Autores: António Carvalho e Marily Abreu

Introdução:
O cuidar é a base de todo o processo de enfermagem. Cuidar e tratar não representa o mesmo, embora se complementem entre si. Este artigo pretende promover um estímulo à reflexão para este assunto, algumas vezes descurado.

O “cuidar” e o “tratar”
Existem dois conceitos frequentemente utilizados no dia-a-dia do enfermeiro: o cuidar e o tratar. A definição de “cuidar” abrange a prestação atenciosa e continuada de forma holística a uma pessoa enferma, realçando desta maneira o direito à dignidade da pessoa cuidada. Contudo, o conceito “tratar” define a prestação de cuidados técnicos e específicos focados somente na enfermidade, cujo objectivo consiste na reparação do órgão enfermo de modo a alcançar a cura (Pacheco 2002). Ao reflectir sobre o significado destas palavras constatamos a grande diferença existente entre estes dois termos, não devendo ser confundidos, apesar de se encontrarem de forma paralela em qualquer exercício da equipa multidisciplinar de saúde.
Perante esta ideologia, revela-se fundamental a atitude e o comportamento adoptado pelo enfermeiro aquando da prestação de cuidados de enfermagem, dado que a natureza destes diferenciará o enfermeiro que “cuida” do enfermeiro que “trata”, embora a essência da enfermagem se baseie apenas no “cuidar” por excelência. Os enfermeiros que “tratam” concentram todos os seus cuidados apenas na enfermidade, descurando o ser humano com receios, crenças, dúvidas e sentimentos por trás da doença, constituindo apenas para este profissional mais um caso, que será resolvido aplicando as técnicas correctas e adequadas à situação. Esta prática simplista e contraditória das directrizes preconizadas pela profissão da enfermagem, apresenta-se como a mais cómoda e fácil para o desenvolvimento do exercício profissional, constituindo uma negligência muito grave que atenta contra todos os princípios inerentes à profissão. No entanto, os enfermeiros que “cuidam” dirigem todos os seus cuidados de modo holístico, respeitando a pessoa enferma como ser bio-psico-social, valorizando-a como pessoa única e insubstituível, com características e vontade próprias, conforme a ideologia adoptada e defendida pela profissão, dignificando-a e elevando-a ao seu mais alto nível.
Por tudo isto, o enfermeiro deve criar metodologias que conduzam a prestação de cuidados com qualidade, reunindo todas as competências adequadas para interagir de maneira eficaz com a pessoa cuidada e familiares, de modo a que estes depositem toda a sua confiança e empenho nos cuidados oferecidos, contribuindo e participando activamente nestes.
No entanto, para a concretização do “cuidar” no dia-a-dia também é fundamental que a equipa de enfermagem assuma completamente o espírito de equipa e a congruência de comportamentos, abandonando quaisquer metas individuais, visando apenas o mesmo objectivo comum e final: a prestação de cuidados holísticos com qualidade, minimizando tanto quanto possível a crescente problemática da desumanização de cuidados. Por tudo isto, torna-se de grande importância que o enfermeiro repense cuidadosamente no verdadeiro significado da essência da enfermagem, aperfeiçoando os pontos menos positivos encontrados nos seus actos profissionais e fortalecendo os mais altos. Para a prestação de cuidados de qualidade é imperativo que o enfermeiro promova um ambiente de empatia com o cliente, recorrendo à comunicação verbal e não verbal para estabelecer uma relação de ajuda eficaz, nunca descurando o toque quando necessário. Este profissional também deverá criar e contribuir para um ambiente de trabalho agradável e responsável entre os outros elementos da equipa multidisciplinar.
Finalmente, queremos deixar como ponto de reflexão e motivação a seguinte conclusão: Existirá emoção mais nobre e sublime do que nós enfermeiros sentirmos que estamos a colaborar na mais rica de todas as actividades humanas – o alívio do sofrimento do nosso próximo.
Viva o Cuidar!


BIBLIOGRAFIA:

COLLIÉRE, Marie Françoise (1999) – Promover a vida, Lidel Edições Técnicas, 2ª tiragem;
LAZURE, Hèlene (1994) – Viver a relação de ajuda, Lisboa, Lusodidacta;
PACHECO, Susana (2002) – Cuidar a pessoa em fase terminal – perspectiva ética, Loures, Editora Lusociência;