1 INTRODUÇÃO

O artigo ora apresentado visa enaltecer os aspectos religiosos, históricos, arquitetônicos e socioculturais do primeiro Convento Franciscano do Brasil, situado na Cidade Alta - Sítio Histórico, mais precisamente na ladeira de São Francisco, nº 280, bairro do Carmo ? Olinda/Pernambuco.

O conjunto arquitetônico em questão é um dos patrimônios mais significativos, com grande participação na formação da sociedade pernambucana. Registra-se ali o estabelecimento da Ordem Franciscana, no Brasil, demarcada pela presença da Ordem Franciscana na Vila de Olinda, na época capital do Estado de Pernambuco.

Tal assunto promove o resgate e o fortalecimento dos valores que alicerçaram a sociedade daquela época, desde modo evidenciando o espírito desbravador e aguerrido do autêntico pernambucano. Ademais, é de grande valia, essa contextualização mediante ao detalhamento da belíssima edificação.

A datação primitiva do Convento é do final do século XVI, hoje, assevera-se ser um dos exemplares ímpares das construções franciscanas que se espalharam pelo mundo. O conjunto arquitetônico está inserido em um espaço de ambiência privilegiada que instiga a procura por conhecê-lo e vislumbrá-lo.

Nota-se que ao longo do tempo manteve e resguardou alguns traços originais, contribuindo para uma fiel retratação dos episódios que ali ocorreram. Deve-se destacar que o Convento de São Francisco possui o maior número de obras de arte por metro quadrado como, por exemplo, painéis em azulejos, mobiliários, imagens e outros elementos artísticos em profusão, do final do século XVI, e também dos séculos XVII e XVIII.

Entende-se nesta pesquisa o papel de agente contribuidor no disseminar tal atrativo como opção para o turismo cultural, bem como a possibilidade de ampliar sua inserção nos roteiros sugeridos. Isso em conformidade com o pressuposto do Plano Estratégico do Turismo de Pernambuco ? PETPE (2008-2020), configurado pela Secretaria de Turismo do Estado, quanto às tendências a promoção do turismo cultural como alternativa viável para o incentivo desta modalidade.
Diante do exposto, e também da atual conjuntura vivida pela gestão pública em todas as esferas federal, estadual e municipal, no que refere ao turismo, em especial o momento propício no cenário estadual como indutor do desenvolvimento. Tais aspectos tornam essa pesquisa uma ferramenta aliada ao fomento deste segmento em todos os níveis.

Assim, considerando os aspectos já mencionados e tendo como ponto de partida a criação do Projeto Circuito das Igrejas, elaborado pela Secretaria de Turismo do Estado, em parceira com Fundação Gilberto Freyre, Arquidiocese de Olinda e Recife - Cúria Metropolitana, Prefeitura do Recife, Prefeitura da Cidade de Olinda, Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, Banco do Nordeste, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Ministério do Turismo e Ministério da Cultura. Os autores motivaram-se para a composição deste artigo.

Nesse sentido, baseando-se no Projeto "Circuito das Igrejas", que a princípio, contemplou apenas dez igrejas, sendo quatro dessas situadas na cidade de Olinda (Mosteiro de São Bento; Catedral da Sé; Igreja Nossa Senhora da Graça ? Seminário de Olinda; e Convento de São Francisco); uma no município de Jaboatão dos Guararapes (Igreja Nossa Senhora dos Prazeres); e cinco no Recife (Concatedral de São Pedro dos Clérigos; Basílica do Carmo - Igreja da Ordem Terceira do Carmo; Capela Dourada; e Madre de Deus). Ademais, com vista à concretização operacional do Circuito foram selecionados, inicialmente 80 estudantes.

Esses advindos, de diferentes Instituições de Ensino Superior, entretanto, especificamente dos cursos de Turismo e Gastronomia. Tais discentes foram contratados por tempo previamente determinado, a fim de exercerem a função de condutores/estagiários durante as visitações.

Logo, é inegável enfatizar que a iniciativa do projeto "Circuito das Igrejas", traz em sua essência o cuidado pela representatividade e pela disseminação dos fatos relacionados às edificações religiosas, enquanto patrimônio de Pernambuco. Pois no instante em que há um acompanhamento, constituído por explanação interpretativa através de narrativas valiosas acerca da trajetória religiosa, histórica, sociocultural e arquitetônica de cada edificação. Essa capaz de suscitar uma reflexão dos visitantes, desencadeando assim, efeitos benéficos, mas, acima de tudo propiciando o conhecimento dos vários elementos alusivos as origens e formação da sociedade pernambucana.

Desta forma, na condição de condutores, os autores deste artigo, que foram designados a atuarem no Convento de São Francisco ? Olinda/PE ao exercerem suas funções, iniciam o primeiro ?reconhecer?, pois até aquele momento detinham apenas um conhecimento superficial. Diante de tal situação surgiu o interesse desses profissionais pelo aprofundamento do conhecimento, a fim de obterem o maior número de dados sobre a construção. Pois, tais informações facilitariam o poder de argumentação no difundi-las em meio aos visitantes, e deste modo tornando pública a magnitude dos episódios do primeiro Convento Franciscano do Brasil.

São tantos os relatos fundamentados pelos ?por quês?, ali presente, esses, muitas vezes abordados e questionados pela curiosidade dos próprios visitantes, fatores que provocam uma ampla investigação. Afinal cada pedra, cada tijolo alicerçado nesta edificação, ocupa um espaço previamente estabelecido fosse por uma finalidade momentânea ou pela suposição de um futuro. Pois, tudo havia um sentido lógico, prático uma razão de ser e de estar exatamente onde fora instalado.

A edificação composta por elementos construtivos, decorativos, ilustrativos de imensurável valor é o retrato de uma época. Destarte, como pode-se viabilizar o acesso, ambicionando maior oportunidade para o conhecimento desta edificação, entre os residentes, visitantes dos municípios circunvizinho, e demais municípios do Estado? Tal questionamento é o ápice desta pesquisa.

