1.      INTRODUÇÃO 

   Todas as sociedades que vemos falar sempre foram conhecidas pelo seu desenvolvimento nas atividades agrícolas, como fonte de subsistência por parte de todos, e na comunidade aqui estudada não foi muito diferente, apesar de nessa comunidade já se ganhar um espirito capitalista por está dentro desse sistema, na qual os bens produzidos através da atividade agrícola servirem tanto para o consumo próprio como para serem comercializados e assim se tornarem um meio de produção econômica por parte das famílias que trabalham a agricultura.

   Assim essa pesquisa foi fundamentada numa abordagem qualitativa, baseada em visões objetivas e subjetivas, sem assimilar essa investigação ao simples contato com os números, buscando essa abordagem para melhor compreendermos as questões que envolvem a transição sócia econômica na comunidade estudada.

   Segundo (LUDKE, e ANDRE 2003) a entrevista representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados, dentro da perspectiva de pesquisa. Com base também em (LAKATOS, 2001 e MARCONI, 1985) que mencionam que a entrevista é um procedimento usado na investigação social para coletar dados. Desta forma, a entrevista é um procedimento para a coleta de dados, podendo ter o contato direito com o sujeito a ser entrevistado.

   Na comunidade do IV distrito[1] da Zona Rural do município de Caruaru-PE, sempre se cultivou várias lavouras, entre elas: a batatinha inglesa, cujo sua produção começou pela importação da semente do município de Esperança-PB; a mandioca que por sua vez tem fortes indícios que se tenha começada a sua cultivação nos tempos passados, pelos povos índicos, que por estas terras passaram; o milho cujo sua história de como chegou até aqui ainda é desconhecida; a fava que também não se ver falar; o feijão, etc., mas, o objetivo aqui, não é de falarmos das culturas agrícolas que existiram de maneira fortemente produtiva num passado não muito distante e existem de maneira menos trabalhada nos dias de hoje nessa comunidade, mas sim de investigar as causas que levaram a ter uma transição sócia econômica nessa comunidade, Já que ao analisarmos no período de 1985 até os anos de 1999, a economia dessa comunidade se baseava na agricultura e depois de passada essa década e adentrar nos anos 2000, observa-se uma diminuição de quase 90% das atividades relacionadas à agricultura nessa comunidade, tendo como uma produção que veio a adentrar no “lugar” da agricultura a confecção de roupas, que por sua vez começou em uma época em que a feira da Sulanca de caruaru-PE[2] estava em forte desenvolvimento, e as atividades relacionadas à agricultura mostrasse forte queda produtiva e econômica. Desta forma não é de se espantar que a confecção de roupas não tivesse dificuldades para se desenvolver, já que com a feira da Sulanca em alto desenvolvimento, as atividades comerciais também iriam se desenvolver. Nesta perspectiva esse artigo busca discutir e esclarecer quais são os motivos pelos quais, essa comunidade “trocou” uma atividade econômica, baseada na agricultura, por outra, a da produção de roupas, na qual ainda pode-se analisar que nesse período houve grandes secas na região, que ocasionaram desanimação por parte dos agricultores, que buscaram novas formas de “ganhar a vida”, assim as atividades econômicas dessa comunidade, que se resumia a agricultura, toma novos rumos e parte a partir dessas causas climáticas, em busca de novas formas econômicas, então a confecção de roupas, que por sua vez, parece ser nesse momento dessa história a atividade econômica mais próxima e mais lucrativa “invade” o território que antes era comandado pelas atividades agrícolas.  

Assim a partir da ideia de (VIANA 1956) quando fala que O urbanismo é uma condição moderníssima da nossa evolução social, e que toda a nossa história é a história de um povo agrícola.  Mostra-nos desta forma que toda a nossa economia nasce no campo e se desenvolve também nesse meio. Fundamentado também nas palavras de (SILVA, DANTAS, ZANELLA e MEIRELLES 2006), ao falarem da questão da seca, que tem ligação direta com crises que afetam a economia agrícola. Assim percebe-se diretamente uma relação entre o problema da seca e o urbanismo, já que com as crises nas chuvas e a crescente globalização das atividades econômicas, observa-se uma natural “troca” de atividade econômica na comunidade estudada.

