O que caracteriza a personalidade de uma pessoa? Será a genética, o meio ambiente, a personalidade inerente à própria pessoa desde os primeiros suspiros ao sair do ventre materno?

Há vários estudos voltados ao entendimento da complexa mente humana. Por séculos cientistas tentaram responder, entre mestres e discípulos, nem sempre se deu o entendimento entre eles mesmo, causando até rupturas.

Em síntese, o meio influencia, assim como a genética, na formação emocional e psíquica do novo ser humano. Os primeiros anos de vida de uma criança são, em sua totalidade, se forma através dos valores dos pais. Esses ditam regras de comportamento, mesmo que estejam inseridos numa mesma cultura, ainda assim, podem transmitir conceitos de comportamento, muito diferente dos quais há na cultura que residem. Assim, a criança se desenvolve com os conceitos dos pais, e não, totalmente, da cultura local.

Nos primeiros anos de convívio junto à sociedade, no caso de escola, a criança se defronta com um universo bem mais diversificado no qual está acostumado - o seu lar familiar. Há certo desconforto emocional da criança por ter que se interagir com as novas personalidades que se apresentam ao seu redor. Conceitos aprendidos com os próprios pais passam a ser questionados, interiormente, quando confrontados com demais conceitos exprimíveis por outros seres que não fazem parte do âmbito familiar consanguíneo.

Nos tempos atuais, as crianças têm mais condições de obter e participar de várias informações e conceitos. Aos pais, a dificuldade de planejarem, eficazmente, um plano de ensino, seja moral, religioso, sexual, econômico, aos próprios filhos. Há 60, 70 anos, no Brasil, por exemplo, os pais não tinham maiores dispêndios de energias para educarem seus filhos, seja pela estabilidade no emprego, no caso dos homens, pela condição da mulher estar apenas trabalhando no próprio lar, pelas políticas públicas à segurança e censura.

Cada sociedade humana teve profundas mudanças provocadas por políticas internas, por acontecimentos mundiais, por conceitos e doutrinas científicas, pelos avanços tecnológicos, o que levou a novos comportamentos, novas leis, insubsistências de leis não recepcionadas.

Pois bem, a zona de conforto dos pais foi rompida. Choques entre gerações ficaram mais acerbadas pelas constantes mudanças frenéticas. Os filhos, antes impedidos de falarem o que pensavam, agora falam e questionam os pais. Num mundo globalizado, onde as notícias são produzidas e divulgadas quase na velocidade do som, e pelo tempo escasso dos pais em se manterem informados sobre tudo - por necessidade de proverem as próprias necessidades básicas e dos filhos -, os filhos, em alguns momentos, dizem que os próprios pais estão desatualizados quanto aos acontecimentos, de forma que as opiniões dos pais estão ultrapassadas, e podem ser perigosas.

 A geração atual, sem qualquer questionamento, tem mais informações que as gerações de 60 anos atrás. Mas tais informações são rápidas, resumidas, de forma que não transmitem valores, questionamentos sobre condutas e responsabilidades sociais. O sensacionalismo midiático, na mente de um ser humano em desenvolvimento, apenas causam impressões, mas que impregnam as mentes dos jovens, os deixando com certa convicção que a momentânea informação se configure como uma informação completa em sua essência, ou seja, o pouco se transforma em explicações sociológicas aos acontecimentos.

E os pais, como ficam? Acuados, em muitos momentos. O diálogo com os filhos fica emperrado, pois há dissabores momentâneos entre os pais e os filhos. Esses dissabores estão na incompreensão e na intolerância de cada parte, sejam filhos ou pais. De um lado, os pais, acostumados com o modo de vida passada, mais pacata, de outro, os filhos, num mundo digitalmente dinâmico com conteúdos diversos, mas esparsos. Nas opiniões de cada qual, a necessidade de conceituar o que seja certo ou errado, eficaz ou não. Como pais e filhos são humanos, e cada um com defeitos, independentemente  de suas idades, em muitos casos, surge o narcisismo, e a sombra do complexo de inferioridade.

Como educar em pleno mundo digital?

Há comportamentos que jamais serão mudados, em suas essências, pois é importante para a existência harmoniosa da espécie humana, a civilidade. Não é por que há discordâncias de opiniões que há de ter aflitivo condicionamento de brigas, de intolerâncias, de imposições das verdades. Os pais têm seus conceitos, que já foram discordados pelos seus pais, agora, com seus filhos, o tentar compreender que, para os jovens, tudo é novo e deve ser aproveitado, que o discernir é mais para os "idosos" - nas concepções, principalmente, adolescentes.

Conversas tranquilas, sem imposições, mas uma reunião prazerosa, não causa um mal estar tanto nos pais quanto aos filhos. Eis a palavra amizade que deve ter nas relações familiares. As figuras de herói e heroína são perfeitas quando os filhos são crianças, mas não para os adolescentes. Amizade e respeito são o que os adolescentes procuram em seus pais, não juízes criminalistas a condenarem e aplicarem penas. Isso não quer dizer que os pais devem relevar todas as condutas dos filhos, mas quando estes cometem ações que prejudiquem outros seres humanos, os pais devem interceder mostrando as consequências. Como? Para toda ação há uma reação, e a vida mostra isso. O diálogo, escasso nos tempos atuais, é muito importante diante das vastas informações, que em muito são informações não voltadas ao bem universal.

Não há uma fórmula pronta para se criarem os filhos, mas dedicação, diálogo, procura de ajuda, quando a situação foge ao controle e coloque os membros familiares em perigo, sempre se faz necessário para se evitar maiores consequências perniciosas. Os filhos, em regra, são espelhos das personalidades dos pais. Se genitor fuma, o filho poderá querer experimentar, e não é mais possível dizer "faça o que mando e não faça o que faço". A seleção de programas instrutivos, que engrandecem as virtudes humanas nas crianças é fundamental para que cresçam com visões de que harmonia é segurança da paz.

Mas aos pais que moram, com seus filhos, em áreas de risco, como educar? Eis um grave problema que não compete somente aos pais, mais ao Estado, a sociedade organizada e solidária. Não se escusa de responsabilidade social as ações midiáticas, estas, por sua vez, devem ter muito controle sobre o que irão divulgar em suas programações e noticiários. Por quê? Porque a responsabilidade de se criar uma sociedade fraternal é de todos (artigo 3º, da Constituição Federal de 1988). 

Infelizmente há programas de entretimento, se assim se pode dizer, pois depreciam a imagem da mulher, dos negros, dos gays, dos portadores de necessidades especiais. Entre uma tomada ou outra, mulheres são colocadas em competições humilhantes - o que é gravíssimo no Brasil, pelos habituais crimes cometidos às mulheres. Irresponsavelmente, a mídia tem mais intenção aos lucros proporcionados pelas audiências, do que na preocupação, no atuar para gerar uma sociedade mais humanizada. Mas dirão que se hão expectadores é por que há similaridade de comportamento na cultura.

Acredito que sim, mas não é justificativa para ensejar, mais ainda, a banalidade da vida humana, em suas relações interpessoais. Por exemplo, o comercial do Bomnegocio.com, onde o pagodeiro chama a mulher de "ordinária", se não chama, o desenrolar do comercial trata a mulher como objeto sexual, o marido, como mero sobrevivente a desafiar a  "seleção natural".