Na medida em que os segmentos oficiais demonstram divergências de interesses quanto às necessidades a serem priorizadas, apresentando situações que conduzem e provocam dificuldades no sentido de possibilitar e captar parcerias para o melhor aproveitamento deste patrimônio, enquanto identidade de um povo. Nesse sentido, registra-se que a falta de concordância harmônica entre as partes, é a maior limitação, pois desencadeiam infinitos obstáculos.

A pesquisa tem como escopo o detalhar dos ambientes que compõem o primeiro Convento Franciscano do Brasil ? Olinda/PE, com perspectiva elucidativa. Para isso, foi estabelecido os objetivos específicos como: contextualizar a relação turismo e turismo cultural; analisar patrimônio cultural; identificar local objeto de estudo; refletir sobre a Ordem Franciscana.

A partir do tema proposto os autores adotaram metodologia correspondente. Inicialmente, realizando consultas e análises de registros bibliográficos, em diferentes obras, como também nas páginas eletrônicas. Além da observação através das visitas in loco, e ainda, entrevistas com os gestores do Convento enquanto personalidade representativa e da religiosidade da ordem franciscana.

Em consonância com o investigado, não foi utilizado apenas um método ou uma técnica, e tão pouco se restringiu aos que já se conhecia. Ao contrário, buscou-se uma compilação de dois ou mais deles, usados simultaneamente. (LAKATOS; MARCONI, 2007). Em relação à coleta de dados, foi fundamentada por meio de entrevista e pela observação simples, com o propósito de orientar os autores, conduzindo-os a absorção de informações pertinentes.

Quanto à amostra, foi determinada a não probabilística, vale mencionar que para a pesquisadora Vergara (2006) esse instrumento não esta calcado em dados estatísticos, e se destaca pela facilidade de acesso das respectivas informações. Já para a da análise dos dados, adotou-se a funcional, uma vez que o enfoque deste artigo está essencialmente ligado à atividade turística, em geral são avaliados no mesmo instante.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO ACERCA DE TURISMO E TURISMO CULTURAL

O turismo vem desempenhando o papel de agente transformador diante de sua contribuição apresentar-se de forma dinâmica. Posto que, este setor é capaz de alcançar expressivos impactos positivos para a economia das localidades, além de revelar aspectos socioculturais e ambientais valorosos tanto para aqueles que recebem como para o público que o busca.

Ao longo do tempo surgiram diferentes menções quanto ao conceito de turismo, algumas enfatizam os aspectos da lucratividade, outras valorizam o conjunto de fatores que o compõem, porém entre essas constatou-se o que disse o estudioso Beni, sobre a dimensão conceitual desta atividade, pois para ele o

turismo encontrar-se ligado, praticamente, a quase todos os setores da atividade social humana é a principal causa de grande variedade de conceitos, todos eles válidos enquanto se circunscrevem aos campos em que é estudado. Não se pode dizer que esse ou aquele conceito é errôneo ou inadequado quando se pretende conceituar o Turismo sob uma ótica diferente, já que isso levaria as discussões estéreis. (2006, p. 39).

Assim, o autor deixa expresso que é possível atribuir-se conceitos, de acordo com o propósito de uma viagem, na qual a especificidade do segmento varia guardada a percepção de quem esteja avaliando a sua aplicabilidade.

Para a Organização Mundial do Turismo (OMT, 1994) apud Ignarra (2002) o turismo está relacionado às etapas exercidas pelas pessoas durante as viagens e permanência temporal nos destinos, independentemente de suas motivações. O respectivo órgão adota esse conceito com a finalidade de padronizá-lo entre os países integrantes. Desta maneira, facilitar as pesquisas, e, consequentemente a obtenção de dados quantitativos e qualitativos, no sentido de auxiliar no traçar parâmetros, podendo assim, nivelar os planejamentos nesta área.

Nota-se, porém que em termos gerais o turismo enquanto fenômeno social unifica, resgata, valoriza, consolida os valores patrimoniais e culturais dos povos, com capacidade de perpassar os interesses políticos e econômicos, quando permite e viabiliza a inclusão social de todas as camadas. Tais fatores são contundentes para a transformação e aperfeiçoamento dos cidadãos.

Quanto ao segmento do turismo cultural, verificou-se que desde os primórdios a cultura ocupou um papel relevante inclusive justificando as razões pelas quais as viagens eram realizadas. Observa-se, porém que com o passar do tempo ocorreram modificações quanto à forma, quanto o número de viajantes e também suas motivações. Desta forma, entende-se as possíveis influências no comportamento de ser e fazer dos humanos, contudo verifica-se que todos os povos detém cultura própria, capaz de instigar o interesse por conhecê-las.

Há que se mencionar a relação da religiosidade com os aspectos culturais, uma vez que o turismo praticado na Idade Média ocorreu e cresceu basicamente pelas peregrinações à Jerusalém sob motivação da fé. Posteriormente, o descobrimento da tumba do Apóstolo São Thiago, iniciou-se outras peregrinações, isto é, fazer o Caminho a Santiago de Compostela. Não obstante, esses deslocamentos eram motivados principalmente pela fé.

No decorrer do tempo, apareceram opções relativas à atividade turística, as quais muitas vezes relacionavam-se entre si, como é o caso do turismo religioso, condicionado pela fé, e também pelo turismo cultural, pois geralmente contempla visitação as edificações das Igrejas, Conventos e Seminários.

Diante da perspectiva de explorar o crescente interesse pelo turismo cultural, ressalta-se o que relatou a autora Barretto (2006, p. 22) "a procura pela cultura atual e pela passada. Assiste-se atualmente a uma procura sem precedentes por lugares históricos ligados [...] aos grandes feitos da história política e social mais ampla".

