Entre os elementos que contribuíram para a humanização e desenvolvimento do ser humano, podemos dizer que um de fundamental importância foi o processo de transmissão dos conhecimentos acumulados. O homem não se humanizou somente porque produziu conhecimentos, mas também porque soube transmiti-los. Desse ponto de vista tão importante quanto produzir conhecimentos é seu processo de transmissão. Talvez por esse motivo, ao longo da história humana, o processo educacional tenha recebido tanta atenção não só por parte de quem está envolvido no processo de ensino e aprendizagem, mas também por quem estuda esse processo. Assim a história da educação é um capítulo importante não só para se saber o que já foi feito, mas também para aprender, comparativamente, como agir mais eficazmente no presente.

Nos primeiros milênios da história humana o processo de transmissão de conhecimentos baseava-se na convivência. As crianças conviviam com os adultos e aprendiam por imitação. Podemos dizer que nesse primeiro momento não havia muita preocupação com as técnicas de ensinar, mas com a proximidade do grupo. Nesse contexto, se alguma técnica de ensino havia, ela consistia em motivar as crianças e jovens a imitar os mais velhos. Do ponto de vista antropológico podemos dizer que os ritos de passagem são um capitulo à parte visto que não se caracterizam como processo formal de educação, mas como mecanismo cultural, específico de cada agrupamento humano.

Da mesma forma que o ensino formal e a instituição escolar surgem muitos milênios depois, a preocupação mais específica com o processo de ensino aparece somente mais tarde. Isso não significa que não tenha havido processos formais de ensino, antes da escola ou antes da reflexão didática. Esse processo pode ser percebido entre os monges hindus ou budistas que se faziam seguir por um séquito de discípulos; entre os primeiros pensadores e seus discípulos; os sofistas, e Sócrates, são exemplos típicos de processo educacional – ou de ensino – antes da institucionalização da escola como a entendemos hoje e da reflexão sobre os métodos de ensino. E, dentro desse ponto de vista, Platão e Aristóteles já se enquadram dentro de período da institucionalização da escola – embora a Academia e o Liceu não se assemlassem com o modelo de escola contemporâneo. Esses pensadores criaram suas escolas formais e mantiveram um método de ensino: Platão seguindo a tradição socrática priorizava o diálogo; Aristóteles se preocupava com a pesquisa e seu método consistia em falar aos discípulos ouvintes em caminhadas pelos corredores e adjacências do Liceu – dá a denominação de escola peripatética.

Podemos dizer que o método platônico renasceu com a dialética das tendências pedagógicas de caráter progressista, como sugeriu inicialmente D. Saviani e posteriormente J. Carlos Libâneo ao propor duas grandes linhas de pensamento pedagógico: a tendência liberal e a progressista. Podemos dizer que o chamado "Método Paulo Freire" é uma espécie de reedição dos diálogos socráticos, como no-los apresenta Platão em a República, por exemplo.

Por sua vez a metodologia aristotélica, que se universalizou com mais amplidão ao longo da Idade Média européia, de onde chegou ao Brasil, deu origem à educação tradicional ou aquilo que o professor Libâneo denominou de tendência liberal. As disputas que caracterizaram a metodologia escolástica se fundamentaram não no diálogo socrático, mas na afirmação categórica do mestre, como havia ensinado Aristóteles. Podemos dizer, portanto, que o método tradicional de ensino ou suas manifestações naquelas tendências que se Libâneo e também Luckesi chamam de tendência liberal, não nascem com o capitalismo ou para lhe dar sustentação, mas nascem da metodologia aristotélica, da escolástica e, posteriormente, sim, se sedimentou como metodologia educacional que pode ser usado como instrumento de manutenção da sociedade.

Isso não invalida a afirmação de que foi Comênius, com sua Didática Magna, que lançou o marco mais significativo para a sistematização da didática. Também não se pode esquecer que Comênius produziu sua obra no século XVII. Estamos, portanto, dentro de um contexto pós-medieval e dentro de um período humanista. Seu ponto de partida é todo o movimento renascentista e de modo específico a reforma religiosa.

