Silvana Maria Pilotti Duarte

Resumo: Este artigo tem como objetivo realizar uma reflexão sobre a criatividade e o ambiente escolar, juntamente com a revisão da literatura pertinente sobre o tema, onde serão abordados alguns aspectos relevantes e informações vivenciadas em minha experiência profissional como professora, bem como em monitorias e estágios realizados durante o curso de Pedagogia, argumentando a inegável importância do professor na intervenção do desenvolvimento do processo criativo das crianças em sala de aula, partindo do principio que todo o ser humano nasce com capacidade para criar, e que este recurso vai sendo inibido à medida que ele se torna adulto, visto que a criatividade sofre uma grande influência do ambiente em que as pessoas se encontram inserida.
Palavras-chave: Criatividade. Aluno. Professor. Desenvolvimento. Motivação.

CREATIVIDAD: UNA MIRADA REFLEXIVA EN LA PRÁCTICA DOCENTE
Resumen: El artículo tiene como objetivo reflexionar sobre la creatividad y el entorno escolar, junto com una revisión de literatura pertinente sobre el tema, que tendrá en cuenta algunos datos relevantes y información experimentado em mi experiência profesional, así como tuctorías y practicas realizadas durante el curso de la Pedagogia, discutiendo la importancia inhegable de la intervención del profesor en el desarrolho del proceso creativo de los niños en la aula, suponiendo que todo ser humano nace com la capacidad de crear, y que esta función se inhibe cuando se convierte en un adulto, puesto que la creatividad acepta fuerte influencia del entorno donde las personas se insertan.
Palabras-clave: Creatividad. Estudiante. Profesor. Desarrollo. Motivación.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Falar de criatividade passou a estar muito presente no nosso cotidiano. Em nenhum momento se falou tanto em ser criativo como agora. Mas muito se fala e pouco se sabe, pouco se motiva ou se desenvolve. Atrelados a esse discurso, é muito comum notar que os educadores relacionam criatividade com originalidade, restringindo desta forma os recursos pra motivá-la em sala de aula.
De fato, para sermos criativos, é necessário originalidade, mas ela sozinha, não é suficiente para motivação dos educandos. Ela envolve entre outras coisas, a independência, a personalidade, a curiosidade, a imaginação, o comprometimento, a perseverança nas tarefas, ser aberto ao novo, não ter medo de arriscar e errar, além do que, a criatividade também sofre influência de fatores externos, tanto que as pessoas criativas podem ser reconhecidas pela forma como pensam, por seus valores, temperamento e motivações. Essas pessoas possuem uma característica muito própria, que é a de prestar atenção nas suas próprias divagações, capturando assim, as idéias que elas formam a partir dessas divagações e depois constroem sobre elas.
A criatividade faz parte da natureza humana, ela não é um dom, nós nascemos com a capacidade de criar, e esta pode ser estimulada e se desenvolve nas pessoas em maior ou menor grau, dependendo do ambiente em que o indivíduo se encontra inserido, pois este interfere nos níveis em que o processo criativo se apresenta em cada um de nós.
Assim, podemos afirmar que a criatividade é um potencial presente em todos os indivíduos desde o nascimento, todos nós nascemos com algum grau de capacidade para criar e à medida que vamos crescendo, ela pode ser inibida, destruída ou incentivada, dependendo de onde o indivíduo recebe essas motivações, visto que ela é promovida a partir de motivações intrínsecas do indivíduo (estímulos internos do próprio indivíduo), de sua paixão, de sua curiosidade perante algo que lhe chame a atenção para executar, e ao mesmo tempo, ocorre que a motivação extrínseca (estímulos do ambiente externo), aquela que parte dos aspectos ambientais e sociais, acaba gerando um grande impacto sobre a motivação intrínseca, inibindo muitas vezes, a sua capacidade de dar asas à imaginação, de correr riscos e errar, e conseqüentemente, ter medo dos resultados.
Para compreendermos o conceito dos dois tipos de motivação, tomaremos como exemplo o conceito elaborado por Amabile (1996), onde a motivação extrínseca é definida como algo que o sujeito realize na intenção de ganhar um reconhecimento, onde a sua prioridade se centra no prêmio, numa recompensa, pois segundo a autora esta motivação pode ser descrita como:
...motivação para se engajar primariamente em uma atividade com a finalidade de atingir alguns objetivos externo à própria realidade, tais como alcançar uma recompensa esperada, ganhar uma competição, ou alcançar algum requisito; é percebida por um foco na recompensa externa, reconhecimento externo e direção externa do trabalho do indivíduo.
Assim podemos notar que na motivação intrínseca o indivíduo busca a motivação em atividades envolventes, que lhe causem prazer, realizando atividades pelo simples prazer da atividade por si própria, não pensando em recompensas, as quais seriam advindas da motivação extrínseca. Por outro lado, a autora não exclui totalmente a motivação extrínseca, ela é importante no processo criativo, pois todos nós gostamos de reconhecimento, mas esta não deve prevalecer sobre a motivação intrínseca, devendo auxiliar na condução da criatividade.
...motivação intrínseca é condutiva para a criatividade; controlar a motivação extrínseca é prejudicial para a criatividade, mas permitir a motivação extrínseca pode ser condutiva, particularmente se o nível inicial da motivação intrínseca for alto. (AMABILE, 1996, p.119).
Tomando as motivações como fio condutor da criatividade, se não apresentarmos aos nossos alunos um ambiente que os motive nos seus processos criativos, ouvindo suas idéias, observando suas ações, instigando suas capacidades de pensar, estaremos colaborando para que muitas potencialidades criativas se percam em sala de aula, fique escondida, pois não foram ouvidas, visto que criar é uma capacidade natural da criança, fazendo parte de sua natureza espontânea, assim, é necessário que escola e professores revejam seus conceitos de infância, no intuito de analisar sua estrutura e o jeito de tratar a criança, e se estas estão sendo tratadas como sujeitos de direito e não apenas confinadas num lugar permeado de situações que contribuam para que sua capacidade de criar se anule, pois cabe ao professor não esquecer que a criança é um ser único, dotado de uma grande vontade de aprender, transformar e criar.

