PASTINHA: o canário cardíaco

 

Meu pai trabalhava em uma empresa de doces e sempre nos trazia guloseimas. Porém, naquela tarde ele chegou em casa com uma caixa pequenina.

 

Curiosa fui perguntar o que tinha lá dentro e ele pediu que eu esperasse um pouquinho para ver a surpresa. Então ele pegou uma gaiola que estava guardada e tirou da caixa um lindo pássaro de penas amarelas e pretas e o soltou na gaiola.

Era um canário do reino, vindo de um criador e que estava acostumado a viver em gaiola. Rapidamente dei a ele o nome de “Pastinha” – pelo fato de ter vindo numa caixa envolvida com um elástico parecendo uma pasta escolar.

 

Eu ficava olhando seus movimentos de um poleiro para outro e a partir daquele dia a minha rotina mudou, pois, pela manhã, antes de ir para escola, eu trocava a água do bebedouro, a água da vasilha de banho, a areia do chão da gaiola, colocava alpiste, vitamina, alternava o cardápio oferecendo a ele ovo cozido, outro dia couve, no outro jiló.

 

Fui alertada para nunca dar alface a ele – pois pássaros não podem comer alface. Após alimentá-lo, eu pendurava a gaiola cada dia em uma árvore de nosso pomar, no pé de abacate, ameixa, laranja, goiaba, pêssego, na parreira de uvas, para que ele pudesse tomar o sol da manhã. Só então eu saia para a escola – deixando minha mãe responsável por recolhê-lo antes das dez horas ou em caso de chuva repentina.

 

Minha alegria era vê-lo tomando banho em sua vasilha de água, depois se balançando para secar. Eu passava várias horas observando o seu canto limpo, alto, melodioso. Ele cantava feliz erguendo seu bico para o alto.

 

Um dia, quando fui trocar os alimentos, eu vi o Pastinha imóvel caído no chão da gaiola. Num grito desesperado chamei minha mãe que veio rapidamente e teve a idéia de jogar algumas gotas de água nele, fazendo com que despertasse.

Percebemos então que ele estava desmaiado e estranhamos o fato. Como isso se repetiu em outros dias, fomos verificar junto ao veterinário e descobrimos que o Pastinha tinha ataques cardíacos e que o seu coraçãozinho era fraco não podendo levar sustos ou ficar em locais muito agitados.

A atenção dedicada a ele foi redobrada e começamos a dar um remédio especial receitado pelo veterinário.

 

Em uma manhã, ao abrir a gaiola para dar a comida, vi que ele estava novamente caído. Como de costume, fiz massagem bem devagarzinho no seu peito, joguei um pouquinho de água no seu bico...  ele abriu os olhinhos e me viu mais uma vez.