O movimento renascentista lhe permitiu imprimir um caráter humanista em sua obra e, dentro desse movimento a reforma religiosa teve fundamental importância sobre sua reflexão, uma vez que não a dissociou das bases espiritualistas em que estava assentada a sociedade na qual vivia. Daí e de sua formação teológica, além de filosófica, é que desenvolve uma perspectiva espiritualista em seu método. Por isso podemos dizer que embora tendo dado um passo à frente do seu tempo, não quebrou a sintonia com seus contemporâneos. E, podemos dizer, essa é uma característica importante não só na didática proposta por Comenius, mas também de qualquer método de ensino que se preocupe, verdadeiramente com o aprendizado. Dentro desas perspectiva podemos dizer que a teorização piagetiana e construtivista podem ser mencionadas como exemplos de metodologias que privilegiam o lugar e as condições do educando.

Podemos dizer, também, que um dos grandes méritos de Comenius foi a sua preocupação em desenvolver o que hoje chamamos de método de ensino. E como cada método está associado à ideologia que lhe dá sustentação podemos dizer que as diferentes tendências pedagógicas se fundamentam na concepção de homem e de sociedade que se pretende imprimir; e essa concepção norteia a prática pedagógica em função da a formação do homem. Assim é que se desenvolvem os diferentes métodos de ensino. Não porque se pensa em melhorar a prática pedagógica, mas porque a partir da prática pedagógica, numa perspectiva althusseriana, pode-se formar o homem e a sociedade dentro de modelos ideológicos específicos.

Podemos dizer que é desse ponto de vista que os professores Saviani e Libaneo propõem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Com base nisso, também, é que se entende a distinção das Tendências Pedagógicas em Liberal e Progressista. Cada uma delas com as suas ramificações e com a especificação do papel da escola, os conteúdos e os métodos de ação específicos.

Durante muito tempo a prática pedagógica não se alterou, mantendo-se afinada com aquilo que se popularizou como escola tradicional, dentro da tendência "liberal tradicional". Essa tendência recebeu inovações e se redefiniu como tendência renovada progressivista, e com o aparecimento do movimento escolanovista, foi denominada de tendência renovada não-diretiva. A mesma perspectiva ou tendência liberal, a partir dos anos da década de 1960 recebeu o incremento tecnicista, oriundo, em parte da filosofia positivista, tão a gosto do governo militar.

Da mesma forma que se desenvolveram tendências alinhadas ao capital, por isso tendência liberal, o desenvolvimento e popularização da análise marxista da sociedade possibilitou o desenvolvimento da tendência progressista. Podemos dizer que, além dessa base materialista (histórico e dialético) a tendência progressista se desenvolve a partir de movimentos populares e se ramifica em três correntes: a tendência progressista libertadora, a libertária e a crítico-social dos conteúdos.

Hoje não se pode dizer que nenhuma dessas tendências e correntes sobreviva sozinha ou isoladamente na prática pedagógica. O que podemos observar na prática cotidiana das escolase dos professores é a mistura de tendências e posturas. Elas não se apresentam puras nas práticas pedagógicas, mas formando uma mistura formando o que é nosso sistema educacional. Misturando-se não de forma dialética, pois assim teríamos um avança qualitativo, mas de forma eclética de modo que cada um recolhe aquilo que lhe aprece conveniente.

ARAÚJO Denise Silva, A construção do consenso nos anos 1990 e os organismos internacionais Disponível em: http://professor.ucg.br/siteDocente/home/disciplina.asp?key=3172&id=479

LIBÂNEO, José Carlos.  Democratização da Escola Pública.  São Paulo : Loyola, 1990.

LUCKESI, Copriano C. Filosofia da Educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2001

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 31 ed. Campinas: Autores Associados, 1997.

SILVA Delcio Barros daAs Principais Tendências Pedagógicas na Prática Escolar Brasileira e Seus Pressupostos de Aprendizagem disponível em: <http://www.ufsm.br/lec/01_00/DelcioL&C3.htm>

Prof. Ms Neri P. Carneiro

Filósofo, Teólogo, Historiador.

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