Ademais, pode-se registrar a fundamentação do turismo cultural em dois tópicos primordiais. Em primeiro lugar enfatizar a existência de pessoas motivadas em vivenciar outras culturas. E, em segundo o papel da atividade turística em assentar-se como instrumento de valorização para a analogia cultural. Portanto, entende-se o turismo cultural como uma "atividade turística relacionada à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura". (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p. 28).

3 ANÁLISE SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL

O patrimônio cultural é tudo aquilo que constitui um bem apropriado pelo homem, com suas características únicas e particulares. O fato é que o patrimônio cultural não se restringe ao atrativo turístico, na medida em que envolve a identidade cultural sublimando a memória das comunidades. Nesse sentido, é preponderante a memória, como fonte promotora da cultura própria das localidades visitadas instigando variadas manifestações. Mas, sobretudo pela disposição de incitar a valorização da autenticidade dos povos, de modo a ser cultuada, disseminada e perpetuada.

O artigo 216 da Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que:
constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade,à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira [...].(2005, p. 151).

Tal definição expressa o sentido de patrimônio não limitar-se as edificações históricas, porquanto abrange uma gama de objetos que devem ser valorizados como identidade regional e nacional. De modo que a finalidade do patrimônio, originalmente tida como a representação do passado das nações, multiplicou-se. Haja vista duas posições antagônicas, pois poder público passa a percebe a valorização do patrimônio material e seus bens como mercadorias culturais, já os cidadãos o entendem como fator de qualidade de vida. (FUNARI; PINSKY, 2004).

Nesse sentido, destaca-se que a busca pelo uso turístico desses patrimônios deve estar vinculando a atuação de agentes co-participes sempre no sentido de consolidar o fortalecimento da cultura, a fim de resguardar seus aspectos relevantes e salvaguarda-los dos impactos negativos.

4 IDENTIFICANDO O LOCAL DO OBJETO DE ESTUDO

Pernambuco é um dos vinte e sete Estados que compõem a União Federativa do Brasil. Encontra-se situado no centro-leste da região Nordeste, tendo como limites o Estado da Paraíba ao norte; a noroeste o Ceará; ao sul Alagoas; ao sudoeste o Estado da Bahia; o Estado do Piauí a oeste; e ao leste o Oceano Atlântico. De acordo com site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estáticas (IBGE).

O Estado detém uma extensão territorial de 98.281 km2, conforme informações contidas no site do IBGE. E mais 18,2 km2, que corresponde ao Arquipélago de Fernando de Noronha, sua capital, Recife, é conhecida como a "Veneza brasileira". Fazem parte do Estado 184 municípios, divididos em quatro regiões, litoral, zona da mata, agreste e sertão.

É atribuído ao Estado o título de destino plural para a prática do turismo, isto é, do litoral ao sertão são ofertados cenários inusitados. O litoral com 187 km de extensão abriga inúmeras praias de águas morna, e que oscilam entre as tonalidades de azuis e verdes. Além da diversidade de paisagens exuberantes, como os resquícios da Mata Atlântica entre o litoral e o agreste, e ainda Caatinga típica do sertão.

Também observam-se outros atrativos tais como edificações, monumentos, fortificações, casarios etc. Essas construções variando de características conforme o traçado da arquitetura por vezes portuguesa, holandesa e também francesa. São múltiplos os elementos encantadores como, por exemplo, a música com ritmos que expressam a alma alegre, aguerrida, sofrida, tenaz e gentil dos pernambucanos. Somando-se a isso os costumes originais, respaldando a da admirável posição, enquanto diversidade cultural.

Os valores culturais de muitos dos municípios que compõem o Estado, são incontestáveis. Não obstante, cabe destacar a cidade de Olinda, pois além de seus inúmeros atrativos há que se enfatizar o fato de ter sido a sede inicial do Estado. Essa cidade é um dos nove municípios da Região Metropolitana do Recife, com área territorial de 38.100 km2, e população de 281.433 habitantes, situada-se apenas a 6 km de distância do Recife. (IBGE).

Olinda é enaltecida por momentos significativos no desdobramento de fatos históricos, políticos e socioculturais da sociedade pernambucana. A cidade foi fundada no ano de 1535, pelo português Duarte Coelho Pereira, o primeiro donatário deste território. O título de Vila vingou em 12 de março de 1537, após a outorga da carta Foral, esse documento lhe conferiu-lhe tal denominação, sendo o primeiro momento na condição de patrimônio público. Informações retiradas do site oficial da Prefeitura de Olinda.

Além de suas belezas naturais, Olinda é também um dos mais importantes centros culturais do país, uma das mais bem preservadas cidades coloniais do Brasil. No ano de 1982 recebeu o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - UNESCO. Vinte e três anos depois, ou seja, em 2005, foi eleita a 1ª Capital Brasileira da Cultura. Isso aconteceu de acordo por iniciativa da organização Capital Brasileira da Cultura (CBC), tendo o apoio dos Ministérios da Cultura e do Turismo, e ainda da UNESCO. Ainda, recentemente lhe foi conferido o título de Memória do Mundo, no ano de 2008, também pela UNESCO.

Nota-se no calendário de eventos da cidade diversas opções, porém há um peculiar, no qual o mundo volta às atenções para Olinda. Trata-se do período de momo, isto é, o carnaval, é nessa época que a cidade respira ao som do frevo, do maracatu e outros ritmos irresistíveis. As ruas e ladeiras ficam repletas de anônimos e também de personalidades, trajando fantasias inusitadas em cores e de criatividade sem igual. Mas, Olinda não é só carnaval, registram-se outros eventos como procissões, serenatas, arte em toda parte, costuma-se dizer que lá se respira, vive e revive o esplendor do passado, presente e do futuro.

