Contextualizando a escravidão ao longo da história com filmes em sala de aula

 

Arquiteta e Historiadora

Maria Esperança Caballero Hirota

 

Como é difícil fazer com que os alunos se envolvam com os significados profundos que a história da humanidade traçou ao longo do tempo. A escravidão é sem dúvida um desses conceitos cheios de significâncias que jamais se afastaram da humanidade. Para que a escravidão seja sentida com profundidade em sua essência somente com uma explicação não é simples, assim como outros conceitos que envolvem o sentir. A escravidão torna-se abstrata quando o aluno não reflete, ou seja, não sente na pele o que é estar privado de sua liberdade de escolhas, liberdade de ir e vir, liberdade de escolher o que se quer fazer.

O conceito de liberdade, segundo Houaiss é o direito de expressar qualquer opinião e agir como quiser, ou seja, desde criança sente-se a necessidade de andar e ir para onde se quer, o poder andar expressa vontades próprias a serem desvendadas e privar qualquer ser humano de suas liberdades básicas, também o privam de desenvolvimento tanto físico como mental, a criança que têm estímulos, segundo Vygotsky[1] se desenvolve normalmente e aprende a refletir e desenvolver seu raciocínio lógico.

As teorias inatistas são claras quando dizem que o ser humano já nasce com ideias ou princípios, independente da experiência[2], e quando se fala de uma escola renovadora, onde o educador é apenas o orientador nas pesquisas, que o aluno deve se desenvolver criticamente, buscando sempre questionar e buscar suas respostas, mesmo que seja com o professor ou qualquer outra fonte de pesquisa, torna-se necessário despertar o interesse com metodologias que envolvam a cada um deles. Um método que envolve a maioria dos alunos ainda são os filmes, uma vez que é rápido, por volta de duas horas conta toda uma história, tem infinitas imagens, cores e sons que dão emoção à história.

Entre as inúmeras buscas de metodologias que ativem a sensibilidade dos adolescentes, o cinema se tornou, talvez o mais expressivo e cativante. Trata-se de:

 

... uma nova forma de realidade, que se supõe ser dispersiva, elíptica, errante ou oscilante, operando por blocos, com ligações deliberadamente fraca e acontecimentos flutuantes. O real não era mais representado ou reproduzido, mas “visado”. Em vez de representar um real já decifrado, o neorrealismo visava um real, sempre ambíguo, a ser decifrado; por isso o plano-sequência tendia a substituir a montagem das representações. O neorrealismo inventava, pois, um novo tipo de imagem, que Bazin propunha chamar de “imagem fato”[3]. 

 

Portanto o cinema é real[4], mesmo que seja ficção ou animação. Quando assiste-se a um filme, a maioria das pessoas não pensam se o que estão vendo é real ou não. A proximidade com a realidade deixa de ser importante. Tanto um dinossauro, um extraterrestre, Cleopata, Hitler ou mesmo Jesus Cristo são vistos como reais naquele momento.

Cabe ao professor, em seu trabalho didático, conduzindo e orientando no sentido dos conteúdos encima de reflexões, e aí, o cinema pode se tornar a maior arma dentro da escola para o professor de história, e hoje, com os demais professores, na interdisciplinaridade, ou seja, trabalhar o mesmo filme com os outros professores de humanas, linguagens e muitas vezes com exatas e biológicas.

É claro que o filme não mostra os fatos reais, mas quais são os fatos reais? Segundo a nova história e Keith Jenkins[5] um fato histórico abre um leque de interpretações, dependendo de quem e como olha e além disso, desenvolvemos a “competência para ver”, segundo o sociólogo Pierre Bourdieu[6], assistindo a filmes, e já que a linguagem do cinema não precisa ser ensinada, está ao alcance de todos, podemos utilizá-la sem problemas.

Assim o levar para a sala de aula filmes é sempre um deleite, tanto para os alunos, quanto para os professores, e a análise que se faz desses filmes também traz empolgação e claro, envolvimento.

No tema específico da escravidão, o cinema traz um verdadeiro bombardeio de filmes, mas o trabalho com alguns filmes em especial pode trazer uma profunda sensibilização no Ensino Médio.

