"Não sei... Se a vida é curta ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, Se não tocamos o coração das pessoas." Cora Coralina RESUMO O presente trabalho tem como objetivo principal analisar e descobrir a qualidade do ensino da literatura goiana, em especifico Cora Coralina, no ensino médio do colégio Dr. Rubens Correa de Aguirre, em Aragarças ? GO. Serão abordados temas como: o desconhecimento dos autores goianos pelos alunos do Estado, passando para tanto para uma caracterização do aluno em si. Abordando ainda, os principais temas apresentados e defendidos por Cora. Maior ênfase será dada à análise da qualidade do ensino/aprendizagem da literatura goiana, obtida através dos resultados da pesquisa com os adolescentes. A pesquisa foi a metodologia escolhida para verificação e análises do que foi proposto. Palavras-chave: Literatura goiana, Ensino/Aprendizagem, Cora Coralina. ABSTRACT This paper aims at analyzing and discover the quality of the teaching of literature in Goiás, in specific Cora Coralina, in high school of the college Dr. Ruben Correa de Aguirre, in Aragarças - GO. Will discuss topics such as: the lack of authors by the students of Goias State, passing both to characterize the student itself. Also addressing the main issues presented and defended by Cora. Greater emphasis will be given to assessing the quality of teaching and learning of literature Goiás, obtained through the results of research with adolescents, the research method was chosen for verification and analysis of what was proposed. Keywords: Literature Goiás, Teaching and Learning, Cora Coralina. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPITULO I 13 CONCEITUANDO: PROFESSOR/EDUCADOR 13 UMA CARACTERIZAÇÃO NECESSÁRIA 16 CAPITULO II 18 UMA VIDA DE INSPIRAÇÕES 18 O QUE ELA QUERIA DIZER 20 CAPITULO III 28 O ENSINO LITERÁRIO VISTO COMO REALIDADE 28 3.1 O ADOLESCENTE E O ENSINO DA LITERATURA 29 3.2 A LITERATURA GOIANA EM ANÁLISE 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 ANEXOS 37 BIBLIOGRAFIA 42 INTRODUÇÃO Alguém já ouviu falar em Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, pode ser que em um ambiente universitário, sim. Porem levemos essa questão aos adolescentes do ensino médio. É provável que entre alguns, um ou outro saberá de quem se trata. E se questionarmos sobre quem é Cora Coralina? Os mesmos alunos que podem ter dito anteriormente não saber quem é Ana Lins, falarão ou não de Cora, e aí, onde esta o erro? É triste observarmos que assim como ocorre com Cora Coralina, a maioria dos escritores goianos não são conhecidos, nem se quer estudados, em salas de aulas do próprio estado, o mesmo que eles exaltam e engrandecem em suas obras. A pouca divulgação desses autores deve-se a que fatores: divulgação? Descompromisso ou desconhecimento na própria sala de aula por parte dos professores do ensino médio? Desmotivação oriunda da pouca, ou quase nada, bibliografia existente nas bibliotecas das escolas? O tema dessa monografia está voltado para o questionamento quanto ao abandono/esquecimento dessa literatura regional. Há dezenas de bons escritores no Estado de Goiás, mas falta conhecermos sua produção. Ao se pensar em Cora Coralina temos que, aliado ao deslumbramento dos seus poemas, desvendarmos os segredos e/ou mistérios que rondam seus textos. Vemos, então, que por mais que estudemos sua biografia e analisamos sua produção, não é o suficiente para aquilo que ela tem para nos oferecer. Cora, como um dos principais exemplos que poderíamos citar dentro da literatura goiana, deve sempre ser lembrada pela forma humilde como construiu seu rico acervo, verdadeira literatura de cunho regional, que deve ser apresentada dentro do contexto escolar e cotidiano, tanto no ensino médio, quanto no nível universitário. Podemos começar com o Estado representado pela escritora, Goiás, o quintal da sua casa. Mesmo com a falta de conhecimento de nossos autores, que almejam conquistar o reconhecimento nacional e até internacional conquistado por Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Vinícius de Morais e outra infinidade de poetas, ainda encontramos pessoas interessadas na divulgação dessa nossa literatura. O trabalho não pára por ai, pois essas mesmas pessoas, além de divulgadoras, contribuem para intensificar o prazer da leitura aos nossos adolescentes, o que se pode dizer não é um trabalho fácil. É animador ver que ainda existem alguns "educadores", como ressalta Rubem Alves, em "Sobre Jequitibás e Eucaliptos - Amar-", que ainda pensam no amor à educação e não ao salário. "Educadores onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrario, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança". (ALVES, 1982:11) Na Cidade de Goiás, terra da maior representante da Literatura Goiana de todos os tempos, numa viagem à procura de conhecimento, visitamos uma escola deslumbrante. É interessante salientar que a viagem foi organizada e planejada, por um estabelecimento de ensino fundamental de Aragarças, numa espécie de intercambio entre os discentes da cidade de Goias Velho e da escola local. Observamos que os alunos traziam para nós, visitantes, grande conhecimento sobre a literatura de Goiás. Eles desempenhavam o papel de guias, e nos explicavam como aconteceram grandes fatos históricos, como se tivessem realmente vivenciado. Dominavam a historia e a literatura goiana graças ao conhecimento compartilhado de seus pais e avós, além dos estudos na própria entidade escolar em que cursavam ensino médio. Foi uma inspiração . Partindo daí, percebemos a necessidade dos nossos adolescentes conhecerem a literatura goiana e se apaixonassem como aquelas crianças. Pensamos em como seria ministrar aulas para uma faixa etária, que pensa em tudo, menos em literatura, sobre um tema tão extraordinário. Sentimo-nos, em uma sala da aula, exercendo a profissão e a paixão literária. Assim, surgiu a proposta do presente trabalho, de mostrar como é ensinada a literatura no nível médio, com ênfase na Literatura Goiana. Apresentaremos para os amantes dessa literatura, o prazer de conhece- la mais a fundo, e admira-la com total liberdade de expressão. Tal proposta contempla, ainda, o desejo