O CONCEITO DE CRIATIVIDADE
"Em uma época eu sabia desenhar como Michelangelo, mas precisei de toda uma vida para aprender a desenhar como uma criança." (Pablo Picasso)
Podemos encontrar as raízes do significado da palavra "criatividade" no latim "creare". Este significado encontra-se relacionado com o ato de fazer ou produzir. De acordo com o novo dicionário da língua portuguesa (Ferreira,1996) a palavra criatividade tem como definição o ato de "dar existência; tirar do nada; gerar; formar; dar princípio a; inventar; imaginar; originar, causar, etc. (p. 498)."
Criatividade é a mobilização das capacidades, motivação, cargas afetivas, necessidades, interesses, aptidões, que possibilitam a criança a criar, conceber, imaginar, construir, por meio da ação física ou mental, fazendo surgir algo que ela sinta como nova invenção. (Dicionário prático de Pedagogia, 2003,p. 75)
É uma capacidade humana, uma capacidade cognitiva que lhe permite pensar de modo antecipatório, imaginar, inventar, evocar, prever, projetar, que sucede internamente, a nível mental, de modo mais ou menos consciente e voluntário. (SOUZA, 2003)
Definir criatividade não é tarefa fácil, pois existem várias definições, que tem como origem a sua conceituação em diferentes teorias psicológicas, filosóficas e biológicas, onde cada uma apresenta um conceito de mundo e de homem de acordo com o momento histórico que surgiram.
Na antiguidade, a criatividade era relacionada com alguma forma de loucura, pois se os comportamentos das pessoas destoassem do que era considerado normal para época, onde não se conseguia explicar certas situações que não ficassem bem claras aos olhos da sociedade, eram rotulados como loucos.
Na Antiguidade Clássica, a criatividade era entendida por meio do pensamento filosófico e tinham suas bases ligadas a atividades mentais, as quais eram aplicadas ao entendimento de mundo, e foi a partir desses conceitos que se formaram as Teorias Filosóficas da Criatividade:
1- Criatividade como inspiração divina: é a concepção referente à criatividade mais antiga que se tem registro, e teve sua defesa em Platão e concebia que o poder criativo se encontrava ligado à existência de um pré-consciente espiritual, na origem divina dos acontecimentos. É em Platão que iremos encontrar a melhor explicação para essa crença:
E por essa razão Deus arrebata o espírito desses homens (poetas) e usa-os como seus ministros, da mesma forma que com os adivinhos e videntes, a fim que os que os ouvem saibam que não são eles que proferem as palavras de tanto valor quando se encontram fora de si, mas é o próprio Deus que fala e se dirige por meio deles.
2- Criatividade como um gênio intuitivo: surgiu no final do Renascimento, na intenção de explicar a capacidade que Michelangelo, da Vinci, entre outros, possuíam para atividades que envolviam a capacidade criativa. Essa crença era associada à genialidade e tinha suas próprias leis em relação aos processos criativos, que afirmavam que estes não podiam ser ensinados, uma vez que o poder de criar era considerado algo que só acontecia com os gênios, algo que era pessoal e assim, intransferível, e por isso não poderia a vir a ser ensinado de maneira formal.
3- Criatividade como força vital: esta teoria foi sustentada a partir da Teoria da Evolução de Darwin, e postulava que a criatividade fazia parte de uma força inerente à vida, porque a matéria inanimada como átomos e estrelas, não é criadora, uma vez que produz sempre as mesmas coisas. Já a matéria orgânica, era dotada de poder criativo, pois esta se encarrega de gerar novas espécies.
Durante várias décadas, a associação entre criatividade e loucura perdurou em nossa sociedade e estas se mantiveram até o surgimento do método cientifico, onde aos poucos, a criatividade começou a ganhar formas em cima de fundamentações reais, as quais podiam ser verificadas.
Assim, a partir do século XIX, surgiram vários psicólogos com teorias para tentar explicar a criatividade, onde o comportamento humano tinha um caráter mais científico e menos filosófico, devido à psicologia se encontrar em desenvolvimento.
1-Associanismo e behaviorismo: parte do principio de associar idéias, onde o processo criativo parte do velho [do que já existe] para criar o novo, até que se encontre uma solução que possa resolver alguma situação problematizadora latente. Esta teoria tem bases em duas possibilidades: a tentativa e o erro. As idéias vão se combinando, até que se encontre uma solução para resolver determinado problema. Essa associação de idéias percorre diversos caminhos até chegar a uma combinação certa, onde a repetição é o princípio fundamental para a associação.
O associanismo teve uma grande influência nos trabalhos que se desenvolveram posteriormente, e que seguiam uma linha comportamental (behaviorismo), onde Skinner foi seu maior representante, acreditando que a criatividade se desenvolvia a partir de estímulos e respostas, por recompensas que gerariam conseqüências reforçadoras.
2- Teoria de Gestalt ou Teoria da Forma: gestalt é um termo que deriva do alemão e na língua portuguesa assume a definição de forma. Está centrada no estudo da percepção e a sensação do movimento, e como o sujeito percebe os processos psicológicos que se encontram em determinado estimulo. Ela sugere que as pessoas possuem uma condição natural para organizar a percepção em "gestalts" e a partir daquilo que percebem, acham um significado, e é neste ponto que consiste a criatividade, na demanda de fluidez e capacidade de adaptação: no fechamento de uma gestalt.
Nesse sentido, seu estudo consiste na preocupação dos comportamentos humanos como totalidades, como configurações, como formas com significado, procurando entender os comportamentos, os eventos como uma totalidade e não como partes isoladas. Para exemplificar, vamos imaginar uma cena: estamos no quarto e ao chegarmos à sala, notamos que nossa mãe se encontra fechando a porta e que em sua mão se encontra um envelope. Ao percebermos a cena, imediatamente juntamos os fatos e formamos uma totalidade, que alguém bateu a porta e lhe entregou o envelope. Por outro lado, se gestalt fosse uma teoria que dissociasse as formas, não compreendendo elas como uma totalidade do que vemos, sentimos e interpretamos, compreenderíamos que o envelope já poderia estar nas mãos de nossa mãe e ela estaria apenas fechando a porta, pois acabou de entrar, visto que ela teria aberto a mesma, para poder ver o que estava acontecendo na rua, sendo assim, de acordo com a Teoria de gestalt, o que vimos se tornou uma totalidade, logo, alguém bateu a porta, ela atendeu e recebeu o envelope. Ou se percebe uma situação ou outra, mas não as duas juntas, pois é necessário que se feche uma gestalt para que se possa abrir outra.