Contextualizar a escravidão durante toda a história da humanidade e não apenas em um período, faz aprofundar as questões atuais de escravidão sexual, trabalho escravo ainda denunciados, por exemplo, nas fazendas do interior deste país ou mesmo nas oficinas de costuras nos subúrbios de grandes centros.

No caso da escravidão em especial, um bom começo é o filme “O príncipe do Egito”, que apesar de ser uma animação, se bem trabalhada nas cabeças das séries finais é sempre bem-vindo. Todos acabam se envolvendo de tal maneira e se apaixonando e sempre culmina com um teatro, com as devidas caracterizações e apresentações, inclusive com interferência de falas modernas, usadas no cotidiano de nossos jovens. Isso leva aos alunos a paixão, ao envolvimento. Alunos escravos e alunos chicoteando... que pena, nesse momento o único defeito é faltar tempo. Nesse momento todo o tempo do mundo é pouco para desenvolver tantas ideias e suas caracterizações.

O filme de Moisés traz a escravidão do povo hebreu, história bíblica que expõe o êxodo desse povo do Egito para a Terra Prometida. Moisés é criado pelo Faraó Seth, assim além de entender a escravidão como algo que não se deu só com os negros africanos que vieram para o Brasil, percebe-se o ambiente egípcio, as pirâmides, as escrituras nas paredes de todos os templos, e também como era e por quem era realizado os trabalhos gigantescos que estão aí até hoje, onde outros filmes de assuntos diferenciados são realizados em loco nessas pirâmides como A Múmia, Transformers, etc.

O sentido da escravidão naquele momento foi envolvido com a religiosidade dos povos que se misturaram e que por fim se dividiram. Essa mistura não foi legítima, já que a elite da época não se misturara com os escravos e pobres, cada um tinha o seu lugar na sociedade, e ai os alunos percebem bem isso no filme e sentem na pele quando fazem a reflexão para realizarem o teatro como atividade complementar para ser apresentado para a escola.

Torna-se muito empolgante discutir conceitos religiosos e escravidão ao mesmo tempo, a questão de escravizar para algum deus, e é o que acontece em vários momentos da história. Ou seja, um deus que “manda” que escravizem, um deus que “quer” imensos templos e suntuosidade. Essas questões dão vida à aula. Dão “pé prá manga”.

Outro filme que trabalha outro momento de escravidão na humanidade é o Coliseu – A arena da morte, onde a cidade de Verus é destruída e ele é feito escravo, torna-se um gladiador escravo, luta por seu dono, nisso se percebe que ele é branco, os hebreus são morenos claros, assim a escravidão atingiu a todos, indistintamente de cor ou classe social, uma vez que quem for capturado de outra cidade ou tribo poderia ser de boa condição social em sua realidade.

O filme Apocalíptico, produzido por Mel Gibson e com a curiosidade de ter sido inteiramente falado no dialeto maia, mostra tribos dominando outras tribos para escravizá-las e para usá-las em sacrifícios aos deuses para melhores colheitas, ou seja, é uma outra versão de perceber que a escravidão tinha outra finalidade além do trabalho. No caso do filme as mulheres eram escravizadas para o trabalho e os homens para seus corações serem arrancados e oferecidos ao deus responsável pela colheita, depois sua cabeça era decepada e jogada do alto da pirâmide em verdadeira festa por parte de todos. A fé era muita, acreditava-se que com esses corações e derramamento de sangue haveria uma boa colheita.

Outro momento histórico pôde ser retratado com o filme Amistad, no momento da escravidão americana, ou seja escravos negros africanos, no filme é tratada a questão de quem são os escravos, uma vez que de uma parte são considerados objetos e de outra, homens. A disputa dos mesmos na justiça da época é um entrave envolvente.

Temos desse mesmo momento o filme Django, onde Tarantino satiriza o faroeste hollywoodiano por volta de 1858 envolvendo cenas fortes da escravidão americana e até que ponto chegavam os donos de fazendas e seus escravos. Esse filme envolve os alunos, tem cenas especialmente feitas para despertar o mais cruel dos sonos. Traz diversão com as falas irônicas de seus personagens misturadas aos dramas dos negros comidos por cães ou de castigo em caixas d’água de ferro ao sol.  

É obvio que não precisamos trabalhar só a escravidão, mas cada momento histórico dentro desses filmes, todas as contextualizações históricas sugeridas.

