Da escola carente à escola possível

Miguel Arroio
Por Eurídice Ribeiro Bertolino

A escola possível é possível?
As pesquisas em educação apontam para o fracasso de grande parte dos alunos das camadas mais pobres da população e para a necessidade de construirmos uma escola que atenda a essas crianças.
O autor questiona, primeiramente, se é possível tornar realidade a escolarização fundamental para os filhos do povo deste país, neste país.
Questões centrais:
Qual é a escola necessária na atual situação: Estado falido; Profissionais desanimados; Fracassos frequêntes;
A negação da educação escolar para as classes subalternas interessa a quem?Nova crença: Educação e democracia.
No início dos anos 80, surge uma proposta mais objetiva de democratização da escola pública a "ESCOLA PARA TODOS"!
A proposta era oferecer um cardápio cultural igual para os alunos de diferentes níveis econômicos, mas surgiram outras preocupações:
- Como atender aos interesses das classes populares?
- Que práticas priorizar?
As camadas subalternas lutaram para conquistar o direito de entrar na escola, conseguiram e se depararam com a cruel realidade: para os filhos dos pobres, escolas pobres, pois o Estado constituiu uma educação que atende aos interesses do capitalismo, formando trabalhadores submissos e mantendo-os em sua condição de classe.
A pedagogia da pobreza.
Nesse tópico o autor traz a seguinte reflexão:
"Será mera coincidência ou intenção do sistema o fato de as taxas de evasão e reprovação escolar serem altíssimas nas classes populares, nas escolas rurais e nas periferias urbanas?".
O pensamento que orientou muitas ações políticas e sociais em nosso país foi, justamente, o de oferecer nas áreas mais pobres e atrasadas uma escola que levasse em conta as peculiaridades e carências da clientela, que a ela adaptasse suas metodologias, conteúdos e projetos pedagógicos.
O enfoque seria direcionado para a concepção de aluno, nesse sentido Miguel Arroio cita a autora Leia Paixão, que desenvolveu um projeto pedagógico em Minas Gerais, com o objetivo de atender às camadas populares das escolas rurais. Segundo sua análise, a concepção de aluno carente é de uma criança atrasada, doente, lenta para a aprendizagem, fraca, sem bagagem intelectual e sem herança cultural.
Essa concepção de criança vai ser determinante para a construção da proposta pedagógica. Segundo Leia Paixão, para o aluno pobre será construída uma pedagogia igualmente pobre: com currículos mínimos, classes de aceleração, salas especiais e métodos adaptados.
Essa é uma opção social e política perversa, pois a preocupação do sistema é formar pedreiros e serventes, logo, antes tínhamos pedreiros e serventes sem escolaridade, agora podemos ter pedreiros e serventes com o ensino fundamental completo.
Isso se deve a presença de uma visão elitista que define a classe trabalhadora e sua condição como inferiores e dignos de uma escola de segunda categoria.
Crítica à formação docente.
Segundo Arroio, todo o processo de exclusão social e negação de uma escola de qualidade para as camadas mais pobres da população, constituído criteriosamente pelo poder público, estáalicerçado sobre uma formação de professores arcaica, baseada em currículos fracos, acríticos, falta de solidez nos estudos teóricos, presa ao psicologismo e ao culturalismo.
Longe de atender as demandas sociais da educação.
Qual a saída? Para Miguel Arroio, a mudança na educação que atenda aos interesses das classes desfavorecidas deve levar em conta suas potencialidades e não ter foco em suas deficiências.
A mudança só será possível quando os educadores partilharem a mesma concepção de ensino e aprendizagem, tendo uma compreensão que considere que todos os alunos têm potencial para aprender algo e, portanto, cabe (ao poder público e não unicamente ao profissional da educação) viabilizar um ensino capaz de desenvolver ao máximo as competências de cada aluno, considerando que educar não é função única da escola, deve ser compromisso de toda a sociedade.
Precisamos considerar que a maior parcela das populações rurais e faveladas, das classes trabalhadoras que vivem nas periferias das grandes cidades em condições humilhantes, jamais dará à escolarização o devido reconhecimento, se não vivenciarem um resultado prático.
Pessoas não escolarizadas que consideram viver bem sem a escolarização, tendem a desprezar o conhecimento formal, tão aclamado pelos professores e pela sociedade que detém a cultura desse país.É importante ressaltar que a maioria dos professores também recebeu uma formação inadequada e não tem o acesso que deviria ter aos bens culturais, porém poucos têm essa percepção e, conseqüentemente, poder público que paga seu ínfimo salário o induz a compactuar do processo excludente que ocorre nas escolas brasileiras.
Uma educação perversa, que é capaz de formar cidadãos e subcidadãos, pessoas destinadas a desfrutar de altos padrões de vida e pessoas destinadas a trabalhar duramente para garantir a felicidade de seus dominadores.
Hoje, infelizmente, nós professores estamos realizando muito bem a nossa parte nesse jogo, temos feito com excelência nosso papel para a manutenção da estrutura social vigente, que nos esmaga destacando insistentemente o nosso fracasso e incompetência, a fim de promover a desmoralização gradativa da função primaz da educação - A TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO SOCIALMENTE ACUMULADO.
Dessa forma, mantemos o poder na mão dos mesmos dominadores há centenas de anos, pois CONHECIMENDO É PODER e a quem interessa proporcionar poder ao povo pobre?