COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: UM OLHAR PARA A IDENTIDADE PROFISSIONAL 

Roseli Chagas de Santana[1]

   Dione Dórea[2] 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo discutir a importância da coordenação pedagógica no desenvolvimento do trabalho docente. E, mais especificamente, discutir a identidade profissional do coordenador no ambiente escolar; abordar a escola como ambiente favorável ao desenvolvimento das relações humanas e refletir sobre a prática do coordenador pedagógico no interior da escola. Norteado por uma pesquisa teórica descritiva, buscaram-se subsídios para descrever as experiências sobre o coordenador pedagógico durante o Estágio Supervisionado III. Percebeu-se que a coordenação pedagógica é um elemento importante para a educação, pois propicia as atividades do docente como uma forma dialética de se aproximar do conceito da educação dando a este suportes para que o trabalho docente seja bem organizado e desenvolvido com praticidade, gerando, assim, um ambiente confortável no gerenciamento e desenvolvimento de uma ação educativa. A identidade do pedagogo precisa ser (re) significada a cada dia, pois este profissional desempenha suas atividades em diferentes funções e cada dia mais procura compreender qual o seu verdadeiro papel na sociedade.

Palavras-chave: Coordenador pedagógico; identidade; trabalho docente.

ABSTRACT


The present article aims to discuss the importance of coordination in the development of pedagogical teaching. And more specifically discuss the professional identity of the coordinator in the school environment; addressing the school as an environment favorable to the development of human relationships and reflect on the practice of pedagogical coordinator within the school. Guided by a descriptive theoretical research, we sought to describe the experiences subsidies on the pedagogical coordinator during supervised III. It was noticed that the pedagogical coordination is an important element for education, as it enables the activities of teaching as a form of dialectical approach to the concept of education giving them props for that teaching is well organized and developed with practicality, thus creating a comfortable environment in the management and development of an educational activity. The identity of the educator needs to be (re) signified every day, this professional that performs its activities in deferent functions, and more each day, which seeks to understand its true role in society.        

Keywords: Pedagogical Coordinator; identity; teaching work.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por finalidade apresentar reflexões sobre o papel do coordenador escolar na mediação do trabalho pedagógico, inferindo a importância desse profissional para um ensino de qualidade.

Este profissional é um elemento articulador no ambiente escolar, pois acompanha o sequenciamento das atividades pela equipe pedagógica e oferece suporte técnico. É um trabalho que estabelece um elo entre o pedagógico desenvolvido na instituição e todos que fazem parte do processo de ensino aprendizagem. Nessa perspectiva, coordenar é atuar como sujeito transformador de um processo, que requer, além do conhecimento teórico, esforço e dedicação no alcance dos objetivos educacionais.

O tema é fruto de inquietações do Estágio Curricular III: Gestão e Coordenação em Espaços Escolares, realizado em uma unidade escolar na cidade de Salvador. Ao exercer a função de educadora, sempre observei e desenvolvi as ações que me eram propostas pela coordenação, como planejamento das atividades, arrumação de sala, leitura para discussões pertinentes, visando o desenvolvimento profissional.

Nem todos os colegas de profissão gostavam das cobranças feitas ao longo da nossa caminhada, contudo os objetivos da instituição deveriam ser cumpridos. Diante de tantas cobranças o coordenador precisava desenvolver diversas atividades, pois é ele o responsável por delimitar atribuições e fazer as devidas cobranças. Perpassando pelo campo deste profissional há a percepção de que o coordenador tem muitas atribuições, o que o torna uma pessoa com uma sobrecarga institucional. Quando comecei a cursar pedagogia percebi que tinha muito a aprender sobre diversos conteúdos, principalmente o campo de atuação de um pedagogo.

No 6° semestre do curso, durante o Estágio Supervisionado III: Gestão e Coordenação em Espaços Escolares, em uma escola estadual, me deparei com algo que sempre chamou minha atenção:  a coordenação pedagógica. Na observação percebi que o coordenador pedagógico desenvolvia, além de suas atribuições, trabalhos voltados para questões administrativas, vi como o coordenador pedagógico era solicitado constantemente para realizar atividades, como organização de atividades que os professores tentavam desenvolver e não davam conta devido à quantidade de alunos na sala, reclamações comportamentais de determinados alunos, a direção que o chamava para atender o telefonema de um pai que estava chateado sobre a maneira como o professor tratou o aluno, o aluno que caiu e precisava de atendimento, isso tudo demandava a atenção do coordenador pedagógico.  Todas essas tarefas passavam pelo coordenador e o que pude observar é que na maioria das vezes não estavam relacionadas com questões de ações pedagógicas, essas solicitações acabavam desencadeando, assim, um acúmulo de responsabilidades e atribuições por ser aquele que é mais citado como responsável pela condução das diversas atividades institucionais.

Diante desse contexto, o referido artigo é norteado pela seguinte pergunta: Como a prática do coordenador pedagógico contribui para o desenvolvimento e fortalecimento das ações pedagógicas?

Assim, o objetivo geral é discutir a importância da coordenação pedagógica no desenvolvimento do trabalho docente. E os objetivos específicos são: Discutir a identidade do coordenador no ambiente escolar; Abordar a escola como ambiente favorável ao desenvolvimento das relações humanas; e Refletir sobre a prática do coordenador pedagógico no ambiente escolar.

Para a coleta dos dados utilizei a abordagem da pesquisa descritiva e teórica, que pretende elucidar as experiências vivenciadas durante o estágio curricular e no exercício da docência com a reconstrução de teorias, conceitos e ideias (DEMO, 1995, p. 20) a partir do diálogo com produções acadêmicas de Tardif (2012), Pimenta (2009), Libâneo (2009), são autores que discutem sobre a importância da coordenação e da organização do trabalho docente.

Este artigo está dividido em cinco seções, a contar da presente Introdução. Na segunda, discuto a identidade profissional do coordenador pedagógico no ambiente escolar, venho abordar quem é o coordenador, suas atribuições, enfim, sua formação para mediar esse espaço que é necessário para a pedagogia. Na terceira seção discuto a função social da escola e a abordo como ambiente favorável ao desenvolvimento das relações humanas. Na quarta, reflito sobre as vivências do Estágio Supervisionado III através da observação da prática pedagógica, abordando o coordenador como um agente mediador dos diálogos e sua atuação na instituição.

2 A IDENTIDADE DO COORDENADOR PEDAGÓGICO E SEU EXERCÍCIO PROFISSIONAL

 

O processo educacional tem passado por diversas mudanças desde a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932 que lutavam por uma escola universal, até a criação e reforma da LDBN 4.024/61, 5.692/71 e a atual LDB 9.394/96 que, em diferentes contextos históricos e políticos, ora privilegiando a elite, ora o técnico, e, por fim, a formação integral do sujeito influenciada nas práticas pedagógicas e na formação docente.

Essas mudanças ocorreram devido à necessidade de buscar uma articulação dialogada entre os conhecimentos para facilitar o processo de desenvolvimento educacional. É um trabalho que exige a mediação entre o acompanhamento do trabalho pedagógico e dos elementos que constituem o processo de ensinar e aprender. Daí a importância do coordenador pedagógico para gerenciar funções com objetivos voltados ao bem comum que é uma educação de qualidade.

A coordenação pedagógica é uma peça importante para a educação. Segundo o dicionário Luft (2009, p. 197): “Coordenar é dispor segundo certa ordem: arranjar; organizar”. Este é o papel do coordenador pedagógico, propiciar as atividades do docente como uma forma dialógica de aproximar-se ao conceito da educação, dando a este suportes para que o trabalho docente seja bem organizado e desenvolvido com praticidade, gerando, assim, um ambiente confortável no gerenciamento e desenvolvimento de ações educativas.

Fica evidente que o papel do coordenador pedagógico escolar e sua identidade funcional são coordenar, organizar, gerenciar conhecimentos entre professores de áreas distintas e as etapas da educação nacional. Entretanto não se pode perder de vista que se trata de um processo histórico de construção identitária da função. Ao falar de identidade o autor Stuart Hall diz que “A identidade torna-se uma celebração móvel formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (2006, p. 12).