Quando assistimos a todos esses filmes com nossos alunos e falamos das relevâncias de cada um, discutimos tempos e espaços, culturas, significações, religiosidades, políticas e interesses de poder.

Portanto quando se faz um estudo em sala de aula sobre a escravidão, todos esses perfis podem ser trabalhados com êxito, a discussão se estende tranquilamente aos dias atuais, das escravidões já citadas acima. Dar enfoque as questões pessoais, perceber intimamente o que se sente quando se está preso a algo ou a alguém. Reconhecer o valor da liberdade e saber usá-la com sabedoria e proveito próprio.

Assim, o cinema usado em sala de aula, faz parte de uma nova história[7], onde a cronologia não tem necessidade de uma sequência rígida e onde os fatos divergem a partir de quem os vê. Onde a escravidão pode ser analisada e sentida fora dos livros didáticos em séries diferenciadas de acordo com projetos ou temas geradores dentro da escola, ou ainda dentro de necessidades específicas de uma comunidade que mereça esse conteúdo por motivos específicos. 

 

BIBLIOGRAFIA

 

LIVROS

 

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.

JENKINS, Keith. A História repensada. Tradução: Mario Vilela. Revisão técnica: Margateh Rago. São Paulo. Contexto, 2001.

 DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 2. Ed. (Temas & Educação, 3)

BESSA, Valéria da Hora. Teorias da aprendizagem – Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2006.

DELEUZE, Gilles. A imagem tempo. Tradução: Eloisa de Araújo Ribeiro. Revisão filosófica: Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2005 – (Cinema 2)

BERNARDET, Jean-Claude, O que é cinema. São Paulo. Brasiliense, 2006 – Coleção Primeiros Passos: 9

HOUAISS, Antônio (1915 – 1999), Mauro de Salles (1939 -). Mini dicionário da língua portuguesa. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. – 3.ed.rev. e aum. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2009

 

FILMES

 

APOCALÍPTICO. Produção 2006. Direção: Mel Gibson. EUA

O PRÍNCIPE DO EGITO. Animação. Produção: DreamWorks Animation 1998. Direção: Steve Hickner, Simon Wells, Brenda Chapman. EUA.

COLISEU - A arena da morte. Uma co-produção BBC, Discovery Chanel e RTL, em associação com France 2. Escrito, produzido e dirigido por Tilman Remme. 2003.

AMISTAD. Direção e Produção: Steven Spielberg. 1997.

DJANGO LIVRE. Direção: Quentin Tarantino. Produção: Columbia Pictures. 2012.

 

ARTIGOS

 

BARCALA, Valter Aparecido. O cinema na sala de aula – reconstruindo o cotidiano. Pré-Univesp. 2013. Acesso: 05/04/2014 às 9:48.

SANCHEZ, Lais Alves. Cinema e História: O uso de filmes nas aulas de História. Acesso: 05/04/2014 às 9:08.

BENCINI, Roberta. Filme na aula de História: diversão ou hora de aprender?  Acesso: 05/04/2014 às 9:05.

CARDOSO, Oldimar. Baseado em fatos reais – cinema é a maior diversão, mas sua utilização em sala de aula pode ser desastrosa. Acesso: 05/04/2014 às 9:50.

CAMPOS, Thiago. PEIXOTO, Carolina. Serrano, Ana Paula. Cinema e História: Abordagens e Metodologias. 2009. Acesso: 05/04/2014 às 9:33.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tangará da Serra/MT

2014



[1] BESSA, Valéria da Hora. Teorias da aprendizagem – Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2006. p. 59.

[2] BESSA, Valéria da Hora. Teorias da aprendizagem – Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2006. p. 12.

[3] DELEUZE, Gilles. A imagem tempo. Tradução: Eloisa de Araújo Ribeiro. Revisão filosófica: Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2005 – (Cinema 2)

[4] BERNARDET, Jean-Claude, O que é cinema. São Paulo. Brasiliense, 2006 – Coleção Primeiros Passos: 9

[5] JENKINS, KEITH, A História repensada. Tradução: Mario Vilela. Revisão técnica: Margateh Rago. São Paulo. Contexto, 2001.

[6] DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 2. Ed. (Temas & Educação, 3)

[7] CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.

