CORDIOLLI, Marcos. Currículo, cultura escolar e gestão do trabalho pedagógico. In: escolarização, currículos e pratica pedagógica. Curitiba: A Casa de Asterion, 2004. pp.11-25.

Acompanhando o pensamento do autor, percebe-se que a educação é uma atividade intencional, impulsionada conforme fins que se estabelecem dentro do quadro de interesses das classes sociais, que identificam o caráter crítico-social da educação. O campo educativo é bastante vasto; assim, a educação ocorre em diversas dimensões, como na família, no trabalho, na rua, na escola, nos meios de comunicação, na política e, para espanto de muitos, nas prisões. Com isso, cumpre distinguir diferentes manifestações e modalidades de prática educativa, tais como a educação informal, não-formal e formal.
Para Ele educação informal corresponderia a ações e influências exercidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural. Ela se desenvolve por meio das relações dos indivíduos e grupos com seu ambiente humano, social, ecológico, físico e cultural, das quais resultam conhecimentos, experiências e práticas, mas que não estão ligadas especificamente a uma instituição nem são intencionais e organizadas. A educação não-formal seria a realizada em segmentos educativos fora dos marcos da instituição escolar, mas com certo grau de sistematização e estruturação. A educação formal compreenderia instâncias de formação, escolares ou não, com objetivos educativos explícitos e uma ação intencional institucionalizada, estruturada, sistemática.
Ainda de acordo com Cordiolli, há uma interpenetração constante entre essas três modalidades, que, embora distintas, não podem ser consideradas isoladamente. Se existem diferentes práticas educativas, em muitos lugares e sob variadas modalidades, há, por consequência, várias práticas pedagógicas: a familiar, a sindical, a dos meios de comunicação etc., e também, é claro, a prática pedagógica escolar. Então, o que é a escola, vista como a instituição responsável pela educação formal e que faz uso de uma prática pedagógica escolar?
Para Cordiolli, a escola reflete sempre o seu tempo e não pode deixar de refletir e sempre esteve a serviço das necessidades de um regime social determinado e se não fosse capaz disso, teria sido eliminada como um corpo estranho e inútil. Este pensamento mostra quão difícil é trabalhar com educação, especialmente se transferimos esse desafio para um país capitalista, considerado em desenvolvimento, como o nosso, onde as pirâmides sobre a apropriação do capital e sobre as possibilidades de continuidade nos estudos estão presentes na demarcação/separação das classes sociais.
Além disso, o professor não deve ser objeto, mas, sim, sujeito de seu projeto histórico e do processo histórico no qual está envolvido. Mas, o que é o currículo? Poderia dizer que é o instrumento utilizado no interior da escola para instalar o conhecimento oficial, elaborado pelas elites intelectuais dominantes. No senso comum, mesmo entre atores da escola, o currículo é visto como sinônimo de matriz curricular, o que empobrece e reduz seu entendimento.
Na ótica de Cordiolli, o currículo é, assim, um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matéria prima de criação, recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão. Nestas condições, o papel do currículo está bem definido, como campo de discussões ideológicas onde ocorrem conflitos nas áreas política, social e cultural. Assim, ao entender o currículo como um elemento político de grande relevância, que instrumentaliza a escola para exercer o papel funcional de reproduzir o sistema que a mantém, posso entendê-lo também como meio de conduzir investidas contra-hegemônicas, oportunizando, dentro desta estrutura de desigualdades sociais, leituras críticas aos atores da escola, excluídos do processo elitizante, e proporcionando-lhes os conhecimentos necessários que os levem ao direito/dever de desfrutar de sua cidadania.
O autor destaca, principalmente, que o objeto do currículo é a reflexão do aluno, desenvolvendo sua capacidade intelectual. A função da escola seria apropriar-se do conhecimento científico dando-lhe um tratamento metodológico e confrontá-lo com a realidade social dos alunos. De acordo com a direção política adotada pela escola, constrói-se um eixo curricular que determina as disciplinas nucleares do currículo e a dinâmica curricular que é construída por três pilares: trato com o conhecimento, organização e normatização escolar.
As disciplinas, os conhecimentos tratados em sala devem estar sempre vinculados à realidade social concreta do aluno, para que elas contribuam com a construção da identidade de classe deles Os conteúdos, enquanto dados da realidade, devem ser apresentados de forma simultânea e espiralada, ressaltando sempre sua provisoriedade e historicidade, para que o aluno tenha sempre uma noção de totalidade do conhecimento
Segundo o autor, no processo de ensino-aprendizagem um tempo deve ser destinado para a transmissão e assimilação de conhecimentos para o aluno, sempre respeitando seu ritmo de aprendizagem, por meio, principalmente, da problematização.
De maneira geral, o autor enfatiza o currículo dentro da perspectiva escolar em que os atores sociais alunos, professores e todo o corpo institucional, tragam consigo em seu bojo métodos que estejam de acordo com o nível dos alunos, com o que eles trazem em seus conhecimentos e, a partir daí, torna-los sujeitos desse processo, com a troca de ideias e, claro, fazendo com que haja uma interação entre as disciplinas pedagógicas.