UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUICURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA E ESTUDOS CULTURAISDISCIPLINA: LITERATURA E CULTURA POPULAR

Prof.ª e Doutora Stela Maria Viana Brito. 

              

 CORDEL: FOLHETOS QUE EXPRESSAM A CULTURA DE UM POVO.    

  

                          Adriana Maria de A. Silva. 

             

  Teresina, (PI), 20 de outubro de 2012.

 

Introdução: 

 

Cultura popular ou cultura vernácula é o que chamamos de cultura de um povo; são manifestações artísticas como a dança, folclore, músicas e /ou festas características de cada região, onde o povo participa ativamente.Essa cultura tão diversificada e que reúne várias pessoas ao mesmo tempo, dita também padrões de comportamentos, hábitos, crenças, tradições, costumes, artesanatos que expressam através de peças de madeira ou argila, o cotidiano de um povo, de um país.É também a cultura transmitida  de pai para filho, de geração para geração. O foco principal dessa cultura é o povo; suas mazelas, alegrias, derrotas e vitórias.Esse povo transforma seu cotidiano em arte contemporânea, pois, relatam de forma oral a luta pela sobrevivência, denunciada de forma poética nas diversas artes interpretadas por eles.No Brasil temos o artesanato, o carnaval, o folclore, as famosas festas religiosas, as crenças, lendas, a música, arte e literatura em todos os seus aspectos.Dentre tantas manifestações artísticas representados por um povo, temos ainda o “Cordel”; conhecido em forma de folheto, originário de relatos orais, tem sua origem no século XVI, na época do Renascimento. No Brasil, a partir do século XIX começaram as primeiras impressões em folhetos, trazendo relatos da vida cotidiana do povo, sua religião, episódios históricos, lendas, denúncias sociais, dentre outros assuntos que perduram até os dias de hoje.Apesar desse tipo de manifestação artística iniciar-se com o povo nas ruas e, de maneira inteiramente oral, com o decorrer do tempo tem atingido um público mais elitizado e,  vem sendo usado como pesquisa em vários estudos de ordem literária. Cante lá, que eu canto cá! No cordel “Cante lá, que eu canto cá”, de João Firmino Cabral,  cordelista nordestino, naturalizado em Sergipe; ele traça as diferenças de um poeta nascido nas ruas da cidade grande e letrado, com  o poeta nascido na periferia  e/ou nascido no nordeste, convivendo com  a pobreza e com a precisão de tudo à sua volta.Nos versos abaixo João Firmino procura ser bem claro nesta distinção:


“Poeta, cantô de rua,          

Que na cidade nasceu,

Cante a cidade que é sua,

Que eu canto o sertão que é meu.

Se ai você em estudo, 

Aqui, Deus me ensinou tudo,

Sem de livro precisaPior favô, não mêxa aqui,

Que eu também não mexo ai,Cante lá, que eu canto cá". 

 

João Firmino coloca o poeta cantor em seu lugar, pedindo que deixe as coisas do sertão para serem cantadas por quem nele vive. Sem estudo, o homem do sertão sabe perfeitamente cantar suas alegrias e tristezas pelas quais o árido sertão os faz passar. 


“você teve inducação,

Aprendeu munta ciença,

Mas das coisa do sertão

Não tem boa esperiença.

Nunca fez uma paioça,

Nunca trabaiou na roça,

Não pode condecê bem,

Pois nesta penosa vida,

Só quem provou da comida,

Sabe o gosto que tem. 

Só quem mora no sertão, 

sabe como a vida é penosa".

 

 Em meio ao sol abrasador, a terra seca, a falta d’água. A roça que por vezes dá esperança de dias melhores ao sertanejo e a constante súplica pela chuva, são apenas uma das poucas batalhas que o homem do sertão trava todos os dias. Por isso mesmo, só quem vive essa vida é quem sabe cantá-la. Nos versos abaixo João Firmino renova seu pedido ao homem letrado da cidade: ....”com o seu verso bem feito,Não canta o sertão direito, Porque você não conheceNossa vida aperreada.E a dô só é bem cantada,Cantada por quem padece. Só canta o sertão direito,Com tudo quanto ele temQuem sempre correu estreito,Sem proteção de ninguémCoberto de precisãoSuportando a privaçãoCom paciência de Jó,Puxando o cabo de inxada,Na quebrada e na chapada,Moiadinho de suó. 

 

Como disse Carlos Drummond de Andrade “ O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente...” (Literatura de Cordel. Google acessado em 07/10/12).

De forma geral, a população que mora no sertão é pobre e muitas vezes analfabeta, uma vida dura marcada pelos longos períodos de seca, geralmente vivem da agricultura de subsistência.Por isso mesmo João Firmino traça em sua poesia cordelista as diferenças entre o sertanejo e o homem da cidade, introduzinho um elemento em comum que une essas duas vidas, por mais que sejam diferentes em termos econômicos e culturais; vejamos: 


Sua vida é divertidaE a minha é grande penaSó 

numa parte de vida Nóis dois samo bem iguá:

É no dereito sagrado,

Por Jesus abençoado

Pra consolá nosso pranto

Conheço e não me confundo

Da coisa mió do mundo

Nóis goza do mesmo tanto 

Eu não posso lhe invejá

Nem você invejá eu,

O que Deus lhe deu por lá,

Aqui Deus também me deu.

Pois minha boa muié,

Me estima com munta fé

Me abraça, beja e qué bem

E nunguém pode negá

Que das coisa natura

Tem ela o que a sua tem. 


O elemento presente nos versos acima é o “amor”, que Deus dá de forma igual a todos nós, rico, pobre, branco, pardo, negro, seja ele quem for, o amor de uma mulher para com um homem, onde ambos se respeitam e se amam, Deus dá de igual tamanho.Ainda diante das diversidades da vida, com todas as diferenças existentes entre o homem da cidade e o sertanejo, o amor de uma mulher deixa ambos satisfeitos, faz a vida valer a pena.Mas o sertanejo não vive só de lamentos, a vida social desse povo lutador se direciona quando da ocasião das festas religiosas ou das peregrinações aos santuários a seus santos protetores.Os vilarejos também são pontos de encontros com os amigos e de feira. As festas juninas são motivos de alegria e divertimentos.De acordo com Carlos Drummond, a poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. 

                      

Referências:

  • CABRAL, João Firmino. Adeus ao Patativa. In: Cante lá, que eu canto cá. Literatura de Cordel, p. 4 a 8.

 
  • Literatura de Cordel: Fonte Wikipédia – Google acessado em 07/10/2012..