Contextualizando a escravidão ao longo da história com filmes em sala de aula

 

Arquiteta e Historiadora

Maria Esperança Caballero Hirota

 

Como é difícil fazer com que os alunos se envolvam com os significados profundos que a história da humanidade traçou ao longo do tempo. A escravidão é sem dúvida um desses conceitos cheios de significâncias que jamais se afastaram da humanidade. Para que a escravidão seja sentida com profundidade em sua essência somente com uma explicação não é simples, assim como outros conceitos que envolvem o sentir. A escravidão torna-se abstrata quando o aluno não reflete, ou seja, não sente na pele o que é estar privado de sua liberdade de escolhas, liberdade de ir e vir, liberdade de escolher o que se quer fazer.

O conceito de liberdade, segundo Houaiss é o direito de expressar qualquer opinião e agir como quiser, ou seja, desde criança sente-se a necessidade de andar e ir para onde se quer, o poder andar expressa vontades próprias a serem desvendadas e privar qualquer ser humano de suas liberdades básicas, também o privam de desenvolvimento tanto físico como mental, a criança que têm estímulos, segundo Vygotsky[1] se desenvolve normalmente e aprende a refletir e desenvolver seu raciocínio lógico.

As teorias inatistas são claras quando dizem que o ser humano já nasce com ideias ou princípios, independente da experiência[2], e quando se fala de uma escola renovadora, onde o educador é apenas o orientador nas pesquisas, que o aluno deve se desenvolver criticamente, buscando sempre questionar e buscar suas respostas, mesmo que seja com o professor ou qualquer outra fonte de pesquisa, torna-se necessário despertar o interesse com metodologias que envolvam a cada um deles. Um método que envolve a maioria dos alunos ainda são os filmes, uma vez que é rápido, por volta de duas horas conta toda uma história, tem infinitas imagens, cores e sons que dão emoção à história.

Entre as inúmeras buscas de metodologias que ativem a sensibilidade dos adolescentes, o cinema se tornou, talvez o mais expressivo e cativante. Trata-se de:

 

... uma nova forma de realidade, que se supõe ser dispersiva, elíptica, errante ou oscilante, operando por blocos, com ligações deliberadamente fraca e acontecimentos flutuantes. O real não era mais representado ou reproduzido, mas “visado”. Em vez de representar um real já decifrado, o neorrealismo visava um real, sempre ambíguo, a ser decifrado; por isso o plano-sequência tendia a substituir a montagem das representações. O neorrealismo inventava, pois, um novo tipo de imagem, que Bazin propunha chamar de “imagem fato”[3]. 

 

Portanto o cinema é real[4], mesmo que seja ficção ou animação. Quando assiste-se a um filme, a maioria das pessoas não pensam se o que estão vendo é real ou não. A proximidade com a realidade deixa de ser importante. Tanto um dinossauro, um extraterrestre, Cleopata, Hitler ou mesmo Jesus Cristo são vistos como reais naquele momento.

Cabe ao professor, em seu trabalho didático, conduzindo e orientando no sentido dos conteúdos encima de reflexões, e aí, o cinema pode se tornar a maior arma dentro da escola para o professor de história, e hoje, com os demais professores, na interdisciplinaridade, ou seja, trabalhar o mesmo filme com os outros professores de humanas, linguagens e muitas vezes com exatas e biológicas.

É claro que o filme não mostra os fatos reais, mas quais são os fatos reais? Segundo a nova história e Keith Jenkins[5] um fato histórico abre um leque de interpretações, dependendo de quem e como olha e além disso, desenvolvemos a “competência para ver”, segundo o sociólogo Pierre Bourdieu[6], assistindo a filmes, e já que a linguagem do cinema não precisa ser ensinada, está ao alcance de todos, podemos utilizá-la sem problemas.

Assim o levar para a sala de aula filmes é sempre um deleite, tanto para os alunos, quanto para os professores, e a análise que se faz desses filmes também traz empolgação e claro, envolvimento.

No tema específico da escravidão, o cinema traz um verdadeiro bombardeio de filmes, mas o trabalho com alguns filmes em especial pode trazer uma profunda sensibilização no Ensino Médio.

