Logo no início da narrativa, no prefácio feito pela tradutora, temos uma visão a respeito do conto, ao começar a falar sobre este, ela já nos remete aos elementos políticos e satíricos presentes na narrativa.
A Alemanha não era ainda um país unificado, mais sim pequenos reinos, entre os quais podemos citar a Prússia, com a maior força econômico-militar da época e que durante algum tempo procurou esmagar manifestações a respeito da unificação do país, o que impedia o crescimento e o desenvolvimento industrial deste, já que cada principado tinha a sua moeda, o seu comércio e a sua cultura. E é nesse conturbado período que se passa a história de Zacarias.

"Foi sobre uma forte administração que Frederico Guilherme quis fundar não a monarquia absoluta porquanto ela já existia, porém uma embotante tirania policial, minuciosa e esmiuçante que tinha como mérito o da exatidão. As cidades se desenvolviam largamente foram privadas de toda espécie de autonomia ou de iniciativa. Tudo era regulado antemão pela burocracia real e até nos mínimos detalhes." (BONNEFON, 1945, p. 139).

Volobuef nos remete ao episódio da roupa de Fabian e a perseguição sofrida pelas fadas, uma manifestação de tal atitude do governo que era considerado autoritário. O Estado era considerado por alguns filósofos como um mal necessário dando indícios de um pensamento republicano.

"Frederico II enfim, após ter tido, durante a mocidade, o clarão de um sonho de ditador, visando "salvar o povo para em seguida entregar-lhe a liberdade", à medida que envelhecia tornava-se mais autoritário. E isto não é dizer pouco, porque em seu primeiro discurso depois da ascensão já havia gritado: "o Estado no qual vivemos é despótico". (BONNEFON, 1945, p.158)

A Prússia atinge seu ápice no governo de Frederico II, considerado um déspota esclarecido, ou "o rei filósofo" como era chamado, que, baseado nas idéias de Voltaire realizou importantes reformas, como déspota visando o processo de modernização e utilizando-se de meios como, por exemplo, o incentivo à educação popular: "Antes de darmos prosseguimento ao Iluminismo, isto é, antes de mandarmos abater as florestas, tornar os rios navegáveis, cultivar batatas, melhorar as escolas dos vilarejos" (HOFFMANN, 1818, p.31), favoreceu o comércio, mais não mudou a estrutura social que permaneceu a mesma.

A citação feita a cima nos remete a parte do conto em que, durante o reinado do falecido Demetrius, que pode ser comparado à Frederico I, era apesar da pobreza e das constantes guerras um bom lugar de se viver, sendo que as fadas ali viviam. Porém quando este morreu e Paphintus, que pode ser comparado à Frederico II, subiu ao trono as coisas mudaram e o pequeno principado já não era mais um bom lugar de se viver. Anderes pode ser comparado ao filósofo alemão Voltaire, que defensor de tal modo de governo, acreditando na liberdade intelectual, além de amigo e grande influência para Frederico II.

"Demetrius faleceu e foi sucedido no governo pelo jovem Paphnutius. Este, ainda durante a vida de seu digno pai, alimentara em seu íntimo um secreto pesar pelo fato de que, em sua opinião, o povo e o Estado estavam sendo negligenciados e relegados ao abandono da maneira mais escabrosa. Ele deciciu governar, e nomeou imediatamente para Primeiro Ministro do reino seu valete de quatro Anderes." (HOFFMAN, 1818, p.31)

O autor faz ainda com tais fatos, uma paródia de Schiller, de sua peça Don Carlos, quando Anderes diz a Paphinuts para que seja introduzido o Iluminismo no reino, faz ao príncipe a seguinte afirmação: "Senhor...introduza o Iluminismo" (HOFFMANN, 1818, p.31), o que gera uma semelhança com "Senhor, conceda a liberdade de pensamento" de Schiller.
Para Volobuef, a liberdade de pensamento representa na verdade uma ameaça ao Estado, sendo este sustentado por um controle ideológico racional. Tal fator está presente não somente na roupa enfeitiçada de Fabian, mais também na expulsão das fadas do reino, que são consideradas as inimigas do Iluminismo (p.33).
Hoffmann faz uma crítica aos grupos sociais que ingenuinamente acreditam que com a introdução do Iluminismo poderão gozar de liberdade (p.10), o que na verdade acaba por não acontecer, já que o povo passa a viver cada vez mais preso a tais ideais, como ocorre no conto.
"O papel alegórico do encantamento de Zacarias é mostrar que aquilo que essa sociedade acredita é apenas uma mera aparência ou ilusão. A incoerência das opiniões, julgamentos e atos revela o caráter extremamente frágil dessa pretensa racionalidade, da qual os "esclarecidos" se gabam. E justamente estes são mais iludidos por Zacarias, e os mais incapazes de dissipar a falsa impressão derivada de um entendimento superficial dos fatos." (VOLOBUEF,, 1994, p.9)

Zacarias está preso ao encantamento assim como a sociedade está presa a tais ideais, gerando uma linha tênue, já que no decorrer da narrativa todos vão se prendendo a Zacarias, acreditando que este poderá melhorar suas vidas ajudando-os, o que não passa de uma mera ilusão, que é quebrada com a morte deste, para a alegria de uns e infelicidade de outros.