É meio complicado discutir sobre a questão das cotas nas universidades. Infelizmente, muita gente, ao ver alguém da classe média (como eu) falar de cotas, já pensa que se trata de uma garotinha metidinha e mimada que sempre estudou em escola privada, que não sabe nada sobre a vida e que não quer dar, para quem estuda em escola pública, a oportunidade de ingressar em uma faculdade, e bla bla bla. Então, para que você não pense que eu sou só mais uma garotinha desse tipo, já vou falar de uma vez: EU NÃO SOU CONTRA AS COTAS. Pelo contrário, eu realmente acho que devem existir cotas, afinal, é o mais justo para com as pessoas que estudaram em escola pública a vida inteira e que, infelizmente, não tiveram a educação necessária para poder competir em pé de igualdade com as que estudaram em escola privada. E, para deixar claro, quando falo de cotas, me refiro a qualquer tipo de cotas: as de estudante de escola pública, negros, índios, quilombolas, etc. Afinal, não importa qual tipo seja, as cotas não seriam necessárias se houvesse ensino público de qualidade para todos.

            Não sou, como já disse, contra as contas em si. E o meu objetivo nem é ficar discutindo sobre ser ou não a favor das cotas. O que eu quero é fazer uma verdadeira análise crítica acerca da situação: o problema não é a existência das cotas, mas sim o fato de que estas deveriam ser apenas uma medida temporária adotada pelo governo enquanto este começasse a investir para valer em educação, de modo a melhorar o ensino público no país, principalmente o ensino fundamental e médio. Assim, com o ensino público melhorando cada vez mais, em um futuro próximo os estudantes de escola pública estariam adquirindo conhecimento na mesma proporção que os de escola privada e, assim, todos iriam competir em pé de igualdade para entrar em uma boa universidade.

            Infelizmente, não é isso o que acontece. O governo fala de cotas como se fosse uma varinha mágica que vai resolver o problema da educação no país, proporcionando igualdade de tratamento para todos. É típico de discurso político falar nas cotas como sendo um instrumento que iguala os estudantes de escola pública com os de escola privada. Discursinho esse que é absolutamente RIDÍCULO. E por quê? Ora, é querer tapear besta fazer o povo acreditar que dar igualdade é simplesmente “jogar” na universidade um aluno que não teve um ensino fundamental e médio adequado e esperar que ele esteja preparado para enfrentar o ensino superior. É simplesmente RIDÍCULO.

            Afinal, de que adianta estar na faculdade se o aluno não teve uma base de ensino boa e, assim, não está preparado para assimilar o conhecimento necessário para ter uma boa graduação e estar preparado para enfrentar o mercado de trabalho depois que se formar? Lembrando que é bem possível ir levando o curso “com a barriga” e conseguir se formar sem estar devidamente preparado para enfrentar o que vem depois. Muitos se iludem achando que conseguir um diploma de ensino superior significa alcançar a reta final, enquanto que, na verdade, significa apenas que você acabou de se posicionar para a linha de largada, isso sim. E se você não estiver preparado para a corrida, o mais provável é que ficará para trás nessa disputa. Infelizmente, essa é a dura realidade: ter diploma sem estar preparado para competir é como ter uma mera folha de papel ocupando espaço na sua casa.

            Eu resolvi escrever acerca desse tema porque tenho um pouco de experiência prática sobre o assunto. Estudo em uma faculdade federal e vejo a dificuldade de muitos cotistas em aprender as matérias dadas. Alguns são inclusive meus amigos e acompanho de perto a dificuldade deles. Claro que tento ajudá-los no que posso, bem como outros alunos e muitos professores também tentam ajudar, criando grupos de estudo, contratando monitores, dando aulas de tirar dúvidas, etc. Vejo, porém, que essa ajuda mal chega perto de resolver o problema, e por quê?! Não é por falta de vontade deles em aprender, mas sim por causa do histórico de ensino de péssima qualidade que esses alunos tiveram. Dessa forma, não se pode cobrar deles que consigam aprender as matérias com a mesma facilidade dos alunos que tiveram ensino de qualidade a vida inteira. Digo isso porque, se eu não tivesse tido um bom ensino básico, sei que teria muita dificuldade, até porque não tenho a habilidade natural para aprender as coisas de maneira rápida.

            Enfim, essa é a crítica que eu quis fazer. Espero que você possa pensar bem sobre o assunto. Afinal, discutir sobre as cotas não é uma mera questão de ser a favor ou contra. Nem um pouco. O problema é bem mais fundo, e devemos ter um olhar crítico para não nos deixarmos ser meras marionetes dos políticos. Estes ficam com aquela conversinha fantasiosa sobre as cotas como uma forma de camuflar a inegável realidade: a de que o ensino público no nosso país é muito ruim e falar que as cotas vão resolver o problema é tentar fazer o povo de besta, porque, na verdade, isso é a maior prova de que o governo não vai fazer o menor esforço para tentar mudar a péssima qualidade do ensino público no país.