Podemos dizer que, o consumismo está diretamente proporcional à destruição dos meios naturais, no sentido que, aumentando a produção, para um maior consumo, usa-se mais matéria-prima, que por sua vez, é extraída da natureza. Portanto, aumentando a produção e o consumo, amplia-se, também, a degradação ambiental.

A destruição ambiental fica muito clara quando diz respeito à economia. A principal fonte de economia e subsistência, a agricultura, é, por exemplo, uma das principais causas da derrubada das matas nativas. A economia gira em torno de engrenagens como produção, consumo e lucro, e essa engrenagem denominada consumo, que não gira só, destrói milhares, milhões de hectares de matas.

Ao falarmos de consumismo e meio ambiente, na tentativa de relacionar uma com a outra, temos que saber primeiro, o que é cada uma. Em seguida, elencar fatores ou causas que levam a degradação do meio natural do nosso planeta, por motivo do consumismo de seus próprios habitantes.

Mike Featherstone nos transmite a ideia de que o consumo é uma necessidade da produção, que acaba tendo um carro para se locomover (a propaganda) e, também, ditando algum status ou relação social. E, podemos “observar como, cada vez mais, crescem as fôrças de consumo em relação às de produção” (GRAMSCI, 1986, p. 306).

O objetivo de toda produção é o consumo, com os indivíduos maximizando suas satisfações mediante a aquisição de um elenco de mercadorias em constante expansão, nesse caso, da perspectiva de alguns neomarxistas do século XX, esse desenvolvimento produz maiores oportunidades de consumo controlado e manipulado. Afirma-se que a expansão da produção capitalista, especialmente depois do impulso recebido da gerência científica e do “fordismo”, por volta da virada do século, necessitou da construção de novos mercados e da “educação” de novos públicos consumidores por meio da publicidade e da mídia. (FEATHERSTONE, 1995, p. 32).

E continua: “talvez seja possível afirmar também uma “lógica do consumo”, que aponta para os modos socialmente estruturados de usar bens para demarcar relações sociais” (FEATHERSTONE, 1995, p. 35). Portanto o consumo nasce da necessidade da produção, isso é bem explícito na ciência de Ford – “fordismo”[1], em baratear o preço da sua produção, onde aqueles que produziam, também consumiam. Para tanto é preciso levar o interesse ao consumo dessa produção, que o autor acima chama esse carro ou “meio transmissor” do desejo de consumir de: publicidade e mídia, a propaganda.

Antonio Gramsci diz que na medida em que “a ciência econômica seja uma ciência sui generis, ou melhor, única em seu gênero” (1986, p. 299) e Johannes Hessen complementa que os valores situam-se “numa relação muito íntima com os homens, com o humano” (1974, p. 180), percebemos que a ciência econômica é algo intrínseco do humano, pois ele agrega valores.

Amalgamando as ideias dos dois autores supra citados com a ideia de Featherstone de que o consumismo é, também, ditador de um possível status ou relação social na medida em que “o estilo de vida e o consumo são produtos totalmente manipulados de uma sociedade” (FEATHERSTONE, 1995, p. 120). Enxergamos que isso é inerente ao ser humano e ele consegue fazer uma manipulação no sentido de lhe ditar um estilo.

Portanto peguemos como exemplo uma pessoa que está assistindo a TV, e de repente, vê há uma propaganda, sobre um novo modelo de telefone celular e, mesmo sem necessitar, por já ter um de tecnologia muito boa, vai e compra outro mais novo só para “estar na moda”, isso caracteriza consumo sem necessidade, ou seja, consumismo, somente para fazer parte de um determinado grupo social ou demonstrar status social.

Sabendo o básico sobre o consumo, se faz necessário entendermos agora o meio ambiente.

Paulo Henrique Martinez diz que o planeta e grupos sociais estão despertando os interesses para o meio ambiente. “A compreensão histórica da relação entre as sociedades humanas e natureza tem demandado maior empenho dos cientistas sociais, em particular dos historiadores.” (MARTINEZ, 2006, p. 39). “O meio ambiente constitui, assim, estimulante porta de entrada para a compreensão de todas as sociedades e, dentre elas, da brasileira, além de conter um valioso potencial para a construção do conhecimento histórico” (MARTINEZ, 2006, p. 23).

Vemos que os historiadores estão muito presentes nessa tentativa de entender a relação sociedade humana e natureza.

Há um aspecto muito forte na degradação da natureza no Brasil.

Refiro-me a uma certa idealização da natureza. A que apresentou a natureza no Brasil como portadora de riquezas infinitas e inesgotáveis, dada a exuberância da vegetação, abundância da água, diversidade da fauna e da flora, fertilidade dos solos, entre outros aspectos. (...) fortemente marcados seja pelo fantasioso seja pelo utilitarismo econômico. (MARTINEZ, 2006, p. 29).

Essa idealização da floresta brasileira, que segundo Martinez possui riquezas inesgotáveis, onde é possível a retirada de todos os produtos desejáveis para a transformação de mercadorias, está arraigada nos brasileiros. Contudo, depois de tanto usarmos esse meio ambiente como um produtor de riqueza capitalista, estamos acordando para vermos o mal que estamos causando; reconhecendo a importância da natureza em nossas vidas, que até mesmo, faz parte da identidade de algumas sociedades.

Gilmar Arruda e Zélia Lopes da Silva, cristalizou elementos fundantes das construções identitárias de distintas sociedades, inclusive da brasileira. Mas, entre 1932 e 1937, os efeitos do desmatamento e da “descarga” de dejetos residenciais e resíduos industriais nos mananciais urbanos passaram a constituir alvo de matérias (...) a serem debatidas em associações como a “Academia Brasileira de Ciências” (...). A ampliação das interpretações sobre natureza alcança os debates entre os constituintes e a redação da Carta Magna de 1937 chega a referir-se aos bens naturais como “monumentos” da nação brasileira. (PELEGRINI, 2006, p. 119).

