O corpo é o instrumento pelo qual os seres humanos expressam sua cultura, ideias e emoções. As instituições de ensino, no entanto, tendem a reprimi-lo, priorizam os aspectos cognitivos e favorecem a imobilidade. Neste sentido, nota se uma significativa influência de Descartes para o modelo educacional, que naturaliza o corpo dissociado do intelecto.

As atividades físicas na escola, geralmente, ficam restritas as aulas de educação física onde os movimentos padronizados típicos de cada esporte e a competitividade possuem maior aceitação pelos educadores. Tal postura ajuda a reforçar a ideologia capitalista vigente.

Nessa perspectiva, os benefícios das atividades lúdico corporais e expressivas para o desenvolvimento infantil ou não são conhecidos pelos profissionais da educação ou não são considerados importantes para o processo de ensino aprendizagem.  Não enxergam, portanto, o indivíduo como um todo indivisível, que não compreende apenas em intelecto.

O sujeito não é passivo frente ao conhecimento, antes precisa agir sobre o objeto para compreende-lo, mas para que tal assimilação ocorra é preciso que esteja em um ambiente favorável onde se sinta protegido e instigado a descobrir.

Outra necessidade, a interação, o saber passa do meio interpessoal para o intra-pessoal. Vygotsky chama de ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal), que corresponde o que a criança faz com ajuda hoje e mais tarde fará sozinha.

A brincadeira, apesar de compreendida como divertimento, potencializa diversas aprendizagens infantis além de auxiliar na compreensão da realidade. É por meio dela que tomam consciência de seu próprio corpo e de suas múltiplas possibilidades de expressão, externalizam suas emoções e sentimentos.

O jogo, por sua vez, ensina a partilhar e cooperar, competir de forma honesta e solucionar problemas de maneira prazerosa e significativa. Estimula, assim, a criatividade, o raciocínio e a sociabilidade.

Logo, os docentes que se comprometeram a promover o desenvolvimento integral da criança, devem repensar as metodologias que priorizam o silêncio, a imobilidade e os aspectos cognitivos sobre os sócios-afetivos na medida em que eles potencializam as aprendizagens e o desenvolvimento da criança, bem como ajuda na percepção de ser social

Bibliografia

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O Construtivismo na Sala de Aula, César Coll, Elena Martín, Teresa Mauri, Mariana Miras, Javier Onrubia,
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Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas em Discussão, Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa Dantas, 120 págs., Ed. Summus

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