  1. 2.      EMBOLSO HISTÓRICO

 

2.1   DE 1985 A 1997

    Não se sabe ao certo como se iniciou e se se propagou a agricultura na comunidade do IV distrito da Zona Rural de Caruaru, o que se sabe e pode-se falar é que por décadas a agricultura se se manifestou como principal atividade econômica para as famílias dessa comunidade. Tendo como principais culturas produzidas à mandioca o e a batatinha, e que todas sendo produzidas ao mesmo tempo do ciclo chuvoso de cada ano. De modo que em 1984 segundo o agrônomo Fábio Cesar, o IPA[3] começava um trabalho de planejamento e desenvolvimento das atividades relacionadas à agricultura, apoiando os agricultores do IV Distrito, aonde a primeira preocupação dos técnicos do IPA, foi criar uma associação, que foi bem aceita pelos agricultores. Então, os técnicos do IPA, juntamente com algumas lideranças comunitárias formularam um estatuto que foi aceito por unanimidade pelos sócios presentes na primeira reunião da APROBACA, desta forma nasce a Associação dos Produtores de batatinhas de caruaru, que recebeu esse nome, pelo fato da cultura da batatinha está em pleno desenvolvimento de crescimento. Mas apesar do seu nome ela não buscava apenas o desenvolvimento da batatinha, e sim o desenvolvimento de toda comunidade no setor agrícola.

2.2 “O NASCIMENTO DA APROBACA”

   Segundo o estatuto da APROBACA, a Associação dos Produtores de Batatinhas de Caruaru foi fundada no dia 14 de outubro de 1985, aonde foi originária de um movimento espontâneo entre os habitantes das comunidades. Com a criação da APROBACA, e o apoio do IPA, a produção de batatinha, e segundo o agrônomo do IPA Fábio Cesar; A história da batatinha em Caruaru. 1998. ”Foi possível aumentar a produtividade de seis toneladas /hectares para 12 toneladas/hectares, mantendo-se um custo de produção relativamente baixo e uma tecnologia bastante simples em nível de pequenos agricultores de base familiar.”

    No ano de 1986, técnicos da EMATER-PE[4] também com o intuito de ajudar os agricultores e com o ajuda do IPA elaboraram um projeto para construção de 01 armazém e aquisição de equipamentos de câmara frigorífica. O projeto foi encaminhado ao PRORURAL e liberado no mesmo ano. O armazém foi construído em processo de mutirão, e sua capacidade inicial era de 2.500 caixas (caixas de 30 quilos). Já em 1987, o mesmo foi ampliado e sua capacidade aumentou para 4.000 caixas.        Durante este tempo, o IPA realizava vários experimentos em nível de agricultor. Eram feitos experimentos a respeito da época de plantio, espaçamento, adubação organo-mineral, controle de pragas e doenças e plantio em sulco. Desta forma a batatinha se desenvolvia e trazia com sigo o desenvolvimento também da APROBACA, que por sua vez buscava melhorias não só para a cultura da batatinha, mas também para as demais culturas, pois segundo vários sócios da associação pesquisados, a APROBACA não estava somente preocupada com o desenvolvimento da batatinha, mas sim de das culturas ali existentes.

   Assim a mandioca que já era cultivada na região também é apoiada pelo IPA, pela EMATER-PE e também pela APROBACA, desta forma se aprimora as técnicas de cultivo da raiz e também as técnicas de produção da farinha de mandioca, com a “chegada” de novos mecanismos de produção. E durante o tempo esses mecanismos se desenvolvem ainda mais, e a agricultura só tende a crescer e é o que acontece, segundo vários agricultores que viveram esse tempo o número de agricultores associados à APROBACA e produzindo cada vez mais tanto a mandioca, a batatinha como a demais atividade agrícola só cresceu durante os anos. Mas os tempos mudavam e apesar do grande crescimento da produção agrícola, chegou-se a uma crise, essa advinda principalmente das condições climáticas. Segundo os próprios agricultores que por essa crise passaram.

 

2.2   DE 1998, a 2010

 

2.2.1        A GRANDE SECA DE 1998

   Por causa das condições climáticas os agricultores começam a “largar” a agricultura, e ir à busca de outras atividades econômicas, junto a isso a chegada do desenvolvimento da sulanca agrava cada vez mais o declínio da agricultura no IV distrito da Zona rural de caruaru, mas apesar dessa crise advinda principalmente da seca de 98, alguns agricultores ainda continuaram trabalhando com a agricultura. De modo que segundo dados dos próprios agricultores associados à APROBACA, esse êxodo econômico atingiu cerca de 30% das pessoas que trabalhavam com a agricultura e se apoiaram principalmente na Sulanca como forma de sustentabilidade econômica. E os outros 70% dos agricultores apesar das varias condições desfavoráveis ainda não desistiam de trabalhar a agricultura. Nesta perspectiva afirma um agricultor do Sitio Serrote dos Bois[5], em entrevista ao Jornal Folha de Pernambuco 1998: “O progresso está na terra, não troco a vida que levo aqui para viver de salario mínimo na cidade.” E completa dizendo que faz campanha para que seus colegas agricultores não larguem a agricultura e que através de novas formas de cultivo e técnicas de manejo da produção possam continuar cultivando. E que foi através do seu trabalho diário no campo, junto de sua esposa que conseguiu criar seus quatro filho e construir e equipar sua casa.