Perpassando pelas palavras de Hall a identidade pode ser adquirida ao longo do tempo, já que o sujeito não tem uma identidade própria, esta é construída a cada dia e modificada de acordo com o ambiente em que este está inserido.

A esse respeito, Pimenta (2009, p. 19) afirma que “A identidade não é um dado imutável”. A identidade profissional é construída ao longo da vida, pois as teorias concebem o poder de modificar as práticas pedagógicas, praticando as informações que são adquiridas, resgatando, assim, o desejo de exercer a profissão com um maior empenho. É o que aconteceu com a construção histórica do curso de pedagogia, o qual sofreu, ao longo do tempo, diferentes identidades na sua formação e atuação.

O curso de pedagogia teve sua definição a partir dos pareceres do Conselho Federal de Educação (CFE) 251/62, que previa uma formação técnica em educação, tanto no bacharelado como na licenciatura, e o parecer do CFE 252/69, que estabeleceu o currículo mínimo para o curso, bem como aboliu a distinção entre o bacharelado e a licenciatura, que, apesar de estarem voltados para a educação, tinham limitações, pois não havia campo de atuação diferente para todos estes profissionais. 

Ao promover apenas a formação de licenciados a pedagogia começa a ganhar possibilidades de crescimento, mesmo com toda a dificuldade encontrada para se concluir este curso. Os estudantes do curso de pedagogia não tinham uma certeza da profissão que estavam seguindo devido à falta de campo de atuação, a legislação tornava este ensino ao mesmo tempo técnico e de especialização.

 O sistema de formação se baseava no esquema 3+1, que concebia a formação em bacharel em três anos, e, para ser considerando apto para exercer a docência, precisava de mais um ano de estudo para aprender a didática. Ao fazer esse percurso o profissional estava apto a assumir uma sala de aula ou ser realmente considerado um especialista na área educacional.

Em 1996, com aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (nº 9.394), mais uma vez o curso de pedagogia sofreu alteração, traçando a ideia da identidade do profissional pedagogo. Esta lei reforça que para exercer uma coordenação, supervisão ou orientação escolar da educação básica o profissional deve ter, obrigatoriamente, o curso de pedagogia. Como atesta o artigo 64 da referida lei

A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita em curso de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (BRASIL, 1996).

O texto legal esclarece que para assumir um cargo na educação básica este profissional precisa passar por uma formação voltada a atender as condições necessárias que estão inseridas na Constituição Federal e nas leis que regem a educação.

Outro documento legal que traça a identidade do curso de pedagogia é a Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), Conselho Pleno (CP), nº 01/2006, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso. Tal resolução reforça a ideia da docência com base da formação, em especial no seu artigo 4º:

 

O  Curso de Licenciatura em Pedagogia  destina-­se à formação de professores  para exercer funções de Magistério na Educação Infantil e nos  Anos  Inicias  do Ensino Fundamental, nos  cursos  de Ensino Médio,  na modalidade Normal, de Educação Profissional  na área de serviços  e apoio escolar  e em outras  áreas  nas  quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. 

Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: 

I  -­  planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação; 

II ­ - planejamento,  execução,  coordenação,  acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não ­escolares; 

III - produção e difusão do conhecimento científico ­tecnológico do campo educacional,  em contextos escolares  e não­ escolares  (RESOLUÇÃO  CNE/CP nº 1/2006).

 

No entanto na prática não é assim, pois ainda encontramos escolas que aceitam o coordenador sem a graduação em pedagogia por não haver no mercado de trabalho pessoas que estejam realmente aptas para exercer tal cargo. Ou, muitas vezes, por questão de confiança, uma pessoa que está há algum tempo em determinada instituição acaba assumindo este cargo mesmo sem o preparo que é exigido pela lei.

Partindo do pressuposto de que a coordenação pedagógica também é algo de responsabilidade do pedagogo, este profissional precisa estabelecer uma relação de confiança no ambiente escolar.

Antes denominado como alguém voltado a ter uma supervisão dos conceitos e práticas educacionais, torna-se agora um coordenador de ações, o que deixou uma lacuna para ser superada, pois, como esta nomenclatura é nova, muitos coordenadores não conseguiram, ao longo desses anos, identificar o seu verdadeiro papel no desenvolvimento das tarefas que lhes são atribuídas. 

Tardif (2012, p. 28) fala que o “coordenador pedagógico também é um docente e desenvolve suas atividades junto com os professores com o propósito bem claro de favorecer o processo de aprendizagem no espaço escolar”. Desenvolver “juntamente” é o propósito, dar uma ajuda quando for necessário, saber fazer o trabalho docente é fundamental para que o coordenador venha a obter êxito em sua profissão. 

Quando o trabalho é feito de forma significativa existe uma grande possibilidade de amenizar os confrontos de realidade que ocorrem na instituição escolar. É neste ambiente que acontecem todas as transformações e o coordenador se faz presente para facilitar o processo relacional na instituição, mas, para que isso aconteça, o coordenador precisa também estar sempre se informando sobre as novas metodologias que estão sendo desenvolvidas para beneficiar o aprendizado tanto dos alunos como dos educadores. A busca por conhecimento é fundamental para que o encaminhamento do trabalho seja contínuo.

É cabível ao coordenador estar consciente do seu papel como mediador das ações relacionais no ambiente escolar para ajudar e orientar a equipe pedagógica a dar um sentido especial ao seu trabalho.

O desenvolvimento da competência profissional é de vital importância para todos os que atuam em educação, como aprimoramento de sua identidade profissional baseada em promoção de resultados cada vez mais eficazes e capacidade de responder efetivamente aos desafios sempre novos da educação (LÜCK, 2009, p. 88).

 

Como educadores temos o compromisso de modificar as nossas práticas tornando o nosso ensino mais atraente, ter capacidade de desenvolver em nós mesmos a criticidade e a reflexão para (re)descobrir o prazer em adquirir conhecimentos diferenciados. Parafraseando Pimenta 2009, temos que mobilizar o ambiente em que trabalhamos para que os saberes e novas experiências nos oportunizem o prazer de investir na formação docente, nos informando e, acima de tudo, “mediando o processo de construção de identidade dos futuros professores” e coordenadores.

 

 

 

 

3 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

 

 A escola tem sido modificada constantemente, uma história que começou com a chegada dos jesuítas ao Brasil para catequizar os indígenas. A partir desse momento começa a inserção de uma educação importada para o nosso país, e, hoje, não tem sido diferente, pois muitas das formas de ensinar ou de se fazer a educação no Brasil têm sido modelos copiados de outros países. A escola e o ensino têm sido historicamente construídos e reconstruídos com diversas modificações, mas não deixa de ser um modelo baseado no contexto industrial e/ou voltado para a satisfação pessoal dos mais elitizados.

Portanto, aquele que deseja ter uma educação de qualidade deve buscar cada vez mais conhecimento. “[...] o processo educativo, portanto, não tendo nenhum fim além de si mesmo, é o processo de contínua reorganização, reconstrução e transformação de vida” (DEWEY, 2010, p. 54). A finalidade da educação está sendo historicamente modificada, ela se adapta à sociedade moderna, portanto, cabe a cada cidadão descobrir a verdadeira razão pela qual a escola foi inserida no contexto social da população visando um desenvolvimento pleno no sentido de reconstrução cidadã. A escola é um meio social no qual cada ser que pertence a esse grupo consegue se adaptar a mudanças de comportamento, tornando-se um cidadão em desenvolvimento, o que fundamenta o compromisso da escola.

A educação é considerada pela Constituição Federal como direito de todos e dever do Estado e da família. Essa imposição legal aborda a educação escolarizada e intencional, e, conforme preconiza o artigo 2º da LDB 9.394/96, a “finalidade da educação é de tríplice natureza, pois ela destina-se ao pleno desenvolvimento do educando, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho” (CARNEIRO, 2010, p. 45).

O processo de escolarização pode ser considerado algo fácil, simples, mas temos que pensar na educação, no espaço escolar, como algo significante, pois a escola não é uma instituição isolada da sociedade, ela se relaciona com o sujeito fazendo parte da sua formação humana pessoal, além de contribuir para os objetivos pessoais no mercado de trabalho. Por essa razão o ser humano precisa ter esse contato escolar para desenvolver em si a criticidade reflexiva que é proporcionada com o convívio com várias culturas, e a escola tem um diferencial da vida humana. Sendo a escola um espaço de (re)encontro com diferentes culturas, diferentes saberes, lugar no qual os docentes e discentes têm a oportunidade de desenvolver a criticidade tornando o seu entendimento preciso, pois a escola tem colaborado para a existência social e funcional do sujeito que busca uma formação escolar.

