COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

 

Karla Silva Oliveira Sandrini

 

RESUMO

 

A educação é fundamental no crescimento e desenvolvimento do país, assim como para o crescimento individual dos alunos. Sem educação, as crianças e jovens de hoje estão despreparados para enfrentar o mercado de trabalho e a vida, pois não terão as ferramentas necessárias para se colocarem no mundo enquanto cidadãos ativos e possíveis agentes da mudança social. Daí a importância de um esforço centrado na constante melhoria do processo educacional. Neste trabalho, irei destacar o papel do coordenador pedagógico, uma vez que ele é o profissional, dentro da escola, que faz a formação contínua do professor, e lhe traz ferramentas novas para atuar dentro da sala de aula, discutiremos os conceitos básicos de gestão, e a função dos diretores, coordenadores e professores.

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

 

Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos que a compõe, auxiliando no desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, a fim de prepará-los para as várias esferas da vida social. A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas também assume o papel de prover aos indivíduos os conhecimentos e experiências sociais que os habilitam a atuar no meio social e transformar este meio de acordo com as necessidades que ele exige.

Podemos dizer que a educação tem início com os homens do período primitivo. Na pré-história, não havia escolas e professores; o conhecimento era transmitido pelos chefes de família e, posteriormente, essa função ficou a cargo dos líderes religiosos ou sacerdotes. Ao receber as informações sobre como sobreviver, os indivíduos estavam habilitados não somente a repetir as ações de seus instrutores, como também de criar novos meios de sobrevivência mais eficientes. Assim, começou a evolução do ser humano e a evolução do conhecimento.

A sociedade começou a se organizar de outra forma mais centralizada, através do registro das tradições e a manutenção da cultura dominante através da educação.

Atualmente, os estudos sobre educação definem duas modalidades para

diferenciar as influências na prática educativa: as influências educativas intencionais e as não intencionais.

A educação não intencional é aquela que é produto do contexto social e do ambiente em que as pessoas vivem, acontecem através de experiências, idéias, valores e práticas que não estão relacionadas especificamente a uma instituição e não são, necessariamente, intencionais ou conscientes. Vivemos estas experiências cotidianamente, por todos os meios sociais em que passamos e, quase que sem perceber, recebemos esta influência e construímos conhecimento de forma quase inconsciente.

A educação intencional, por outro lado, é aquela em que há a intenção de transmitir conhecimento e saber, através da educação escolar e extraescolar (como em igrejas, sindicatos, partidos políticos, empresas etc.), o educador está consciente do seu objetivo e da tarefa que tem que cumprir. É importante ressaltar que a educação na escola se destaca, uma vez que é pressuposto para as outras formas de educação intencional, pois é ela que fornece os instrumentos que permitem ao indivíduo a interpretação crítica e consciente de outras influências educativas. Dessa forma é ela que possibilita ao cidadão a habilitação de ser um membro ativo da sociedade, analisando criticamente a situação em que vive e podendo se tornar um agente da mudança social.

As diferentes formas de se transmitir conhecimento, sejam as intencionais, sejam as não intencionais, se inter-relacionam, pois não há como separar o processo de ensino da sociedade. A educação não é independente do contexto social em que está inserida. Dessa forma, ela se torna um fenômeno social, que integra as relações entre as pessoas e as relações econômicas, políticas e culturais. Em razão desta influência, a prática educativa é determinada de acordo com exigências sociais, políticas e ideológicas, que são específicas a cada sociedade, sendo determinada por valores, normas e especificidades da estrutura social.

A atuação do professor se dá no campo da escola, onde sua tarefa principal é garantir ao aluno o domínio de conceitos e o desenvolvimento de suas habilidades e capacidades intelectuais, tornando-o capaz de ter um raciocínio crítico e lógico, não só em função da matéria que estuda, mas em relação a todas as esferas sociais em que está inserido. Dessa forma, o objetivo da escola é a formação de cidadãos ativos e conscientes de seu papel da sociedade.

É fundamental que todos os membros da equipe pedagógica de uma escola ou instituição de ensino conheçam quais são as políticas em relação à educação adotadas em seu estado e em seu país. No que se refere às políticas educacionais globais, em 1993, o Brasil assumiu em Nova Délhi, Índia, em conferência realizada pela UNESCO– Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –, juntamente com mais oito países em desenvolvimento (Indonésia, China, Bangladesh, Egito, México, Nigéria, Paquistão e Índia) a responsabilidade de alcançar 6 metas em relação à educação:

1. Garantiremos a toda criança uma vaga em uma escola ou em um programa educacional adequado às suas capacidades, para que a educação não seja negada a uma só criança por falta de professor, material didático ou espaço adequado - fazemos essa promessa em cumprimento ao compromisso assumido na Convenção sobre os Direitos da Criança que ratificamos;

2. Consolidaremos esforços dirigidos à educação básica de jovens e adultos proporcionada por entidades públicas e privadas, melhorando e ampliando nossos programas de alfabetização e educação de adultos no contexto de uma estratégia integrada de educação básica para todo o nosso povo;

