Por Bruno Resende Ramos

O cronista tem por vezes o grande desafio de elucidar, sem contemporizar, assuntos de seu tempo, indagando  a respeito de questões históricas que reclamam solução até os dias de hoje. Deve, portanto, em poucas palavras, falar de um contexto que se sabe complexo sem ser fatídico, repetitivo, sem mergulhar no lugar comum. Assim, tecerá uma teia que prenderá a atenção do leitor e, com sua pena ou teclado, enredará as verdades ocultas nos fatos cotidianos. Deve, pois, abrir as feridas num tempo e curá-las ou sugerir a cura no outro. Ser-nos-á um perscrutador da alma, um estudante dos acontecimentos, um Sherlock das ações institucionais.

A crônica, caro leitor, pode ser preciosa como o marfim. Como parte  virá a justificar o valor de um todo. Se iam os homens à caça e deitavam elefantes pelas suas presas, pelo marfim — e olha que sou contrário a essa prática— assim também o cronista deve por seu método discursivo ter em posse o objeto da razão explícita,  ir à caça  das feras que nos oprimem por maiores que sejam. Detendo-lhes as presas, tornam-se valiosas, objetos do apreciar humano. A sua crônica uma jóia da sabedoria, um conselho ou uma crítica que nos torna imunes a manipulação e as várias formas de opressão. Eis a verdade valiosa como marfim que, em suas palavras vem revelá-la aos nossos olhos. Eu, você, os receptores, entenderemos a dimensão das idéias, compreenderemos a estrutura que nos subjuga, os preconceitos, os conceitos, a farsa. O cronista será às vezes um chato, um incômodo, mas, por certo, um inquieto, um profeta em favor daqueles que se veem oprimidos pela realidade. Ele nos trará os óculos, a lente aos olhos, nos aproximará do novo, da oportunidade, da mudança. O bom cronista velará sobre o tempo, tecerá a razão, formará consciências, denunciará a ignorância, oportunizará a mudança. A palavra certa será um dispositivo para a transformação. Acionada em nós ela revelará, inquietará e nos fará refletir até tornar-se eco nas nossas falas, refutando-a ou manifestando-a como convicção coletiva.

Sem mais empregos de metáforas, sem mais abusar da metalinguagem, peço ao amigo: escreva cronista! Escreva a verdade! Derrube um elefante a cada dia, mas mergulhe nas profundezas das questões humanas, sociais e políticas... Diga tão somente a verdade! Não a empreste, não a venda! E, essa, quem sabe um dia, nos libertará desta cronicidade atroz, dessas mazelas que caem como ácido nos olhos e fardos sobre nosso peito. Evoque em nós a visão da esperança, a auto-estima dos poetas, a certeza da cidadania e a dignidade humana. 

Escreva para nós, enfim, uma crônica de marfim!