SESC Venda Nova – BH, 12 de novembro de 2009

AConferencia Nacional da Educação que será consolidada em 2010 no Distrito Federal, servirá de embasamento para as leis que deverão reger as questões referentes ao ensino e ao educar, em nosso País..

Para que aconteça a CONAE 2010, eventos conjuntos e integrados ocorreram em fases que se denominaram micros e macros conferencias, nas cidades de todo o País, durante, aproximadamente, três dias, cada fase. Depois, as reuniões foram transformadas nas Conferencias Estaduais de Educação – COEED 2010.

Educadores, trabalhadores da Educação, segmentos diversificados como quilombolas, indígenas, pais de alunos, empresários, gestores e todos os que, de alguma forma, têm ou sentem-se vinculados a Educação e ao processo educativo nacional foram convidados a participar do CONAE 2010.

O MEC não poupou esforços para reunir o maior número possível de interessados no tema e proporcionou traslados e hospedagens a todos os participantes inscritos. Toda a etapa de Minas Gerais foi apreciada por mim e nessas reuniões tive lições que me ensinaram dimensões do ser humano que, até então, não serviriam, dentro de minha perspectiva, para o setor educacional.

Em maio de 2009 inscrevi-me, por meio da internet, para participar das reuniões do CONAE 2010, etapa "micro" em Uberaba-MG, minha cidade. As reuniões aconteceram no inicio de junho e duraram três dias inteiros. Muitos professores se fizeram presentes, juntamente com dirigentes e demais trabalhadores da Educação. Serviram lanches e almoço. No primeiro dia fomos recebidos no anfiteatro da Prefeitura Municipal e nos dias subseqüentes ocupamos salas de aula da Faculdade de Ciências Econômicas . As salas de aula ficaram cheias e dentro delas se passou o que me deixou intrigada, ao ponto de querer escrever esta experiência, para, talvez receber explicações a respeito, ou, quem sabe, críticas, ou mesmo considerações de solidariedade, casoexista, algum leitor que tenha passado e sentido a mesma experiência.

O ambiente que reúne pessoas ligadas pela Educação deve, ou deveria ser sempre um local de muita seriedade, honestidade, verdade e onde prevalecesse se não a inteligência e a cultura, pelo menos aflorasse a cooperação e a socialização. Equívocos acontecem em nossas vidas, todo o tempo. As vezes erramos de amor, outras vezes de caminho. Mas errar de fato é errar de lugar. Estar em um lugar que você acredita ser respeitável, um lugar que lhe cabe, que lhe convém e, de repente, entender que está em um cabo de guerra, disputando evidencia, vaidade e oportunidade e gozando de descrédito, desanimo e desdém. Aconteceu comigo? Antes fosse somente comigo e se não aconteceu com você, certamente foi porque você, por sorte, não estava lá.

Pense bem, o Brasil vai formular, ou reformular a legislação pertinente a Educação de forma democrática! Isso é uma grande mentira, que será veiculada, por toda mídia, como a mais pura verdade. Essa é a história que vou contar. De como a mais pura mentira se transforma na maior verdade como essa de que os adolescentes, os alunos de qualquer idade, os alunos moços e velhos deste País, meu País, Brasil, se transformaram, na mídia, na televisão, no jornal, no rádio e na fofoca, em marginais, em horríveis e violentos seres que não servem para mais nada, a não ser para aprontar e arruaçar as escolas. Acho que isso não é verdade, acho que alunos são as maiores vitimas de alguns professores e gente ligada ao setor da Educação que atuam sem dedicação e respeito. Vitimas sem defesa, porque professor e demais agentes educacionais são muito acreditados e fizeram aluno não prestar, porque aluno significa trabalho e essa turma não gosta nem de ouvir a palavra trabalho. Por isso aluno não presta e escola dá LER...e não ensina a ler. Mas vou contar o que vi, ouvi e...não acreditei queacontecesse...até que aconteceu comigo.

Nas fases micro, em Uberaba a emacro, em Uberlândia,fui coordenadoradoEixo Temático II.Isso significa o seguinte, quando houve a primeira reunião da conferencia micro e depois das solenidades de praxe: fala do secretário, orquestra do quartel militar, fala de alguns vereadores e exponenciais professores, fomos apresentados a única pessoa que, entendo, agiu com urbanidade em todo o evento.Integrava-se no material distribuído a todos os participantes, um opúsculo que continha, distribuídos em seis eixos temáticos, propostas pré- existentes e consolidadas do que se poderia desejar para a educação nacional. Os eixos foram distribuídos entre os integrantes e eu fiquei no Eixo II, que discute Qualidade da Educação, Gestão Democrática e Avaliação.A professora Evelyn, que participou de todas as aberturas em Minas Gerais, dasmicro conferencias, das macros e da COEED em Belo Horizonte dividiu os eixos entre seis grupos e em cada um havia relator e coordenador, além dos demais participantes. E tínhamos que discutir as propostas e acrescentar ou suprimir o que entendêssemos importante para a educação. Não foi fácil. Existem conflitos: as pessoas, por mais éticas e educadas, quando se agrupam para tentar consensos, se distanciam, antes de concordarem. As propostas, emendadas nas micro conferencias, foram apreciadas nas macro conferencias e depois todas foram para a COEED, quando o setor educacional participante deMinas Gerais se reuniu no SESC Venda Nova, um espetáculo de lugar, verdadeiro paraíso, onde muitos vivenciaram o inferno. Esse evento parece que não teve o apoio do governo do Estado de Minas Gerais.