A ilusão de ótica é um exemplo muito conhecido da gestalt, a qual se pode citar a figura da taça e perfis, onde uma tem o fundo escuro e a outra clara. Num primeiro momento, olhamos e percebemos uma forma, ou vemos os perfis ou vemos a taça, mas nunca as duas ao mesmo tempo.
Portanto, existe uma separação entre a figura e o fundo, assim, a sua totalidade dependerá de qual parcela nossa mente fixou.
3- Teoria Psicanalítica: tem a imaginação como válvula propulsora da criatividade, e esta imaginação encontram raízes na infância e nas suas brincadeiras, assim o adulto no desenvolvimento do seu processo criativo se assemelha a criança, pois a criança quando brinca fantasia um mundo imaginário onde ela expande seus desejos reprimidos, tornando assim, a insatisfação, uma força propulsora da criatividade. Freud foi seu maior representante, e segundo este autor, a criatividade se forma através dos conflitos presentes no inconsciente, que somente as pessoas insatisfeitas conseguem criar.
4- Psicologia Humanística: estas teorias dão ênfase ao valor intrínseco do individuo, onde a criatividade é auto-realização, sendo ela uma tendência do homem no desenvolvimento de suas habilidades. Seus maiores representantes são: Carl Rogers, Maslow, Rollo May, entre outros.
A partir do início do século vinte, surgem as Teorias Contemporâneas da Criatividade, estas de cunho mais científico e menos filosófico:
1- Análise fatorial: esta teoria faz relação da criatividade com o comportamento, onde a construção da realidade criativa surge dos fatores presentes nessa mesma realidade que influenciou o processo criativo. Guilford é o seu maior representante, e segundo este autor a mente humana consegue abranger cento e vinte capacidades diferentes, sendo que destas, somente cinqüenta são conhecidas. Em virtude disso, irão se formar a capacidade de memória e capacidade de pensamento.
Nesse sentido, Guilford, nos aponta para o fato que a capacidade de pensamento se divide em categorias (cognitivas, produtivas e avaliativas), espécies e fatores. Da mesma forma, ele ainda nos apresenta uma segunda divisão nas categorias produtivas, que é onde identificaremos duas espécies de pensamentos: o pensamento divergente e convergente.
O pensamento convergente é orientado em direção a uma resposta e tem como característica a lógica. Enquanto isso, o pensamento divergente é voltado para a exploração cognitiva, na busca de várias soluções inovadoras e sua característica é a intuição, visto que é no pensamento divergente que iremos encontrar a capacidade de criar do indivíduo, com certeza, este seria o pensamento criativo e quando uma tarefa tem como intuito lançar mão do pensamento criativo, é necessário que tenhamos em nossa mente, quatro coisas: a fluência (significa pensar em muitas idéias, quando esta se faz necessária para a resolução de um problema ou surgimento de uma nova idéia); flexibilidade (pensar em uma variedade de idéias); originalidade (pensar em idéias que sejam pouco usuais) e elaboração (adicionar detalhes para melhorar essas idéias), e o professor deve se encontrar sempre atento as ferramentas utilizadas para que o desenvolvimento do pensamento divergente do aluno se desenvolva.
Segundo Guilford (Apud Kneller, p. 53)
"[?] as capacidades produtivas são de duas espécies, convergentes e divergentes. A primeira é acionada pelo pensamento que se move empós de uma resposta determinada ou convencional. A segunda, pelo pensamento que se move em várias direções em busca de uma dada resposta. Podemos concluir, pois, que o pensamento convergente ocorre onde se oferece o problema, onde há um método padrão para resolvê-lo, conhecido do pensador, e onde se pode garantir uma solução dentro de um número finito de passos. O pensamento divergente tende a ocorrer onde o problema ainda está por descobrir e onde não existe ainda meio assentado de resolvê-lo. O pensamento convergente implica uma única solução correta, ao passo que o pensamento divergente pode produzir uma gama de soluções apropriadas.
2- A Bissociação: esta teoria se encontra fundamentada com recursos da psicologia, neurologia, genética, nas diversas ciências, onde busca subsídios para tentar formar um padrão comum, que é a bissociação. Ela associa simultaneamente dois objetos ou idéias que não tem nada em comum, pois no pensamento comum a pessoa fica presa a um mesmo roteiro de experiências, enquanto que no plano criador, ela gerará simultaneamente, os mais diversos planos referentes à experiência vivenciada.
3- Criatividade e os hemisférios cerebrais: nesta teoria existe uma associação da criatividade com a morfologia e a fisiologia cerebral, a qual se divide em dois hemisférios, onde a capacidade do hemisfério direito é de reestruturar conceitos e o hemisfério esquerdo tem a capacidade de avaliá-los.
Nas palavras de Alencar (1993, p.53),
...o que tem sido proposto é que cada hemisfério cerebral teria sua especialidade: o esquerdo seria mais eficiente nos processos de pensamento descrito como verbais, lógicos e analíticos, enquanto o hemisfério direito seria especializado em padrões de pensamento que enfatizam percepção, síntese e o rearranjo geral de idéias.
Passamos agora para as Ciências Cognitivas, que é o que mais de moderno existe para tentar explicar o que é criatividade. Ela apresenta uma abordagem multidisciplinar para explicar os processos mentais. Gardner (1996, p.18) considera a ciência cognitiva como "um esforço, contemporâneo, com fundamentação empírica, para responder questões epistemológicas de longa data, principalmente àquelas relativas à natureza do conhecimento, seu desenvolvimento e seu emprego."
1- As Inteligências Múltiplas: trata das potencialidades humanas, onde os indivíduos são dotados de alguma inteligência em maior ou menor grau, e que mesmo as outras inteligências podem ser estimuladas, pois a inteligência possui várias facetas, que são os talentos, a capacidade e as habilidades mentais. Seu representante é Howard Gardner o qual identificou nove tipos de inteligências que o ser humano pode desenvolver ao longo da vida: lógica-matemática, lingüística, musical, corporal-sinestésica, espacial, interpessoal, intrapessoal, naturalista e espiritualista. E estas se desenvolvem de acordo com o perfil da pessoa, a área escolhida, e a estimulação recebida, uma vez que a criatividade se encontra presente em todo o pensamento humano.