A educação escolarizada, ao permitir a interação entre os sujeitos e utilizá-la como estratégia de aprendizagem, estabelece uma ligação entre o indivíduo e o mundo. Sendo assim

           

As relações que se estabelecem com as pessoas representam o meio principal para situar-se diante do mundo. A felicidade de cada pessoa depende do grau de integração que se consegue. A tendência para a intercomunicação é tão natural, que sua satisfação condiciona o equilíbrio de toda a personalidade (FRITZEN, 2010, p. 48).

Fritzen (2010) afirma que o ser humano precisa se sentir bem no espaço em que está inserido para desenvolver suas relações interpessoais de maneira satisfatória, gerando no ser humano uma felicidade com o papel que está desempenhando, utilizando a socialidade[3] e a sociabilidade[4] para interagir com as pessoas, pois o mundo interior depende desta junção para deixar-se emergir em seus conceitos.

Dessa forma, a relação interpessoal torna-se importante no ambiente escolar por estabelecer uma ligação destinada à comunicação entre as pessoas participantes do processo. Assim, a escola cumpre seu papel social na medida em que utiliza o convívio entre as pessoas como novas formas de aprendizagens. Nessa perspectiva, Gadotti (2000, p. 100) salienta que

[...] numa perspectiva emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos. Não discriminar o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos, saber, que é poder. A escola deixará de ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. A educação tornou-se estratégica para o desenvolvimento. Mas para isso não basta modernizá-la, será preciso transformá-la profundamente.

O autor chama atenção que viver em um mundo globalizado nos permite conhecer diversas culturas, e no ambiente escolar não é diferente, a cada momento somos bombardeados por informações significantes para os seres humanos e não devemos abrir mão de comentar e oportunizar os alunos para que se expressem de forma que compartilhem suas ideias, que tenham um aproveitamento humano.

 Um dos princípios básicos para que uma escola seja considerada ambiente de aprendizado é a troca de informações, ser desafiados a buscar um pouco mais de informação não garante aprendizado, mas é uma tentativa de inserir no ser humano o desejo de vencer novos desafios.

Nesse contexto de discussão cabe à docência o comprometimento estabelecido entre o “falar, o ouvir e o escutar”. Segundo Almeida (2012), esta tríade compõe a dinâmica da relação coordenador-docente e discentes. Pois serve de apoio para o desenvolvimento de todo o processo relacional e organizacional do ambiente de trabalho. Além disso, “Numa sociedade intimista, os fenômenos sociais, por mais impessoais que sejam na sua estrutura, são transformados em questões de personalidades, para que possam ter sentido” (PIMENTA, 2009, p. 161).

Como a escola também desenvolve as relações humanas, de uma maneira geral, devemos dar atenção aos acontecimentos, até para ouvir as experiências, as queixas e tentar resolver os problemas. Segundo Libâneo:

A razão pedagógica está também associada, inerentemente, a um valor intrínseco, que é a formação humana, visando ajudar os outros a se educarem, a serem pessoas dignas, justas, cultas, aptas a participar ativa e criticamente na vida social, política e cultural (LIBÂNEO[5], 2009, p. 5).

Assim, o coordenador pedagógico, ao assumir o seu papel deverá, além de mediar a ação relacional entre os docentes e alunos, também se identificar em seu papel de cidadão com habilidades desenvolvidas para a valorização do ser humano no ambiente escolar.

Portanto, é preciso que a equipe pedagógica entenda que a educação precisa ser (re)encantada. Segundo Assmann (1998, p. 25), “[...] o (re) encantamento da educação requer a união entre a sensibilidade social e eficiência pedagógica”. Fica claro que este pensamento não mudou nos dias atuais, fazer educação é estar lutando sempre por melhorias na sociedade que a cada dia desempenha papéis diferenciados na busca de qualidade profissional.

(Re)significar as práticas para exercer um profissionalismo verdadeiro voltado para sociedade estudantil e pedagógica.

O coordenador atua sempre num espaço de mudança. É visto como agente de transformação da escola. Ele precisa estar atento às brechas que a legislação e a prática cotidiana permitem para atuar e inovar, para provocar nos professores possíveis inovações (ALMEIDA; PLACCO, 2010, p. 18).

O coordenador pedagógico é um profissional que precisa estar atento às diversas mudanças que ocorrem na área educacional. Ele é um sujeito de mudança, reconhecendo nos profissionais que estão na coletividade da equipe pedagógica o desejo de fazer a diferença no contexto educacional.

 

4 REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO FORTALECIMENTO DA DIMENSÃO RELACIONAL

 

A prática do coordenador observado nos permitiu refletir que, na maioria das vezes, é visto como continuação da sala de aula por desenvolver atividades mais direcionadas para os professores que estão realmente na docência ou trabalhos relacionados à secretaria. Acredito que isto acontece porque muitos coordenadores não sabem qual é o seu verdadeiro papel dentro da instituição. O Brasil ainda necessita investir na formação de profissionais que ostentem um alto desejo de fazer uma educação de qualidade.

O estágio que serviu como coleta de dados para a realização deste trabalho foi realizado em um colégio da rede estadual de ensino de Salvador, no qual observei a importância da dimensão relacional do trabalho do coordenador pedagógico  no ambiente escolar. Este foi alvo na minha discussão ao se voltar à importância da formação do pedagogo, principalmente de quem espera ocupar uma coordenação pedagógica.

Através dos dados coletados inferimos que é preciso experiência e dinamismo para intervir em possíveis situações diárias quando já estamos na prática, pois existe um grande abismo entre a teoria e a prática desenvolvidas nas instituições de ensino brasileiras. 

Tomando por base os dados coletados verifiquei que o Estágio Supervisionado III desenvolveu-se de forma importante por servir de complemento para minha carreira profissional. Investir na educação não é uma tarefa fácil, mas, ainda assim, não se deve esquecer das possibilidades de crescimento, buscando informação e orientação para adquirir uma bagagem de qualidade.

A escola trabalha com massas de alunos durante um longo período de tempo e deve oferecer-lhes serviços educacionais que incluem sequências mais ou menos coerentes de instruções com progressão e diferenciação, além de tarefas diversas de socialização (TARDIF, 2007, p. 206).

Quando se fala em educação de qualidade muitos pensam que só existe qualidade no ensino das redes particulares. Entretanto, durante o curso de pedagogia, pude ter experiências nos estágios e perceber que existem pessoas comprometidas com a educação e que se preocupam em desenvolver uma educação de qualidade na rede pública de ensino. Para que esta mudança aconteça faz-se necessário compor uma equipe que tenha os mesmos objetivos, sendo muito importante para se alcançar aspectos que fundamentam o bem-estar social da educação.

A coordenadora, em entrevista, identificou seu trabalho como “uma mediação entre os educandos e educadores com o objetivo de solucionar problemas que ocorrem no dia a dia e priorizar um trabalho de qualidade”. O coordenador que valoriza o seu trabalho deseja garantir aos (co)participantes do seu trabalho qualidade para interagir de maneira significativa com as ações que devem ser realizadas garantindo um bom desenvolvimento. “Se cada um tiver a consciência do seu papel e o quanto ele pode ajudar o outro, já encontra nessa forma de pensar uma motivação” (SANCHES, 2009, p. 121).

Ainda que queiramos fazer tudo diferente, mesmo assim esbarramos em entraves que tornam a jornada de um professor, gestor ou coordenador embaraçada. “Na verdade, os que são considerados em nível de liderança nas comunidades para que assim sejam tomadas necessariamente refletem e expressam as aspirações dos indivíduos da sua comunidade” (FREIRE, 2011, p. 192).

 Uma comunidade estudantil/escola é formada por diferentes pessoas, portanto, ela deve pensar no ser humano como um ser único capaz de perceber suas individualidades e trabalhar para alcançar este sujeito qualitativamente, e não o obrigando a estar em determinado lugar. Segundo Freire, a educação deve servir como uma prática para a liberdade e é esse o meu papel como observadora, de pensar no sujeito como alguém que precisa sentir-se livre para conquistar seus objetivos.

