CRIATIVIDADE E MOTIVAÇÃO NA FORMAÇÃO DOCENTE[1]

 

Tânia Maria Rodrigues Banganha Prato

Pedagoga pelo UNASP – Centro Universitário Adventista de São Paulo

Pós-Graduada em Docência Universitária pelo UNASP – Campus de Engenheiro Coelho.

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Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a importância da motivação no desenvolvimento da criatividade numa perspectiva de relação com a formação do professor. Discorre sobre os aspectos que influenciam a criatividade, como o trabalho, ambiente familiar, características da personalidade, fatores hereditários e biológicos e o espaço da sala de aula. Busca uma compreensão de como melhorar a prática pedagógica para que esta seja valorizada e resulte em ações que visam o desenvolvimento criativo dos educandos, bem como a conquista da liberdade de expressão e da sua autonomia pessoal. A pesquisa reconhece a criatividade como uma ferramenta preciosa para a inovação do espaço da sala de aula, oportunizando aos futuros professores a descoberta de uma nova realidade educacional.

Palavras chave: Criatividade, Motivação, Formação do Professor.

 

Abstract: This article aims at analyzing the importance of motivation in the development of creativity within the setting of teacher development. It discusses the aspects which impact creativity such as the workplace, family, personality traits, hereditary and biological factors and the classroom. In addition, it seeks for an understanding of how to improve the teaching practice in order to add value to it and bring about actions to foster the development of students’ creativity and help them achieve their freedom of expression and personal autonomy. This research recognizes creativity as an invaluable tool for innovation in the classroom, providing future teachers with insights leading to a new educational reality.

Key words: Creativity, Motivation, Teacher Development

 

 

 

Introdução

 

O processo ensino/aprendizagem é apresentado na literatura educacional brasileira sob vários aspectos, dando margem a discussões no mundo acadêmico. Para implementar e contextualizar essa dinâmica levaremos em consideração as modificações que nossa sociedade tem enfrentado no decorrer do tempo, dentre elas o ritmo acelerado de informações e o desenvolvimento tecnológico que influenciam diretamente sobre a maneira de pensar, bem como a necessidade de aprimoramento na prática pedagógica.

Diante do quadro que vivenciamos, faz-se necessário uma reflexão profunda quanto ao ato de ensinar. O grande desafio para os docentes é como tornar atrativo tanto a internalização (aprender), como o modelo de ensino (ensinar), pois são indissociáveis no processo da aprendizagem.

 

Desenvolvimento Humano e Criatividade

 

É inerente ao ser humano a busca pelo novo, sempre tendo em vista o futuro que por vezes é incerto e ao mesmo tempo complexo, o que exige mudanças, e nesse contexto a criatividade tem se destacado como uma das habilidades de sobrevivência nesse milênio, tanto para as atividades diárias, como no plano profissional (ALENCAR, 1996).

A criatividade ao longo do desenvolvimento humano irá revelar-se mais ou menos, como resultado das interações estabelecidas nos ambientes familiares, escolares e de trabalho, aliados aos fatores hereditários e biológicos tais como: a personalidade e as habilidades cognitivas.

Taylor (1976, p.28) faz a seguinte referência: “A criatividade emerge no nível adulto como complexo resultado de muitos fatores ligados à hereditariedade e à história da própria vida de cada um.”

Estimular o potencial criativo poderá ser usado como uma grande ferramenta na expressão de idéias, contribuindo para que práticas educativas tradicionais que valorizam exageradamente a memorização sejam abolidas dando espaço para a reflexão, atitude indispensável para a boa formação num mundo globalizado.

O ato de educar é dinâmico e constante o que possibilita ao professor ser um agente propulsor da criatividade, tornando assim prazeroso a busca por novos conhecimentos nas suas várias formas e possibilidades.

 

Conceitos sobre Criatividade

 

Quando analisamos o conceito criatividade, um grande leque de conceitos, opiniões e teorias descortina-se diante dos nossos olhos.

Inúmeras são as definições propostas para o termo criatividade. Partindo do dicionário constatamos que criatividade é definida como “dar origem, produzir, inventar, gerar idéias”.

Na antiguidade clássica duas idéias se destacavam:

 

A criatividade como sendo de origem divina: Platão declarou que no momento da criação, o homem era tomado por uma força superior não tendo controle sobre si mesmo.