2- Percepção e representação: esta teoria afirma que o conhecimento do mundo se baseia nas representações das situações e estas são adquiridas pelos sentidos do ser humano (visão, tato, olfato e paladar), pois é através deles que o ser humano percebe o mundo e forma representações próprias e exclusivas.
Essa teoria aceita que cada nova representação reforça uma anterior, gerando um novo conhecimento, ou, rejeitando fatos quando considera que a solução encontrada é insatisfatória para a situação atual. Ao buscar diversas respostas para o mesmo problema existente, na intenção de escolher aquela que mais satisfaz na resolução do problema, é que surge a criatividade no indivíduo.
3- Arquitetura cognitiva: é a teoria onde a aquisição do conhecimento ocorre através da
compreensão onde um processo é disparado por uma situação, sendo que esta situação é uma perturbação interna do indivíduo, e esta é causada por um fator externo. Na resolução do problema, o indivíduo recorre aos seus processos de raciocínio, assim ele buscará construir uma representação para determinada situação na intenção de conseguir compreende-la, e é desta maneira que a sua criatividade se desenvolverá.
As teorias que antecedem a década de setenta, tinham como influência os fatores extrínsecos como propulsores da criatividade. A auto-motivação, inteligência entre tantos outros, eram tratadas como um referencial para que fosse determinado o potencial criativo que cada pessoa pudesse a vir a desenvolver e a partir dessa data, foram surgindo teorias que lançaram um olhar mais observador em relação às pessoas e suas motivações para criar, assim essas teorias, começaram a tratar não só os fatores individuais, mas também aqueles oriundos da influência ambiental, como a família, a escola, entre outros, no intuito de conseguir incentivar e desenvolver a criatividade nas pessoas, sendo que este fato não pode ser considerado como falta de preocupação dos pesquisadores em relação à importância da influência do ambiente nos processos criativos, é que eles tinham apenas como foco de seus estudos, o indivíduo.
Segundo Gardner (1996, p.18):
Assim como seus antigos colegas, os cientistas cognitivos de hoje perguntam o que significa conhecer algo e ter crenças precisas, ou ser ignorante ou estar errado. Eles procuram entender o que é conhecido - os objetos e sujeitos do mundo externo - e as pessoas que conhece - seu aparelho perceptivo, mecanismo de aprendizagem, memória e racionalidade. Eles investigam as fontes do conhecimento: de onde vem, como é armazenado e recuperado, como ele pode ser perdido? Eles estão curiosos com a diferença entre indivíduos: quem aprende cedo ou com dificuldade: o que poder ser conhecido pela criança, pelo cidadão de uma sociedade não letrada, por um indivíduo que sofreu lesão cerebral, ou por um cientista maduro?
De acordo com as abordagens realizadas, podemos concluir, que até hoje não existe um conceito definido para criatividade e que a maior parte dos conceitos referente e ela, nos remete a noção de originalidade e utilidade, onde o processo criativo vai formar bases na capacidade que o ser humano desenvolve durante a vida, na busca de soluções de problemas, nos caminhos para atingir um objetivo, no jogo de cintura cotidiano, na coragem de correr riscos e aproveitar situações para inovar sua trajetória, pois criatividade é uma marca inerente ao ser humano. Para Lubart (2007), "a criatividade constitui um dos traços que mais nos distingue das outras espécies vivas: uma capacidade desde a origem da cultura e da humanidade."
Embora não exista um consenso sobre uma definição de criatividade, podemos dizer que estas são construídas de acordo com os padrões estabelecidos pela cultura, pelo ambiente de cada indivíduo.
O ambiente exerce um papel-chave tanto no desenvolvimento das capacidades criativas como nas diversas formas que pode tomar a expressão criativa...os efeitos do ambiente podem ser observados na onda familiar ou em contextos mais amplos, como na escola...o ambiente psíquico afeta a cada época a quantidade e a qualidade dos trabalhos criativos.(LUBART, 2007)
Para Cskszentmihalyi, (1996, p.23), "criatividade não ocorre dentro do indivíduo, mas é o resultado da interação entre os pensamentos do indivíduo e o contexto sócio-cultural. Criatividade deve ser compreendida não como um fenômeno individual, mas como um processo sistêmico."
O quanto de criatividade existe em um dado momento não é determinado somente por quantos indivíduos originais estão tentando mudar os domínios, mas também por quão receptivo a inovação é o campo. Assim, no caso de alguém desejar aumentar a freqüência de criatividade, pode ser mais vantajoso trabalhar ao nível dos campos do que ao nível dos indivíduos. (CSKSZENTMIHLYI, 1999, p. 327)
Nesse sentido, é possível compreender a importância do ambiente social do indivíduo, dos recursos que ele pode oferecer para o desenvolvimento da criatividade, do incentivo para desenvolver a motivação intrínseca, pois o reconhecimento e a disponibilidade de oportunidades para a pessoa se desenvolver, certamente irão colaborar para que as ocorrências de produções criativas se viabilizem com maior intensidade.
Portanto, se fatores ambientais influenciam no processo criativo dos indivíduos, podemos concluir que a escola é um importante veículo onde a criatividade pode ser estimulada e desenvolvida, pois ela é o primeiro ambiente social em que a criança será inserida, é onde ela irá fazer suas primeiras trocas. Assim sendo, o professor na intenção de estimular os processos criativos de seus alunos, deverá buscar meios de transformar o ambiente pedagógico num espaço favorável ao desenvolvimento da criatividade, visto que o ambiente escolar, muitas vezes, promove obstáculos que podem afetar a criatividade de seus educandos, pois ele tende a subestimar as suas potencialidades desde os anos iniciais, deixando-os assim, abaixo de suas reais potencialidades. Cabe ao professor, através de observações diárias de seus alunos, reconhecerem o potencial criativo que cada um trás dentro de si e que estes devem ser estimulados para se desenvolverem.
O QUE É CRIATIVIDADE
"Criatividade é um labirinto em que difícil não é encontrar a saída, mas sim a entrada". (Rubem Fonseca)
Criatividade é pensar, é usar o raciocínio, planejar, é a capacidade que o ser humano possui para resolver problemas, buscando soluções criativas para atingir seus objetivos, é transformar, é criar algo novo, ela é inerente ao ser humano, mas esta, no entanto, não se apresenta igual para todos, pois algumas pessoas são mais criativas, outras menos, mas todas possuem essa habilidade em maior ou menor grau, e esta pode ser estimulada e desenvolvida. Isto quer dizer que, um indivíduo pode ser um ótimo escritor e um péssimo músico, uma vez que as habilidades criativas do ser humano se desenvolvem de maneiras diferentes e em várias áreas do conhecimento, de suas inteligências.
