INTRODUÇÃO

De acordo com as tantas noticias nos ultimas anos onde apresentam na mídia todos os dias, infrações cometidas por adolescentes em todo o país, ponha-se a questão de imputabilidade penal na maioridade desses jovens, porem ao determinar medidas sócio educativas de internação ao adolescente, as autoridades e sociedade considera que se fez valer a lei. Porem o que é medidas sócio Educativa? Como interferir na realidade desses jovens de forma significativa a ponto dos mesmos voltarem á sociedade resgatados e não reincidirem? Quais praticas profissionais com os mesmos estabeleceria uma relação pedagógica educativa?
Nesse sentido, buscamos avaliar de que forma o dialogo nos espaços escolares dos centros de internação de adolescentes em conflito com a lei do CEA¹, são utilizado no controle e disciplinamento dos adolescentes numa perspectiva humanizada de emancipação social dos mesmos.
O CEA tem como uma das suas principais atividades pedagógicas, a escola que funciona do ensino fundamental á ao ensino médio, onde atende todos os jovens da instituição sem exceção. A escola é parte obrigatória das atividades diárias, sendo apenas rompidas as atividades na quarta feira por motivos de visitas dos familiares dos internos. A escola tem seu currículo diferenciado das demais escolas por se tratar em uma escola interna do centro. A proposta do PPP, é feita cuidadosamente pelos funcionários pedagógicos do centro, de forma que o mesmo atenda todas as necessidades emocional, psíquica e cognitiva dos adolescentes.
Os objetivos centrais em nosso estudo é a analise e conclusão dos dados empíricos obtidos na escola do CEA da cidade de João Pessoa, de forma que demonstremos o controle e emancipação através do dialogo entre professor-aluno de forma democrática e não autoritária, rompendo com o processo hierárquico dentro da escola.
Para analise dos dados obtidos, tivemos como ferramenta de coleta de dados o método de observação, caracterizando o estudo em qualitativo, no período de dois meses, duas vezes por semana em três turmas do ensino fundamental, alem de uma pesquisa semi estruturada com alunos-internos e professores para finalização da conclusão dos dados obtidos. Segundo o autor Goldenberg (2005) os dados obtidos são analisados em um contexto detalhado, de forma que proporcione ao pesquisador a compreensão de seu objeto como indivíduos ativos na coleta.
A pesquisa em fase de andamento demonstra que a dialógica feita em sala de aula, faça com que os alunos se tornem conscientes do processo de aprendizagem alem de romper com a repressão reprimida, contribuindo para a aprendizagem e colocando ao passado as praticas desviantes em sala de aula.
A educação vem na perspectiva na aplicação das práticas de diálogos sociais em diferentes espaços e campos (BOURDIEU, 2007) o dialogo, vista como uma via que possibilita acordos para interesses divergentes e opostos, através de referencial ético, educativo e político, e que inclui a vertente de inclusão e de democracia ( FREIRE. 1997 Á 2004, op. Cit.), desta forma o dialogo social referente ao processo comunicativo no qual se estabelece através da argumentação, voltada para o entendimento mutuo, o mundo objetivo das coisas, o mundo social das normas e o mundo subjetivo das vivencias e emoções ( HABERMAS 2003) que se dá num processo de ação comunicativa habermasiana, nos quais os envolvidos na ação como facilitador da mediação e argumentação, propiciando o entendimento mutuo e a práxis do dialogo. Compreendendo que o etimologicamente a palavra dialogo resulta da fusão de duas palavras gregas: Dia e Logos. Dia é uma preposição que significa «por meio de», e «logos», é um vocábulo muito rico na filosofia grega e que pode ser traduzido por «palavra», «verbo». Assim, o diálogo é uma forma de fazer circular sentidos e significados entre as pessoas através das palavras. Dialogar significa unir e ligar as pessoas.
Podendo concluir que dentro das observações e entrevistas feitas no âmbito escolar, as turmas que haviam professores preparados e dialógicos as turmas refletiam um melhor desempenho escolar e emocional, sendo discutido em nosso trabalho.
O trabalho foi subdivido em três momentos alem da fase conclusiva, onde abordaremos em primeiro momento: O Dialogo na escola Interna: Relação entre professor- aluno, onde buscamos apresentar as formas dialógicas existentes em sala de aula, e de que forma elas se constroem em pró da aprendizagem. No segundo momento caracterizado como: A estimativa escolar nos centros de internação, a proposta está voltada a um momento histórico-cultural do centro, onde a aprendizagem era feita de forma tradicional e autoritária, sem qualquer vinculo igualitário entre professor-aluno, demonstrando a estimativa e percepção que a escola havia sobre seus alunos. No terceiro e ultimo momento intitulado: Perspectiva de emancipação através do dialogo, buscamos finalizar nosso trabalho, demonstrando as ações dialógicas dentro do centro de forma que sejam propiciadoras da busca pela emancipação individual e coletiva dos adolescentes. A seguir as notas conclusivas de nosso trabalho, finalizando o estudo.