Refletir sobre esta experiência foi pensar em ocupar-me com o mundo real, perceber-me inserida no espaço de uma gestão ou coordenação, atentando aos detalhes que este processo tem, para que em uma oportunidade eu possa agir de forma correta, somando as minhas experiências com as experiências da equipe de qualquer instituição.

Ao exercer tal função o coordenador precisa levar em consideração os saberes dos docentes, mas deve também incentivá-los nessa busca constante.

Compreender os saberes dos professores é compreender, portanto, sua evolução e suas transformações e sedimentações sucessivas ao longo da história de vida e da carreira essas que remetem a várias camadas de socialização e de recomeço (TARDIF 2012, p. 106).

Somos frutos da convivência e a educação depende da interação cotidiana que passamos nesta área. A esse respeito, o relato da coordenadora revela que no início da sua carreira foi muito difícil assumir uma postura de liderança, mas hoje ela procura compreender os profissionais que estão sob a sua coordenação tentando fazer a diferença, principalmente na dimensão relacional. Segundo ela, embora tenha profissionais que não gostam de cumprir regras, achar que reunião é coisa boba, “tenho que incentivá-los a fazer sempre o melhor”. Até porque a educação passa por momentos que oscilam diante dos contextos socioculturais, sendo assim, faz-se necessário inserir profissionais comprometidos.

Na escola existem profissionais diferentes, portanto há uma gama de identidades espalhadas pelo recinto, cada pessoa pensa de um jeito diferente e o coordenador deve fazer essa mediação para que os objetivos educacionais sejam alcançados. Durante a observação percebi que a coordenadora da instituição buscava meios para fazer do trabalho pedagógico algo mais significativo, incentivando o corpo docente a trazer mais dinamismo para o ensino e, assim, despertar em si a verdadeira identidade profissional.

Sobre identidade Stuart Hall (2006) fala que “é formada na interação entre o eu e a sociedade”, essa sociedade que exponho neste momento é formada por alunos, professores, gestores e coordenadores, e estes fazem um elo na educação. Nessa realidade complexa o coordenador pedagógico precisa estar atento às questões relacionadas ao desenvolvimento pessoal dos alunos e corpo docente. De acordo com Almeida e Placco:

A complexidade do mundo em que vivemos hoje pede uma escola que propicie e prime pela formação integral da pessoa. Uma escola em que formar, ensinar e conviver sejam tratados como aspectos indissociáveis no processo educativo (2010, p. 95).

Daí a importância da coordenação de implementar na instituição ações que beneficiem os alunos e docentes, pois uma escola precisa ser reinventada todos os dias para não continuar com os mesmos problemas recorrentes, como a violência, a discriminação, a evasão e tantos outros problemas. O coordenador precisa estar atento a estas situações e usar projetos pedagógicos que melhorem o desempenho destes alunos e profissionais no ambiente escolar.

A atividade educativa deve ser sempre entendida como uma libertação de forças e tendências e impulsos exercitados, e, portanto dirigidos, porque sem direção eles não poderiam exercitar. Em geral o próprio estímulo traz já um elemento de direção e de orientação da atividade (DEWEY, 1978, p. 25).

Observando esta realidade e a partir dos estudos realizados verifiquei a importância dos projetos desenvolvidos na instituição ao chegar a escola e encontrar trabalhos expostos, os alunos motivados a participar dos eventos e o empenho da coordenação para colocar em prática os objetivos propostos. Isso mostra que ser educador e coordenador é compreender a importância da educação na vida do ser humano, essa educação escolarizada que beneficia a muitos, mas que também é fragilizada em nosso país. Nessa perspectiva, o coordenador pedagógico como articulador 

[...] é um profissional fundamental na escola, como articulador das ações, como formador dos educadores, e, portanto como transformador das condições de ensino e aprendizagem. Entretanto, é preciso que ele trabalhe com o coletivo, o que implica o envolvimento dos demais atores da escola, cujo processo de constituição identitária deverá provocar mudanças em seus modos de pensar e agir, provocando um movimento de constituição das identidades de todos os profissionais da escola, além de seus alunos (PLACCO, 2012, p. 19).

De acordo com Placco, como este profissional assume uma gama de atribuições, como articulador, mediador, formador do educador, é preciso buscar um trabalho coletivo que envolva os sujeitos do processo de ensino e aprendizagem. Percebi durante a observação que, constantemente, o coordenador, além de mediar conflitos entre os alunos indisciplinados, acaba se submetendo a situações que não são apropriadas ao seu cargo apenas para fazer valer o papel de um educador. Digo isso porque, muitas vezes, o coordenador assume a responsabilidade para lidar com assuntos que dizem respeito à secretaria da escola, desperdiçando, assim, seu potencial de articulador pedagógico.

Na escola deve-se levar em conta a comunicação entre os profissionais no ambiente de trabalho, principalmente quando o foco é a aprendizagem do aluno. A sociedade precisa estar atenta às mudanças sociais e reverter o quadro da conformidade extrema e o medo da mudança, e fazer do seu campo de atuação um exemplo de superação, aprendendo na prática o real significado de ser um coordenador pedagógico.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reportando ao fator crucial desse trabalho, que é a atuação do coordenador pedagógico no ambiente escolar, este profissional contribui de uma forma significativa no desenvolvimento e fortalecimento das ações pedagógicas e relacionais. Pois, para buscar um trabalho de qualidade, faz-se necessário conhecer um pouco da identidade profissional do coordenador, o seu campo de atuação, para, a partir de então, ter a noção da importância de conhecer o trabalho de um ocupante desse cargo, percebendo, assim, o que este profissional desenvolve na sua função.

O trabalho do coordenador pedagógico está interligado com o trabalho docente, pois articula e medeia as várias áreas do conhecimento com a participação do docente que, mesmo vivenciando os conflitos relacionais no ambiente escolar, consegue despertar o compromisso em cumprir de maneira significativa seus objetivos educacionais dentro da instituição.

Nessa perspectiva, a colaboração deste profissional no ambiente escolar também facilita o desenvolvimento das relações humanas, pois este desenvolve sua função junto a todos, trabalho coletivo, que fazem parte do processo escolar. Sua atuação envolve desde a gestão, os alunos e pais, desempenhando um papel de fundamental importância, pois a escola cumpre sua função social ao beneficiar aqueles que integram esse espaço, repleto de diversidade, saberes e, principalmente, pessoas que esperam por algo melhor em suas vidas. A educação é o componente base para todas as mudanças benéficas que a população tanto espera.

Assumir a coordenação de uma instituição escolar é uma tarefa que depende do bom relacionamento com todos os funcionários, por essa razão este artigo menciona a palavra empatia para chamar atenção dos pedagogos que devem ter consigo esse sentimento que referencia o papel do coordenador pedagógico, o seu relacionamento com pais, alunos, gestores e docentes tem que ser pautado em um bom relacionamento. A escola é constituída por pessoas com culturas diferentes e o respeito por cada gesto, cada contribuição dada neste ambiente deve ser (re)pensada, pois quem faz a educação precisa compreender a importância da convivência.

Deixo registrada a minha satisfação por exercer um pouco daquilo que meu curso propõe: um olhar observador sobre as práticas pedagógicas e o trabalho do coordenador pedagógico no ambiente escolar, este profissional que, diante de todas as dificuldades enfrentadas em seu dia a dia, se dispõe a desenvolver um trabalho voltado para o desenvolvimento das relações humanas dentro da escola, e desenvolve trabalho que, muitas vezes, não faz parte do seu campo de atuação.

 

REFERÊNCIAS

 

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ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis RJ: Vozes, 1998.

BRASIL. Lei nº 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Brasília, 1996.

______. Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006.

CARNEIRO, Moacir Alves. LLDB fácil: leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 17. ed. atualizada e ampliada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 3. ed. Rev. amp. São Paulo: Atlas, 1995.

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[1] Licencianda em pedagogia na FDPII. Email: [email protected]

[2] Mestre em educação (UFBA). Email: [email protected]

[3] Socialidade. s.f. Característica ou particularidade do que é sociável;

[4] Sociabilidade. s.f. Particularidade ou atributo do que é sociável; tendência para viver em sociedade, em comunidade.