Como já foi mencionado anteriormente, segundo Gardner, não existe somente um tipo de inteligência, e sim, nove tipos, as quais o ser humano poderá desenvolver ao longo de sua vida e que influenciarão no seu processo criativo. São elas: lógica-matemática, musical, naturalista, intrapessoal, interpessoal, existencial, espacial, lingüística e sinestésica.
Essas inteligências agem combinadas, onde uma pessoa pode vir a apresentar uma combinação de várias inteligências em diferentes tipos e níveis, e são essas características que fazem com que os indivíduos definam suas habilidades criativas, desenvolvendo dessa maneira, a sua capacidade de lidar com problemas e soluções, pois a criatividade pode ser considerada o resultado não somente do nível de inteligência que o ser humano possui, mas também da escolha do campo de atividade escolhido, e este deve ser escolhido de acordo com o seu perfil de inteligência, pois como já foi mencionada, uma pessoa pode ser um excelente escritor e um fracasso como músico, assim podemos perceber que a criatividade não se encontra ligada aos graus de inteligência, e sim, a um exercício contínuo do uso da inteligência, de estimulação, onde quanto mais desafios forem apresentados a uma pessoa, maior será o seu envolvimento criativo, uma vez que quando existe um envolvimento com fatos que requeiram o uso da criatividade, os recursos mentais serão mais exigidos, resultando assim, num maior desenvolvimento das habilidades mentais, as quais expressarão a capacidade para resolver problemas, na intenção de gerar novas idéias.
Além do mais, para que os desafios enfrentados no dia-a-dia ganhem novas formas através de soluções inovadoras, pois ser criativo significa estar motivado intrinsecamente, não ter medo do novo, de correr riscos, enfrentar críticas e ter desejos, de ter paixão, de explorar novos caminhos, pois estar motivado intrinsecamente, apaixonado pelo produto que está sendo criado, faz com que a criatividade tome formas e o medo que sentimos suma, pois estaremos fazendo o que realmente gostamos e Amabile (1996) nos faz referência que "A verdadeira criatividade é impossível sem alguma medida de paixão. O melhor modo de ajudar as pessoas a maximizar seu potencial criativo, é permitir que elas façam algo que amam."
Ao relacionar potencial criativo a paixão, devemos pensar nos inventores, sua paixão em transformar é vital em suas vidas, e na grande maioria das vezes não são tratados com seriedade, pois o irreverente assusta. Eles estão sempre observando o que para nós é obvio, e dessas observações criando algo novo, que nem imaginávamos ser possível. Para exemplificar esta situação, podemos citar a invenção da descaroçadeira de algodão por Eli Whitney (1765-1825), uma vez que até o surgimento da descaroçadeira de Whitney, a separação da semente e da fibra de algodão, era feita manualmente, com sua invenção ele automatizou este processo. Whitney teve a idéia de projetar esta máquina, quando observou um gato que tentava retirar penas de dentro de uma gaiola, usando suas patas. Ao observar a ação do gato ele identificou um princípio, que eram suas pequenas garras prendendo e retirando um objeto, desta maneira, ele pode usar este princípio para produzir algo que veio para contribuir no trabalho dos operários que faziam o descaroçamento manualmente, assim ele automatizou a retirada das sementes de algodão. Esta invenção surgiu do momento em que ele observou o mundo a sua volta, onde conseguiu identificar um princípio que ajudou a elaborar a solução de dois problemas, que era o trabalho manual e o tempo que era gasto para realizá-lo
Em busca de respostas para situações inesperadas, apresentarei um acontecimento, o qual considero possuir um desfecho criativo. Esse fato ocorreu quando lecionava para uma quarta série do ensino fundamental na rede municipal de ensino, no ano de 2004, numa comunidade com condições financeiras precárias, situada numa zona de risco, convivendo com o tráfico de drogas. A turma era muita agitada, com a sexualidade muito aflorada, com um grande potencial de criticidade, composta por trinta e quatro alunos, com idade entre nove e quatorze anos.
Certa vez, ao voltar para a sala de aula, notei que haviam desenhado em minha cadeira um pênis. Ao olhar para aquele desenho, não fiz nenhum comentário, apenas sentei e continuei as atividades. Os alunos ficaram quietos e cochichavam entre risinhos. Ao perguntar o que estava ocorrendo, prontamente eles perguntaram se não havia notado o desenho em minha cadeira, chamando a atenção ao fato de ter sentado em cima de um pênis. Novamente olhei o desenho e lhes falei que ele estava muito mal feito, que faltavam algumas coisas que faziam parte de um pênis, pois o que eu conhecia era mais completo.
Inesperadamente, a sala ficou em absoluto silêncio, e a partir desse assunto, que se encontrava latente dentro da sala de aula, foi iniciado um projeto sobre orientação sexual, o qual foi construído a partir de curiosidades e dúvidas dos alunos. Para não haver constrangimento entre os colegas, foi colocada na última classe da sala uma caixa para que eles sem se identificar, colocassem suas perguntas e sugestões.
O projeto durou quinze dias e teve uma ótima participação da turma, pois os alunos elaboraram as atividades, as perguntas e na medida do possível, consegui sanar as dúvidas e curiosidades daquelas crianças.
Assim, essa experiência possibilitou fornecer aos alunos uma familiaridade com o processo criativo, o qual se efetivou através da oportunidade criada a partir do momento em que eles participaram da criação do projeto, onde através da curiosidade eles elaboraram um levantamento das questões que mais os afligiam, e assim, conseguiram sanar suas dúvidas e preocupações.
Nesse sentido, o professor precisa acreditar nas suas potencialidades criativas, e passar esta ação para os seus alunos, não se limitando a aceitar que sua capacidade se restrinja ao ato de exercer sua profissão mecanicamente, através de perguntas, atividades e respostas prontas, como se estivesse formatado para não pensar, pois a sala de aula, mesmo com recursos simples, pode se tornar um espaço onde a criatividade pode ser amplamente explorada, basta saber ouvir o aluno e seus anseios na busca do novo. É como olhar o céu num dia de nuvens pesadas e imaginar que acima destas nuvens existe um sol brilhando.