3. Eliminaremos disparidades de acesso à educação básica em função do sexo, idade, renda, família, diferenças culturais, étnicas e lingüísticas, e distância geográfica;

4. Melhoraremos a qualidade e relevância dos programas de educação básica através da intensificação de esforços para aperfeiçoar o"status", o treinamento e as condições de trabalho do magistério;melhorar os conteúdos educacionais e o material didático e implementar outras reformas necessárias aos nossos sistemas educacionais;

5. Em todas as nossas ações, em nível nacional e em todos os níveis, atribuiremos a mais alta prioridade ao desenvolvimento humano, assegurando que uma parcela crescente dos recursos nacionais e comunitários seja canalizada à educação básica e melhoria do gerenciamento dos recursos educacionais agora disponíveis;

6. Mobilizaremos todos os setores de nossas sociedades em prol da educação para todos, endossando por este instrumento o Projeto de Ação que acompanha esta Declaração e nos comprometendo a revisar nosso progresso a nível nacional e a compartilhar nossas experiências entre nós e com a comunidade global.(UNESCO, Declaração de Nova Delhi sobre Educação para Todos, 6 de dezembro de 1993).

A coordenação pedagógica, na escola tem seu foco no processo de ensino e de aprendizagem, o que engloba todas as variáveis que influenciam este processo. Este é o profissional que acompanha, assiste, coordena, controla e avalia tudo o que se relaciona com o ensino e com a aprendizagem.

É importante ressaltar que existe confusão entre o coordenador pedagógico e o orientador educacional, mas é fácil reconhecer a diferença. O orientador educacional desempenha um papel muito mais próximo aos alunos, pois ele os orienta, se aproxima de seus problemas pessoais, auxiliando no seu desenvolvimento, ou seja, sua função é a formação de valores, de cunho moral, sempre ajudando o estudante através de conversas com ele e sua família e intervenções, quando necessário. O coordenador pedagógico está mais ligado à estrutura da escola e de ensino.

Os objetivos básicos da coordenação são a melhoria e o aperfeiçoamento do ensino na escola e, posteriormente, ele trabalha com liderança e adequação do ambiente escolar, ou seja, o foco é o desenvolvimento do aluno. A adequação do ambiente se trata da criação de um clima ou de um ambiente físico propriamente dito que seja estrutural e psicologicamente favorável ao ensino.

Para o coordenador pedagógico, a experiência é essencial, e ela deve ser aliada aos conhecimentos teóricos referentes à educação, fazendo do coordenador um profissional mais habilitado a atender às demandas tanto da escola quanto dos professores de formas mais eficientes. Uma prova disso é a exigência, em editais abertos pelo governo de todos os estados, de experiência em sala de aula e/ou de vivência escolar, uma vez que a experiência ensina os desafios do dia a dia da escola e como superá-los.

Segundo modelo dos teóricos Sergiovanni e Carver, citado em Supervisão Pedagógica em Ação, a experiência aliada ao conhecimento teórico permite que o coordenador desenvolva um critério que permita a avaliação de quais são as contribuições que ele pode oferecer, baseadas na teoria ou na própria experiência. Assim, ele é capaz de selecionar o que é mais adequado à realidade da escola, a fim de alcançar objetivos como a autorrealização intelectual, social e emocional dos alunos.

O coordenador pedagógico trabalha em várias esferas: no auxílio ao professor, planejando com ele como será realizado o plano de aula, seja ele anual, semestral ou bimestral; no acompanhamento do trabalho dos professores; na coordenação dos conteúdos que serão ministrados ao longo do ano letivo; no método de avaliação aplicado e na atualização e desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, como por exemplo agregando novas tecnologias ou novas metodologias de ensino à prática do professor.

A coordenação pedagógica de uma escola supõe um conjunto de características para o seu bom funcionamento. Podemos destacar as cinco variáveis mais importantes neste processo:

1. O objetivo da coordenação é a realização dos objetivos da escola, através da melhoria do processo de ensino e aprendizagem.

2. A ação da coordenação depende, necessariamente, da interação entre indivíduos. Assim, ela se torna um processo realizado através das ações, relações e comportamentos das pessoas.

3. Sendo a coordenação um processo dinâmico, a melhoria da qualidade do

ensino não depende apenas daqueles que desempenham os papéis de coordenação, mas também das ações, das influências e do envolvimento de todos aqueles que, de alguma forma, participam do processo.

4. Uma vez que a coordenação é um processo dinâmico, é mais significativo que seu foco se concentre na ação supervisora. A análise do comportamento da equipe de coordenação pedagógica aumentará a compreensão do processo como um todo.

5. Como a coordenação tem o objetivo de melhorar a qualidade do ensino, a

ação da mesma implica sempre em mudança; dessa forma, ela é vista como um processo de mudanças, sendo o coordenador um agente dessa transformação.

Para o coordenador pedagógico, é essencial o conhecimento de como a escola está organizada e como estabelece suas relações internas e externas, pois o coordenador realiza seu trabalho em um ambiente organizacional. A ação do coordenador se dá dentro de uma estrutura administrativa e esta exerce influência na organização total.