     Desta forma vários agricultores apelidados de “teimosos” por aquelas pessoas que largaram a agricultura, continuaram produzindo aquilo que se podia numa escassez de chuvas, é o que fala o agricultor e atual presidente da APROBACA João Barbosa da Silva ao explicar essa grande crise na agricultura nessa região nesse período:

“em 1997 tinha- mus produzido uma boa quantidade de batatinha inglesa, tínhamos uma excelente quantidade de mandioca plantada e boas quantidades de milho, e adentramos em 1998, esperando a chuva para se produzir novamente. A nossa batata inglesa tinha sido armazenada em nossa câmara frigorifica, para se plantar no período chuvoso de 98, mas como não veio às chuvas não conseguimos plantá-la. O milho foi utilizado para nossas criações de gado, e a mandioca essa sim foi quem nos “segurou” nessa crise, pois apesar de não ter chuvas à mandioca era a única dessas culturas aqui produzidas que conseguiu viver durante a seca, e com ela produzimos a farinha de mandioca, que foi a atividade presente durante esse tempo, e era através dela que conseguia- mós fazer a feira”.

    Assim observa-se a forte presença da produção de farinha de mandioca como principal “instrumento” de produção econômica para esses agricultores, nesta época em que a escassez de chuvas foi enorme.

2.2.2 DE 2000 A 2010 RENASCE A AGRICULTURA, SURGE A SULANCA E DECLINA A AGRICULTURA

   Depois de dois anos da “grande seca” as condições climáticas começam a voltar a ser favoráveis para os agricultores, desta forma o ressurgimento da agricultura como principal fonte de subsistência econômica para essa região parecia ter “entrado” novamente nos rumos do progresso, mas aliado também se desenvolvia as atividades relacionadas à feira da sulanca de caruaru na região estudada, assim o progresso da agricultura não aconteceu e sim continuou a cair, e o desenvolvimento dessas atividades só tendeu a crescer. De modo que segundo a Ata da APROBACA (1985/2010), observa-se o declínio no número de sócios presentes nas reuniões e discursões relacionadas à agricultura. A Ata mostra que em 1985 quando foi criada a instituição, havia cerca de 40 associados, de modo que dez anos depois em 1995 esse número mais do que dobrou chegando a ter mais de 80 agricultores associados, e depois da crise, com a seca, e com a chegada e o desenvolvimento das atividades da sulanca esse numero só caiu, e em 2005 esses número de associados chegou a 40 e em 2010 apenas 20.

   Mas apesar desse decrescente número de agricultores, os investimentos a agricultura por parte do Governo Federal, Estadual e também Municipal, na região não deixaram de estar presente na comunidade, a EMATER-PE, o IPA, e a Secretária de desenvolvimento agrário, sempre mostraram interesse por essa retomada para o desenvolvimento da agricultura na região, conseguindo trazer projetos em beneficio dos próprios agricultores.  Consequentemente não houve esse retorno econômico por parte da agricultura e a partir de 2005 as atividades relacionadas à feira da Sulanca de Caruaru-PE se mostram presentes e firmadas como principal atividade econômica na região.

   São vários os motivos pelos quais houve esse declínio na quantidade de agricultores e consequentemente produção agrícola, o primeiro segundo os próprios agricultores foram às condições climáticas, junto a isso a sulanca, que por sua vez além de levar consigo agricultores que se tornaram sulanqueiros, também “levou” aquelas pessoas que não tinha emprego certo, que possivelmente podiam trabalhar para a pequena quantidade de agricultores ainda presentes.  Desta forma o que aconteceu foi que esses agricultores que consequentemente necessitavam de mão-de-obra ficaram sozinhos no campo sem poder desenvolver sua produção. E esse desenvolvimento dessas atividades trouxe consigo outra discursão, as das condições de trabalho e do próprio salario, antes quando não havia ainda essa proliferação da sulanca por a zona rural, os trabalhadores que trabalhavam para os agricultores trabalhavam cerca de 8hs/dia na terra debaixo do sol, e sem carteira fixada, e com essa nova atividade, esses trabalhadores começam agora a trabalharem em pequenas fabricas testeis, com carteira fixada 8hs/dia. Nesta perspectiva fala João de Figueiredo, trabalhador de uma dessas pequenas fabricas e antigo trabalhador rural:

“não vou deixar de trabalhar em um lugar onde trabalho na sombra, tenho meus direitos como trabalhador, e não estou sujeito a me sujar com terra, para está trabalhando na terra, no sol quente, sem meus direitos de trabalhador e me sujando com terra,”

 

    Assim esses trabalhadores preferiram acompanhar o embalo econômico da época, fazendo assim com que a agricultura nessa região seja trabalhada apenas por poucas pessoas na contemporaneidade e o desenvolvimento da sulanca crescer cada vez mais.

