"Um filme simplesmente fantástico" se assim eu pudesse descrevê-lo em apenas uma simples frase. Possui uma rica construção de conceitos relacionados a imagens e uma trilha sonora compatível com roteiro. O autor trabalha com uma linguagem de fácil entendimento e de tal maneira que o público não fica preso apenas nas imagens, musicalidade e/ou conteúdo. O diretor trabalha com uma combinação complexa de elementos capazes de atingir o público contemplando todos os componentes do sistema sensorial que um organismo humano possui, de uma maneira criativa. Ilha das Flores é um filme em que imaginamos existir uma ilha cheia de flores, porém, por meio de uma metáfora, o autor mostra uma realidade diferente. A idéia central do texto representada pelos personagens Sr. Susuki, Sr. Manuel e Dona Anete mostra a realidade social e como a economia gera relações desiguais entre os indivíduos. O curta é rico em descrições embasadas em conhecimento científico e em alguns momentos trabalha com elementos conflitantes. Dentre eles destaco, quando o autor difere o homem dos outros animais pela sua capacidade de raciocínio, fato de possuir um telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor. Porém, como pode o homem, este animal racional (no contexto Ilha das Flores) ser mais "desvalorizado" em nossa sociedade que um mamífero, quadrúpede, que possui um focinho, um rabo e desprovido de um telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor? Esta questão possui estreita relação com o sistema econômico, no qual estamos inseridos, que contribui para as desigualdades sociais. Sendo os seres humanos valorizados em sua categoria pela classe social e os bens que possui.
Ilha das Flores me fez lembrar de Manuel Bandeira:
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os dentritos
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era o cão
Não era uma gato,
Não era um rato
O bicho, meu Deus, era um homem.