de divulgar a literatura em suas formas e funções. Infelizmente o que ocorre é que no próprio estado os autores não têm apoio. Os leitores e até professores, que deveriam ser mediadores desse trabalho, não conhecem a gloria dos nossos autores. Alguns não sabem ao menos da existência da lei n° 6.979 de 19 de julho de 1968 de autoria do professor Dr. Ursulino Leão, lei essa que foi sancionada pelo então governador Osires Teixeira e que decreta a obrigatoriedade do ensino da literatura goiana nas escolas do estado de Goiás. Em 2009 houve novo clamor para que esse ensino fosse introduzido nos currículos escolares goianos. Quando o então presidente do Conselho Estadual de Educação, Marcelo Elias Moreira, assina e determina em oficio às escolas goianas, o que o conselho havia decidido que de forma geral os estabelecimentos de Goiás incluíssem o ensino da literatura goiana no currículo, a partir de 2009. Mesmo assim essa obrigatoriedade ainda não é respeitada, infelizmente. Nossa paixão literária surgiu no ensino médio e a intenção, agora, é verificar se ocorre o mesmo com os adolescentes da atualidade, e da existência de professores que gostam e trabalham com o conteúdo nessas classes. O presente trabalho está dividido em partes. A primeira está voltada para a problematização do assunto. De posse de um questionário enfatizando questões como, por exemplo: por que se ensina literatura? Qual a maneira de se transmitir conteúdos de literatura para os adolescentes se somos sabedores que adolescentes rejeitam, na sua maioria, o assunto? Porque ensinar/repassar literatura para o adolescente torna-se uma tarefam árdua? Adiante, trataremos de algumas respostas coletadas de alunos sobre o tema abordado na pesquisa. Por fim, comentários sobre as respostas coletadas na pesquisa. CAPITULO I CONCEITUANDO: PROFESSOR/EDUCADOR Observamos a necessidade de uma conceituação delimitando os diferentes profissionais da educação existentes, para que possamos entender o modo de cada profissional trabalhar. A começar temos como, por exemplo, duas distinções feitas por Rubem Alves em "Sobre Jequitibás e Eucaliptos - amar" que define dois tipos de profissionais, os "Jequitibás" e os "Eucaliptos", Rubem diz: Eu diria que os educadores são como as velhas arvores. Possuem uma face, um nome, uma ?estória? a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga com os alunos, sendo que cada aluno é uma ?entidade? sui generis, portador de um nome, também de uma ?estória?, sofrendo tristezas e alimentando esperanças (ALVES, 1982: 13) Rubem enche-nos de esperança. Mas também nos esclarece com outra caracterização. Observe: Mas professores são habitantes de um mundo diferente, onde o ?educador? pouco importa, pois o que interessa é um ?crédito? cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso muitos professores são entidades descartáveis, da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos plásticos de café descartáveis. (IDEM, 1982: 13) Difícil pensar nessa nomeação. "Descartáveis"? Mas Rubem tenta abrir nossos olhos, para não sermos apenas professores e sim educadores. Pois o que existem em abundancia são profissionais que não tem interesse algum nos alunos, e sim interessam - lhes o ganho obtido. Há pouco, existia em meio a classe, cursos especializados, que eram conhecidos como "reciclagem". Muito se ouvia da necessidade do professor se "reciclar", o que confirmava a expressão usada por Rubem, "descartáveis". Ao que parece o termo foi inutilizado, os cursos são denominados atualmente como "continuação". Há ainda outras definições proposta por Maria Reineldes Tosi , em "Diferentes perfis de um docente" que traz a nós um "conceito de educação" e "conceitos de professor/educador". Tosi assim conceitua a educação: "A etimologia (platônica) da palavra faz acreditar que educar é fazer aflorar as potencialidades dos indivíduos." (Tosi, 2001: 22). Tosi bem como Rubem, apresenta-nos conceituações especificas de professor e educador. Assim define: Professor: esse é conhecido de todos: é a pessoa habilitada, especializada e contratada para, sistematicamente, passar para o aluno um conjunto de conhecimentos que o tempo e a experiência selecionaram da cultura universal e diz respeito à nossa vivencia cultural. (TOSI, 2001: 24) Mais adiante, Tosi destaca uma das principais características presente no perfil básico do professor. Explica que o professor é "habilitado" na maioria apenas por questões legais, e é "especializado", também considera a autora uma "grande preocupação legal". Educadores: o professor é habilitado, mas não é necessariamente um profissional da educação. Este é o educador, aquele profissional que tendo todas as exigências legais a elas se conjuga a dedicação exclusiva e a vocação que se traduz como um amor especial à tarefa de educar. O educador tem características especificas e aptidões complexas como complexo é o século que ora se inicia. (IDEM, 2001: 26) A posterior, Tosi esclarece. O educador possui uma enorme diferença em comparação ao professor, a saber, a "vocação" que é colocada pela autora como a principal característica de um verdadeiro educador. Além, obviamente, das "aptidões" adquiridas durante o processo de preparação na universidade e é claro, uma necessidade de novos aprendizados que, para o educador é essencial, usufruindo ainda mais de sua formação. Basicamente, o que procuramos esclarecer aqui são as reais características presente em cada profissional. Observamos que era necessário, um questionamento sobre esses atuantes, até para uma possível identificação dos leitores com exemplos de profissionais descritos. UMA CARACTERIZAÇÃO NECESSÁRIA Definindo os "adolescentes" segundo o dicionário Houaiss temos Adjetivo de dois gêneros 1: relativo, peculiar a ou em processo de adolescência, de amadurecimento; jovem Ex.: 2: Derivação: por metáfora; que se encontra em processo de maturação; que está no início de um processo; que ainda não alcançou todo o vigor Ex.: uma aspiração ainda a; Substantivo de dois gêneros (1589); 3: indivíduo na idade da adolescência; 3.1: Derivação: por extensão de sentido; Adulto de espírito jovem ou pessoa que age como um adolescente. Assim é definido