[5]Revista Brasileira de Educação n° 27.

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: UM OLHAR PARA A IDENTIDADE PROFISSIONAL

 

Roseli Chagas de Santana[1]

   Dione Dórea[2]

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo discutir a importância da coordenação pedagógica no desenvolvimento do trabalho docente. E, mais especificamente, discutir a identidade profissional do coordenador no ambiente escolar; abordar a escola como ambiente favorável ao desenvolvimento das relações humanas e refletir sobre a prática do coordenador pedagógico no interior da escola. Norteado por uma pesquisa teórica descritiva, buscaram-se subsídios para descrever as experiências sobre o coordenador pedagógico durante o Estágio Supervisionado III. Percebeu-se que a coordenação pedagógica é um elemento importante para a educação, pois propicia as atividades do docente como uma forma dialética de se aproximar do conceito da educação dando a este suportes para que o trabalho docente seja bem organizado e desenvolvido com praticidade, gerando, assim, um ambiente confortável no gerenciamento e desenvolvimento de uma ação educativa. A identidade do pedagogo precisa ser (re) significada a cada dia, pois este profissional desempenha suas atividades em diferentes funções e cada dia mais procura compreender qual o seu verdadeiro papel na sociedade.

Palavras-chave: Coordenador pedagógico; identidade; trabalho docente.

ABSTRACT


The present article aims to discuss the importance of coordination in the development of pedagogical teaching. And more specifically discuss the professional identity of the coordinator in the school environment; addressing the school as an environment favorable to the development of human relationships and reflect on the practice of pedagogical coordinator within the school. Guided by a descriptive theoretical research, we sought to describe the experiences subsidies on the pedagogical coordinator during supervised III. It was noticed that the pedagogical coordination is an important element for education, as it enables the activities of teaching as a form of dialectical approach to the concept of education giving them props for that teaching is well organized and developed with practicality, thus creating a comfortable environment in the management and development of an educational activity. The identity of the educator needs to be (re) signified every day, this professional that performs its activities in deferent functions, and more each day, which seeks to understand its true role in society.        

Keywords: Pedagogical Coordinator; identity; teaching work.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por finalidade apresentar reflexões sobre o papel do coordenador escolar na mediação do trabalho pedagógico, inferindo a importância desse profissional para um ensino de qualidade.

Este profissional é um elemento articulador no ambiente escolar, pois acompanha o sequenciamento das atividades pela equipe pedagógica e oferece suporte técnico. É um trabalho que estabelece um elo entre o pedagógico desenvolvido na instituição e todos que fazem parte do processo de ensino aprendizagem. Nessa perspectiva, coordenar é atuar como sujeito transformador de um processo, que requer, além do conhecimento teórico, esforço e dedicação no alcance dos objetivos educacionais.

O tema é fruto de inquietações do Estágio Curricular III: Gestão e Coordenação em Espaços Escolares, realizado em uma unidade escolar na cidade de Salvador. Ao exercer a função de educadora, sempre observei e desenvolvi as ações que me eram propostas pela coordenação, como planejamento das atividades, arrumação de sala, leitura para discussões pertinentes, visando o desenvolvimento profissional.

Nem todos os colegas de profissão gostavam das cobranças feitas ao longo da nossa caminhada, contudo os objetivos da instituição deveriam ser cumpridos. Diante de tantas cobranças o coordenador precisava desenvolver diversas atividades, pois é ele o responsável por delimitar atribuições e fazer as devidas cobranças. Perpassando pelo campo deste profissional há a percepção de que o coordenador tem muitas atribuições, o que o torna uma pessoa com uma sobrecarga institucional. Quando comecei a cursar pedagogia percebi que tinha muito a aprender sobre diversos conteúdos, principalmente o campo de atuação de um pedagogo.

No 6° semestre do curso, durante o Estágio Supervisionado III: Gestão e Coordenação em Espaços Escolares, em uma escola estadual, me deparei com algo que sempre chamou minha atenção:  a coordenação pedagógica. Na observação percebi que o coordenador pedagógico desenvolvia, além de suas atribuições, trabalhos voltados para questões administrativas, vi como o coordenador pedagógico era solicitado constantemente para realizar atividades, como organização de atividades que os professores tentavam desenvolver e não davam conta devido à quantidade de alunos na sala, reclamações comportamentais de determinados alunos, a direção que o chamava para atender o telefonema de um pai que estava chateado sobre a maneira como o professor tratou o aluno, o aluno que caiu e precisava de atendimento, isso tudo demandava a atenção do coordenador pedagógico.  Todas essas tarefas passavam pelo coordenador e o que pude observar é que na maioria das vezes não estavam relacionadas com questões de ações pedagógicas, essas solicitações acabavam desencadeando, assim, um acúmulo de responsabilidades e atribuições por ser aquele que é mais citado como responsável pela condução das diversas atividades institucionais.

Diante desse contexto, o referido artigo é norteado pela seguinte pergunta: Como a prática do coordenador pedagógico contribui para o desenvolvimento e fortalecimento das ações pedagógicas?

Assim, o objetivo geral é discutir a importância da coordenação pedagógica no desenvolvimento do trabalho docente. E os objetivos específicos são: Discutir a identidade do coordenador no ambiente escolar; Abordar a escola como ambiente favorável ao desenvolvimento das relações humanas; e Refletir sobre a prática do coordenador pedagógico no ambiente escolar.

Para a coleta dos dados utilizei a abordagem da pesquisa descritiva e teórica, que pretende elucidar as experiências vivenciadas durante o estágio curricular e no exercício da docência com a reconstrução de teorias, conceitos e ideias (DEMO, 1995, p. 20) a partir do diálogo com produções acadêmicas de Tardif (2012), Pimenta (2009), Libâneo (2009), são autores que discutem sobre a importância da coordenação e da organização do trabalho docente.

Este artigo está dividido em cinco seções, a contar da presente Introdução. Na segunda, discuto a identidade profissional do coordenador pedagógico no ambiente escolar, venho abordar quem é o coordenador, suas atribuições, enfim, sua formação para mediar esse espaço que é necessário para a pedagogia. Na terceira seção discuto a função social da escola e a abordo como ambiente favorável ao desenvolvimento das relações humanas. Na quarta, reflito sobre as vivências do Estágio Supervisionado III através da observação da prática pedagógica, abordando o coordenador como um agente mediador dos diálogos e sua atuação na instituição.

2 A IDENTIDADE DO COORDENADOR PEDAGÓGICO E SEU EXERCÍCIO PROFISSIONAL

 

O processo educacional tem passado por diversas mudanças desde a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932 que lutavam por uma escola universal, até a criação e reforma da LDBN 4.024/61, 5.692/71 e a atual LDB 9.394/96 que, em diferentes contextos históricos e políticos, ora privilegiando a elite, ora o técnico, e, por fim, a formação integral do sujeito influenciada nas práticas pedagógicas e na formação docente.

Essas mudanças ocorreram devido à necessidade de buscar uma articulação dialogada entre os conhecimentos para facilitar o processo de desenvolvimento educacional. É um trabalho que exige a mediação entre o acompanhamento do trabalho pedagógico e dos elementos que constituem o processo de ensinar e aprender. Daí a importância do coordenador pedagógico para gerenciar funções com objetivos voltados ao bem comum que é uma educação de qualidade.

A coordenação pedagógica é uma peça importante para a educação. Segundo o dicionário Luft (2009, p. 197): “Coordenar é dispor segundo certa ordem: arranjar; organizar”. Este é o papel do coordenador pedagógico, propiciar as atividades do docente como uma forma dialógica de aproximar-se ao conceito da educação, dando a este suportes para que o trabalho docente seja bem organizado e desenvolvido com praticidade, gerando, assim, um ambiente confortável no gerenciamento e desenvolvimento de ações educativas.

Fica evidente que o papel do coordenador pedagógico escolar e sua identidade funcional são coordenar, organizar, gerenciar conhecimentos entre professores de áreas distintas e as etapas da educação nacional. Entretanto não se pode perder de vista que se trata de um processo histórico de construção identitária da função. Ao falar de identidade o autor Stuart Hall diz que “A identidade torna-se uma celebração móvel formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (2006, p. 12).