A cidade resguarda ambientes propícios ao desenvolvimento da atividade turística. Dentre esses, percebe-se as construções de traçado irregular, sob forte influência medieval, adaptadas às curvas dos terrenos. Destacam-se, nesse panorama as edificações de igrejas, que adornam o cenário, alternando-se ao verde das árvores e coqueiros, ao colorido das flores, e ainda a vista aprazível e contemplativa do mar. Não é para menos que tal cidade desperte grande expectativa por conhecê-la.

Entre as edificações existentes salienta-se a Catedral de Olinda (Sé); o Mosteiro de São Bento; o Convento de São Francisco; a Igreja de Nossa Senhora do Carmo; a Igreja da Misericórdia, a Igreja de Nossa Senhora da Graça; entre outras. Todavia, apesar da riqueza arquitetônica e histórica dessas e de tantas outras, o enfoque central deste artigo é uma das mais ilustres, o Convento de São Francisco.

5 REFELEXÃO ACERCA DO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO

O conjunto arquitetônico do Convento de São Francisco está localizado na Ladeira de São Francisco, 280, bairro do Carmo, Sítio Histórico na Cidade Alta, Olinda/PE. Merece menção o fato de que o Convento foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 22 de julho de 1938, e está inscrito no Livro de Belas Artes. De acordo com o site do CECI.

Sobre os aspectos administrativos o Convento apresenta-se sob o regime do direito privado, submetido à Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, que também administra os bens móveis e imóveis dos franciscanos no Estado de Pernambuco, como também dos Estados de Alagoas, Paraíba, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará.

A propriedade do Convento ocupa uma área de 28.190m2, no entanto, deste total apenas 6.294m2 corresponde à área construída, incluindo os anexos. Internamente dividi-se em três pavimentos: térreo, primeiro piso e segundo piso. Quanto ao pavimento térreo é disposto por três áreas.

A primeira é privativa dos freis e funcionários do Convento, é composto por cozinha, copa, refeitório, depósito, garagem e sanitários. Já a segunda área, inicia pela portaria, tal ambiente dá o acesso ao auditório; à circulação para o terraço; ao claustro; e também ao primeiro andar que é restrito aos freis. O claustro por sua vez permite o acesso a Capela de Santa Ana; à Capela do Capítulo; à nave da Igreja de Nossa Senhora das Neves; e ao corredor de circulação que leva à sacristia.

E, a terceira área corresponde à Ordem Terceira composta por uma portaria, um auditório e um pátio, que é de uso exclusivo da Irmandade; a Capela de São Roque; a Capela dos Noviços; e a Sacristia. No segundo pavimento fica instalado o consistório e a presidência. Vale ressaltar que a ordem terceira possui administração própria.

O piso do primeiro andar, trata-se de uma área privativa, constam os ambiente das celas (aposentos), rouparia e depósitos. Nesse pavimento funcionou o Instituto Franciscano de Teologia de Olinda (IFTO), que ocupou três salas de aula, secretaria e sala dos professores, foi extinto no ano de 2006. No segundo andar existem celas para uso dos residentes, e também para os visitantes religiosos, além de banheiros e sala de recreação. Há duas bibliotecas uma no primeiro andar e outra no segundo.

Antes de dar prosseguimento aos elementos construtivos do Convento de São Francisco far-se-á uma contextualização acerca do retrospecto da trajetória dessa congregação e também de outros aspectos inerentes a ela.

Os franciscanos pertencem a uma ordem religiosa fundada por Francisco de Assis, na Itália. Apresentou-se como uma ordem de mendicantes, pelo fato de que os freis/frades pediam esmola para sua sobrevivência, por consequência do autêntico despojamento ao qual se propunham. A ordem franciscana é constituída por três grupos: o primeiro ordem de freis/frades; o segundo ordem das irmãs, também denominadas clarissas; e o terceiro ordem (secular ou regular) formada por leigos.

A primeira ordem apresenta divida por três ramos: Ordem dos Frades Menores (OFM), Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (discussão sobre pobreza) (OFMCap.) e pela Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFMconv.). Historicamente a ordem franciscana surgiu em 1209 e evoluiu ao longo dos anos em número e em representação eclesiástica formando comunidades (ambiência interna) que foram designadas de Conventos à qual referenciava caráter institucional da Ordem.

Atualmente são denominados Frades Menores todos os religiosos pertencentes à Primeira Ordem masculina. Os franciscanos não são monges, mas sim religiosos que firmam voto de pobreza, de castidade e de obediência. Os seus conventos são tradicionalmente orginários das cidades, uma vez que apartir deles formavam-se as vilas, posteriormente cidades.

Já a Ordem Terceira, representada pelos leigos, ou seja, por pessoas que buscam viver a sua fé, no entanto, junto as suas famílias, em suas profissões e nos afazeres dentro da sociedade, caracaterizado inicialmente como Movimento da Penitênica. Existe a Ordem Terceira Regular, nas quais os integrantes fazem três votos de pobreza, obediência e castidade, e professam uma vida baseada nos conselhos evangélicos. E, também, a Ordem Terceira Secular cidadãos co,uns com missão especial de cumprir o engajamento como vanguarda com iniciativas corajosas em prol da justiça, da paz, da preservação da natureza.

Sobre a criação propriamente dita da custódia da Ordem Franciscana é válido mencionar, que de acordo com pesquisas a sua solicitação foi pleiteada pelo segundo donatário da capitania de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho, herdeiro de Duarte Coelho, que teve como primeiro custódio frei Melquior de Santa Catarina. (GALHARDO, 2009).

Para Cavalcanti (1977) quanto ao início da fundação da Ordem Franciscana no Brasil, há que se fazer uma retrospecção acerca do momento de fundação da Ordem Terceira, pois segundo informações datam do ano de 1577. Isto é, oito anos antes de ser materializada a edificação do Convento Franciscano e da ocupação deste pelos franciscanos. O autor Galhardo (2009) revela que a história Franciscana no Brasil não se dá em especial com a chegada de Frei Melquior e sim com a história de dona Maria da Rosa.