o termo ?adolescente? por um dos dicionários mais reconhecidos atualmente. Mas qual é realmente o desejo deles em relação aos estudos? O dicionário diz na primeira definição que adolescente é um processo amadurecimento, mas quando se trata dos estudos preferem digamos "empurrar com a barriga" o que nos prova o que diz o dicionário, já que essa não é uma atitude madura. Se a adolescência é um processo de amadurecimento por que não introduzir nesse novo ser maduro que surgirá, um novo conceito de mundo e de vida? Por que não ensinarmos aos novos homens e mulheres a importância deles para que a sociedade seja por fim desenvolvida e completa por pessoas de amplo conhecimento, afinal considerada uma das obrigações e a principal tarefa de um professor/educador. Mas continuemos. Vamos trazer para discussão e para realidade educacional. Observar, por exemplo, em escolas de ensino médio a quantidade de evasão escolar e desistências. Afinemos ainda mais nosso assunto, falemos agora da evasão escolar nas aulas de português e literatura. Mais especifico ainda, nas aulas de literatura. Se questionarmos os "indivíduos em idade de adolescência", como diz Houaiss, teremos varias surpresas, dos porquês das faltas e desistências. Para inicio de conversa, definimos como uma das prioridades de qualquer professor, aqui em especifico, os de literatura, sabermos como entender e conhecer a personalidade desse aluno que receberá o ensino literário, uma vez que esse aspecto influencia e muito na sua atividade escolar. Conhecendo esse aspecto teremos agora de descobrir que critérios de analise e tipos de objetos literários usar, afim de que haja um trabalho efetivo no ensino literário. Assim compreendendo o individuo adolescente poderemos ter melhor aproveitamento dos nossos alunos. CAPITULO II UMA VIDA DE INSPIRAÇÕES "Versos... não Poesia... não um modo diferente de contar velhas histórias" . Ana Lins do Guimarães Peixoto, e depois, Bretas, vivendo de 20/08/1889 a 10/04/1985, teve uma vida conflituosa e interessante. Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, Ana nasceu e foi criada às margens do Rio Vermelho, em casa comprada por sua família no século XIX. Cursou somente as primeiras quatro séries, com Mestra Silvina. Em 1903, com quase quinze anos, inicia sua produção literária com o conto "Tragédia na roça", alem de alguns poemas sobre seu cotidiano apresentados a população local através do jornal "A Rosa" que a própria ajudou a elaborar junto com algumas amigas. Cora parecia viver a frente do seu tempo, quando conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas, se apaixonam e em pleno século XX fogem dos olhares críticos da vila. Cora foi humilhada por se apaixonar por um homem divorciado, a única saída foi fugir para Jaboticabal, onde se casaram e tiveram seis filhos; Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Viveriam ali quarenta e cinco anos, passando por Avaré, e a capital paulista. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Com a morte do companheiro, Ana vê-se na grande São Paulo com três dos filhos ainda pequenos, para educar. Passou então a vender livros na capital, depois vai para Penápolis, interior do estado paulista, onde sobrevive com a venda de lingüiça e banha de porco, preparada pela própria autora. Aos cinqüenta anos de idade, sente a necessidade de se transformar e define isso como a "perda do medo". Aqui Ana deixa de ser Ana para se tornar Cora. Cora Coralina ou "coração vermelho", definição mais que perfeita para a mulher extremamente sensível que Cora se tornou. Mesmo com a vida dura que a autora vivia, não deixou de lado seu encanto pela escrita, e nessa época Cora produziu poemas mais ligados à sua historia. Lembrando de sua cidade natal e dos tempos de infância. Em 1965, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado "Meu Livro de Cordel", pela editora Cultura Goiana. Cora Coralina ou Aninha da Ponte da Lapa, como era chamada, fez de sua vida um mundo que necessitava ser poetizado. Ficou famosa principalmente quando suas obras chegaram até as mãos de Carlos Drummond de Andrade, quando ela tinha quase 90 anos de idade. Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (...) . A autora veio a falecer em 10 de abril de 1985, em Goiânia, tendo sido o seu corpo levado para Goiás, velado na Igreja do Rosário, ao lado da Casa Velha da Ponte e hoje se encontra no Cemitério São Miguel. Sua poesia permanece mais viva do que nunca, na memória de muitos que admiram a sua história. "Quando eu morrer, não morrerei de tudo./Estarei sempre nas páginas deste livro, criação mais viva/Da minha vida interior em parto solitário" . Cora deixou para nós um grande acervo, os quais: "Estórias da Casa Velha da Ponte", "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais", "Os Meninos Verdes", "Meu Livro de Cordel", "O Tesouro da Velha Casa", "Becos de Goiás" de 1977; e "Vintém de cobre: meias confissões de Aninha" de 1983. Ainda, publicou "A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu" (Infantil) e sua filha Vicência Bretas Than produziu "Cora Coragem Cora Poesia" sua biografia. 2.1 O QUE ELA QUERIA DIZER Em se tratando de linguagem a autora escrevia quase que prosaicamente, usava de versos livres e com quase totalidade desprovidos de algum elemento estilístico, com uma simplicidade que facilitava a compreensão das suas obras, característica de um estilo próprio, o estilo Cora de se fazer poesia. A simplicidade da escrita e estilo livre e despojado da autora, jamais poderá ser classificado como pobreza de vocabulário ou falta de conhecimento gramatical, pelo simples motivo do pouco estudo de Cora, muito pelo contrario, essas características revelam ainda mais sua expressividade e clareza de pensamento. Ana, Aninha, Cora, como desejar, se identificava com sua terra, fazia poemas críticos e belos. Em "Meu Livro de Cordel" a autora se revela no poema "Cora Coralina, quem é você": "CORA CORALINA, QUEM É VOCÊ? Sou mulher como outra qualquer. Venho do século passado e trago comigo todas as idades. Nasci numa rebaixa de serra Entre serras e morros. "Longe de todos os lugares". Numa cidade de onde levaram o ouro e deixaram as pedras. Junto