1. O dialogo na escola Interna : Relação entre professor-aluno

Caracteriza-se dialogo a ação de conversação por duas ou mais pessoas, onde buscam através da conversa chegar ao um entendimento mútuo e não á uma competição pela argumentação, onde a finalidade é a participação e a compreensão.
Nesse sentido buscamos avaliar o dialogo existente na escola Interna do CEA, onde através da mesma é possível conter uma sala de aproximadamente 12 alunos, em passível harmonia e proporcionar condições de aprendizagem.
A escola possui cerca de xx professores para o ensino fundamental, todos com formação á nível superior e atuantes há muitos anos na área. O processo de identificação com a turma se dá muitas vezes, por se tratar de uma escola que não acompanha o ano letivo normal, podendo o aluno ser desligado da unidade e voltar a rede publica em liberdade. Desta forma os professores ² e educadores ³, tendem a passar por diversas transformações de publico em sua sala de aula, e tem que obter métodos e técnicas para o controle, disciplinamento e aprendizagem da turma. A partir disso, podemos analisar a grande carga de responsabilidades que passam estes profissionais, em atuar diretamente no processo educativo dos internos, por se tratar de uma atividade em andamento com interrupções.
Os professores, buscam atender da melhor maneira possível o PPP da escola, onde prevê um currículo diferenciado, onde se trabalha o aluno-interno por inteiro, desde a sua cidadania á sua formação escolar. O professor nas salas de aulas se tornam mediadores da aprendizagem e que tem como finalidade passar o conteúdo de forma significativa, onde segundo Ausubel (1978,) diz que:
"a aprendizagem por descoberta o conteúdo principal a ser aprendido deve ser descoberto pelo aprendiz no qual deve estabelecer ligações com os conceitos subsunçores relevantes já existentes na estrutura cognitiva" (p. 33)
O professor-mediador nessa situação, fazem incensáveis planos de aulas, de forma que os conteúdos se alicercem aos conhecimentos já existentes dos alunos-internos, de forma que sem o poder dialógico de nada serviria.
O dialogo em sala de aula, é usado como ferramenta principal de todas as aulas, uma vez que a mesma possibilita ao professor uma cumplicidade maior com seus alunos. Os internos vêem a parte coordenadora do centro (professores, educandos, diretores entre outros) com grau de superioridade, dificultando as relações e descobertas de problemas. Nesse sentido o dialogo vem de forma interativa e de confiança uma vez que os mesmos se sentem apoiados e vêem na coordenação em geral um interesse em ajudá-los.
Os alunos, ao participarem das aulas, expondo suas idéias e se tornando sujeito de sua historia com autoridade não hierárquica, e sim protagonista de sua vida, onde o mesmo é o autor principal, o mesmo se torna autoconfiante em enfrentar o mundo e expor suas dores e sofrimentos, facilitando o trabalho de ressocialização.

2. A estimativa escolar nos centros de internação

Estimava-se que as escolas que se encontram em centros de internação de adolescentes em conflito com a lei servem apenas de faixada de cumprimento do ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente e do SINASE- Sistema Nacional de Atendimento Sócio Educativo.
A escola se mostra como ponto de encontro com a verdade, uma vez que:
"A escola, visto ser apontada como local de comunicação, de interações pessoais, onde o aprisionado pode se mostrar sem máscaras, afigura-se, portanto, como oportunidade de socialização, na medida em que oferece ao aluno outras possibilidades referenciais de construção da sua identidade e de resgate da cidadania perdida". ( ONOFRE, 2007, p.15)
Desta forma podemos notar as possibilidades em se trabalhar em sala de aula, pois mostra a fragilidade para com os internos uma vez que os mesmo se tornam verdadeiros. Esse termo é usado, pois segundo os mesmos, a escola é um dos ponto onde se encontram com uma única finalidade, de aprender. Nesse momento a repressão pelos educandos e os colegas é menor, podendo o interno demonstrar a sua verdadeira personalidade, que por muitas vezes foi comrropida.
Ao passar dos anos o PPP, foi sendo construído de acordo com a situação atual, e podemos notar que a nova proposta, segue para a pratica do dialogo, onde através do ato abrem espaços para a democratização e participação ativa dos mesmos, de forma que se reconheçam.
As novas Propostas Pedagógicas estimam em atender as necessidades individuais e coletivas dos grupos, alem de fomentar alternativas de mudanças e emancipação social.

3. Perspectiva de emancipação através do dialogo

Uma das questões que se pode abordar frente as intervenções que o individuo passam para conquistar a sua autonomia e emancipação social através do dialogo , é as condições preliminares que antecedem a sua emancipação, que vai desde a sua infância, onde se dão as primeiras formas de repressão, até a sua fase de adolescência onde se ocorreu o fato infracional e que socialmente de forma preconceituosa o rotula como marginal, o que o tira mais uma vez o poder da palavra, segundo Moura diz que:
" Convém salientar que o adolescente para conseguir completo domínio das reações instintivas, só é conseguido gradativamente através de lutas sentimentais e pesados sacrifícios, e se o ambiente não apresentar condições favoráveis, o ser jovem permanecerá na área do egocentrismo pensando e agindo em função de seu interesse pessoa e em detrimento do interesse da coletividade. A ameaça ou receio do castigo pode impedir que nessa fase da vida ele venha a praticar atos amorais ou delinqüentes, todavia não há aquela força humana superior, resultante da noção do dever ou da bondade a orientar seus atos para com os seus semelhantes e para com a sociedade". (1975, p.67)