Ao analisar a escola sob o ponto de vista organizacional, percebemos que ela é um tipo especial de organização, devido aos seus objetivos específicos e ao fato de ela lidar com pessoas o que, em geral, não permite que se crie uma “fórmula mágica” que resolva todos os seus problemas. É necessário que o coordenador pedagógico conheça como se dá a estruturação escolar e as         particularidades de cada unidade de ensino, pois ele terá que se adaptar a suas necessidades.

A escola é uma instituição social, e para sobreviver, precisa atender a dois requisitos básicos: manter-se internamente e, simultaneamente, ser adaptável ao meio externo. Isso significa que, ao mesmo tempo em que deve haver um esforço da escola para responder às necessidades sociais, ela deve se estruturar internamente através da interação entre os indivíduos e a manutenção de sua organização em longo prazo. Para isso, o coordenador pedagógico tem o papel de ser sensível às necessidades tanto internas quanto externas da escola, a fim de realizar as transformações necessárias para a adaptação.

Segundo o sociólogo T. Parsons, as organizações sociais precisam atender a quatro fatores para se manterem como tal: a adaptação ao meio ambiente, o alcance dos objetivos propostos, a integração interna ao contexto mais amplo e a manutenção dos padrões e dos valores socialmente estabelecidos.

A Fundação Victor Civita, criada em 1985 pelo Grupo Editorial Abril, é uma instituição que visa contribuir para o desenvolvimento da educação no Brasil, através de pesquisas e publicações que discutem o estágio atual da educação, assim como propostas para seu desenvolvimento.

Em 2010, a instituição realizou uma pesquisa com coordenadores e supervisores pedagógicos de todo Brasil, a fim de levantar qual seria sua percepção dos principais problemas enfrentados por esses profissionais, destacando assim os principais desafios apontados por esses profissionais, com influência direta no seu cotidiano.

PAIS E COMUNIDADE: a falta de disciplina dos alunos; o baixo desempenho escolar dos alunos; a violência: os alunos agridem colegas ou professor; a ausência/falta dos alunos; a falta de motivação/ compromisso/interesse dos alunos; progressão continuada; presença de criança ou jovem envolvida com comércio de drogas ou outros delitos na sala de aula; falta de participação dos pais; problemas sociais que acarretam distúrbios na criança e conflitos entre direção, escola e Pai.

RECURSOS E INFRAESTRUTURA: falta de professores (ter menos do que deveria); falta de conservação das instalações/infraestrutura; falta de material didático; falta de funcionários (merendeira,faxineira); salas muito cheia e falta de equipamento.

PROFESSORES - PREPARO E MOTIVAÇÃO: falta de motivação da equipe docente; ausência de professores (faltar ao trabalho); equipe docente com pouco conhecimento didático e professores resistem a idéias novas/projetos/propostas.

EXCESSO DE ATRIBUIÇÕES/FALTA DE TEMPO: falta de tempo para planejamento; questões administrativas competem com as questões Pedagógicas e excesso de relatórios.

GESTÃO DA APRENDIZAGEM/COORDENAÇÃO: faltam objetivos e metas de conteúdo/ aprendizagem que o professor deva seguir e cumprir em sala de aula; indefinição do papel do coordenador; falta de preparo do coordenador; falta de autoridade (não consigo exercer minha autoridade) e falta de planejamento pedagógico/ coordenação.

Destacam-se também alguns problemas como: inclusão (crianças com deficiências); muitas atribuições; falta de apoio/ respaldo da Secretaria da Educação/governo e dificuldade no encaminhamento de problemas de saúde dos alunos.

Os dois problemas mais apontados pelos coordenadores pedagógicos estão relacionados ao comportamento dos alunos e dos pais, sendo a indisciplina dos alunos e a falta de participação dos pais na vida escolar destes, os principais problemas de um coordenador pedagógico. Podemos relacionar estes problemas à desagregação familiar.

O coordenador pedagógico exerce funções muito específicas, que vão desde a elaboração do currículo escolar em parceria com os diretores e professores, ao contato direto com os pais de alunos, lidar com os próprios alunos e a formação continuada de professores. Apesar de exercer funções tão particulares, o coordenador pedagógico não tem uma formação específica. Em geral, estes profissionais são formados em pedagogia, apresentando especializações ou cursos de formação específicos para sua área.

Podemos perceber então que o processo de transmissão de conhecimento é resultado de uma série de variáveis, sendo elas internas e externas à sala de aula, e envolvendo todos os participantes no ambiente escolar.

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

 Revista Nova Escola, Editora Abril. Edição 10/2008. “Pensar a escola, uma aventura de 2500 anos”. <http://revistaescola.abril.com.br/historia/praticapedagogica/

 Faustini, Loyde Amália (org.). Supervisão Pedagógica em ação”. São Paulo

(Estado) Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas,1981.

 

Fundação Victor Civita – Pesquisa com Coordenadores Pedagógicos.

http://www.fvc.org.br/pdf/coordenador-apresentacao.pdf>

 

http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139393por.pdf.

http://www.fvc.org.br/pdf/coordenador-apresentacao.pdf