A respectiva senhora oriunda de Portugal, e esposa do fidalgo português Pedro Leitão, homem de muitas posses, ao chegar a Olinda inicia uma nova etapa de sua vida. No princípio exercendo o papel de interprete entre os padres jesuítas e os índios, tendo em vista sua habilidade e domínio da linguística. Contudo, na época o Bispo em exercício proibiu que esse trabalho continuasse, para que os padres pudessem apreender a língua dos nativos, e assim manter o segredo da confissão.

Diante dessa situação Dona Maria da Rosa passa a dedicar-se a construção de um abrigo para órfãos. Alguns anos depois perde o esposo, e ao ficar viúva torna-se donatária de um extenso terreno, aonde viria ser fixado o Convento de São Francisco.

Porém, para se detalhar esse estudo, é necessário citar a presença do frei franciscano Álvaro da Purificação, que de acordo com assertiva de Jaboatão apud Cavalcanti (1977), o virtuoso sacerdote, conquistou o respeito do povo olindense. O mencionado frei aportou em território brasileiro tendo vista o naufrágio do navio no qual viajava. A Vila de Olinda, que lhe acolheu passou a aguardar a fundação de um Convento da Ordem Franciscana, antes da sua partida. Na ocasião, a viúva Maria da Rosa ofereceu parte do terreno necessário. Entretanto, frei Álvaro ao consultar seus superiores foi informado que não poderia aceitar tal doação, o que na época deixou os olindenses decepcionados.

Todavia, acreditou-se que frei Álvaro cooperou com Maria da Rosa para fundação da Ordem Terceira de São Francisco no Brasil, uma vez que estava impedido de atender as rogativas de fundar o Convento. Mas, posteriormente Dona Maria da Rosa veio a doar o espaço necessário para acolher a recém instituída Custódia de Santo Antonio, bem como ofereceu seus préstimos de benfeitora ao servir e repassar suas boas experiências. Não resta dúvida que Maria da Rosa foi o elo definitivo para os seráficos em Olinda.

Pode-se afirmar que Dona Maria da Rosa, foi uma senhora tenaz, corajosa, de brio, a primeira não só da Ordem Terceira, mas também da vida social e, sobretudo da vida religiosa do seu tempo uma personalidade singular. Segundo frei Willeke apud Cavalcanti (1977) Maria da Rosa ocupou o abrigo, no qual instruída os órfãos nas primeiras letras, e a Igreja de Nossa Senhora da Neves, mantendo o orfanato durante o período de 1577 a 1585. Esse recolhimento figurou como casa-mãe de todos os franciscanos no Brasil.

Segundo documentação oficial do convento, o terreno foi doado aos franciscanos em 27/09/1585. O projeto arquitetônico teve como autor frei Francisco dos Santos, a princípio a obra foi adequada ao corpo da igreja principal de Nossa Senhora das Neves, e pelas estruturas rudimentares que viriam a ser o claustro e capela do capítulo. Foi no ano de 1585, exatamente no dia 04 de outubro que os freis franciscanos alojaram-se no Convento.

Contudo, todas as conquistas da ordem franciscana, nesse território, iriam sucumbir com a invasão holandesa em 1630. Foi nesta ocasião que a maioria das igrejas em Olinda foram parcialmente ou totalmente destruídas, uma vez que os invasores atearam fogo nessas construções, como forma de registrar sua presença e pretenso domínio sobre a localidade. Cabe mencionar que as obras referentes à atual construção do Convento, foram retomadas a partir da expulsão dos holandeses, e perduraram até meados do século XVIII, quando o Convento adquiriu os elementos tais como azulejos, quadros, painéis, imagens entre outros que até hoje podem ser vislumbrados.

No que diz respeito as característica arquitetônica da primeira edificação o conjunto franciscano recebeu influência da arquitetura religiosa portuguesa do século XVI. Hoje se ve o sistema construtivo composto por alvenaria estruturais marcadas por maciças em pedras e tijolos, argamassado e revestidos por uma mistura de cal, areia ou argila, amparado pela cobertura em madeira, sob essas telhas cerâmicas. Acrescendo-se a esses elementos cercadeira em pedra lavrada (cantaria) para distinguir os vãos de portas, janelas e arcos.

Já as coberturas apresentam dois modelos comuns à colônia luso-brasileira tais como: tesouras e terças de empena a empena. Os telhados foram substituídos pelo madeiramento serrado, industrializado. As principais técnicas das artes decorativas no Conjunto Franciscano de Olinda estão nos revestimentos das paredes, pisos e tetos. Nos pisos vislumbra-se materiais e técnicas distintas, ou seja, tijoleiras e ladrilhos hidráulicos.

No tocante aos elementos arquitetônicos da fachada o frontão que anteriormente se via triangular passa a ter presença do estilo barroco. Representado claramente pela inserção das volutas, conchas e flores junto aos "recortes". Num primeiro momento notava-se a existência em destaque da galilé e do pórtico, no entanto, hoje existem portas que se mantém fechada. Quanto à torre campanário verifica-se sua posição recuada, baseada na Basílica de São Francisco em Assis, na Itália, uma característica das construções franciscana.


Fachada do Convento
Fonte: Autores, 2010.

Em frente ao conjunto encontra-se o cruzeiro em pedra de arenito retirado dos arrecifes. O espaço entre a edificação e o cruzeiro chama-se de adro. Não se via antigamente o acentuado declive de hoje, porém a extensão entre o cruzeiro e a edificação não era plana, mas continua esse espaço delimitava o território religioso, significando que do cruzeiro até o prédio considerava-se ambiente religioso e do cruzeiro para fora ocupação urbana.