Os Internos em alguma momento da adolescência não obteve o domínio de suas ações frente a sociedade, saciando apenas o seu libido. Nessa fase de intervenção na vida desses jovens, faz-se necessário a compreensão da gravidade do ato e suas conseqüências sociais futuras, O adolescente deve etenar para as questões morais e relacionáveis da sociedade. O dialogo entre coordenadores e internos facilitam essa interação de "dois mundos opostos", onde ambas as partes podem se enxergar no outro. Nesse sentido o adolescente se vê possibilitado de progredir socialmente e com autoconfiança de superação de conflitos.
O adolescente autor de atos infracionais, buscam em alguma parte de seu universo, o auto reconhecimento, uma vez que esse processo socialmente é descartado, o meio mais viável e rápido é a entrada na criminalidade.
Desta forma entrar no mundo do adolescente infrator é possibilitá-lo escolhas, que por muitas vezes eram se negadas. O dialogo é importantíssimo nessa relação onde se trata de escolhas, confianças, possibilidades futuras, ego entre outros A mediação através do dialogo possibilita antes de tudo uma aproximação maior entre os envolvidos na ação, de maneira não arbitraria. O reconhecimento do outro através do dialogo é que possibilitará mudanças, pois o dialogo não busca reprimir ou envergonhar, mas sim compreender, entender e transformar mentes. Segundo Brasil, diz que:

O reconhecimento da existência de uma sabedoria cultural de suas habilidades profissionais, certamente, contribui para que ele resgate uma auto-imagem e fortalece sua auto confiança " (BRASIL, 2001, p.19-19)

O que podemos fazer enquanto educadores é fortalecer a auto imagem do mesmo, que certamente para si mesmo está mal definida e suja por muito deles. Esta auto imagem é construída através dos anos pela própria sociedade que os vêem como ratos urbanos. Essas colocações os trazem pesos nas costas que são precisos serem arrebatados, para que não prejudiquem seus planos futuros. A escola precisa se conscientizar por inteiro de sua responsabilidade, em formar vidas. Nesse caso é mais difícil as intervenções, em se tratar de atos infracionais, porem não impossível quando intermediadas positivamente. Freire traz suas contribuições:

" A escola contemporânea precisa retornar as rédeas da formação intelectual dos alunos, estimulando-lhes a reflexão, sem deixar todavia de operar com as emoções e com as habilidades. O Tripé domínios cognitivos, afetivo e motor precisa ser afirmado ( ou reafirmado) por meio de uma educação que reconheça a natureza humana e as conseqüências de suas relações internacionais ( homem X homem) e ( homem X mundo) como meio de aprimoramento humano A evolução hoje deve ser pautada nos valores humanos e voltado para o atendimento e a solidariedade. (1983).

Os valores humanos precisam ser resgatados, mas para isso deve-se haver uma interferência na vida de muitos, não apenas internos do CEA, mas um resgate da dialogicidade social, para não combater por completo mais ao menos amenizar os efeitos que ocorrem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao focar o dialogo como meio facilitador de relações entre professores e alunos-internos do CEA , podemos verificar que o processo ensino-aprendizagem se dá significativamente no momento em que se atua na realidade vivida por eles, para que se haja uma associação, do conteúdo com a pratica. Mas para que esse processo seja alcançado, o professor, deve se revestir de meios que facilitem sua entrada no mundo de cada jovem. Nosso trabalho proporcionou uma reflexão acerca do dialogo como meio de disciplinamento e controle dessas diversas situações. O dialogo aqui foi entendido como facilitador das relações humanas, uma vez que leva o individuo a refletir sobre a conversa e mostra-lhe opções de mudanças antes lhe negadas. O mesmo se torna ser ativo, e toma como ponto de partida a conversação como meio de entendimento e não de repressão e disputas
Trabalhar através da dialogicidade, é trabalho humanizado, seguido de valores. O dialogo é uma tentativa de consolidar relações amigáveis. Através do mesmos, o trabalho se torna harmonioso quando se bem utilizado. O adolescente infrator, nada mais é que vitima da sociedade, onde em uma busca insaciável de reconhecimento entra em atrito com seu superego e corrompendo pelo deu Id. O reconhecimento da existência do outro através do dialogo possibilita mudanças a todos os níveis, coletivas e individuais.

REFERENCIAS

BRASIL. Trabalho com Educação de Jovens e Adultos: Alunos e Alunas da EJA. Brasília MEC/SEF, 2001.

BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas sobre a teoria da ação. Trad. Mariza Correa. 8 ed, Campinas: Papirus, 2007.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 18° edição, 1983.

_________ . Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários á pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 9° ed. Rio de Janeiro: Record, 2005

HABERMAS, Jurgen. Teoria de la acción comunicativa. IY: II Ed. Taurus. 4ª Edición, Espana, 2003.