a estas decorreram a minha infância e adolescência. Aos meus anseios respondiam as escarpas agrestes. E eu fechada dentro da imensa serrania que se azulava na distância longínqua. Numa ânsia de vida eu abria O vôo nas asas impossíveis do sonho. Venho do século passado. (...) Sendo eu mais doméstica do que intelectual, não escrevo jamais de forma consciente e racionada, e sim impelida por um impulso incontrolável. Sendo assim, tenho a consciência de ser autêntica. Nasci para escrever, mas, o meio, o tempo, as criaturas e fatores outros, contra-marcaram minha vida. Sou mais doceira e cozinheira Do que escritora, sendo a culinária a mais nobre de todas as Artes: objetiva, concreta, jamais abstrata a que está ligada à vida e à saúde humana. (...) É de uma clareza exorbitante o estilo de Cora. Ao lermos nos identificamos. Quando por exemplo, trata dos preconceitos, faz-nos lembrar de sua historia, do que passou na vida sentimental, Sobrevivi, me recompondo aos bocados, à dura compreensão dos rígidos preconceitos do passado. Preconceitos de classe. Preconceitos de cor e de família. Preconceitos econômicos. Férreos preconceitos sociais. (...) Luta, a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes. Quem sentirá a Vida destas páginas... Gerações que hão de vir de gerações que vão nascer". Notamos um sentimentalismo puro especifico, vejamos, por exemplo, quando a autora revela que os números nunca foram tão necessários a ela, pela situação em que vivera: "Nunca os algarismos me entraram no entendimento. De certo pela pobreza que marcaria Para sempre minha vida. Precisei pouco dos números." Pessoal e explicita sempre, Cora conseguia fazer sentirmos como se estivéssemos ali presente em sua historia, sentimos sua indignação ao relatar a falta de apoio da família, "Nunca recebi estímulos familiares para ser literata. Sempre houve na família, senão uma hostilidade, pelo menos uma reserva determinada a essa minha tendência inata. Talvez, por tudo isso e muito mais, sinta dentro de mim, no fundo dos meus reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo." Sua obra retrata sua luta pela sobrevivência, encadeada pelo sentimento de esperança de consertar o mundo. Pregando um renovo necessário, começando pela própria autora, como, "Minha própria personalidade renovada, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto." Necessidade essa expressada através dos poemas e da literatura. Em outra temática, Cora exaltava a terra, explorada pelos homens, dava-lhe voz, tornando-a personagem com sentimentos e razão; "O cântico da terra Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor. Eu sou a fonte original de toda vida. Sou o chão que se prende à tua casa. Sou a telha da coberta de teu lar." (...) O uso expressivo do verbo "ser" na primeira pessoa do singular subtende que autora, ao dar voz a um ser inanimado, a terra, expressa o que esse ser não hesitaria em dizer se realmente pudesse, "Sou a razão de tua vida. De mim vieste pela mão do Criador, e a mim tu voltarás no fim da lida. Só em mim acharás descanso e Paz. (...) A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu. Teu arado, tua foice, teu machado. O berço pequenino de teu filho. O algodão de tua veste e o pão de tua casa. E um dia bem distante a mim tu voltarás. E no canteiro materno de meu seio tranqüilo dormirás. Plantemos a roça. Lavremos a gleba. Cuidemos do ninho, do gado e da tulha. Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos." Cora Coralina Há ainda a humildade presente nos seus versos, como a autora exaltava a vida, e o ambiente em que vivia, chegando ao ponto de identificar-se com a cidade e o povo que nela vivia; "Todas as Vidas Vive dentro de mim Uma cabocla velha De mau-olhado, Acocorada ao pé do borralho, Olhando pra o fogo. Benze quebranto. Bota feitiço... Ogum. Orixá. Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo... Vive dentro de mim A lavadeira do Rio Vermelho. Seu cheiro gostoso D?água e sabão. (...) Vive dentro de mim A mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute bem feito. (...) Vive dentro de mim A mulher do povo. Bem proletária. Bem linguaruda, Desabusada, sem preconceitos, (...) Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida ? A vida mera das obscuras." No poema a autora homenageia os tipos de mulheres existentes na cidade, exalta desde a cabocla velha a mulher da vida. Deixando claro sua defesa às mulheres. Sua obra se caracteriza pela espontaneidade e pelo retrato que traça do povo do seu Estado, seus costumes e seus sentimentos. Cora fazia questão de expressar os privilégios de uma vida difícil, consegue nos tocar profundamente fazendo florescer em nós uma dignidade pura. A crença nos valores humanos e defesa dos ideais de um povo humilde retrata outro dos principais temas presentes em suas poesias. Observe: "EU CREIO: Creio nos valores humanos E sou a mulher da terra. ... Creio na força do trabalho Como elos e trança do progresso. Acredito numa energia imanente que virá um dia ligar a família humana numa corrente de fraternidade universal. Creio na salvação dos abandonados e na regeneração dos encarcerados, pela exaltação e dignidade do trabalho. ... Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida. Creio na superação das incertezas deste fim de século" A defesa da juventude também fazia Cora reagir gritando e expressando seus pensamentos através de seus poemas. Observe a ultima estrofe do poema "Eu creio", parece um recado aos jovens, talvez, por causa do temor inserido na autora de que a juventude sofresse os mesmos preconceitos por ela enfrentados. "Acredito nos jovens à procura de caminhos novos abrindo espaços largos na vida. Creio na superação das incertezas deste fim de século" A obra de Cora caracteriza-se principalmente pela realidade impregnada nos versos, que nos contam as dificuldades físicas, materiais e emocionais enfrentadas pela escritora e são praticamente verdadeiras fotografias do real, devido à tamanha riqueza de detalhes presentes neles. Sua humildade e simplicidade perpassam seus versos, chegando a nós, passando-nos uma lição de uma vida e de sabedoria inesgotável advindas da experiência e maturidade da