Perpassando pelas palavras de Hall a identidade pode ser adquirida ao longo do tempo, já que o sujeito não tem uma identidade própria, esta é construída a cada dia e modificada de acordo com o ambiente em que este está inserido.

A esse respeito, Pimenta (2009, p. 19) afirma que “A identidade não é um dado imutável”. A identidade profissional é construída ao longo da vida, pois as teorias concebem o poder de modificar as práticas pedagógicas, praticando as informações que são adquiridas, resgatando, assim, o desejo de exercer a profissão com um maior empenho. É o que aconteceu com a construção histórica do curso de pedagogia, o qual sofreu, ao longo do tempo, diferentes identidades na sua formação e atuação.

O curso de pedagogia teve sua definição a partir dos pareceres do Conselho Federal de Educação (CFE) 251/62, que previa uma formação técnica em educação, tanto no bacharelado como na licenciatura, e o parecer do CFE 252/69, que estabeleceu o currículo mínimo para o curso, bem como aboliu a distinção entre o bacharelado e a licenciatura, que, apesar de estarem voltados para a educação, tinham limitações, pois não havia campo de atuação diferente para todos estes profissionais. 

Ao promover apenas a formação de licenciados a pedagogia começa a ganhar possibilidades de crescimento, mesmo com toda a dificuldade encontrada para se concluir este curso. Os estudantes do curso de pedagogia não tinham uma certeza da profissão que estavam seguindo devido à falta de campo de atuação, a legislação tornava este ensino ao mesmo tempo técnico e de especialização.

 O sistema de formação se baseava no esquema 3+1, que concebia a formação em bacharel em três anos, e, para ser considerando apto para exercer a docência, precisava de mais um ano de estudo para aprender a didática. Ao fazer esse percurso o profissional estava apto a assumir uma sala de aula ou ser realmente considerado um especialista na área educacional.

Em 1996, com aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (nº 9.394), mais uma vez o curso de pedagogia sofreu alteração, traçando a ideia da identidade do profissional pedagogo. Esta lei reforça que para exercer uma coordenação, supervisão ou orientação escolar da educação básica o profissional deve ter, obrigatoriamente, o curso de pedagogia. Como atesta o artigo 64 da referida lei

A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita em curso de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (BRASIL, 1996).

O texto legal esclarece que para assumir um cargo na educação básica este profissional precisa passar por uma formação voltada a atender as condições necessárias que estão inseridas na Constituição Federal e nas leis que regem a educação.

Outro documento legal que traça a identidade do curso de pedagogia é a Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE), Conselho Pleno (CP), nº 01/2006, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso. Tal resolução reforça a ideia da docência com base da formação, em especial no seu artigo 4º:

 

O  Curso de Licenciatura em Pedagogia  destina-­se à formação de professores  para exercer funções de Magistério na Educação Infantil e nos  Anos  Inicias  do Ensino Fundamental, nos  cursos  de Ensino Médio,  na modalidade Normal, de Educação Profissional  na área de serviços  e apoio escolar  e em outras  áreas  nas  quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. 

Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: 

I  -­  planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação; 

II ­ - planejamento,  execução,  coordenação,  acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não ­escolares; 

III - produção e difusão do conhecimento científico ­tecnológico do campo educacional,  em contextos escolares  e não­ escolares  (RESOLUÇÃO  CNE/CP nº 1/2006).

 

No entanto na prática não é assim, pois ainda encontramos escolas que aceitam o coordenador sem a graduação em pedagogia por não haver no mercado de trabalho pessoas que estejam realmente aptas para exercer tal cargo. Ou, muitas vezes, por questão de confiança, uma pessoa que está há algum tempo em determinada instituição acaba assumindo este cargo mesmo sem o preparo que é exigido pela lei.

Partindo do pressuposto de que a coordenação pedagógica também é algo de responsabilidade do pedagogo, este profissional precisa estabelecer uma relação de confiança no ambiente escolar.

Antes denominado como alguém voltado a ter uma supervisão dos conceitos e práticas educacionais, torna-se agora um coordenador de ações, o que deixou uma lacuna para ser superada, pois, como esta nomenclatura é nova, muitos coordenadores não conseguiram, ao longo desses anos, identificar o seu verdadeiro papel no desenvolvimento das tarefas que lhes são atribuídas. 

Tardif (2012, p. 28) fala que o “coordenador pedagógico também é um docente e desenvolve suas atividades junto com os professores com o propósito bem claro de favorecer o processo de aprendizagem no espaço escolar”. Desenvolver “juntamente” é o propósito, dar uma ajuda quando for necessário, saber fazer o trabalho docente é fundamental para que o coordenador venha a obter êxito em sua profissão. 

Quando o trabalho é feito de forma significativa existe uma grande possibilidade de amenizar os confrontos de realidade que ocorrem na instituição escolar. É neste ambiente que acontecem todas as transformações e o coordenador se faz presente para facilitar o processo relacional na instituição, mas, para que isso aconteça, o coordenador precisa também estar sempre se informando sobre as novas metodologias que estão sendo desenvolvidas para beneficiar o aprendizado tanto dos alunos como dos educadores. A busca por conhecimento é fundamental para que o encaminhamento do trabalho seja contínuo.

É cabível ao coordenador estar consciente do seu papel como mediador das ações relacionais no ambiente escolar para ajudar e orientar a equipe pedagógica a dar um sentido especial ao seu trabalho.

O desenvolvimento da competência profissional é de vital importância para todos os que atuam em educação, como aprimoramento de sua identidade profissional baseada em promoção de resultados cada vez mais eficazes e capacidade de responder efetivamente aos desafios sempre novos da educação (LÜCK, 2009, p. 88).

 

Como educadores temos o compromisso de modificar as nossas práticas tornando o nosso ensino mais atraente, ter capacidade de desenvolver em nós mesmos a criticidade e a reflexão para (re)descobrir o prazer em adquirir conhecimentos diferenciados. Parafraseando Pimenta 2009, temos que mobilizar o ambiente em que trabalhamos para que os saberes e novas experiências nos oportunizem o prazer de investir na formação docente, nos informando e, acima de tudo, “mediando o processo de construção de identidade dos futuros professores” e coordenadores.

 

 

 

 

3 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

 

 A escola tem sido modificada constantemente, uma história que começou com a chegada dos jesuítas ao Brasil para catequizar os indígenas. A partir desse momento começa a inserção de uma educação importada para o nosso país, e, hoje, não tem sido diferente, pois muitas das formas de ensinar ou de se fazer a educação no Brasil têm sido modelos copiados de outros países. A escola e o ensino têm sido historicamente construídos e reconstruídos com diversas modificações, mas não deixa de ser um modelo baseado no contexto industrial e/ou voltado para a satisfação pessoal dos mais elitizados.

Portanto, aquele que deseja ter uma educação de qualidade deve buscar cada vez mais conhecimento. “[...] o processo educativo, portanto, não tendo nenhum fim além de si mesmo, é o processo de contínua reorganização, reconstrução e transformação de vida” (DEWEY, 2010, p. 54). A finalidade da educação está sendo historicamente modificada, ela se adapta à sociedade moderna, portanto, cabe a cada cidadão descobrir a verdadeira razão pela qual a escola foi inserida no contexto social da população visando um desenvolvimento pleno no sentido de reconstrução cidadã. A escola é um meio social no qual cada ser que pertence a esse grupo consegue se adaptar a mudanças de comportamento, tornando-se um cidadão em desenvolvimento, o que fundamenta o compromisso da escola.

A educação é considerada pela Constituição Federal como direito de todos e dever do Estado e da família. Essa imposição legal aborda a educação escolarizada e intencional, e, conforme preconiza o artigo 2º da LDB 9.394/96, a “finalidade da educação é de tríplice natureza, pois ela destina-se ao pleno desenvolvimento do educando, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho” (CARNEIRO, 2010, p. 45).