Criatividade como loucura:Esse conceito tem seus princípios fundamentados na mente de Platão que entendia a espontaneidade como fruto de um acesso de loucura. Teve um novo alento com os trabalhos do sociólogo Cesare Lombroso (1836-1909), que difundiu o conceito de que a natureza irracional ou involuntária tem uma explicação patológica, seguida por Freud que sugere a arte como um meio de expressão dos conflitos internos que de outra maneira se manifestariam como neuroses. Até os dias de hoje muitos consideram os que têm talento criativo desenvolvido como pessoas, estranhas, esquisitas, “tocadas”,etc.

Numa perspectiva psicológica a criatividade será apresentada com enfoque em algumas abordagens, segundo Papalia (2006).

 

Modelo Mecanicista (Pepper): As pessoas são como máquinas, são previsíveis e reagem aos estímulos internos e externos.

Aspecto Psicanálitico (Freud): Destaca as forças inconscientes como motivadoras do comportamento.

O Comportamentalismo-behaviorismo (Watson): Para os behavioristas a influência social e a experiência interferem muito nos comportamentos, e a hereditariedade é ignorada.

Teoria Sociocognitiva: Os teóricos da aprendizagem social como Bandura, acreditam que os comportamentos são adquiridos pela observação e imitação de modelos.

O Gestaltísmo (Kohler): Faz menção ao “insight", que se traduz como um momento criativo para a solução de problemas.

Os humanistas (Maslow): destaca a hierarquia das necessidades humanas como indispensáveis para a auto realização, resultando em uma melhor aceitação de si mesmo e do outro, contribuindo para a espontaneidade e a criatividade na resolução de problemas.

 

No aspecto psico-educacional, Beaudot (1975), destaca os estudos de Guilford, sobre a natureza da inteligência, estudo este que resultou na sua Teoria do Pensamento Criativo e que se caracteriza pelas diferentes repostas que podemos dar a um problema.

O pesquisador da Teoria Educacional Paul Torrance, após uma análise sobre várias pesquisas sobre o desenvolvimento da criatividade faz a seguinte observação:

Segundo Torrance; Beaudot (1976, p.36).

 

Parece, realmente que o resultado mais interessante obtido pelos pesquisadores seja o fato de que numerosas crianças, que nada aprendem, ou aprendem mal com os métodos da escola tradicional, aprendem muito bem quando encorajadas a fazê-lo de modo criativo. Os métodos baseados na criatividade parecem realmente possuir essa motivação intrínseca que torna inteiramente inúteis recompensas ou punições, sob uma forma ou outra. Se mantivermos despertas as capacidades criadoras das crianças, se as guiarmos de modo discreto, obteremos aprendizagem melhor que toda a que pôde ser obtida até agora.

 

Isso bem pode se aplicado no contexto da sala de aula no que se refere à formação de futuros professores. Cabe à educação nutrir a criatividade com doses generosas de possibilidades.

Outro aspecto conceitual faz alusão ao desenvolvimento e domínio dos “hemisférios cerebrais”, que se refere às teorias psico–fisiológicas; e também não menos importante às questões sociológicas, das quais recebemos influencias que   refletirão no processo criativo.

No âmbito das “organizações” a criatividade é o resultado das características do ambiente interno como as práticas interpessoais, sistemas de normas e valores e também os incentivos e desafios que poderão resultar em estímulos ou bloqueios a criatividade. (ALENCAR, 1996).

Alencar (1996) nos sugere que criatividade é inovar, e inovar remete à implementação de uma nova idéia em resposta a um problema ou dificuldade. Considerando o aspecto educacional isso se aplica muito bem, pois diante de tantas inovações tecnológicas e desafios na educação o espaço da sala de aula é propicio para oferecermos encorajamento aos alunos desde os primeiros anos de ensino.

“A criatividade é uma característica de nossa espécie” nos afirma Predebon (2001, p.9), e para melhorá-la é preciso praticar, pois o que não é desenvolvido tende a atrofiar-se.

Partindo desse pensamento compreendemos que a criatividade pode ser ensinada aqueles que não a têm desenvolvido. Neste contexto precisamos considerar que a bagagem que trazemos no que se refere aos aspectos sociais, cognitivos, motivacionais e nossa personalidade irão ter um peso considerável no processo criativo, e é justamente na observação desses fatores que os professores deverão estar atentos para que, melhor possam exercer sua função de agente de mudança do fazer pedagógico.

