FUMAÇA – a cabra do passado

 

Estávamos todos sentados na varanda do sítio contemplando o por do sol numa tarde de sábado e meu pai estava nos contando sobre a sua infância num bairro de São Paulo. Falava de suas brincadeiras, de suas aventuras e comentou ter tido uma cabra chamada “Fumaça” e nos disse que ela era o seu animal de estimação a quem tratava como se fosse um cão, dava água, levava para pastar num campo próximo a sua casa e à noite a guardava no quintal.

Ele nos disse que na sua infância difícil era com a Fumaça que ele brincava pelos terrenos de uma São Paulo ainda não tão agitada.

 

Porém, suas palavras ganharam forte emoção quando ele comentou que numa manhã, enquanto ele estava na escola, um vizinho malvado pegou a cabra que estava amarrada no pasto e a matou para poder arrancar-lhe o couro. Meu pai, que na época ainda era garoto, ficou desesperado quando retornou da escola e viu sua amiguinha morta.

Ele confessou que mesmo com o passar de muitos anos esta imagem jamais saiu de sua memória.

 

Esta conversa marcou muito para mim e eu quis de alguma maneira fazer o tempo voltar e apagar da memória de meu pai esta triste imagem de sua infância.

Foi então que tive a idéia de fazer-lhe uma surpresa. Combinei com minha família de comemorar o aniversário dele no sítio e planejamos que ao chegar ele encontraria a surpresa: uma cabra branca com olhos cor de amêndoa, chifres curtos e pelos longos.

 

Eu procurei muito por uma cabra que parecesse com a Fumaça da infância do meu pai e quando a encontrei comprei imediatamente. Porém, para que ela não ficasse solitária em nosso sítio, comprei também outra cabra marrom de olhos verdes, a quem chamamos de Faísca.

 

A viagem delas até o sítio já foi uma aventura, pois no dia em que fui buscá-las meus filhos quiseram ir junto, amarramos uma corda no pescoço das cabras e fomos andando e puxando-as, porém no meio do caminho desabou uma tempestade e foi então que descobrimos que cabras não gostam de chuva. Elas começaram a correr e nós corríamos juntos para acompanhá-las, sendo que  além de ficarmos encharcados, nós escorregávamos e caíamos rolando no barro sendo puxados por elas.

 

No dia do aniversário do meu pai, ele chegou ao sitio e avistou as cabras. Ficou muito emocionado, pois a Fumaça novamente havia voltado em sua vida.

 

Aos domingos, meu pai senta-se na varanda e elas rapidamente se acomodam ao lado dele apreciando a natureza.