No mundo moderno o amor é visto como a solução para as dúvidas existenciais do ser humano - a obrigação de se apaixonar tornou as pessoas mais infelizes. A expectativa quanto à felicidade que o amor deve proporcionar complicou o casamento e outros tipos de relação estável, pois exige do casal um esforço inédito para que as coisas dêem certo, gerando assim, uma enorme fonte de stress e depressão.

Como referência ao estudo da entrevista analisa-se a visão de Guattari, que entende a subjetividade como sendo algo em constante produção; para ele, como fazemos parte de um grupo social, no qual fomos inseridos independente das nossas escolhas, não existe a construção da subjetividade, e sim a produção dela, o que gera uma grande diferença na compreensão desses dois fenômenos: na construção o sujeito participa do processo, já na produção não, ele só recebe o que a sociedade tem a lhe oferecer.

De acordo com Laura Kipnis (VEJA, 2004), a sociedade nos faz acreditar que o amor deve durara para sempre e que o casamento é o melhor lugar para exercê-lo. Entretanto, nos últimos tempos, a expectativa quanto o casamento como o caminho para a realização pessoal cresceu muito – a decepção e a insatisfação cresceram juntas.

Observam-se pontos em comum entre os dois autores, um deles é a relação entre subjetividade e a matéria-prima, pois para Guattari, a subjetividade produz o consumo, porque, o capitalismo se apropria da subjetividade humana para que haja a produção e o consumo da matéria-prima em massa. Ou seja, o capitalismo se aproveita das necessidades humanas para lucrar e manter-se em status através dos agenciamentos dos indivíduos.

A pesquisadora ressalta ainda que há uma enorme industria que lucra com a infelicidade no casamento, pois existem drogas como o Viagra (para resolver problemas da falta de desejo), terapias, livros de auto-ajuda, pornografia para casais e antidepressivos. Vê-se então, que o maior beneficiado com a manutenção do casamento não é o individuo em si, mas a sociedade capitalista em geral. No momento e, que o individuo está cada vez mais estressado e deprimido porque é infeliz no casamento, é importante que as pessoas descubram quem realmente lucra com esse esforço dado para que os relacionamentos dêem certo.

Em relação à monogamia, a autora afirma que, na maioria das vezes, as pessoas optam pela felicidade da relação com um(a) parceiro(a) ao mesmo tempo em que a consideram uma obrigação. Há tanta pressão social que e difícil separa o que é opção pessoal do que é imposição. A sociedade é baseada no principio de que o desejo pode ser controlado, por isso, o desejo expresso fora do casamento é anti-social, porque ele promove instabilidade em oposição a um relacionamento estável.

Indo de encontro à própria sociedade e aceitando o adultério, o ser deixa de ser um mero individuo e passa a expor sua singularidade, pois para Guattari, a partir do momento que o homem se põe a mercê de idéias ou opiniões alheias e passa a agir como a maioria da sociedade (coletividade), ele passa a ser um mero individuo desprovido de idéias próprias. Já o ser singular, tem opiniões próprias que muitas vezes são contestadas pela sociedade, ou seja, é um ser independente da massificação.

Conclui-se que é difícil ir contra aos princípios de uma sociedade (casar-se, construir um lar tradicional), pois contestar o amor significa não alcançar o que é essencialmente humano, a felicidade.


Referências Bibliográficas

Revista Veja, Editora ABRIL - edição 1854; ano 37 - nº 20; 19 de maio de 2004.
GUATTARI, Félix, ROLNICK, Suely. Micropolitica: cartografias do Desejo. 5ed. RJ: Vozes, 1999.