Esse desafio abrange os anos iniciais da educação e também a educação no nível superior no que se refere à formação docente. Novos paradigmas precisam desabrochar em sala de aula e isso só é possível ocorrer se for mantido um clima de autêntica liberdade mental acompanhada de estímulos, para que esses futuros educadores ousem pensar de modo diferente, sem medo de serem ridicularizados; que as novas idéias os levem a ação e que essas novas atitudes sejam realizadas com propósitos nobres.  Somente assim a arte de educar terá um novo significado.

 

Criatividade e Infância

 

Faz-se necessário uma compreensão do que ocorre em cada etapa do nosso desenvolvimento, e de como cada fase é importante para o bom desempenho das  habilidades cognitivas no futuro, inclusive a criatividade.

Os primeiros anos na vida do ser humano são decisivos para o seu desenvolvimento. Segundo Young (2010), é durante a primeira infância (nascimento até os 3 anos),que são estabelecidos os padrões de comportamento, competência e aprendizagem.  Nessa fase o cérebro aumenta sua complexidade tornando a criança altamente sensível a influência do ambiente, capacitando-as a aprenderem e lembrarem-se. (PAPALIA, 2006).

Assim, é no ambiente familiar que a criança obterá suas primeiras experiências ao longo do ciclo vital e que ira refletir em atitudes assertivas ou não no futuro. Seus interesses precisam ser estimulados. As experiências de aprenderem com os erros resultarão em respostas diversas dependendo dos estímulos recebidos frente às diferentes experiências vivenciadas, pois poderão simplesmente serem reprimidos diante dos seus  erros ou serem  respeitados  quanto a sua maneira  de expressar-se e assim conduzidos para o comportamento desejado.

Os anos iniciais são determinantes na vida do ser humano quanto ao seu futuro, como afirma Young.

 

O desenvolvimento cerebral nos primeiros anos afeta a saúde física e mental, a aprendizagem e o comportamento durante a vida toda. O que, como e o quanto as crianças aprendem mais tarde na escola dependem de competência social e emocional e das habilidades cognitivas que elas desenvolvem nos primeiros anos de vida.(Young, 2010, p.5).

 

As etapas seguintes são descritas por Papalia (2006, p.52-53) da seguinte maneira:

Na segunda infância que abrange a idade dos 3 aos 6 anos, a criança já é capaz de ter idéias lógicas sobre o mundo, apesar da sua imaturidade cognitiva. Aperfeiçoam a linguagem e a memória, sua inteligência torna-se mais previsível, porém é egocêntrica.

 

Entre os 6 e 11 anos é a idade direcionada a terceira infância, as crianças já se beneficiam com a educação escolar, assim a construção dos seus pensamentos tornam-se mais lógica e concreta, aumentando as habilidades da memória, o egocentrismo diminui e a linguagem aumenta consideravelmente. Também é durante esse período que as crianças manifestam habilidades e necessidades especiais e precisam de ajuda para que possam ser bem direcionadas evitando-se com isso manifestações indesejáveis para sua boa formação. E a escola nesse sentido tem um papel importante, uma vez que a criança passará boa parte do seu dia em sala de aula.

A adolescência (11-20 anos) se caracteriza pelos fortes laços de amizade com o grupo e o poder de influenciar e ser influenciado dentro do mesmo grupo. Sua capacidade de pensar torna-se mais abstrata. Academicamente seus esforços estão voltados ao preparo da escolha da vida profissional e o ingresso na universidade.

 O auge, no que se refere à escolha profissional, acontece no inicio da fase adulta (alguns um pouco antes), a partir dos 20 anos de idade. Sua personalidade praticamente é estável, contudo poderá ainda passar por mudanças de acordo com as experiências vividas.

 É nesse momento que os estímulos oferecidos nas etapas anteriores oferecidos pela família e educadores se manifestarão de modo passivo ou não, diante das decisões que irão acompanhar esse jovem por toda a vida, podendo ser ou não uma fonte de prazer e realização.

Conhecer como se processa o desenvolvimento cognitivo no ser humano oferece-nos parâmetros para melhor trabalhar e estimular a criatividades na área educacional, e as atividades oferecidas em sala de aula devem proporcionar condições para tal aprendizagem.