Castanho (2000, p.78), afirma que "se o professor é criativo em sua prática pedagógica pode se supor que terá condições mais favoráveis para desenvolver a criatividade de seus alunos." A partir da citação de Castanho, é coerente afirmar que o professor deve transformar sua aula num espaço onde o aluno seja levado a refletir, que as atividades sejam provocativas, fugindo do trivial, do que já se sabe de antecedência, da inércia que se encontra tão presente no contexto escolar.
É importante ressaltar, que preocupação em desenvolver, motivar a capacidade dos alunos em sala de aula, não significa não dar aulas de Português, Matemática ou outra disciplina, nem tampouco deixar de impor limites e regras dentro da sala de aula, mas sim, buscar novas maneiras de trabalhar o conhecimento. Exercitando a imaginação, instigando na procura de respostas, de experiências e soluções, levando assim, os educandos a se beneficiarem com o ato educativo, onde eles possam se expressar gerando novos níveis de saberes, onde a imaginação ganha formas e é valorizada, e conseqüentemente, a elevação de sua auto-estima será de grande valia no processo educativo.
SALA DE AULA E CRIATIVIDADE
"... Era uma vez uma galinha branca que punha ovos azuis...
Ovos azuis? ? reclamou a professora indignada, interrompendo a leitura da minha redação, enquanto a turma se agitava em risinhos de troça e segredinhos maliciosos.
Ovos azuis, sim, senhora professora ? respondi eu ? A minha galinha põe ovos azuis.
A menina está a brincar comigo? Já viu alguma galinha pôr ovos azuis.
Voltei para o meu lugar, de cabeça erguida, enfrentando a galhofa da turma.
Não baixei os olhos. Apenas os senti escurecer, num desafio.
Durante o recreio fiquei na aula, de castigo. Mas não fiz outra redação.
Quando depois do "toque", a professora me chamou para que lesse em voz alta a
a segunda versão, comecei:
Era uma vez uma galinha branca que punha ovos brancos, só porque não a deixavam por ovos azuis..." (BALANCHO)
Este texto ilustra dois pontos significativos e de extrema importância: o aluno criativo, sem medo de desafios, de inovar, de enfrentar o novo; tanto que ele não baixou os olhos, olhou a turma de cabeça erguida, enfrentando críticas e os seus próprios medos. Do outro lado, a professora, acabando com a capacidade criadora do aluno, reprimindo sua imaginação e afetando a sua auto-estima, pois provavelmente esta professora se encontrava centrada na busca de transmitir "corretamente" as informações para os alunos, colocando fora a oportunidade de estimular mais o potencial criativo daquela criança; pois ela, provavelmente se encontrava presa a um sistema educacional conservador e conteúdista, ensinando por condicionamento e repetição.
A partir do momento em que as escolas mostram e cobram de seus professores conteúdos programados, metas a serem alcançadas; automaticamente estarão inibindo o professor de pensar em alternativas criativas em sala de aula, e conseqüentemente, inibindo a capacidade criativa das crianças, e é neste momento a formatação dos alunos começa a criar formas, segue o mesmo rumo do que era ensinado anos atrás, pois o objetivo primordial se torna o de preparar o aluno para enfrentar concursos, vestibulares, emprego e a vida; como se esses dois últimos, não exigissem uma certa dose de criatividade para vencer desafios.
Certamente, isto não quer dizer que as escolas não possam preparar seus alunos para prestarem concursos ou preparar para a "vida", mas sim, que é necessária a conscientização da necessidade de mantê-los interessados aos conteúdos, de maneira que eles se sintam estimulados e encorajados a procurarem novos olhares para um mesmo problema, por isso o professor deve procurar ser criativo, e assim, poder estimular a criatividade em sala de aula, e para que isso ocorra, ele deve perceber o que deixa seus alunos motivados.
Aliado a isso, é importante instigar a curiosidade das crianças, é necessário aprender a ouvir e a respeitar as perguntas pouco convencionais dos alunos, pois muitas vezes, aquele aluno inquieto e curioso, é ignorado pelo professor, simplesmente porque é perturbador, e não por querer saber algo além das aulas, das respostas prontas, do obvio.
"... as crianças assumem riscos. Quando não sabem a resposta, elas chutam. Estou certo? Elas não tem medo de errar...E quando finalmente se tornam adultos a maioria das crianças já perdeu essa capacidade. Elas adquirem verdadeiro pavor de errar..." (KEN ROBINSON)
Com o propósito de dar ênfase às palavras de Ken Robinson, relatarei um fato ocorrido quando lecionava para a pré-escola, no ano de 2003, numa escola da rede municipal, onde a turma era composta por vinte e sete alunos com idades entre cinco e seis anos.
Estávamos trabalhando animais selvagens e animais domésticos. Foi entregue às crianças, uma folha com vários tipos de animais, e pedido para que eles identificassem, marcando com um X, os animais selvagens. Em seu trabalho, um menino marcou um gatinho como animal selvagem. Foi explicado a ele que gato era um animal doméstico, e a explicação recebida foi: "acontece professora, que o meu gato, é um gato do mato." Esta criança não teve medo de estar errada em sua resposta, e deu uma solução diferente para uma situação que parecia obvia.
Em sala de aula, se queremos estudantes independentes em sua maneira de pensar, assimilando os problemas que os rodeia, devemos estimular suas capacidades criativas, pois um aluno com o potencial criativo desenvolvido é capaz de encontrar várias soluções para uma mesma tarefa, facilitando assim, seu desenvolvimento escolar, sua potencialidade em aprender.
Além disso, é necessário manter a criança motivada, apresentando a ela atividades onde sua curiosidade esteja presente, criando um ambiente onde ela possa exercer sua criatividade através de suas habilidades e imaginação, onde ela possa através de seus trabalhos comunicarem suas idéias e sentimentos, pois não adianta somente fornecermos ferramentas para o desenvolvimento da criatividade se não o ensinarmos o aluno a usá-las, quando utilizá-las, como utilizá-las e onde elas podem vir a ter utilidade.