Contextualizar a escravidão durante toda a história da humanidade e não apenas em um período, faz aprofundar as questões atuais de escravidão sexual, trabalho escravo ainda denunciados, por exemplo, nas fazendas do interior deste país ou mesmo nas oficinas de costuras nos subúrbios de grandes centros.

No caso da escravidão em especial, um bom começo é o filme “O príncipe do Egito”, que apesar de ser uma animação, se bem trabalhada nas cabeças das séries finais é sempre bem-vindo. Todos acabam se envolvendo de tal maneira e se apaixonando e sempre culmina com um teatro, com as devidas caracterizações e apresentações, inclusive com interferência de falas modernas, usadas no cotidiano de nossos jovens. Isso leva aos alunos a paixão, ao envolvimento. Alunos escravos e alunos chicoteando... que pena, nesse momento o único defeito é faltar tempo. Nesse momento todo o tempo do mundo é pouco para desenvolver tantas ideias e suas caracterizações.

O filme de Moisés traz a escravidão do povo hebreu, história bíblica que expõe o êxodo desse povo do Egito para a Terra Prometida. Moisés é criado pelo Faraó Seth, assim além de entender a escravidão como algo que não se deu só com os negros africanos que vieram para o Brasil, percebe-se o ambiente egípcio, as pirâmides, as escrituras nas paredes de todos os templos, e também como era e por quem era realizado os trabalhos gigantescos que estão aí até hoje, onde outros filmes de assuntos diferenciados são realizados em loco nessas pirâmides como A Múmia, Transformers, etc.

O sentido da escravidão naquele momento foi envolvido com a religiosidade dos povos que se misturaram e que por fim se dividiram. Essa mistura não foi legítima, já que a elite da época não se misturara com os escravos e pobres, cada um tinha o seu lugar na sociedade, e ai os alunos percebem bem isso no filme e sentem na pele quando fazem a reflexão para realizarem o teatro como atividade complementar para ser apresentado para a escola.

Torna-se muito empolgante discutir conceitos religiosos e escravidão ao mesmo tempo, a questão de escravizar para algum deus, e é o que acontece em vários momentos da história. Ou seja, um deus que “manda” que escravizem, um deus que “quer” imensos templos e suntuosidade. Essas questões dão vida à aula. Dão “pé prá manga”.

Outro filme que trabalha outro momento de escravidão na humanidade é o Coliseu – A arena da morte, onde a cidade de Verus é destruída e ele é feito escravo, torna-se um gladiador escravo, luta por seu dono, nisso se percebe que ele é branco, os hebreus são morenos claros, assim a escravidão atingiu a todos, indistintamente de cor ou classe social, uma vez que quem for capturado de outra cidade ou tribo poderia ser de boa condição social em sua realidade.

O filme Apocalíptico, produzido por Mel Gibson e com a curiosidade de ter sido inteiramente falado no dialeto maia, mostra tribos dominando outras tribos para escravizá-las e para usá-las em sacrifícios aos deuses para melhores colheitas, ou seja, é uma outra versão de perceber que a escravidão tinha outra finalidade além do trabalho. No caso do filme as mulheres eram escravizadas para o trabalho e os homens para seus corações serem arrancados e oferecidos ao deus responsável pela colheita, depois sua cabeça era decepada e jogada do alto da pirâmide em verdadeira festa por parte de todos. A fé era muita, acreditava-se que com esses corações e derramamento de sangue haveria uma boa colheita.

Outro momento histórico pôde ser retratado com o filme Amistad, no momento da escravidão americana, ou seja escravos negros africanos, no filme é tratada a questão de quem são os escravos, uma vez que de uma parte são considerados objetos e de outra, homens. A disputa dos mesmos na justiça da época é um entrave envolvente.

Temos desse mesmo momento o filme Django, onde Tarantino satiriza o faroeste hollywoodiano por volta de 1858 envolvendo cenas fortes da escravidão americana e até que ponto chegavam os donos de fazendas e seus escravos. Esse filme envolve os alunos, tem cenas especialmente feitas para despertar o mais cruel dos sonos. Traz diversão com as falas irônicas de seus personagens misturadas aos dramas dos negros comidos por cães ou de castigo em caixas d’água de ferro ao sol.  

É obvio que não precisamos trabalhar só a escravidão, mas cada momento histórico dentro desses filmes, todas as contextualizações históricas sugeridas.

