CRÔNICA DE UM FELIZ DIA INFELIZ O sujeito acabara de ganhar uma bolada de modo fácil e imoral, mas enfim, era uma bolada quando comparada até mesmo ao seu padrão de vida na empresa. Estava sempre sozinho. Advogado ou contador, quem sabe? Assim que "retirou" a "grana", foi tomado ainda na porta do banco por um pensamentoque atingiu-lhe em cheio a consciência (o pouco que ainda lhe restava).Olhou furtivamente para a calçada e num lapso de caridade observou uma pobre senhora ali assentada com as pernas em ferida. A mesma visão que lhe passara despercebidaquando adentrou à agência para sacar a monta furtada da empresa em que trabalhava havia uns 10 anos e que não lhe reconhecia com o devido respeito. (desculpa fácil para o furto) - Porque não dividir com esta infeliz senhora o dinheiro fácil que acabara de lhe abarrotar a pasta encaixada nas axilas? Isso parece confortar minha consciência! E não é que o sujeito aladeou-se a uma pilastra do prédio, abriu sorrateiramente a sua pasta e daliretirou de si um pacote, nem prestou atenção de que valor estava se desfazendo e ao aproximar-se da velhinha, lhe entregou delicadamente a montoeira elasticada. - Nossa, que foi que eu fiz?! Devo estar perdendo o juízo! Mas de toda sorte, já havia se afastado da cena e a mulher outrora cabisbaixa já estava retomando sua cor, afinal, nunca tinha visto tanto dinheiro. Outro dia tive notícias do sujeito, quando o porteiro do edifício me contou que o mesmo havia mudadode vez para o estrangeiro e que padecia de depressão, o por quê, não se sabia. Eu sabia. Semanas depois ao visitar minha agência bancária, notei pela falta de uma pobre senhora que naquela calçada já compunha a paisagem havia muitos anos com sua perna ferida. - É senhor, veja como são as coisas. A mulher vivia ai a mendigar e a sofrer adoentada. Há alguns meses num é "qui" um sujeito engravatado "parô" do lado dela e lhe deu uma pacoteira. É isso mesmo, uma pacoteira de dinheiro presa num elástico. No dia seguinte a velhinha surtou, disse que ia pagar a todo mundo o que devia, ia fazer isso e aquilo. Animou-se. Emocionou-se e então, morreu. Me contava o guarda bancário. - Morreu?- Isso mesmo dotô, morreu. - De que afinal? - Sei lá dotô, acho que foi de dinheiro. E eu nunca mais perguntei, nem do "Robbin Wood assassino" e nem da velhinha plebéia que morreu de morte morrida. Sei lá e nem quero. - "Cê qué?" Eduardo Cesar Elias de Amorim.