A edificação do primeiro Convento Franciscano no Brasil serviu de exemplo para concretização de outras construções como as de João Pessoa (PB), Recife (PE), Igarassu (PE), Sirinhaém (PE), Ipojuca (PE), Salvador (BA), São Francisco do Canidé (CE), Marechal de Deodoro (AL), e Penedo (AL). Salienta-se que tais construções representam o pioneirismo quanto à manifestação de uma arquitetura genuinamente brasileira, os aludidos conventos não foram obras de formatação isoladas, mas de constante procedimento de inclusões e intervenções, pois os franciscanos adotavam soluções incomuns adaptando alguns elementos às condições tropicais em detrimento da vida monacal medieval e renascentista. (CECI, 2004).

Com relação da dinâmica interna do Convento, evidencia-se uma recepção, onde é efetuado o pagamento de uma taxa para visitação, essa cobrada com a finalidade de contribuir na manutenção do local. A partir desse ambiente inicia-se o roteiro interno, iniciando através do saguão de entrada, que por sua vez permite o acesso aos outros ambientes.

O espaço do saguão de entrada nos primórdios serviu de refeitório para os freis, mas nem o forro e nem o piso são originais daquela época. Observa-se, no local um lavabo em mármore do século XVII, além de quadros de santos da Ordem Franciscana pintados na madeira de cedro e com molduras também em madeira de cedro, bem como uma retratação ímpar da Santa Ceia.

5.1 Claustro

O ambiente denominado de Claustro, ou pátio interno, é o centro do Convento. O local permite reporta-se ao recolhimento e a mística da espiritualidade daquela época, isto é, a paz e a clausura, como o próprio nome sugere. Apresenta-se sob a forma de quadrilátero, a essa construção se atribuiu à questão de que nada era aleatório uma vez que todos os ambientes existentes convergem para tal espaço.


Claustro
Fonte: Autores, 2010.
Torre sineira ? - telhas inclinadas ?
Fonte: Autores, 2010.

As galerias são delineadas por arcadas sugerindo uma amplitude espacial, suspensas por colunas de estilo toscano, e com capitéis simples. O material utilizado na construção deste ambiente foi o arenito, considerando sua abundância na localidade, como também as substâncias compositivas deste, pela fácil sedimentação apresentando-se resistente a ação do tempo e das interferências climáticas, são perceptíveis no piso e nas colunas a presença dos elementos existentes na praia.
Verifica-se que as telhas dispostas por cima do alpendre, detêm certa inclinação, isso feito com intuito de recolher e armazenar a água da chuva, tendo em vista os períodos de estiagem. Também a posição da torre campanário, imitando a construção existente na Basílica de São Francisco de Assis, na Itália, com recuo, ou seja, não fica no frontispício da igreja, fato comum em outras igrejas.

Nas paredes dos quatro corredores do claustro constam ilustrados 16 painéis em azulejos monocromáticos portugueses de século XVIII. Os painéis de barra recortada possuem cartelas superiores e inferiores ornamentadas com símbolos bíblicos e ladeados pela figura de anjo, tais aspectos nos remetem ao predomínio do estilo barroco. Ressalta-se que foram confeccionados em Portugal e enviados para o Convento para ocuparem exatamente essas paredes, apresentando essencialmente didáticos, considerando a premissa dos franciscanos quanto ao catequizar e educar os nativos, pois os respectivos painéis contam passagens referentes à vida de São Francisco.

5.2 Capela do Capítulo

A Capela do Capítulo é um ambiente comum aos Conventos da Ordem Franciscana. Recebeu esse nome por tratar-se do local destinado a orações, leituras bíblicas e encontros entre os freis com o desígnio de resolverem questões internas, como por exemplo, qual frei iria para qual missão, entre outras providências de caráter interno.

Após o incêndio, da invasão holandesa, o que restou deste Convento foram às ruínas desta capela. No altar da capela observa-se o predomínio do estilo barroco no trabalho artístico de entalhamento na madeira e também da técnica de aplicar o douramento que o valoriza. Nos nichos tem-se a imagem de Santa Ana ladeada por imagens de São Francisco e Santo Antônio. Merecem atenção os painéis pintados no forro de grande valor artístico, os quais representam passos da fuga da sagrada família para o Egito.

Observa-se o piso em tijoleira artesanal original do final do século XVII, e ainda a lápide em mármore contendo os restos mortais do capitão Francisco do Rêgo Barros e sua esposa, dona Arcângela da Silveira, seus filhos e herdeiros, pois foram grandes benfeitores da capela. O pequeno ambiente demonstra a riqueza em ornamentos e elementos arquitetônicos que refletem o momento histórico-cultural em que ela foi construída.
5.3 Capela de Santa Anna

A sua construção data de 1754, nesse espaço nota-se que também houve o revestimento das paredes pela azulejaria. Essa confeccionada sob medida, como um grande quebra-cabeça, visto que se encaixam perfeitamente ocupando as dimensões do local. Os painéis retratam cenas da vida de Santa Ana como o seu nascimento, casamento e morte, entre outras.
Pôde-se verificar na Capela o altar ricamente adornado com ramagens desde o frontal até os capitéis das colunas, e ainda a figura de pássaros (pelicanos) coloridos incrustados nas colunas. Tais elementos demonstram o momento de transição entre os estilos barroco e do rococó pernambucano.

Durante a ampliação desta capela, houve a execução de pintura em tablados de madeira instalados no forro essencialmente de característica barroca. A pintura reproduz a imagem de São Francisco segurando um arabesco formado por cordas, que entrelaçam os quatro continentes, Ásia, África, América e Europa, territórios por onde a Ordem Francisca havia registrado sua presença. Não há menção da Oceania, pois tal território era desconhecido até aquele momento. Visualizam-se também na pintura alguns algarismos que correspondente ao quantitativo de personalidade tais como Papas, Bispos, Mártires, Santos, Inquisidores e bem aventurados da Ordem Franciscana.