Para Brasília vai quem disputou no grito, na falta de educação e na opressão o direito de ir. A conferencia na fase estadual foi tomada pelos sindicalistas que gritavam em meu rosto "companhêra!!! Num intereççça sse você foi relatora, foi coordenadora...num viaja não!!!! Quem vai pra Brasília é só sindicalista e petista!!!". Não importava se eu havia me empenhado, se ficara sem me divertir, somente estudando e escrevendo, até de madrugada, sem jantar, sem lanche...Eu não pertenço a nenhum sindicato petista...acho que não...sou apartidária, gosto só de política socrática. A outra, o jogo, eu não sei jogar. Gosto de trabalhar, amo a sala de aula e não me importo de lecionar voluntariamente, quando solicitada. Leciono Metodologia da Pesquisa Científica e Hermenêutica... Mas sou considerada um estorvo porque domino o que leciono e não me importo de ter que escrever ou ter que ler... Aliás, eu gosto de escrever e ler... Isso tudo causa espécie em muitos, eu sei, mas não me importo. Agora, em relação ao COEED MG fiquei horrorizada. O nível dos educadores presentes ao evento estava terrivelmente abaixo das expectativas do que, creio se exige para educadores. Nem todos eram educadores, mesmo que, profissionalmente o fossem. Ouvi um professor, durante o lanche gritar: "Deu mole, nóis rapa!!!". O costume de casa vai a praça...

A disputa, no final do COEED MG se deu porque todos queriam ir para Brasília. Mas nem todos querem ir para dar o melhor de si em prol da legislação educativa, Querem ir para passear. A escolha dos que vão se deu da seguinte forma, apesar de existirem os grupos, a eleição ocorreu entre os pares, ou profissionais da mesma classe. Estávamos distribuídos em eixos diferenciados. Não nos conhecíamos. Uma "professora superior" gritou comigo que eu "estava fora!". Quando indaguei por que, me disse que o grupo já tinha decidido, enquanto piscava acintosamente para os seis outros interessados. Eu somente conhecia um deles e este rapaz fez o seguinte para ir: fingiu um desmaio, desses de cair e parecer que iria morrer e depois que foi acudido, chorava e gritava: "eu tenho que ir! Eu quero ir! Escolham-me!". Achei inédito! Antigamente, esse subterfúgio era privilégio da ala feminina. Não sou especial, sou normal e falo o que penso. Sou brasileira e a Constituição Federal me deixa falar.

A questão da violência que grassa no País está, afinal, explicada! Alguns professores têm propagado a violência. Têm se portado de forma violenta. E existe a violência dissimulada, que é ódio puro, contra o trabalho, contra o salário, contra o "ter que ir", "ter que dar aula". "ter que agüentar"...Esses professores, que são milhares, estão ensinando a violência e reproduzindo a violência na sala de aula e nas conferencias! Se o corpo mostra o que comemos, o espírito espelha o que lemos, ouvimos, falamos, assistimos...Essa violência, decantada na mídia e aceita na sala de aula, tem origens nas fontes primárias do ensino: o berço e a escola. A culpa não é de todos os pais, nem de todos os professores, mas como é moda, a maioria aderiu.

O trabalho final da COEED MG foi gravado em CD e distribuído, juntamente com a declaração aos participantes. Em cinco eixos fizeram constar os nomes de relatores e coordenadores, mas no Eixo II, o meu, que escrevi praticamente sozinha, depois de integralizar as falas dos participantes, de cuidar da metodologia de apresentação, de dar o melhor de mim, nem meu nome, nem o da coordenadora Fabiana estão relacionados e fomos o grupo mais aplaudido, porque fomos os mais sucintos e o mais ligeiro na apresentação.

O fenômeno CONAE 2010 continua. No dia 28 de março de 2010 começará a etapa Brasília. Não sou mais delegada eleita, porém pretendo ir como observadora. Vou observar o que professores dos mais longínquos pontos do País foram fazer lá. Sei que existem muitos professores que foram para cooperar, foram para trabalhar em benefício da sociedade, mas esses, infelizmente, são minoria. Os que não foram eleitos e queriam contribuir para que a Educação melhorasse; esses que ficaram sem voz e que não se oporão ao gasto do dinheiro público para que sindicalistas sem orgulho, sem educação e sem coragempasseiem em Brasília, que querem fazer desse evento um ponto negativo do governo presidencial do Brasil, denegrindo a imagem da situação, vendidos a oposição, a esses Professores que trabalharam, escrevendo e lendo a proposta legislativa da Educação, que voltaram amargurados para casa, sem poder finalizar sua intenção emérita e ética, que se viram soterrados pela avalanche de impropérios e inverdades que os baniu do evento, a todos esses Educadores, dedico esse desabafo.

                                                       
Talma Bastos de Barros