pessoa sensível que os escreve. "Das Pedras Ajuntei todas as pedras que vieram sobre mim. Levantei uma escada muito alta e no alto subi. Teci um tapete floreado e no sonho me perdi. Uma estrada, um leito, uma casa, um companheiro. Tudo de pedra. Entre pedras cresceu a minha poesia. Minha vida... Quebrando pedras e plantando flores. Entre pedras que me esmagavam Levantei a pedra rude dos meus versos. Não se deixando abater, mas consciente e atuante Cora assume as dificuldades da vida, buscando o progresso, fazendo de seus versos plataforma para mudança, neles revela seus sonhos e anseios. É isto que a autora propõe que sempre superarmos as dificuldades, em principal as mulheres, que ela bravamente defendia; "As mulheres do passado, não sabendo ser carinhosas que aquele tempo de dureza e severidade não ajudava tornavam-se cruéis". (Coralina, 1987; 07) Ao mesmo tempo em que critica os costumes da época, ela o faz de forma ponderada e justa, sem amargura ou revolta. E é este o trabalho de um poeta, criticar, criar novos horizontes, e claro nos deslumbrar com seus versos que sempre nos fazem refletir. CAPITULO III O ENSINO LITERÁRIO VISTO COMO REALIDADE No inicio deste trabalho trouxemos a tona questões como as dificuldades dos adolescentes em levarem a sério o ensino literário, como os problemas encontrados pelos educadores em lidar com essas dificuldades. O principal questionamento que tentamos levantar no início foi o problema do desconhecimento dos autores goianos em escolas do próprio estado. Alem da preocupação já esplanada acima, é preciso relembrar os princípios que levaram a reflexão e chegar a esse estudo, a saber: a indagação da existência ou não do ensino da literatura goiana em escola especifica, de ensino médio, sobretudo com faixas etárias consideradas ?complicadas? e a interação professor/aluno, nessas condições. Em vista disso procuramos obter dados reais que pudessem refletir o andamento do ensino literário goiano. Para tanto foi realizada uma pesquisa-piloto com questionários destinados aos alunos e aos professores de literatura do Colégio Dr. Rubens Correia de Aguirre, situado no setor Ceara, em Aragarças- GO. Um estabelecimento antigo e clássico entre a população. Nos questionários havia questões especificas e amplas. O questionário destinado aos alunos foi respondido por cinqüenta e um discentes de duas classes, terceiros anos do turno matutino, e com idade variável entre dezesseis e dezenove anos. A entrevista foi realizada com a professora dos próprios alunos pesquisados. É interessante salientar que essa pesquisa é de caráter exploratório, o que propicia amplo campo para estudos futuros. É importante esclarecer também o fato das questões não obedecerem a critérios rígidos o que permitiu respostas livres, possibilitando o surgimento de dados interessantes. A aplicação dos questionários só pode ser realizada após a professora de literatura ter introduzindo o assunto aos adolescentes, para que não houvesse muitas surpresas e os alunos não se assustassem. Os níveis socioeconômicos foram considerados na pesquisa, para a obtenção dos dados questionamos os alunos da profissão dos pais. E obtivemos varias surpresas que serão tratadas mais adiante. Os questionários dão margem à expressão livre tanto dos alunos quanto da professora, porém é importante salientar que a pesquisa não tem pretensão de critica ou de representação estatística, e sim servindo como embasamento teórico para a questão do andamento da educação literária goiana no Estado de Goiás. O questionário destinado aos alunos continha quinze questões. Foram selecionadas sob a forma de buscar uma expressão do pensamento, e que de forma rápida e eficiente conseguisse o necessário sem que tomasse tempo das aulas. Algumas questões de respostas curtas e outras havia uma necessidade de concentração por parte dos pesquisados. 3.1 O ADOLESCENTE E O ENSINO DA LITERATURA Para melhor analise dos questionários, os alunos foram identificados pela primeira letra do nome, seguido de ?f? para feminino e ?m? para masculino e por ultimo a idade. Esses dados constarão na seqüência das falas e entre parentes. A primeira questão se tratava do gosto pela leitura, as repostas foram analisadas e obtivemos um índice satisfatório, mesmo que com certa indignação dos alunos, como "não gosto de ler porque não me prendo nem me concentro em leituras" (P; M; 19), porém esse mesmo aluno quando da terceira questão, da lembrança de algum livro que tinha lido e gostado, respondeu, "sim, vidas secas" analise que o aluno, como a maioria, lê mesmo que por obrigação. Mesmo assim é um percentual que deixaria qualquer professor animado: dos cinqüenta e um alunos apenas seis afirmaram "não gostar de ler". A outra questão que se tratava da preferência dos pesquisados em relação à leitura, a maioria, como era de se esperar, até pela questão da faixa etária pesquisada, preferem revistas jornais, declaram que essa preferência é devido ao conhecimento adquirido na leitura desses tipos textuais. Obtivemos também respostas como: "Eu gosto de ler mais contos, porque me deixa mais interessado". (M; M; 18) ou ainda do tipo; "romance. Porque acredito que a historia de amor entre os personagens é ótima de ler." (A; F; 17). Ao observarmos essa questão percebermos que todos os pesquisados responderam, mesmo os que afirmam não gostar de ler. Essa questão também nos esclarece uma dificuldade enfrentada pelo educador, analisemos, por exemplo, os alunos do sexo masculino, dão preferência a jornais, blogs e contos. Já as garotas em maioria, preferem romance, revistas e contos. Como pode um professor se adequar a opção de leitura dos alunos e fazer com que a leitura não seja apenas por obrigação e sim por prazer? Pode-se, por exemplo, como a pesquisa aponta que ambos os sexos gostam de ler os contos associando esse tipo de leitura à vida deles. Então porque não escolher uma obra interessante, que os faça concentrar e se identificarem nas obras. Quando questionados sobre quais livros já leram e se leram, quais acharam mais interessantes, os adolescentes nos surpreenderam. Obtivemos alguns resultados até curiosos; "sim. O patinho feio" (T; F; 17) ou "os três