Portanto, podemos afirmar que a criatividade não pode ser ensinada, e sim, desenvolvida, estimulada, de acordo com a idade da criança, e no que diz respeito à criatividade, podemos constatar que ela não é um privilégio somente dos grandes músicos, artistas, etc., pois podemos ser criativos em todos os contextos sociais aos quais estamos inseridos, e cabe ao professor não perder o seu foco, que é o aluno, porque não são apenas os recursos tecnológicos ou trabalhos artísticos que podem contribuir para estimular o processo criativo do educando, visto que atividades com recursos simples, também permitem explorar este potencial nas crianças, e estes, podem ser desenvolvidos através de atividades que provoquem desafios e levem o aluno a pensar, imaginar e criar, formando assim, futuros cidadãos atuantes e participantes nos processos sociais.
O professor ao lançar situações problematizadoras, promovendo um ambiente de atividades que instiguem a curiosidade do aluno, levando-os a raciocinar, estará melhorando a qualidade da aprendizagem e ao mesmo tempo estimulando a criatividade e a inteligência da turma, pois se o professor se torna um agente criativo, logo, ele traçará nos seus planos diários, processos que visem à estimulação do desenvolvimento da criatividade, mesmo com todas as dificuldades que o sistema educacional impõe diariamente aos professores, no que se refere ao seu fazer pedagógico em busca de vencer os conteúdos ao final do ano, e é muito comum constatarmos no ambiente escolar essa preocupação; a de vencer conteúdos e metas, onde a memorização prevalece sobre a construção, e não dar voz ao aluno é o mesmo que possuir uma sala de aula informatizada e fazer com que eles decorem a tabuada.
Inquestionavelmente, a criatividade da criança em sala de aula só se desenvolve a partir do momento em que ela percebe o sentido do processo de aprender, e para que isso ocorra, é necessário que o professor revise a sua maneira de ensinar, procurando inovar sua prática pedagógica em busca de situações que atraiam a curiosidade e interesse dos alunos, além disso, uma boa proposta para aguçar a criatividade infantil, são os contos de fadas narrado pelo professor de forma onde a dramatização esteja presente, com entonação de voz e gestos.
Assim, esse recurso tão presente nas salas de aula, e ao mesmo tempo tão pouco explorado, representa uma poderosa alavanca que impulsiona a imaginação da criança, pois esta atividade permite à criança a oportunidade de imaginar e se expressar a partir da experiência vivenciada com o fio condutor do professor, pois quando nossos alunos se deparam diariamente com tarefas prontas, como desenhos xerocados, estes, podem contribuir para inibir a imaginação da criança, logo, a sua capacidade de criar.

Segundo Vygotsky (1982, p.31-32)
"...a imaginação criadora é resultado da capacidade de fantasiar situações. O indivíduo irá criar segundo a sua capacidade de imaginar e fantasiar com base numa série de fatores, entre eles, a experiência acumulada, enquanto produto de sua época e seu ambiente.
Dessa forma, em sala de aula, o professor pode lançar mão dos contos de fadas e usá-los de maneira que os mesmos sejam explorados em toda a sua riqueza e que estes sejam transportados para o desenvolvimento de atividades e habilidades, no intuito de aguçar a capacidade criativa da criança, além de colaborar para seu amadurecimento e independência, e uma criança independente, se encontra mais disposta a correr riscos, a questionar, não aceitando a famosa resposta "por que sim" ou "por que não", pois para elas, se existe uma pergunta, deve haver uma resposta.
Sob o mesmo ponto de vista, as brincadeiras são de extrema importância no processo criativo da criança, e estas devem ser promovida com integração enquanto a criança constrói e brinca, visto que quando uma criança brinca, constrói, ou se imagina numa determinada situação, sua criatividade em resolver problemas poderá ser notada em suas ações, no momento em que ela se organiza para solucionar as questões que ela está vivenciando na brincadeira, pois ela estará motivada intrinsecamente e extrinsecamente, e ao mesmo tempo, quando esta brinca com outras crianças, estará desenvolvendo sua socialização através da interação.
(...) Uma criança não se comporta de forma puramente simbólica no brinquedo; ao invés disso, ela quer e realiza seus desejos, permitindo que as categorias básicas da realidade passem através de sua experiência. A criança, ao querer, realiza seus desejos. Ao pensar, ela age. As ações internas e externas são inseparáveis: a imaginação, a interpretação e a vontade, são processos internos conduzidos pela ação externa. (...) (VYGOTSKY, 1989, p.114)
Outro aspecto relevante para contribuir no desenvolvimento da criatividade dos alunos, é o estudo da arte em sala de aula, onde a criança possa entrar em contato com obras e também poder se expressar livremente, através de temáticas significativas que estejam sendo trabalhadas no momento, pois se apresentarmos somente "folhinhas" xerocadas, contendo modelos estereotipados, a criança crescerá com a certeza de que não sabe desenhar, não sabe pintar, não sabe ou não consegue imaginar, ou mesmo perguntando se pode "imitar" o colega, copiar de revistas ou livros, sendo que é através da arte que se cria a possibilidade de se conseguir fazer uma leitura e releitura criativa do mundo.
Por meio da arte é possível desenvolver a percepção e imaginação, aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. (ZAGONEL, p.29)
Enfim, podemos afirmar que na escola o ensino voltado para o desenvolvimento dos processos criativos em sala de aula, deve estar presente em todos os componentes curriculares. Sobretudo, a criatividade deve ser uma preocupação generalizada na escola, acontecendo nas diferentes áreas do conhecimento, de forma interdisciplinar. Além do mais, deve ser apresentado ao aluno e ao professor, um ambiente que eles possam construir juntos, permitindo ao professor escutar e observar reflexivamente o seu aluno, não subestimando sua capacidade em aprender, conduzindo o aluno a buscar alternativas inovadoras para situações inusitadas, sem medo de dar respostas erradas e fazer perguntas inesperadas, pois as pessoas criativas são "mais representativas no aprender a ser, mais comunicativas no aprender a conviver, mais corajosas no aprender a fazer e mais sistêmicas no aprender a conhecer."
Definitivamente, é possível perceber o quanto a educação pode contribuir no processo criativo, pois é ela, através de uma postura inovadora e sensível que contribuirá para que a criança venha a se tornar sujeito do seu processo de intervenção, desenvolvendo sua autonomia, confiança e segurança. Ao se sentir valorizado no seu produto final, a auto-estima do aluno se eleva, e conseqüentemente, seu aprendizado se torna significativo.