E continua dizendo que “a emergência de uma “consciência preservacionista” na esfera ambiental se consolidou na década de1980”(PELEGRINI, 2006, p. 118) e em:

Meados do século XIX, a concepção de wilderness (ou mundo selvagem) favoreceu a criação de parques e estações ecológicas americanas e a edificação de uma imagem incompatível entre a existência humana e a conservação da natureza – o que implicou a defesa (...) das áreas de proteção ambiental (PELEGRINI, 2006, p. 118).

O ser humano vem se pondo cada vez mais em favor do meio natural. Segundo Martinez “ao longo do século XIX, ainda que difusas e esparsas, não faltaram manifestações de assombro e de alertas para a mudança de comportamentos no aproveitamento dos recursos naturais no Brasil” (2006, p. 29), portanto não é recente essa ideia de preservação da natureza.

Outro aspecto recorrente nesse discurso é o da dominação da natureza pelo homem.

A natureza deve ser subjugada, e o progresso é visto exatamente como um componente desse processo. É a dominação tecnológica sobre a natureza que proporcionará o paraíso. Não há a idéia de inclusão, convivência e relações de necessidade entre homem e natureza. (SOUZA, 2001, p. 228).

A natureza, desde o primórdio da raça humana, serve de palco principal para a sobrevivência humana, haja vista que, esta é a fundamental fonte de extração de recursos usados no planeta entre humanos e animais. No entanto, com a ideia capitalista de explorar a natureza, o humano começou a usufruir de forma indevida e em demasia estes recursos naturais e muitas vezes até manipulando-o para obter maiores lucros.

En los años 1940 se iniciaron limitados experimentos con pastos exóticos. En gran parte sólo la región alta y seca del este vió alguna plantación de gramíneos antes de los años 1970, usando pastos de orígen africano como jaraguá (Hyparrhenia rufa) y colonião (Panicum maximum), usuales en otras regiones del Brasil. Estos pastos eran apreciados por su valor nutritivo, cuidado fácil, crecimiento rápido y su resistencia al fuego. (WILCOX, 2001, p. 136).

Esse pensamento de Robert W. Wilcox é muito verdadeiro e faz parte de um dos tipos mais antigos de usar o meio ambiente, pois segundo Martinez “a agricultura e a pecuária constituem duas das mais antigas formas de relacionamento das sociedades com a natureza e com os recursos naturais” (2006, p. 40). E dentre as formas de exploração e de uso dos recursos naturais usados pelas sociedades humanas:

A mais recorrente e mais significativa delas diante da coleta, da caça e da pesca, é a prática da agricultura e da domesticação e criação de animais. Estas diferentes formas de relacionamento com o mundo natural, fundamentais para assegurar a sobrevivência e a reprodução dos grupos humanos, foram acompanhadas, desde logo, por distintas maneiras de sentir e de pensar a natureza. (MARTINEZ, 2006, p. 40).

Portanto, no que diz respeito a consumismo e meio ambiente é certo que, tudo que é produzido para o consumo do ser humano e outros animais é oriundo da natureza. A questão aqui levantada não é a extração das matérias-primas do meio ambiente, mas sim uma extração exacerbada e com pouca política de preservação ou consciência de preservação ambiental.

O consumo compulsivo, sem necessidade, de um produto que vai ser comprado mais por desejo do que pela sua utilidade degrada o meio ambiente. Existem atividades econômicas que não deixaremos de praticar, e que é uma das principais causas de desmatamento de matas nativas, a agricultura.

O ser humano chegou ao ponto de, como disse Wilcox, manipular o meio ambiente para obter um maior lucro. É necessário que deixemos de lado a idealização da natureza, essa que está arraigada em nós, de floresta infinita e inesgotável. E assim reconhecer a importância da natureza que também é formadora de uma identidade, como por exemplo, a identidade brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

FEATHERSTONE, Mike. Teorias da cultura de consumo. In.: FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

GRAMSCI, Antonio. Breves notas sobre economia. In.: GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 6 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986.

HESSEN, Johannes. Antropologia dos valores. In.: HESSEN, Johannes. Filosofia dos valores. 4. ed. Coimbra: Coimbra, 1974.

MARTINEZ, Paulo Henrique. Os historiadores e o meio ambiente. In.: MARTINEZ, Paulo Henrique. História ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São Paulo: Cortez, 2006.

PELEGRINI, Sandra. Cultura e natureza: os desafios das práticas preservacionistas na esfera do patrimônio cultural e ambiental. In.: Revista brasileira de história: Natureza e cultura. São Paulo, v. 26, no. 51, 2006.

SOUZA, João Carlos de. O progresso contra a natureza: vapor, fios e trilhos em Corumbá (1904/1919). In.: Revista projeto história: Natureza e poder. São Paulo: educ, v. 23, 2001.

WILCOX, Robert W. ‘La ley del menor esfuerzo’: la naturaleza y ganaderos en el pantanal de Mato Grosso, Brazil, 1870-1980. In.: ARRUDA, Gilmar; TORRES, David Velázquez e ZUPPA, Graciela (orgs.). Natureza na América Latina: apropriações e representações. Londrina: Eduel, 2001.



[1] Idealizado pelo empresário norte americano Henry Ford. Em janeiro de 1914 deu início ao processo de produção em massa, com uma linha de montagem automatizada e esteira rolante, buscando baratear ao máximo os automóveis por ele fabricados.