porquinhos" (A; M; 18). Era de se esperar, pois a mesma afirma não gostar de ler. Outros alunos leram obras relacionadas ao que esta na mídia, como Saga do Crespulo, Harry Potter. Há ainda os grandes clássicos, como Iracema, Triste Fim de Policarpo Quaresma, O Cortiço, Vidas Secas, Terra dos Meninos Pelados, São Bernardo entre outras. Mesmo que a leitura dessas obras fosse dirigida pela professora, eles lêem bastante. No que respeita à conceituação de literatura, é necessário esclarecer que ao indagarmos "você sabe o que a literatura? O que você acha?" não esperávamos respostas definitivas, e sim detectar as idéias quanto à noção de literatura, caracterizando assim o ensino por eles recebido. Felizmente, nessa questão, resultados satisfatórios foram relatados. Algumas respostas ilustram educação recebida em casa, como a aluna D; F; 17, com pais professores que devem ter influenciado na sua educação escolar. Eis a resposta dela: "primeiramente acho que a literatura na deveria ser definida e sim contextualizada. Acho que a literatura seria a arte de escrever e pensar." Notamos aí a importância da família para que a educação se torne cada vez melhor. Outros alunos são bem explícitos, "ainda não sei" (R; M; 18). Ou ainda "são fatos que aconteceram da idade media ate a contemporânea. Para que possamos entender o que aconteceu no passado". (M; M;17). Percebemos na pesquisa que a maior parte dos pesquisados confundi literatura com historia, outra parte considera resumidamente; "literatura é o estudos das obras dos autores" (L; F; 16). Somos sabedores que a literatura consiste em muito mais que "o estudo das obras", mais que uma matéria obrigatória do ensino médio, e é necessário que os alunos sintam prazer em estudá-la e conhecê-la. Alias, é sobre esse prazer que trata a próxima questão. Da importância, do gostar ou não do estudo da literatura em sala de aula, nessa questão verificamos que alguns alunos são claros; "sim, sim acho importante. Porque vou precisar disso para o meu futuro." (V; F; 17). Percebe-se que a aluna estuda literatura por liga esse estudo ao seu futuro, consideramos se esse futuro, a universidade. Outros alunos declaram se envolver nos estudos; "estudo, é importante estudá-la, porque só assim podemos estuda a historia de tempos passados. Gosto de estudá-la, pois tem alguns livros que nos permite fazer parte daquele momento." (H; M; 17). Alem do entusiasmo deixado transparecer, observamos também que a aluna escreve muito bem, o que esta associado a uso de muita leitura, pois quem lê muito escreve bem. Porém como nem tudo são flores obteve- se também resultados como; "sim, acho importante, mas acho difícil o compreendimento." (M; M; 17). Ou ainda mais sincero "um pouco muito não!" (R; M; 18). Analisando, o ultimo aluno é o mesmo que afirma a preferência por contos, "porque me deixa mais interessando." A partir daí é necessário verificarmos o motivo das aulas não cativarem os alunos, pois como a resposta em análise mostra a dificuldade esta nas aulas, já que a leitura faz parte do universo de alguns. O aluno A; M; 18 é claro em relação às aulas de literatura: "estudo, não gosto de estuda, porque é enjoativo." É difícil agradar e conseguir um desempenho perfeito nas aulas de literatura, em salas de ensino público com uma quantidade elevada de alunos. Alunos esse com idéias e pensamento diferentes. E é em situações assim que se revela o educador, pois alem de educar é preciso que eles aprendam o bom convívio em sociedade. Quanto à questão referente à importância dada pelos alunos a necessidade de conhecer a vida dos autores para entender a suas obras, alguns enfatizaram o fato de algumas obras refletirem a vida de seus autores; "sim, ainda mais quando o autor é autobiográfico". (L; F; 17). Outros julgam necessário esse conhecimento para melhor interpretação da obra; "sim, porque me ajuda a entender a obra" (L; F; 17). Houve também alunos que associaram essa informação acerca da vida dos autores às avaliações solicitadas pelos professores, em geral sob a forma de seminários; "sim, senão conhecemos a vida dos autores, como vamos fazer para apresentar". (L; F; 18). A aluna deixa transparecer que não acha necessário, e que estuda para conseguir aprovação ao fim do ano. 3.2. A LITERATURA GOIANA EM ANÁLISE Partindo das observações do ensino literário em geral, com os resultados obtidos pela primeira parte da pesquisa e apresentados anteriormente, vamos agora para as questões referentes ao ensino da literatura goiana com os alunos pesquisados. Na primeira questão, que diz respeito ao conhecimento dos alunos sobre os autores goianos, apesar das classes estudarem o conteúdo, nove dos cinqüenta e um alunos responderam não conhecer nenhum autor goiano. Alguns alunos, porém, entraram em contradição, já que a questão seguinte a que esta em análise, trata do estudo de algum autor goiano em sala de aula, o que propositalmente provocou certa confusão nas respostas de alunos não concentrados. Vejamos por exemplo: a aluna T; F; 17; afirma não conhecer nenhum autor goiano, mais adiante diz ter estudado sobre Cora em sala de aula. Verifica-se que a aluna desconhecia o fato de Cora ser goiana ou o questionário foi respondido com a mínima atenção. Mesmo com algumas contradições, de uma forma geral obtivemos respostas como; "sim, Cora Coralina uma grande poetiza" (H; F; 17), respostas animadoras felizmente. Observe como a mesma aluna caracteriza a literatura goiana, quando questionada se já ouviu falar em literatura goiana; "sim, é aquela que está presente em algumas obras de autores goianos, estes falam sobre pontos importantes da historia de Goiás." Afirma mais adiante não ter lido nenhuma obra goiana, mas "já ouvi explicações e achei muito interessante", a aluna demonstra pelas suas frases, um sentimento de que deseja saber mais sobre o próprio Estado. Na questão que diz respeito às aulas de literatura goiana, sobre a poetisa Cora Coralina em sala de aula, mais uma vez encontramos em algumas respostas, contradições, pois mesmo os alunos que afirmam não ter conhecimento algum sobre a literatura goiana, revelam que já tiveram aulas sobre a poetisa. Mas, quase não conhece suas obras, somente