No campo da criatividade afirma Predebon (1998, p.115) “importa menos como nascemos do que como nos educamos”. Esta afirmação nos leva a pensar no papel fundamental da educação no desenvolvimento da criatividade.

 

 

 

Prática Pedagógica e Criatividade

 

Falar sobre qual a melhor prática pedagógica a ser adotada é tarefa que requer muita reflexão. Muitos debates e estudos já foram e são realizados, especialmente no que diz respeito à formação docente.

Refletir sobre esse processo é um exercício diário que requer do educador comprometimento e dedicação ao ato de educar, pois o que se ouve nos corredores e salas de aula das instituições de ensino superior, no que tange aos cursos de licenciatura são conversas de alunos desanimados e com poucas perspectivas quanto ao futuro profissional, alem de questionamentos sobre realmente valer a pena diante de tantos desafios ao dedicarem-se para o plano de carreira acadêmica. O que é ainda mais deprimente é que muitos desses alunos refletem situações negativas vivenciadas em sala de aula por seus educadores que por gestos e palavras os desmotivam quanto a construírem uma carreira, o que é imprescindível para qualquer formação profissional. Sob os aspectos abordados, o ato de ensinar e aprender acabam penalizados de modo lamentável.

Não é objetivo destacar nesse trabalho somente os aspectos negativos que muitos educandos vivenciam, mas são questões que causam inquietação, pois afinal, ainda temos educadores que trabalham na formação de futuros professores,  que se manifestam com atitudes negativas e pessimistas quanto ao trabalho de educar. É necessário que tal atitude seja eliminada das salas de aula. Por outro lado quantos não se lembram de professores que foram e continuam sendo fonte de inspiração para o desenvolvimento pessoal e profissional. O respeito pelo outro especialmente no que diz respeito aos seus saberes, a ética e a coerência devem prevalecer ao mal estar pessoal do educador.

A escola contemporânea sofre com o desenvolvimento acelerado que acontece a sua volta, portanto ações que visam à busca constante por conhecimento teórico-científico do educador é um indicativo de que ele está preocupado com sua ação pedagógica. Divergências de informações nas teorias estudadas proporcionarão uma reflexão sobre sua ação, resultando em contribuição para uma maior assertividade no processo ensino aprendizagem.

A teoria é importante, pois ela nos oferece sustentação para o trabalho a ser desenvolvido, porém a prática deve ser aliada como componente indispensável para o sucesso da aprendizagem, ambas precisam caminhar juntas para não cairmos na mediocridade da repetição sem sentido para os educandos.

 

(...) o que importa na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser ”educado”, vai gerando a coragem. (FREIRE, 1996, pp. 50-51).

 

É preciso dar sentido a tudo o que se ensina para o educando. Se ele não vivenciar isso em vão trabalhará o educador.  O mecanismo ensino/aprendizagem  deve ser uma via de mão dupla, caso contrário o ensino não passará da esfera da memorização, bloqueando as habilidades criativas de serem desenvolvidas. Gusdorf, (citado por Beaudot,1975), faz referência ao erro em que muitos educadores incorrem ao não duvidarem de si mesmos. Estes se acham detentores da verdade, tendo em vista somente a imposição sobre os alunos aplicando técnicas que em muito pouco contribuem para o desenvolvimento e formação dos alunos limitando-os a olharem além do que enxergam.

Aprender criativamente envolve a participação do educador e do educando. A troca de experiências dará espaço para um diálogo na qual as possibilidades de definir e redefinir o ato de aprender ganhará novos significados.

Também é real que há diferenças nos estilos de ensinar que não devem ser ignorados, bem como as diferenças no modo de aprender, considerando que cada um tem sua individualidade que precisa ser respeitada. Acredita-se que o professor criativo, em sua ação pedagógica proporcionará condições para que seus alunos desenvolvam a criatividade dentro das atividades propostas. Os desafios e dificuldades são muitos, por isso faz-se necessário à busca por soluções que viabilizem práticas educativas atrativas para a sala de aula. A mudança deve começar dentro de nós educadores, adotando uma consciência crítica no sentido de contribuir para a formação de pessoas, para tanto se faz necessário envolvimento com o trabalho e comprometimento com a educação a despeito das situações negativas, bem como ter e manifestar atitudes otimistas com coragem para correr os riscos que as mudanças geram. Junto a isso é necessário uma grande dose de autoconfiança, flexibilidade, iniciativa e persistência para que possamos vivenciar um novo processo criativo em sala de aula. (ALENCAR, 1996).