Segundo Sakamoto (2000, p. 52), "criatividade é a expressão de um potencial humano de realização, que se manifesta através das atividades humanas e gera produtos na ocorrência de seu processo."
É indispensável expressar quando se trata do estudo da atividade criadora, que este tema nos coloca em contato com interessantes compreensões sobre a natureza humana, uma vez que, através da criatividade, o ser humano realiza a construção de seu destino e do próprio mundo. Devemos acrescentar a isto, que através da atividade criativa, os seres humanos alcançam uma consciência sobre suas potencialidades, desvendam a condição genuína de sua liberdade pessoal e edificam sua autonomia, uma vez que através da criatividade, o homem existe e evolui, se expressa e, modela parcelas da realidade do universo das infinitas possibilidades humanas. (SAKAMOTO, 2000, p.52)
Enfim, para valorizarmos nossos alunos e suas capacidades, temos que abandonar velhas práticas: "Como eu aprendo, eu ensino", pois esta frase nos remete a urgência de deixar no passado as velhas salas de aula onde se acreditava que todos aprendiam da mesma maneira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao abordarmos e refletirmos sobre o tema envolvendo a criatividade humana notou-se que várias teorias surgiram na intenção de tentar entender e explicá-la, aonde uma teoria vinha para completar à outra e que até hoje ainda não chegamos a um conceito definitivo para criatividade, e sim, que todas concordam em vários pontos significativos: a criatividade é algo inerente ao ser humano, que esta se desenvolve a partir de motivações e que o meio em que o indivíduo se encontra inserido influencia para que ela se desenvolva ou desapareça.
Por isso, no que se refere ao desenvolvimento da criatividade, podemos perceber que o ser humano ao longo de sua vida vai perdendo esta capacidade, e é na família o primeiro lugar que ele se defrontará com a sufocação do ato de criar.
Exemplificando, podemos citar os pais que tentam conduzir as brincadeiras de seus filhos, cuidando para que estes não estraguem seus brinquedos, privando-os de brincar com certos brinquedos com seus amiguinhos, chamando-lhes a atenção quando se sujam, ou mesmo, quando na intenção de perceber o mundo, a criança tenta conhecer um objeto ou brinquedo usando as mãos. Ela quer pega-lo, sentir sua forma, sua textura, explorando-o nos mais diversos detalhes, mas logo são impedidas, pois a mãos não tem olhos. Inquestionavelmente, o adulto perde a capacidade de compreender que a criança se desenvolve e percebe o mundo através dos sentidos, e isto tudo, em nome da "boa educação". Não devemos privar a criança de se desenvolver, mas sim, conduzi-la nessa caminhada.
A escola, com certeza, vem a se tornar o próximo grupo social que irá contribuir para que a capacidade de criar da criança desapareça, apesar de sua criatividade já se encontrar asfixiada, pois esta teve início no seio familiar, através de regras muito rígidas, e estas são importantes, uma vez que é através delas que delimitamos o nosso espaço no convívio social, e estas podem e devem ser aplicadas, desde que haja certa flexibilidade ao conduzi-las.
Ao chegar à escola, a criança que já está com a criatividade afetada, se depara com um ambiente onde sua capacidade de criar não ganha motivação, logo, ela perderá esse rico potencial, e definitivamente, o mundo perde cada vez mais seres criativos. Além do mais, em nenhum momento se exigiu tanto que o ser humano fosse tão criativo quanto hoje, pois ser criativo, entre outras coisas, está ligado à capacidade de enfrentar problemas, criando soluções inovadoras e que ao mesmo tempo se adaptem ao contexto ao qual ele está se manifestando. A vida pede isso, pois cada vez mais as empresas estão à procura de pessoas com um potencial inovador desenvolvido e esta capacidade de inovar e buscar soluções começa a se desenvolver desde a mais tenra idade, a partir do momento que a criança chora para mamar.
Assim, cabe ao professor em sala de aula, estimular a criatividade de seus alunos de forma interdisciplinar, oferecendo temas problematizadores, aguçando seu raciocínio, imaginação, curiosidade, ouvindo e questionando, contribuindo para que eles percam o medo de assumir seus pensamentos e perguntas, e assim, não fiquem condicionados a obter a confirmação ou aceitação do professor, para somente depois ir à busca de dar continuidade as tarefas que provocam sua criatividade.
Nesse sentido, o professor tem a responsabilidade de resistir ao fato de seguir métodos a risca, dar sua aula, fechar o diário de classe e ir para casa, pois no dia seguinte o seu diário ou mesmo o livro didático, lhe dirão exatamente de onde retomar a aula. Dessa maneira, o educador também não estará estimulando a sua criatividade, e será contaminado pelo pensamento educacional existente em diversas escolas, e é necessário que ele não se limite a andar de acordo com a carruagem, preso a metodologias impostas, sendo assim, torna-se importante salientar que o desafio maior do educador em sala de aula, consiste em fazer com que os conteúdos de suas aulas sejam atrativos e instigadores, onde o aluno seja o sujeito do seu conhecimento, onde sua criatividade e criticidade se desenvolvam para formar um ser capaz de exercer seus direitos dentro da sociedade, e que certamente mudar um contexto não é uma tarefa fácil, pois implica em correr riscos, se impor as normas, fazer, repensar e tomar um novo caminho, pois as mudanças têm que primeiro atravessar a escola e o professor, para depois tocar o aluno.
Portanto, a formação continuada do professor é de suma importância, sendo necessário que ele se atualize, buscando novos fazeres que o ajudem a conceber os processos criativos em sala de aula, oferecendo diversas oportunidades para que os alunos expressem seu pensamento, valorizando e apreciando os trabalhos das crianças e os esforços que elas lançam mão para realizá-los. Entretanto, ao mesmo tempo em que isso ocorre, o professor deve ir modelando o seu próprio pensamento criativo, pois se queremos alunos criativos temos que resgatar a nossa criatividade, pois é complicado querermos cobrar algo que não podemos oferecer. Por isso a necessidade de compreender como se desenvolve a criatividade, os processos criativos dentro da sala de aula com nossos alunos, e aos poucos, caminhar na busca de mudar nossa maneira de ensinar e conseguir que as instituições educacionais se adéqüem a essa realidade, investindo na formação do professor.

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