um ou outro poema. Outros demonstram conhecer ao menos um pouco da obra da autora; "conheço alguns poemas, gostei muito fala sobre sua vida dura". (M; M; 17), o aluno demonstra interesse talvez por se identificar com as obras de Cora. Na ultima questão, os alunos puderam expor suas opiniões. A questão tratava das vantagens de estudar literatura e o que ela proporcionava aos adolescentes. Questionava se o estudo da literatura goiana trazia aos estudantes algum beneficio e em quais setores da vida a literatura poderia ajudá-los. É satisfatório verificar que muitos sabem da importância do ensino literário na vida, como a aluna H; F; 17, afirma: "A vantagem de fermentar meus conhecimentos e assim estar apta a poder passar para frente meu conhecimento. Como moro no estado de Goiás é mais importante ainda estar por dentro desse contexto literário o que me ajudará a me ?dar bem? em algum concurso ou prova que incluir algo sobre literatura goiana." Ou ainda como expõe a aluna B; F; 16, "traz muitas vantagens: conhecimento, informação, aprendizagem. Sim, pois é o estado que moro e sendo assim é importante saber sobre a historia da literatura do Goiás. Na vida escolar, vida profissional, familiar, sentimental." A aluna R; F; 17, ainda declara: " é muito importante ler para falar corretamente e ter um vocabulário diversificado. Sim, principalmente para o estado de Goiás. Pode ela pode me ajudar para que eu adquira conhecimento e entre em uma universidade." Observamos que essa foi, em suma, a principal vantagem de se estudar a literatura, tanto a literatura geral como a goiana, a vantagem de ser necessária em algum concurso ou requisito em provas para acesso à universidade. Em contrapartida tivemos respostas desanimadoras: "obter conhecimento. Sim. Nenhum. (beneficio) porque a literatura goiana poderá me ajudar em poucas ou quase nenhum setor da minha vida". Alguns alunos, como o ultimo destacado, delimitam o ensino da literatura a obrigação, a normas da educação. Estudam apenas para concluírem o ensino médio ou como verificamos acima, para concurso e vestibulares. Porém, sendo realista de uma forma ou de outra, por obrigação ou paixão, os adolescentes estudam literatura. Quando estudam por obrigação, não é interessante, mas aí entra o trabalho de um bom educador, que faz com que um aluno desinteressado comece a se apaixonar pelo conteúdo e assim se envolver, não só a fim de notas, mas com entusiasmo de um adolescente animado. É interessante observarmos, que a intenção da pesquisa realizada, é a de verificar a existência do ensino da literatura goiana em colégio especifico. Assim é necessário explanarmos que verificamos a existência desse ensino no estabelecimento. A professora dos alunos pesquisados trabalha a literatura goiana. Sua metodologia se divide em leitura de algumas obras, divisão da sala em grupos para pesquisas e apresentações para a classe. Sob o olhar da professora, que avalia, dos colegas, que aprendem para eventual avaliação, e da câmara, já que as apresentações são filmadas e guardadas em arquivos. Os alunos ministram as aulas acerca de autores e obras goianas. A animação dos adolescentes reflete em suas faces e nos sorrisos. Observarmos ainda que, mesmo que alguns alunos na pesquisa afirmem não conhecerem nenhum autor ou obra goiana, o índice de alunos interessados no assunto supera os que não conhecem. E nota-se que o fato dessa falta de conhecimento pode resultar da falta de atenção, ou ainda da não presença em sala nos dias de apresentação. Sendo assim, é de admirar o trabalho da professora, que forma adolescente acima de tudo criativos e espontâneos, realmente preparados para um curso superior. CONSIDERAÇÕES FINAIS A literatura, de uma forma geral, tem como uma de suas principais funções a de ser liberadora das emoções humanas. Prova disso está nos poemas, acarretados de sentimentalismos e expressões de seus autores. Grosso modo, como verificamos na pesquisa, a literatura é identificada como o estudo e analise de obras. Somos sabedores que a literatura é um dos melhores meios de se expressar pensamentos e opiniões, conclui-se então que, se esta é uma de suas funções primordiais, é necessário que seja estudada, para descobrirmos a intenção do eu - lírico ao escrever. Temos como exemplo, as obras de Cora Coralina, algumas analisadas no presente trabalho. Ao lermos e estudarmos as obra, podemos observar, o quão é precioso o trabalho da autora. Expressivo e deslumbrante. Conceituada, a literatura passa a ter valor ainda mais inestimável. No desenvolver do trabalho, obtivemos varias conceituações de literatura, de extrema importância para compreensão do que os alunos queriam afirmar. Em algumas situações, na reposta do que se consistia a literatura para os alunos, foi observada a ligação que eles fazem com a própria vida, de maneira que pudemos verificar que os adolescentes, ao contrario do que pensávamos, consideram interessante esse estudo. Na proposta de identificar a existência da literatura do mesmo Estado dos discentes pesquisados, seus conhecimentos e opiniões acerca da literatura regional goiana, a pesquisa, método utilizado para obtenção dos resultados, apontou haver o ensino da literatura goiana no estabelecimento escolhido. Uma das professoras da instituição ministra as aulas com metodologias excepcionais. Procura criar nos alunos uma motivação, e fazê-los exercitar a criatividade, ao passo que ela trabalha Cora Coralina com alunos de 15 a 18 anos, podíamos imaginar total desinteresse por parte deles. Porém, o que observamos foi uma exaltação ao conhecerem a autora, admiração espontânea surgia a cada apresentação. Quanto aos alunos, alguns admitiram não gostar de literatura, mas em índice considerados aceitáveis. Grande maioria declara paixão pelo conteúdo, mesmo que com alguma observação. Fazem observações quanto aos livros selecionados para estudo, afirmam não se identificarem com os autores. Ou ainda consideram o estudo das obras ?enjoativo?, e difícil. Nessas questões o educador deve se voltar e analisar seus procedimentos. De forma alguma afirmamos aqui, que a escolha dos livros deve ficar a livre decisão dos alunos, mas que suas opiniões deveriam