Quando assistimos a todos esses filmes com nossos alunos e falamos das relevâncias de cada um, discutimos tempos e espaços, culturas, significações, religiosidades, políticas e interesses de poder.

Portanto quando se faz um estudo em sala de aula sobre a escravidão, todos esses perfis podem ser trabalhados com êxito, a discussão se estende tranquilamente aos dias atuais, das escravidões já citadas acima. Dar enfoque as questões pessoais, perceber intimamente o que se sente quando se está preso a algo ou a alguém. Reconhecer o valor da liberdade e saber usá-la com sabedoria e proveito próprio.

Assim, o cinema usado em sala de aula, faz parte de uma nova história[7], onde a cronologia não tem necessidade de uma sequência rígida e onde os fatos divergem a partir de quem os vê. Onde a escravidão pode ser analisada e sentida fora dos livros didáticos em séries diferenciadas de acordo com projetos ou temas geradores dentro da escola, ou ainda dentro de necessidades específicas de uma comunidade que mereça esse conteúdo por motivos específicos. 

 

BIBLIOGRAFIA

 

LIVROS

 

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.

JENKINS, Keith. A História repensada. Tradução: Mario Vilela. Revisão técnica: Margateh Rago. São Paulo. Contexto, 2001.

 DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 2. Ed. (Temas & Educação, 3)

BESSA, Valéria da Hora. Teorias da aprendizagem – Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2006.

DELEUZE, Gilles. A imagem tempo. Tradução: Eloisa de Araújo Ribeiro. Revisão filosófica: Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2005 – (Cinema 2)

BERNARDET, Jean-Claude, O que é cinema. São Paulo. Brasiliense, 2006 – Coleção Primeiros Passos: 9

HOUAISS, Antônio (1915 – 1999), Mauro de Salles (1939 -). Mini dicionário da língua portuguesa. Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. – 3.ed.rev. e aum. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2009

 

FILMES

 

APOCALÍPTICO. Produção 2006. Direção: Mel Gibson. EUA

O PRÍNCIPE DO EGITO. Animação. Produção: DreamWorks Animation 1998. Direção: Steve Hickner, Simon Wells, Brenda Chapman. EUA.

COLISEU - A arena da morte. Uma co-produção BBC, Discovery Chanel e RTL, em associação com France 2. Escrito, produzido e dirigido por Tilman Remme. 2003.

AMISTAD. Direção e Produção: Steven Spielberg. 1997.

DJANGO LIVRE. Direção: Quentin Tarantino. Produção: Columbia Pictures. 2012.

 

ARTIGOS

 

BARCALA, Valter Aparecido. O cinema na sala de aula – reconstruindo o cotidiano. Pré-Univesp. 2013. Acesso: 05/04/2014 às 9:48.

SANCHEZ, Lais Alves. Cinema e História: O uso de filmes nas aulas de História. Acesso: 05/04/2014 às 9:08.

BENCINI, Roberta. Filme na aula de História: diversão ou hora de aprender?  Acesso: 05/04/2014 às 9:05.

CARDOSO, Oldimar. Baseado em fatos reais – cinema é a maior diversão, mas sua utilização em sala de aula pode ser desastrosa. Acesso: 05/04/2014 às 9:50.

CAMPOS, Thiago. PEIXOTO, Carolina. Serrano, Ana Paula. Cinema e História: Abordagens e Metodologias. 2009. Acesso: 05/04/2014 às 9:33.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tangará da Serra/MT

2014



[1] BESSA, Valéria da Hora. Teorias da aprendizagem – Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2006. p. 59.

[2] BESSA, Valéria da Hora. Teorias da aprendizagem – Curitiba: IESDE Brasil S.A. 2006. p. 12.

[3] DELEUZE, Gilles. A imagem tempo. Tradução: Eloisa de Araújo Ribeiro. Revisão filosófica: Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2005 – (Cinema 2)

[4] BERNARDET, Jean-Claude, O que é cinema. São Paulo. Brasiliense, 2006 – Coleção Primeiros Passos: 9

[5] JENKINS, KEITH, A História repensada. Tradução: Mario Vilela. Revisão técnica: Margateh Rago. São Paulo. Contexto, 2001.

[6] DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 2. Ed. (Temas & Educação, 3)

[7] CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990.