5.4 Igreja Nossa Senhora da s Neves

A Igreja de Nossa Senhora das Neves traz consigo não só um marcante conteúdo histórico como também uma contribuição arquitetônica de importância sem igual. Construída no século XVII, mas com a inserção de elementos a partir do século XVIII, a igreja detém características tipicamente luso-brasileiras, com painéis em azulejo, que expressam o domínio do estilo barroco, além dos painéis no forro. Já a presença do rococó é perceptível no altar-mor e nos altares das ilhargas laterais.

No altar-mor, há a imagem de Nossa Senhora das Neves, padroeira da igreja ladeada pelas imagens de São José (à esquerda) e Santo Antonio de Pádua (à direita). Nos altares das ilhargas tem-se a imagem de Nossa Senhora da Conceição (à esquerda) e Santo Antônio (à direita). Ao longo da nave principal destaca-se a azulejaria com retratações peculiares entre elas a "Anunciação", a rara cena da "Circuncisão de Cristo", "Pentecoste", e tantas outras. Quanto às pinturas do forro representam as glórias de Nossa Senhora e outras passagens religiosas.

O coro uma estrutura suspensa sob o ambiente denominado de galilé e do pórtico, estam disposta algumas estalas em jacarandá, ao centro existe um porta bíblia giratório em madeira, tem também um o órgão utilizado durante as celebrações. Não se pode esquecer de frisar os vinte e quatro painéis em caixotão de formato octogonal, existentes no teto dispostos ao longo da nave, organizados três a três de forma levemente abobada.

Também se identifica na parte superior à direita da nave o púlpito, de onde os freis dirigiam-se ao público durante a homilia. O local apresenta-se propicio a propagação perfeita do som, pois quando projetado o executor detinha o segredo da acústica para o ambiente. Tal efeito construtivo favorecia a compreensão da oratória daqueles que ali explanavam, não havendo necessidade de usarem microfone, uma vez que de qualquer posição no interior da igreja entendia-se o verbo citado.

5.5 Sacristia

A sacristia é o local anexo à igreja, nesse ambiente os sacerdotes se preparavam, na época, para as cerimônias religiosas. Observa-se o móvel denominado arcaiz em jacarandá com enormes gaveteiros, onde ficam guardados os paramentos e as indumentárias usadas pelos freios na realização das cerimônias. Percebe-se, no móvel o puxador da gaveta com detalhe grafado, isto é, a coroa portuguesa e o dois braços cruzados (braço de Jesus e o braço de Francisco), isto é, o simbolismo dos franciscanos instituído por frei Boa Ventura. Em frente a esse há um outro móvel, que serviu para guardar as alfaias do Convento.

Os deslumbrantes mobiliários em jacarandá tem aproximadamente 350 anos representante do estilo barroco, mais especificamente o denominado barroco colonial. Esses utensílios demonstram a riqueza glamourosa do trabalho em talha expressa pela volumetria com os detalhamentos dos zoomorfos, antromorofos, além de fitomorfos - pássaros e anjos; parreira, romãs, uvas - tudo isso esculpido em madeira de ébano. Identifica-se ao centro do arcaiz, um relicário revestido por uma técnica de douramento, contendo a imagem de Jesus crucificado e dois braços estilizados simbolizado a ordem franciscana.
Nesse ambiente registra-se a presença do lavabo em mármore do século XVII, com duas torneiras usadas pelos sacerdotes que estaria realizando a cerimônia, antes e depois da missa com intuito de purificar-se.

Os azulejos que compõe esse ambiente retratam São Francisco no momento em que recebe os estigmas de cristo, em outra figuração tem-se Santo Antônio diante de um altar, sendo agraciado pela figura do menino Jesus. No forro ao centro painel com uma retratação de Nossa Senhora, além de outros painéis em madeira de forma octogonal com pinturas que reproduzem a passagem da ordem franciscana pelos trópicos.

5.6 Terraço / Mirante

Esse ambiente surgiu a partir da construção de uma Cisterna. Considerando a falta de água comum nas cidades coloniais, e tendo em vista a precária estrutura do fornecimento regular de água da Vila naquela época, uma vez que se dependia completamente dos poços e das fontes públicas. E ainda o fato de que durante o período de estiagem os poços chegavam a secar os franciscanos construíram uma cisterna, isso ocorreu no ano de 1624. Além de atender ao convento favorecia a população do entorno, posto que em geral eram as vítimas da falta regular de água.

Ressalta-se, que havia além das fontes e bicas de utilidade pública, uma fonte de água no terreno do Convento, cabe salientar que essa foi tombada pelo IPHAN. Mas, na época não era suficiente para atender a demanda do Convento e também da população, tornando-se imprescindível a construção de uma cisterna.

Entretanto, no período em que os holandeses estiveram instalados na Vila impediram a utilização desta e também da fonte que havia no local. Após a expulsão dos holandeses demorou a reconstrução de outra cisterna. Só a partir de 1748 foi iniciada sua reconstrução, com as atuais dimensões de 15m de largura x 20m de comprimento e 4m de profundidade. Em seguida colocaram uma laje como cobertura protetora, assim, originando um terraço a céu aberto, sendo configurado um ambiente propício para a meditação e recolhimento contemplativo.

Constata-se a presença de um relógio, denominado ?relógio do sol?, incrustado na pedra, que marca o horário matutino voltado para área externa, ou seja do lado leste, já o horário vespertino está voltado para a área interna sentido oeste. Com relação ao horário apresentado nesse relógio há um aspecto curioso, pois no ano 1914 todos os relógios do país foram obrigados a parar por um período de 30 minutos, isso ocorreu para que fosse adotado o tempo legal do Rio de Janeiro, capital do país. Contudo, como não era possível parar o relógio do sol, esse mantém as horas adiantada por 30 minutos.