O processo de escolarização pode ser considerado algo fácil, simples, mas temos que pensar na educação, no espaço escolar, como algo significante, pois a escola não é uma instituição isolada da sociedade, ela se relaciona com o sujeito fazendo parte da sua formação humana pessoal, além de contribuir para os objetivos pessoais no mercado de trabalho. Por essa razão o ser humano precisa ter esse contato escolar para desenvolver em si a criticidade reflexiva que é proporcionada com o convívio com várias culturas, e a escola tem um diferencial da vida humana. Sendo a escola um espaço de (re)encontro com diferentes culturas, diferentes saberes, lugar no qual os docentes e discentes têm a oportunidade de desenvolver a criticidade tornando o seu entendimento preciso, pois a escola tem colaborado para a existência social e funcional do sujeito que busca uma formação escolar.

A educação escolarizada, ao permitir a interação entre os sujeitos e utilizá-la como estratégia de aprendizagem, estabelece uma ligação entre o indivíduo e o mundo. Sendo assim

           

As relações que se estabelecem com as pessoas representam o meio principal para situar-se diante do mundo. A felicidade de cada pessoa depende do grau de integração que se consegue. A tendência para a intercomunicação é tão natural, que sua satisfação condiciona o equilíbrio de toda a personalidade (FRITZEN, 2010, p. 48).

Fritzen (2010) afirma que o ser humano precisa se sentir bem no espaço em que está inserido para desenvolver suas relações interpessoais de maneira satisfatória, gerando no ser humano uma felicidade com o papel que está desempenhando, utilizando a socialidade[3] e a sociabilidade[4] para interagir com as pessoas, pois o mundo interior depende desta junção para deixar-se emergir em seus conceitos.

Dessa forma, a relação interpessoal torna-se importante no ambiente escolar por estabelecer uma ligação destinada à comunicação entre as pessoas participantes do processo. Assim, a escola cumpre seu papel social na medida em que utiliza o convívio entre as pessoas como novas formas de aprendizagens. Nessa perspectiva, Gadotti (2000, p. 100) salienta que

[...] numa perspectiva emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos. Não discriminar o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos, saber, que é poder. A escola deixará de ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. A educação tornou-se estratégica para o desenvolvimento. Mas para isso não basta modernizá-la, será preciso transformá-la profundamente.

O autor chama atenção que viver em um mundo globalizado nos permite conhecer diversas culturas, e no ambiente escolar não é diferente, a cada momento somos bombardeados por informações significantes para os seres humanos e não devemos abrir mão de comentar e oportunizar os alunos para que se expressem de forma que compartilhem suas ideias, que tenham um aproveitamento humano.

 Um dos princípios básicos para que uma escola seja considerada ambiente de aprendizado é a troca de informações, ser desafiados a buscar um pouco mais de informação não garante aprendizado, mas é uma tentativa de inserir no ser humano o desejo de vencer novos desafios.

Nesse contexto de discussão cabe à docência o comprometimento estabelecido entre o “falar, o ouvir e o escutar”. Segundo Almeida (2012), esta tríade compõe a dinâmica da relação coordenador-docente e discentes. Pois serve de apoio para o desenvolvimento de todo o processo relacional e organizacional do ambiente de trabalho. Além disso, “Numa sociedade intimista, os fenômenos sociais, por mais impessoais que sejam na sua estrutura, são transformados em questões de personalidades, para que possam ter sentido” (PIMENTA, 2009, p. 161).

Como a escola também desenvolve as relações humanas, de uma maneira geral, devemos dar atenção aos acontecimentos, até para ouvir as experiências, as queixas e tentar resolver os problemas. Segundo Libâneo:

A razão pedagógica está também associada, inerentemente, a um valor intrínseco, que é a formação humana, visando ajudar os outros a se educarem, a serem pessoas dignas, justas, cultas, aptas a participar ativa e criticamente na vida social, política e cultural (LIBÂNEO[5], 2009, p. 5).

Assim, o coordenador pedagógico, ao assumir o seu papel deverá, além de mediar a ação relacional entre os docentes e alunos, também se identificar em seu papel de cidadão com habilidades desenvolvidas para a valorização do ser humano no ambiente escolar.

Portanto, é preciso que a equipe pedagógica entenda que a educação precisa ser (re)encantada. Segundo Assmann (1998, p. 25), “[...] o (re) encantamento da educação requer a união entre a sensibilidade social e eficiência pedagógica”. Fica claro que este pensamento não mudou nos dias atuais, fazer educação é estar lutando sempre por melhorias na sociedade que a cada dia desempenha papéis diferenciados na busca de qualidade profissional.

(Re)significar as práticas para exercer um profissionalismo verdadeiro voltado para sociedade estudantil e pedagógica.

O coordenador atua sempre num espaço de mudança. É visto como agente de transformação da escola. Ele precisa estar atento às brechas que a legislação e a prática cotidiana permitem para atuar e inovar, para provocar nos professores possíveis inovações (ALMEIDA; PLACCO, 2010, p. 18).

O coordenador pedagógico é um profissional que precisa estar atento às diversas mudanças que ocorrem na área educacional. Ele é um sujeito de mudança, reconhecendo nos profissionais que estão na coletividade da equipe pedagógica o desejo de fazer a diferença no contexto educacional.

 

4 REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO FORTALECIMENTO DA DIMENSÃO RELACIONAL

 

A prática do coordenador observado nos permitiu refletir que, na maioria das vezes, é visto como continuação da sala de aula por desenvolver atividades mais direcionadas para os professores que estão realmente na docência ou trabalhos relacionados à secretaria. Acredito que isto acontece porque muitos coordenadores não sabem qual é o seu verdadeiro papel dentro da instituição. O Brasil ainda necessita investir na formação de profissionais que ostentem um alto desejo de fazer uma educação de qualidade.

O estágio que serviu como coleta de dados para a realização deste trabalho foi realizado em um colégio da rede estadual de ensino de Salvador, no qual observei a importância da dimensão relacional do trabalho do coordenador pedagógico  no ambiente escolar. Este foi alvo na minha discussão ao se voltar à importância da formação do pedagogo, principalmente de quem espera ocupar uma coordenação pedagógica.

Através dos dados coletados inferimos que é preciso experiência e dinamismo para intervir em possíveis situações diárias quando já estamos na prática, pois existe um grande abismo entre a teoria e a prática desenvolvidas nas instituições de ensino brasileiras. 

Tomando por base os dados coletados verifiquei que o Estágio Supervisionado III desenvolveu-se de forma importante por servir de complemento para minha carreira profissional. Investir na educação não é uma tarefa fácil, mas, ainda assim, não se deve esquecer das possibilidades de crescimento, buscando informação e orientação para adquirir uma bagagem de qualidade.

A escola trabalha com massas de alunos durante um longo período de tempo e deve oferecer-lhes serviços educacionais que incluem sequências mais ou menos coerentes de instruções com progressão e diferenciação, além de tarefas diversas de socialização (TARDIF, 2007, p. 206).

Quando se fala em educação de qualidade muitos pensam que só existe qualidade no ensino das redes particulares. Entretanto, durante o curso de pedagogia, pude ter experiências nos estágios e perceber que existem pessoas comprometidas com a educação e que se preocupam em desenvolver uma educação de qualidade na rede pública de ensino. Para que esta mudança aconteça faz-se necessário compor uma equipe que tenha os mesmos objetivos, sendo muito importante para se alcançar aspectos que fundamentam o bem-estar social da educação.

A coordenadora, em entrevista, identificou seu trabalho como “uma mediação entre os educandos e educadores com o objetivo de solucionar problemas que ocorrem no dia a dia e priorizar um trabalho de qualidade”. O coordenador que valoriza o seu trabalho deseja garantir aos (co)participantes do seu trabalho qualidade para interagir de maneira significativa com as ações que devem ser realizadas garantindo um bom desenvolvimento. “Se cada um tiver a consciência do seu papel e o quanto ele pode ajudar o outro, já encontra nessa forma de pensar uma motivação” (SANCHES, 2009, p. 121).

Ainda que queiramos fazer tudo diferente, mesmo assim esbarramos em entraves que tornam a jornada de um professor, gestor ou coordenador embaraçada. “Na verdade, os que são considerados em nível de liderança nas comunidades para que assim sejam tomadas necessariamente refletem e expressam as aspirações dos indivíduos da sua comunidade” (FREIRE, 2011, p. 192).