Priorizar a reformulação de uma prática pedagógica criativa é imperativo nos dias contemporâneos. A escola precisa deixar de ser vista como uma obrigação para o aluno. Sala de aula é o espaço ideal para as grandes descobertas, ao ponto de o próprio educando surpreender-se consigo mesmo ao expressar suas idéias. Somente assim ele passará de mero espectador de informações para um idealizador criativo no processo educacional.

 

Criatividade e a Formação do Professor

 

Quando se trata da formação docente, nutrir a criatividade é agir com sabedoria. O pensamento criativo não é função apenas dos anos iniciais da escolaridade, pois as instituições de ensino superior também desempenham um papel significativo no que diz respeito à formação dos futuros profissionais, cabendo ás universidades despertar o potencial criativo que existe em cada sujeito em formação. (CASTANHO, 2000).

No contexto cultural contemporâneo pouco espaço existe para a racionalidade técnica, o pensamento crítico é exigido significativamente de cada ser humano que precisa escrever sua própria historia.

Questionamentos sobre o que oferecer para uma boa formação docente, permeiam os conteúdos nas suas formas didáticas e metodológicas. Dentre os desafios podemos citar o aspecto das competências necessárias para que o educador desempenhe bem sua função, e sobre quais as estratégias a serem adotadas em parceria com a tecnológica e a rapidez das informações num simples “clicar”. Essas e outras questões precisam ser consideradas para que possamos realizar uma análise dos fatores que possam vir a contribuir como inibidores ou facilitadores ao estimulo da criatividade no ensino superior.

É requerido do educando que se prepara para a vida docente, que ele receba em sua formação acadêmica uma sólida bagagem cultural, social, filosófica, psicológica e didático-pedagógica. Esses aspectos bem trabalhados são relevantes para o desenvolvimento da criatividade. Assim realizado o educando será capaz de reformular o sentido da educação e ter uma nova concepção sobre a arte de ensinar.

Anderson citado por Taylor (1976, p. 170), faz referência a dois conceitos: os “facilitadores” e “inibidores” do desenvolvimento criativo no ensino superior. O primeiro como “Sistema Aberto”, para indicar o fator facilitador cuja característica permite originalidade, experimentação, iniciativa e invenção como mecanismos que proporcionam a criatividade. E o segundo conceito indicado por Anderson é o “Sistema Fechado”, como inibidores da criatividade no ensino superior que se caracteriza pela extrema valorização do conhecimento através da memorização e das descobertas de respostas fixas para os problemas. O educador que trabalha com a formação do futuro professor, precisa vivenciar o “Sistema Aberto” tendo consciência que suas atitudes refletirão em muitas atitudes futuras no ensino.

Considerando os aspectos acima, ousaríamos pensar que uma mudança no que se refere à qualidade do ensino superior se faz necessária, a partir da intenção e da motivação individual do próprio docente. Cabe as Universidades estimularem seus alunos a pensarem com autonomia intelectual para que as inquietudes contribuam para uma sólida aprendizagem. Esse crescimento será a resposta para os que saem da zona do conformismo e da passividade. Sabiamente essas palavras foram escritas por Martinez (1997, p.195) “os professores criativos, precisamente por sua abertura à experiência, tem maiores possibilidades, não só de elaborar, mas também de apropriar-se das estratégias e técnicas que potencializam a sua ação criativa em sala de aula”.

Qualificação profissional é um item indispensável que precisa ser impregnado naqueles que desejam exercer o oficio de ensinar. A competência humana precisa ser aprimorada. Quem trabalha com educação precisa amar as pessoas e gostar de conviver com elas. O trabalho pela busca da inovação é contínuo, mas compensador quando olhamos os resultados obtidos, e essa realidade precisa ser vivenciada pelos educandos.

 

Por isso, é fundamental que na prática da formação docente, o aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente dos deuses, nem se acha nos guias de professores que iluminados intelectuais escrevam desde o centro do poder, mas pelo contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formado. (FREIRE, 1999, p. 43).

 

 A formação de professores precisa ser dinâmica para que o aprendiz de educador como citado acima por Freire, aprenda a conhecer a si mesmo e assim superar os aspectos negativos na vida, que o impedem de olhar para além das teorias. Diante da questão uma pergunta fica no pensamento. Quais sentimentos estão sendo despertados nos alunos em relação à escola (formação docente) e ao ato de ensinar? Alencar, (1996, p. 113), menciona algumas frases para reflexão sobre o assunto.