5.7 Capela de São Roque ? Ordem Terceira

Destaca-se nesse espaço o forro em caixotão, com painéis que reproduzem as imagens de vários santos da ordem franciscana, mais conhecidos na Europa. Verifica-se o retábulo da capela-mor, além da cabeceira da nave com dois retábulos laterais, nesses percebe-se, a demonstração do estilo rococó pernambucano. Também nota-se as imagens de São Roque ao centro, na parte de baixo vê-se as imagens de São Francisco e Santa Isabel da Hungria.

No altar lateral esquerdo a imagem de Nosso Senhor dos Passos, a respectiva peça é diferenciada, pois a cabeça e as mãos confeccionadas em cerâmica veste uma túnica de tecido e o cabelo é peruca, seu corpo em madeira oca, o conhecido ?santo do pau-oco?. Essa imagem sai durante a procissão realizada na sexta-feira da paixão. Já no altar lateral direito tem-se a imagem de Nossa Senhora das Sete Alegrias. Na extensão na nave percebe-se dois nichos do lado direito com a imagem de Santo Antônio e do lado esquerdo a imagem de São Benedito. Há também as estalas laterais confeccionadas em madeira de jacarandá

Além desta Capela a edificação da ordem terceira, apresenta a Capela dos Noviços com aproximadamente 300 anos, no forro desta tem uma pintura que merece apreciação. O mesmo acontece com a Sacristia, que possui uma pintura singular de São Francisco de Assis recebendo os estigmas de Cristo. Ainda nesse ambiente encontram-se um lavabo em pedra com suas torneiras em bronze originais da época de sua construção.




6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o desenvolvimento deste artigo registrou-se informações embasadas principalmente por consultas a distintas fontes. Aos autores coube relacionar turismo, turismo cultural e também o entendimento acerca de patrimônio cultural, componentes intrínsecos a atividade turística, além de outros aspectos alusivos ao enfoque da temática.

Para os autores, os detalhamentos abordados provocam a compreensão das razões pelas quais as pessoas são instigadas a saírem do seu ambiente residencial em busca de novas vivências. Assim, pode-se evidenciar que a tipicidade turística é fundamental para o desenvolvimento de um produto/serviço turísticos, pois na medida em que se compreende todas as dimensões é possível atender os anseios satisfazendo diferentes públicos ao usufruí-lo.

Entende-se a contextualização deste trabalho o instrumento facilitador, pois transcreve pormenorizadamente a inquestionável notabilidade dos aspectos religiosos, históricos e arquitetônicos do primeiro Convento Franciscano do Brasil. Ao primeiro Convento Franciscano do Brasil, há que se considerar uma especial atenção. O mesmo encontra-se aberto para visitação de segunda à sexta das 9h às 12hs e das 14 às 17hs, e aos sábados das 8h às 12hs. No período de alta temporada o Convento chega a receber uma média de 800 visitantes por mês. Tal estatística apresenta-se reduzida diante da capacidade deste atrativo.

Deve-se ressaltar que apesar da redução significativa da vida religiosa na sociedade atual, os franciscanos conseguiram manter por mais de quatro séculos o uso religioso do Conjunto Franciscano. Ainda hoje, são celebradas missas nas terças-feiras às 19hs, sábados às 17hs e domingos às 8hs. No Convento, também, são realizados casamentos, recepções, seminários, encontros, entre outros eventos. Atualmente residem ali seis freis, e mantém um quadro de funcionários com quatro profissionais.

Levando-se em consideração o fato de que os segmentos oficiais demonstram divergências de interesses quanto às necessidades a serem priorizadas, e, sobretudo pela falta de concordância harmônica entre as partes, tendo nesses aspectos os elementos que coibindo a formação de parcerias minimizando o fluxo de visitantes do próprio Estado.
Logo, a criação, promoção, divulgação e porque não da ampliação do projeto "Circuito das Igrejas" formatado pela SETUR, junto com a Fundação Gilberto Freyre, proporcionou aos autores uma convivência interpretativa do patrimônio, como ferramenta técnica capaz de impulsionar ainda mais o turismo cultural do Estado.

Percebeu-se que no instante em que é realizado o acompanhamento nas visitas, as abordagens causam efeitos psicológicos, geradores de profunda apreciação a partir das argumentações consistentes dos respectivos monitores. Reações demonstradas, na maioria das vezes, pela reciprocidade e afetividade explicitas entre os envolvidos, em geral por um público interessado no enredo narrativo.

Pois na condição de interprete tem como missão o comunicar-se, de modo a transmitir os sentidos intrínsecos aos lugares, é seu papel, textualizar as expressões que fundamentam os respectivos ambientes. Ademais, procurando sempre fazer com que os olhos dos visitantes sigam a direção indicada, envolvendo-os pelos acontecimentos narrados, evidenciando a essência dos fatos, tornando a visita inesquecível, esse tem sido o propósito dos autores deste trabalho durante suas explanações.

Trabalhar os ambientes do Convento de São Francisco é um presente, pois na qualidade de palco dos valiosos episódios, favorece sobre maneira a atividade praticada pelos discentes uma vez que transformam o instante do acompanhamento referencial e diferencial.

Portanto, deve-se enfatizar o incentivo a visitação a este monumento, e tantos outros espalhados por toda extensão territorial, em particular aquelas existentes no Estado de Pernambuco. Isso feito, a partir do pressuposto do PNT 2007-2010, e tendo o turismo cultural como aliado no combate a sazonalidade. Todavia, há que se estruturarem ações para oportunizá-lo como indutor na inclusão social, contemplando todas tomadas às camadas, de modo a viabilizar e salvaguardar os elementos formadores da autenticidade de um povo.





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