Tangas, suporte atlético – ou jockstrap - e fio dental para os mais ousados. Slip, boxer e samba canção para o mais tradicionalistas. Esses modelos ainda podem ser divididos entre as clássicas preta, branca e cinza ou uma infinidade de cores e estampas. Isso sem falar na gama de tecidos que são utilizados atualmente. Não importa o modelo, raros são os homens que não as utilizam diariamente. A primeira peça que os homens colocam na hora de se vestir passou por uma série de mudanças desde a sua criação e tem muita história pra contar.

A principal função da moda íntima masculina desde seu surgimento foi a proteção. No tempo dos homens das cavernas, encontramos algo que foi o precursor das cuecas. Naquele tempo eles utilizavam peles de animais, atadas a cintura através de tiras do próprio couro para proteger a região genital. Muito diferente de hoje, em que na maioria dos modelos o principal objetivo é ser funcional – dar bom suporte a genitália, conforto – e a praticas – fáceis de lavar e encontrar no mercado.

Na Idade Média, um período marcado por grandes guerras, o uso da armadura de metal pesado era fundamental para a proteção durante as batalhas e a vestimenta íntima masculina novamente aparece para proteger contra o atrito com o metal, mas dessa vez eram utilizados tecidos feitos de linho e amarrados por entre as pernas e ao redor da cintura. Algumas armaduras tinham mecanismos especiais que facilitavam a vida do combatente na hora de ir ao banheiro.

Foi só no século XVI que a cuecas deixam de lado as tiras para amarrar e começam a ser costuradas. Nesse tempo, só os nobres utilizavam os tecidos mais finos e delicados – como o linho, aos plebeus era deixado o algodão.

Para dormir os homens usavam camisolas e que também serviam como a roupa de baixo no século XVII, costume que até hoje ainda é usado em algumas regiões da Europa. Com o tempo essas camisolas foram costuradas embaixo, separando as pernas, criando uma espécie de “macacão”, os union suits, que cobriam até a altura dos joelhos, comumente usadas em regiões mais frias, era confeccionado em algodão ou flanela.  Esse macacão, cortado ao meio deu origem as ceroulas. Nesse tempo, no Brasil, a moda era seguir as tendências europeias, principalmente as francesas, sem se importar com o calor dos trópicos e por isso a moda em terras tupiniquins, para os mais abastados claro, era o uso de ceroulas. Felizmente, talvez por causa dos hábitos indígenas que já ocupavam aquelas terras, as roupas íntimas eram lavadas com certa frequência, ao contrario do restante da indumentária.

Em 1874, encontramos os primeiros jockstraps – ou suporte atlético – criados pela empresa Bike Jockey Strap. Esse estilo de moda íntima masculina foi desenhado especialmente para proteger os genitais dos ciclistas das ruas de paralelepípedos de Boston.

Surge o modelo samba canção durante a Primeira Guerra Mundial. Feitos de tecido plano de algodão, esse modelo era mais leve, confortável e arejado. Em 1920 começa-se a empregar na fabricação de moda íntima masculina um tecido de algodão de origem árabe, o Nainsook. Aparecem as primeiras ceroulas curtas, as antecessoras das cuecas boxer atuais e a coquilha, um bojo de material rígido (geralmente plástico) que acoplado aos suportes atléticos protegem contra contusões. A patente deste acessório é de 1927.

O elástico na cintura só começa a ser aplicado em 1930 e a Cooper vende as primeiras cuecas modelo slip nos EUA. Esse modelo de cueca foi criado inspirado em um cartão postal da Riviera Francesa, que trazia estampado um homem usando um traje de banho estilo bikini. No Brasil esse modelo de moda íntima masculina chega só em 1944 e rapidamente ganha seu espaço em substituição as ceroulas e samba canção que eram usadas na época.

A Segunda Guerra Mundial também provoca mudanças na moda íntima dos homens. Por causa da escassez de borracha para a produção de elásticos, volta-se a empregar botões no fecho das cuecas. Elas também ganham cores, principalmente o verde, para não chamarem a atenção quando os soldados estivessem camuflados durantes as batalhas.

O slogan "Procure pela marca na faixa" é adotado em 1947 pela empresa Jockey para promover uma transformação que até hoje é aplicada nas cuecas, o elástico personalizado. Também é nessa época que a sanfonização – processo que impede o encolhimento dos tecidos – começa a ser aplicada também nos tecidos destinados a confecção de moda intima masculina.

A partir dos anos 1960 é o simbolismo, mais do que os modelos, que é transformado radicalmente. Até então as cuecas cumpriam seu papel original de proteger e prover o mínimo de conforto para os homens. A partir dessa década, as cuecas começam a ficar mais justas e ao mesmo tempo mais confortáveis com o uso de tecidos mais flexíveis. Tornam-se um símbolo da sensualidade masculina.

As marcas lucram com propagandas que exploraram a sensualidade das peças. Cores e estampas são definitivamente incorporadas ao desenho das cuecas, assim como tecidos sintéticos como o náilon e o raiom. Surgem também os tecidos com elastano e elas passam a ser produzidas em grande escala.

Foi na década de 1970, com a liberação sexual em alta, que o corpo do homem ganha evidência. Aspectos como vigor, força e pelos no corpo são os ideais de beleza masculina da época.

Mas o auge da moda íntima masculina acontece na década de 1980. Os homens começam a se preocupar muito mais com sua aparência, e os corpos torneados em varias horas de musculação são os ideais da época. O cós da calça propositalmente desce, deixando a mostra o elástico personalizado com a grife da moda. As cuecas definitivamente entram para o mundo fashion. O conforto deixa de ser item essencial na hora de escolher uma nova peça para o guarda roupa. Itens como beleza, estilo, sensualidade e marca tornam indispensáveis na decisão de compra. Também nessa época ressurgem as cuecas samba canção. Dessa vez confeccionadas em tecidos sintéticos – que pretendiam imitar seda – e decoradas com as mais variadas estampas, desde personagens de desenho animado até pequenos corações flechados pelo Cupido. 

Foi nessa década também que personalidades do esporte e cinema começam a ser fotografados usando peças cada vez mais sensuais e abusando da encenação de atos sexuais para a publicidade das cuecas. Um dos primeiros modelos a posar de cueca foi o jogador de polo aquático Tom Hintaus. Fotografado por Bruce Weber, foi o divisor de águas na propaganda de moda íntima masculina. É o reinado do modelo slip.

A partir dos anos 2000 a tecnologia de confecção sem costura é o principal avanço da moda íntima masculina, mas as campanhas publicitárias continuam sendo o foco quando se fala em cuecas. Nesse período são principalmente os jogadores de futebol que estampam as propagandas. O corpo perfeito continua sendo o padrão de beleza, mas a atitude e personalidade dos modelos também são consideradas na hora da escolha do “astro” da nova campanha.

A moda íntima masculina passou por diversas mudanças e evoluções desde o seu surgimento. Interessante perceber que no inicio, em sua versão primitiva, alem de serem usadas como proteção para os genitais masculinos, elas foram a vestimenta daqueles povos. Com o passar do tempo, as cuecas se esconderam debaixo das roupas e a proteção contra o atrito da indumentária própria da época tornou-se a única função delas. Atualmente, além de proporcionar proteção e suporte, elas se tornaram ícones fashion de determinadas marcas e também fetiche em diversas culturas e sub-culturas, com modelos, materiais e marcas que às caracterizam. Foi investido muito tempo e esforços no estudo da anatomia do homem para proporcionar conforto e liberdade de movimentos e principalmente dar proteção e suporte para a região mais delicada da anatomia masculina.

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