Já li inúmeras crônicas a respeito das crônicas e confesso que me saciei um pouco em cada uma delas, dessa forma, não poderia me furtar desse solene momento, dessa metalinguística.
Escrever crônica é correr riscos. Riscos de se embebedar pela emoção, pela dinâmica do texto e de forma abrupta, ou não, deixar escorregar o gênero de Ruy Castro, Luís Fernando Veríssimo. Escrever crônica é homenagear estes nomes e muitos outros. É ver a Literatura de uma maneira próxima e acessível.
O lapidar de uma crônica acontece no instante que se descobre o passo da valsa entre o conto, com sua introspecção, e os fatos cotidianos ilustrados pela linguagem que diz implícita e explicitamente quem é realmente o homem da era das redes sociais.
Escrever crônica é descobrir o poder imponente da linguagem. É ver nascer de cada palavra os sentimentos e impressões latentes na mente e no coração daquele que é sensível aos passos do mundo, dos seres que habitam o mundo. A crônica é o despertar do escritor e o deleite do, antes da crônica, quase leitor.
A crônica permite o bailar das emoções em dispositivo de serenidade, pois é o dizer suave, cômico, opinativo. Ela demarca o figurativo através do real, não o inverso.
Escrever crônica é expor sentimentos tantas vezes já expostos, mas nunca notados por esse prisma. É recortar situações tão comuns, mas com o glamour que a arte escrita permite. A crônica com sua liberdade de correr riscos entre os gêneros textuais, nos permeia ao estranho prazer de estar sempre a um passo de não fazer uma crônica e finalmente fazer uma crônica.
A crônica, na sua plenitude, denota a leveza dos sonhos confrontados com os (talvez) pesares dos conflitos por que passa o homem. Assim, escrever crônica é se apaixonar pelo que já foi dito e dizê-lo, apaixonar pelo que já foi sentido e senti-lo com a intensidade.
E é esse limite (adrenalina ? diria o jovem ) que provoca no cronista a sensação de que não se pode viver sem esse ofício, o honroso e prazeroso ofício.