 

“A minha escola é como....

Uma prisão disfarçada.

Uma prisão em meio período.

Um presídio de onde dá para fugir.

Um presídio de segurança mínima.

O lugar mais chato que existe.

Uma caixa de surpresas: algumas agradáveis e a maior parte desagradáveis.

Um livro que você é obrigado a ler mesmo que não esteja gostando.

Um jardim sem flores.

Um paraíso.

O lar que eu gostaria de ter. ’’

 

O resultado de nossas ações é visível, e isso nos leva a concluir que um dos grandes elementos na educação é o amor ao que se faz, e que sem esse elemento, teoria nenhuma terá sentido na formação do futuro professor.

 

Criatividade e Sala de Aula: Ambiente Inibidor X Motivador

 

Todas as considerações se fundem para o espaço da sala de aula, e é nela que julgamos buscar informações e orientações para a formação profissional. É o lugar onde o aluno “aprende a pensar, a elaborar e expressar suas idéias e a re-significar suas concepções”, afirma Castro (2002, p. 126). É nesse ambiente que indivíduos diferentes se encontram, cada um com uma bagagem cultural, social e psicológica, e equilibrar toda essa diversidade é um grande desafio. Também é nesse espaço que conhecimentos científicos e a prática irão se articular para dar resposta ao trabalho proposto.

            Uma das propostas para o ensino é que as atividades sugeridas em sala de aula sejam elaboradas de modo participativo, deixando de lado condutas arraigadas na memorização e no individualismo. (ANASTASIOU, 2002). Com isso espera-se uma educação com base na valorização das idéias sempre considerando os aspectos emocionais e a bagagem de vivencia de cada um.

            As características do ambiente físico bem como o espaço adequado ao numero de alunos, iluminação, ruídos, ventilação mesas e cadeiras adequadas se bem ajustados, contribuirão para o bom desempenho da criatividade nas atividades propostas. Outro aspecto refere-se ao fator psicológico dos alunos, afinal os sentimentos estão presentes dentro de cada sujeito em ação.

 

Cabe ao Educador:

1-    Promover dentro da sala de aula a valorização do potencial de cada aluno com sinceridade e otimismo motivando a produção de idéias.

2-    Tolerar o fracasso e encorajá-los a terem uma nova experiência, a correrem o risco, pois isso faz parte do processo motivador da criatividade.

3-    Criar espaço para que os alunos possam expressar suas idéias.

4-    Permitir que o aluno sinta que você confia nele.

Reitera Alencar (1996, p.105-106):

 

Em um clima favorável a criatividade cultiva-se, pois, um conjunto de atitudes e comportamentos, que incluem interesse em examinar e explorar diferentes pontos de vista, buscar e explorar diferentes idéias, correr o risco de inovar e estar aberto ao novo e ao desconhecido.

 

Ser aceito, apreciado e reconhecido como uma pessoa capaz são necessidades fundamentais que precisam do reconhecimento do professor. A criatividade está presente em todas as pessoas, o que fica evidente é a falta de investimento, motivação e credibilidade. Portanto, criatividade serve muito para explorarmos o desconhecido, e para isso precisamos ter em mente que frequentemente vamos errar.

O ato criativo em sala de aula representa uma ruptura do tradicionalismo educacional eliminando a repetição e a alienação dos alunos especialmente dos mais inibidos. Predebon (2001, p. 80), resume o posicionamento que deve ter o professor ao propor as atividades, elemento este indispensável para o desenvolvimento da criatividade:

 

A didática para a criatividade deve ter características especiais, como: imprevisibilidade, poucas regras, informalidade, bom humor, interatividade máxima e exploração de desvios de assunto.

O líder, professor/facilitador, deve exercer sua criatividade, mas nunca competindo com os alunos/participantes.

O líder sempre terá sucesso maior se conhecer e respeitar as expectativas e os pressupostos do seu grupo. Isso e mais a interatividade são essenciais em treinamentos de criatividade.

A questão de estímulos à criatividade em forma de prêmios é uma questão a ser resolvida pelo líder, de acordo com sua tendência e com as circunstancias.

Para quebrar a inércia da não participação dos grupos, abrem-se espaços aos menos inibidos.

