e conscientes (Cavalcanti, 2002).

O licenciado em Geografia precisa ter clareza disso, para que possa atuar como um profissional crítico-reflexivo consciente de seu papel como cidadão e como formador dos mesmos.

  

REFERÊNCIAS

ARRAIS, T. A. A política de formação do profissional de geografia e os de safios de atuação na sociedade contemporânea. In: Revista Possibilidades- NPM. Ano 2, Goiânia, Número 5, jul./Set., 2005.

CALLAI, Helena Copetti. A formação do profissional da geografia. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1999. 80p.

SANTOS, Milton. Técnica, espaço e globalização. São Paulo: Hucitec, 1994.

CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.127p.

STRAFORINI, R. Ensinar Geografia: o desafio da totalidade-mundo nas séries iniciais. São Paulo: Annablume, 2004. 190p.