 Uma comunidade estudantil/escola é formada por diferentes pessoas, portanto, ela deve pensar no ser humano como um ser único capaz de perceber suas individualidades e trabalhar para alcançar este sujeito qualitativamente, e não o obrigando a estar em determinado lugar. Segundo Freire, a educação deve servir como uma prática para a liberdade e é esse o meu papel como observadora, de pensar no sujeito como alguém que precisa sentir-se livre para conquistar seus objetivos.

Refletir sobre esta experiência foi pensar em ocupar-me com o mundo real, perceber-me inserida no espaço de uma gestão ou coordenação, atentando aos detalhes que este processo tem, para que em uma oportunidade eu possa agir de forma correta, somando as minhas experiências com as experiências da equipe de qualquer instituição.

Ao exercer tal função o coordenador precisa levar em consideração os saberes dos docentes, mas deve também incentivá-los nessa busca constante.

Compreender os saberes dos professores é compreender, portanto, sua evolução e suas transformações e sedimentações sucessivas ao longo da história de vida e da carreira essas que remetem a várias camadas de socialização e de recomeço (TARDIF 2012, p. 106).

Somos frutos da convivência e a educação depende da interação cotidiana que passamos nesta área. A esse respeito, o relato da coordenadora revela que no início da sua carreira foi muito difícil assumir uma postura de liderança, mas hoje ela procura compreender os profissionais que estão sob a sua coordenação tentando fazer a diferença, principalmente na dimensão relacional. Segundo ela, embora tenha profissionais que não gostam de cumprir regras, achar que reunião é coisa boba, “tenho que incentivá-los a fazer sempre o melhor”. Até porque a educação passa por momentos que oscilam diante dos contextos socioculturais, sendo assim, faz-se necessário inserir profissionais comprometidos.

Na escola existem profissionais diferentes, portanto há uma gama de identidades espalhadas pelo recinto, cada pessoa pensa de um jeito diferente e o coordenador deve fazer essa mediação para que os objetivos educacionais sejam alcançados. Durante a observação percebi que a coordenadora da instituição buscava meios para fazer do trabalho pedagógico algo mais significativo, incentivando o corpo docente a trazer mais dinamismo para o ensino e, assim, despertar em si a verdadeira identidade profissional.

Sobre identidade Stuart Hall (2006) fala que “é formada na interação entre o eu e a sociedade”, essa sociedade que exponho neste momento é formada por alunos, professores, gestores e coordenadores, e estes fazem um elo na educação. Nessa realidade complexa o coordenador pedagógico precisa estar atento às questões relacionadas ao desenvolvimento pessoal dos alunos e corpo docente. De acordo com Almeida e Placco:

A complexidade do mundo em que vivemos hoje pede uma escola que propicie e prime pela formação integral da pessoa. Uma escola em que formar, ensinar e conviver sejam tratados como aspectos indissociáveis no processo educativo (2010, p. 95).

Daí a importância da coordenação de implementar na instituição ações que beneficiem os alunos e docentes, pois uma escola precisa ser reinventada todos os dias para não continuar com os mesmos problemas recorrentes, como a violência, a discriminação, a evasão e tantos outros problemas. O coordenador precisa estar atento a estas situações e usar projetos pedagógicos que melhorem o desempenho destes alunos e profissionais no ambiente escolar.

A atividade educativa deve ser sempre entendida como uma libertação de forças e tendências e impulsos exercitados, e, portanto dirigidos, porque sem direção eles não poderiam exercitar. Em geral o próprio estímulo traz já um elemento de direção e de orientação da atividade (DEWEY, 1978, p. 25).

Observando esta realidade e a partir dos estudos realizados verifiquei a importância dos projetos desenvolvidos na instituição ao chegar a escola e encontrar trabalhos expostos, os alunos motivados a participar dos eventos e o empenho da coordenação para colocar em prática os objetivos propostos. Isso mostra que ser educador e coordenador é compreender a importância da educação na vida do ser humano, essa educação escolarizada que beneficia a muitos, mas que também é fragilizada em nosso país. Nessa perspectiva, o coordenador pedagógico como articulador 

[...] é um profissional fundamental na escola, como articulador das ações, como formador dos educadores, e, portanto como transformador das condições de ensino e aprendizagem. Entretanto, é preciso que ele trabalhe com o coletivo, o que implica o envolvimento dos demais atores da escola, cujo processo de constituição identitária deverá provocar mudanças em seus modos de pensar e agir, provocando um movimento de constituição das identidades de todos os profissionais da escola, além de seus alunos (PLACCO, 2012, p. 19).

De acordo com Placco, como este profissional assume uma gama de atribuições, como articulador, mediador, formador do educador, é preciso buscar um trabalho coletivo que envolva os sujeitos do processo de ensino e aprendizagem. Percebi durante a observação que, constantemente, o coordenador, além de mediar conflitos entre os alunos indisciplinados, acaba se submetendo a situações que não são apropriadas ao seu cargo apenas para fazer valer o papel de um educador. Digo isso porque, muitas vezes, o coordenador assume a responsabilidade para lidar com assuntos que dizem respeito à secretaria da escola, desperdiçando, assim, seu potencial de articulador pedagógico.

Na escola deve-se levar em conta a comunicação entre os profissionais no ambiente de trabalho, principalmente quando o foco é a aprendizagem do aluno. A sociedade precisa estar atenta às mudanças sociais e reverter o quadro da conformidade extrema e o medo da mudança, e fazer do seu campo de atuação um exemplo de superação, aprendendo na prática o real significado de ser um coordenador pedagógico.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reportando ao fator crucial desse trabalho, que é a atuação do coordenador pedagógico no ambiente escolar, este profissional contribui de uma forma significativa no desenvolvimento e fortalecimento das ações pedagógicas e relacionais. Pois, para buscar um trabalho de qualidade, faz-se necessário conhecer um pouco da identidade profissional do coordenador, o seu campo de atuação, para, a partir de então, ter a noção da importância de conhecer o trabalho de um ocupante desse cargo, percebendo, assim, o que este profissional desenvolve na sua função.

O trabalho do coordenador pedagógico está interligado com o trabalho docente, pois articula e medeia as várias áreas do conhecimento com a participação do docente que, mesmo vivenciando os conflitos relacionais no ambiente escolar, consegue despertar o compromisso em cumprir de maneira significativa seus objetivos educacionais dentro da instituição.

Nessa perspectiva, a colaboração deste profissional no ambiente escolar também facilita o desenvolvimento das relações humanas, pois este desenvolve sua função junto a todos, trabalho coletivo, que fazem parte do processo escolar. Sua atuação envolve desde a gestão, os alunos e pais, desempenhando um papel de fundamental importância, pois a escola cumpre sua função social ao beneficiar aqueles que integram esse espaço, repleto de diversidade, saberes e, principalmente, pessoas que esperam por algo melhor em suas vidas. A educação é o componente base para todas as mudanças benéficas que a população tanto espera.

Assumir a coordenação de uma instituição escolar é uma tarefa que depende do bom relacionamento com todos os funcionários, por essa razão este artigo menciona a palavra empatia para chamar atenção dos pedagogos que devem ter consigo esse sentimento que referencia o papel do coordenador pedagógico, o seu relacionamento com pais, alunos, gestores e docentes tem que ser pautado em um bom relacionamento. A escola é constituída por pessoas com culturas diferentes e o respeito por cada gesto, cada contribuição dada neste ambiente deve ser (re)pensada, pois quem faz a educação precisa compreender a importância da convivência.

Deixo registrada a minha satisfação por exercer um pouco daquilo que meu curso propõe: um olhar observador sobre as práticas pedagógicas e o trabalho do coordenador pedagógico no ambiente escolar, este profissional que, diante de todas as dificuldades enfrentadas em seu dia a dia, se dispõe a desenvolver um trabalho voltado para o desenvolvimento das relações humanas dentro da escola, e desenvolve trabalho que, muitas vezes, não faz parte do seu campo de atuação.

 

REFERÊNCIAS

 

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[1] Licencianda em pedagogia na FDPII. Email: [email protected]

[2] Mestre em educação (UFBA). Email: [email protected]

[3] Socialidade. s.f. Característica ou particularidade do que é sociável;

[4] Sociabilidade. s.f. Particularidade ou atributo do que é sociável; tendência para viver em sociedade, em comunidade.

[5] Revista Brasileira de Educação n° 27.