CONCLUSÂO

 

   Na comunidade estudada observa-se que houve um desenvolvimento econômico relacionado às atividades agrícolas, uma crise com relação às condições climáticas, e também um desenvolvimento das atividades relacionadas à feira da Sulanca de Caruaru PE. De modo, que essa pesquisa mostra que durante anos a agricultura foi a principal atividade econômica dessa sociedade, e que por diversos motivos foi de certa forma “trocada” por outra. Dentre esses motivos, os entrevistados mostram que a “grande seca” de 1998, foi sem duvida o ponto crucial do declínio das atividades agrícolas na região. 

Mas essa crise trouxe consigo um elemento que sem duvida ajudou no desenvolvimento econômico dessa região. Se por um lado a seca trouxe elementos que abalariam a estrutura agrícola desses povos, por outro, com a agricultura tendendo a cair, a busca por outras atividades econômicas, resultado da seca, ajudou sem sombra de duvidas no desenvolvimento econômico dessa região na primeira década do século XXI. Pois essa busca resultou no investimento em um setor que não era muito levado em conta por as pessoas situadas nessa região. A confecção de roupas, que hoje é a atividade mais desenvolvida e lucrativa na comunidade do IV Distrito da zona rural de Caruaru PE.

Contudo pode-se dizer que houve sim uma transição sócia econômica, de uma atividade agrícola para uma atividade têxtil, embora se tenha de enfatizar que essa transição não se deu de forma completa com relação a toda essa sociedade, mas de maneira que foi possível perceber que a atividade sulanqueira adentrou na atividade agrícola de modo que hoje são poucos os agricultores que trabalham a agricultura. Já que vários desses sulanqueiros foram agricultores, e “largaram” a agricultura para irem à busca dessa atividade mais lucrativa e que está em pleno desenvolvimento.

REFERENCIAS

 

ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE BATATINHAS DE CARUARU. ATA. Caruaru PE, 1985/2010.

ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE BATATINHAS DE CARUARU. ESTATUTO.  Caruaru PE, 1985.

FABIO, Cesar A história da batatinha em caruaru disponível em 21 de set. 2012. http://www.dpnet.com.br/anteriores/1998/03/02/interior7_0.html

LÜDKE, M. e ANDRÉ, M. E. D. A. Métodos de coleta de dados: observação, entrevistas e análise documental. In: LÜDKE, M. E ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo. Editora E.P.U. 2003. p.33 – 36.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E.M. Metodologia do trabalho científico. 5. Ed. rev.. ampl. São Paulo: Atlas, 2001. P. 43;

PEDRO, Martins. José que não desiste da luta, Jornal Folha de Pernambuco Recife, 13 de set. 1998.

SILVA, José Barzacchielo da, DANTAS, Eustógio Wanderley Correia; ZANELLA, Maria Elisa Zanella; MEIRELLES, Antônio  Jeovah de Andrade (orgs.). Litoral e sertão: natureza e sociedade no nordeste brasileiro – José Barzacchielo da Silva et al. Fortaleza 2006. 408p.

VIANA Oliveira, Evolução do povo brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956, 255p.

                                               



[1] Comunidade situada na zona Oeste do município de Caruaru-PE, na qual é dividida politicamente em-Sítios.

[2] A “grande feira” de roupas, situada no Parque XVIII de maio no centro da cidade de Caruaru- PE.

[3] O IPA (Instituto de Pesquisa Agronômica é um órgão da administração direta do Estado de Pernambuco, com sede e laboratórios na cidade do Recife). E desenvolve pesquisas nas áreas agronômicas e tem como missão: gerar e adaptar tecnologia, prestar assistência técnica e extensão rural prioritariamente aos agricultores de base familiar, além de realizar obras de infraestrutura hídrica e disponibilizar bens e serviços para o desenvolvimento sustentável do agronegócio em todo o estado.

[4] A EMATER-PE é uma empresa do governo federal que dar assistência técnica aos agricultores nas diversas áreas agronômicas e agropecuárias.

[5] Localidade situada no IV distrito da Zona Rural de caruaru - PE