ser consultadas, para que haja maior participação no estudo. Podemos pensar que assim os alunos fariam proveito e opinariam por livretos e fugiam dos clássicos literários, mas o educador usa de bom senso ao delimitar as condições para tais opiniões. Ainda que relatadas algumas observações, os resultados foram animadores. No que diz respeito, ao estudo da literatura goiana, por exemplo, verificamos a empolgação nos alunos, não expressada antes no estudo de obras em sala. Mas nessa questão é necessário explanarmos os motivos para tal envolvimento. Consideramos o fato das aulas de literatura goiana, enfatizando Cora Coralina, serem expositivas, dialogadas e apresentadas pelos alunos, um fator importante para tão grande entusiasmo. É interessante colocarmos ainda, que o fator explanado acima, não pode passar despercebido, ao passo que verificada a situação, deve-se procurar meios para que as outras aulas ministradas sigam essa empolgação e entusiasmo. Com isso o índice de desistência e abandonos aos estudos, inclusive nas aulas de literatura, diminuiria consideravelmente. Afirmamos, contudo, que o presente trabalho vem constatar serem verdadeiras as hipóteses levantadas, já que o ensino da literatura goiana existe no estabelecimento base pesquisado, e ainda podemos afirmar que, a nossa intenção ao realizarmos a pesquisa, não se restringe ao ensino da literatura goiana, mas o ensino literário de uma forma geral, contudo maior ênfase nessa literatura é necessária para cumprimentos dos objetivos do trabalho. Com base nos argumentos levantados, podemos aqui congratular o estabelecimento e em especial a professora, pelo desempenho no âmbito da literatura goiana. Confiamos que esse ensino não se restringirá a um único estabelecimento, mas que se torne amplo no município, contribua para maior divulgação dessa bela literatura. Essa foi a proposta do trabalho, de revelar as ligações existentes entre os adolescentes e o ensino da literatura do Estado de Goiás. ANEXOS Trechos de cartas enviadas à Cora Coralina por Carlos Drummond de Andrade, sendo uma datada de 14 de julho de 1979; e a outra do dia 28 de janeiro de 1981: ?Cora Coralina: Não tenho o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como a alguém que vive em estado de graça com a poesia... Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina?. (14 de julho de 1979) ?Querida Cora Coralina, Você me deu uma grande alegria oferecendo-me o "Meu Livro de Cordel". Poesia tão pura, tão humana, tão comunicativa! Você tem o dom de cativar os leitores com os seus versos cheios de alma, de sentimento da terra e de comunhão fraterna com os humildes?. (28 de janeiro de 1981) Trecho de correspondência de Jorge Amado enviada à poetisa em 13 de outubro de 1975: ?Minha amiga, Dos doces posso dizer que são sublimes e divinos e ainda digo pouco. Da gentileza de enviá-los nada posso dizer, faltando às palavras para agradecer tanta civilização. A senhora é uma artista, admirável em sua arte, a mais nobre das artes, a da culinária?.(13 de outubro de 1975 ) Oficio do Conselho Estadual de Educação às escolas. Questionário destinado aos alunos: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Ciências Humanas e Sociais Centro Universitário do Araguaia Departamento de Letras Pesquisador: Kédma Kirlly A. Xavier Rego Nome: _______________________________________________________________ Idade: ________________________________________________________________ Profissão do pai: ________________________________________________________ Profissão da mãe: _______________________________________________________ Escola: ___________________________________________________Serie: _______ Pesquisa de campo Cora Coralina e o ensino aprendizagem da Literatura Goiana no Colégio Dr. Rubens Correia de Aguirre em Aragarças- GO Questões: 1. Você gosta de ler? Por quê? ________________________________________________ 2. O que você mais gosta de ler? Por quê? __________________________________________________________________________________________________________________________ 3. Lembra de algum livro que já leu? Qual? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. Você sabe o que é literatura? Que você acha?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. Você estuda literatura em sala de aula? Acha importante? Gosta quando estuda as obras literárias em sala? Por quê? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6. Você já leu romances, contos, poemas? Gostou? Por quê? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Acha que é importante conhecer a vida do autor para entender melhor a obra dele?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. Você conhece algum autor de Goiás? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. Já estudou sobre algum autor goiano em sala de aula? Qual? O que achou?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. Já leu alguma obra de autores goianos? De quem? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11. Você já estudou sobre Cora Coralina? Conhece alguma de suas obras? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 12. Em sua opinião, quais vantagens o estudo da literatura lhe trás? E a literatura goiana, pode lhe trazer algum beneficio? Em que setores de sua vida o estudo da literatura pode lhe ajudar? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Fotos dos alunos em apresentações na cidade de Goiás Velho: BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Antonio. "Abram alas para a literatura goiana". Disponível em http://www.literaturagoiana.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48:abram-alas-para-a-literatura-goiana&catid=34:noticias&Itemid=74 de 11/02/2009. Acessado em 22/10/2010. ALVES, Rubem. Conversas com que gosta de ensinar. Coleção Polêmicas do nosso tempo. SP: Cortez, 1982. Coralina, Cora. "Vintém de cobre - Meias confissões de Aninha", Global Editora - São Paulo, 1995. --- 1993. "Poemas dos becos de Goiás e estórias mais". 18° ed. São Paulo: Global, 1993 Noticias da redação. "Literatura Goiana. Conselho Estadual de Educação Aprova Obrigatoriedade da Literatura Goiana nas Escolas". 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