C R I A N Ç A 

                         Haverá sempre crianças que amarão

                         a pureza, apesar do inferno criado

                          pelos homensMarc Chagall*                         

                                                                      

Para meu filho e à “criança livre” que integra a personalidade do adulto

e precisa se expressar.                                                              

Crianças  são tesouro a serem descobertos. Diariamente produzem prismas de sensações aos que com elas interagem. São produtoras de pensamentos e sentimentos, desta forma recriam e dão nova roupagem à subjetividade do ambiente, pois estimulam a criança que nos habita e ativa  a memórias da infância que se viveu, ou seja há um reconhecimento, releitura do sujeito o que favorece o auto conhecimento, além de ganho extra de reparação e do rejuvenescimento que o contato com a inocência produz.  Sendo que  

em constante curiosidade e dês preconceito sobre o mundo que as cerca, perguntam incessantemente e penetram o labirinto da mente adulta, dês construindo, dês fazendo o pseudo equilíbrio que a rotina e conformismo provocou na mente corpo, formatado pelo passar dos anos, numa sociedade que exige respostas rápidas às demandas e desta forma automatizando comportamentos . 

Das perguntas e de sua  ignorância a criança na primeira  infância, traz imagens e em conjunto passamos a   construir fábulas,  caminhos em direção à edificação de novos “castelos”  conceitos.

Como povos silvícolas, elas , acham graça e não compreendem os porquês de certos comportamentos dos adultos e,  tão pouco da pressa constante, visto que, vivem noutro tempo, penetram mundos paralelos no tempo aiônico vivem ( tempo das intensidades). Loco movem-se com natural harmonia, indiferentes as engenhocas marcadoras de nosso tempo gregoriano. Possuem a sagrada ignorância que a tudo aspira. Confia que tudo é possível enquanto um adulto não esteja por perto a regrar e podar a criatividade. 

Crianças pequenas são literais e vamos aos poucos, introduzindo-as ao universo de metáforas e signos. Aprendem a simbolizar e repentinamente surpreendem com insights fabulosos, sim porque suas  mentes são ávidas pelas alturas. Para elas somos gigantes desajeitados e podemos tudo inclusive alcançar nuvens e sonham com estas realizações e, com seus dedinhos mal treinados, no entanto bastante hábeis em “arteirices” procuram tocar estrelas, pegar a luz do sol... Em nossos colos, almejam o topo das árvores, o teto da casa. Incentivamo-las, jogando-as para o alto, é quando experimentam o voar além de em balanços quase alçarem-se nesta  empreitada fascinante . 

Quando suas mãos  não dão conta do desejo de pegar o vento e expressar sentimentos, com a boca experimentam o mundo e as bochechas nossas, o que nos causa inigualável prazer. Adoram abraçar e proteger, angustiam-se quando vêem os familiares  em desarmonia e ou  em sofrimento, pois que empatizam com grande facilidade. Esta é uma capacidade que utilizarão pelo resto de suas vidas para entrarem em contato com o outro e conviver fraterna e saudavelmente em  sociedade.

Crianças circulam entre véus que para nós que encobre o paraíso terrestre, desta forma  oferecem-no a quem estiver atento e aberto.Com remelas nos olhos e cabelos desfeitos, misturando fantasia e realidade confundem o sonho e realidade ao acordarem e,  com  entusiasmo às cinco da manhã, tiram do siso adultos, desafiando-os a recriando o tempo das coisas que realmente importam; sendo  elas suas fantasias, afetos e peculiares perguntas :

Por que ainda está dormindo o sol já acordou...

De onde vem a noite? Para onde vai o sol?

O rio não cansa de ir, ir, ele não volta?

Para onde foram os ventos que à tarde faziam correr as folhas e as faziam danças de roda?

Amanhã é muito longe?

Já chegou amanhã?

Por que tenho que tirar os sapatos para dormir?

Por que tomar banho outra vez, estou limpinho...

O cachorro não tem saudades da mamãe dele?

Crianças ainda são fabulosas quando calçam nossos sapatos e ensaiam nossos andar. Quando perdem o cordão do balão de gás e não choram; alumbram-se com sua leveza  e ainda perguntam o que nos prende ao chão se não estamos amarrados a uma cordinha...

E arrebatam quando pedem; segure minha mão! Com orgulho e satisfação as seguramos com firmeza pois, sabemos que elas crescerão, seguras de que podem confiar nas pessoas  e, que  a doçura e  magia antiga, vivida, ficará bem guardada em suas mentes. 

 Ilustração - MarcChagall http://vicamf.multiply.com/photos/album/110/_OUTUBRO_2011_EVENTOS#photo=20

Nota- * Sobre o Artista Marc Chagall”.( 6 Julho 1887 – 28 Março 1985) - Ele permaneceu essencialmente um sonhador, lírico, mágico e ingênuo, usou o pincel para materializar a bondade e a inocência em cores maravilhosas. Disse certa vez em uma entrevista:  Estou satisfeito,creio primeiro em D´us, no povo judeu, na sua continuidade, na pintura e na música de Mozart. A única coisa que desejo é fazer livremente o que eu quiser. Meu trabalho é minha satisfação. Quanto ao resto, tudo continuará. Haverá outros Chagall. Sempre os há, sempre haverá cores, música, poesia. Sempre haverá artistas atraídos pela luz. 

- 01outubro 2011-