A participação é maior, mais produtiva e mais proveitosa quando existe uma consciência total sobre os objetivos da atividade proposta.

Aulas de criatividade, quanto menos forem organizadas e comportadas, mais ganharão em coerência e autenticidade. O aproveitamento do improviso é uma grande chave.

O líder deve combater o medo do erro pelo exemplo, expondo-se também.

Aproveitar o universo dos alunos/participantes e integrar-se a ele é uma forma do líder otimizar a aula ou treinamento.

 

Com essas orientações, a aula deve transforma-se em um espaço para reflexão das ações didáticas, produzindo assim uma mudança de comportamento nos alunos e educadores, abolindo a inércia e a rotina do cotidiano escolar.

Lidar com a globalização, com a sociedade em rede e as constantes transformações é uma tarefa que requer uma grande ferramenta para que educação possa acompanhar toda essa dinamicidade. Desenvolver o potencial criativo pode ser um dos caminhos a ser seguido. Trabalhar esse conceito em sala de aula é uma ousadia, mas, educadores que desejam trabalhar uma educação diferente haverão de encontrar espaços para essa nova realidade educacional.

 

 

Metodologia

 

A pesquisa foi realizada de forma qualitativa, partindo de uma pesquisa bibliográfica e de campo.

 

Considerações Finais

 

Em nada contribuirão as muitas teorias sobre prática pedagógica se o educador não tiver a ousadia suficiente de realizar as atividades propostas com um toque diferenciado; para tanto é necessário nutrir a criatividade que existe dentro de cada sujeito e levá-los a vislumbrarem novos horizontes além da mediocridade. Este estudo nos conduz a uma reflexão mais profunda sobre as muitas transformações pelas quais estamos vivenciando dia a dia, e a criatividade deve ser usada como uma ferramenta que em muito contribuirá para que se faça um ensino inovador, porém com qualidade.

            Essa nova realidade educacional necessita ser implantada nas salas de aula, que como já visto é o espaço ideal para motivar a criatividade, propiciando a autonomia intelectual e a liberdade de expressão do educador e do educando. Espera-se que essa reflexão desperte nos familiares na sociedade e na escola uma conscientização sobre o papel que cada um exerce no desenvolvimento do ser humano no que diz respeito à motivação e a criatividade.

 

Referências Bibliográficas

 

ALENCAR, E. M.L.S. A Gerência da Criatividade. São Paulo: Makron Boock, 1996.

 

______. O Processo da Criatividade. São Paulo: Makron  Books,2000.

 

BEAUDOT, A. A Criatividade na Escola. Trad. Maria S. Gutierrez e Bernadete Hadjioannou. São Paulo: Ed. Nacional, 1976.

 

CASTANHO, M.E. (Org.) Pedagogia Universitária: a aula em foco. São Paulo: Papirus, 2000.

 

 

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

______. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

 

MARTINEZ, A.M. Criatividade, Personalidade e Educação. São Paulo: Papirus, 1997.

 

PAPALIA, Diane E. Olds, Sally Wendkos; Feldman, Ruth Duskin – Desenvolvimento Humano. (trad. Daniel Bueno). 8ªEd. Porto Alegre: Artmed, 2006.

 

PREDEBON, J. Criatividade Hoje: Como se Pratica, Aprende e Ensina. São Paulo: Ed. Atlas, 2001.

 

______. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente um caminho para o exercício prático dessa potencialidade esquecida ou reprimida quando deixamos de ser criança. 2ª ed.São Paulo: Atlas, 1998.

 

PITTENGER, Owen E.; Gooding,C Thomas. Teorias da Aprendizagem na Prática Educacional. (trad. Dirce P. Soares). São Paulo: EPU, 1977.

 

TAYLOR, C. W. Criatividade: Progresso e Potencial. São Paulo: Ibrasa, 1976.

 

YOUNG, M. E.  Do Desenvolvimento da Primeira Infância ao Desenvolvimento Humano. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Santo Vidigal, 2010.

 

http://pt.scribd.com/doc/7200285/Criatividade-Conceitos-Wwwcriativpro



[1]           Artigo redigido para Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência Universitária: métodos e técnicas – Centro Universitário Adventista de São Paulo- Campus 2, na cidade de Engenheiro Coelho, 2011, sob a orientação da Profa. Dra. Marinalva Imaculada Cuzin.