É notável que as coisas vêm perdendo ou alterando exponencialmente o seu jeito de ser ou identidade, tornando-se objetos com significação ambígua ou sem significação, para aprofundarmos mais esta questão consultamos a obra dos filósofos Antonio Negri e Michel Hardt onde estes discorrem sobre o que estaria causando esta perda ou alteração de identidade.

Segundo os filósofos acima citados em sua obra denominada "O Trabalho de Dioniso, Para a Crítica ao Estado Pós-moderno", com o crescimento da produtividade e das relações comerciais na modernidade há a subsunção das formas produtivas, das formas intelectuais e da produção ao capital (Negri e Hardt, 2004, p.32), ou seja, o capital a partir deste momento passa a dar ou subtrair a significação de todas coisas, após a derrocada do capitalismo somem todos os processos produtivos alheios ao capital tanto como manufatureiros ou intelectuais.

Há exatos setenta anos o filósofo frankfurtiano Walter Benjamin já refletia sobre este assunto voltado para a Arte (Pois podemos considerar a arte também como um processo produtivo) em um ensaio intitulado "A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução", escrito para a revista de pesquisa social no ano de 1936.

Segundo Walter Benjamin a obra de arte possui dois sentidos principais que devem ser observados, o sentido de culto e o sentido de realidade exibível.

Caso considerem os diversos modos pelos quais uma obra de arte pode ser acolhida, a ênfase é dada, ora sobre um fator, ora sobre o outro. Entre esses fatores existem dois que se opõem diametralmente: O valor da obra como objeto de culto e o seu valor como realidade exibível. (BENJAMIN, 1983, p.11).

Benjamim alertava sobre a falta destes sentidos, utilizando como exemplo o cinema (novidade em sua época), pois a finalidade do cinema em si já era a reprodução, dado que somente através deste meio cubririam-se os gastos financeiros aplicados em uma película e ainda obteria-se lucro, podemos pegar como exemplo contemporâneo o orçamento milionário elaborado para o filme Titanic que segundo fonte dos estúdios da Twenty Century Fox o filme custou cerca de US$ 200 milhões, valor maior que o da construção do próprio Transatlântico Titanic que custou cerca de US$ 150 milhões em valores atualizados para os dias de hoje. O lucro deste filme após oito meses em cartaz foi de exorbitantes quase dois bilhões de dólares.

A partir deste princípio o cinema não pode ser autêntico, pois tem como principio a cópia que com o passar dos tempos pode ser modificada, remasterizada ou expandida para assim após algum tempo de esquecimento regressar ao mercado e gerar novas entradas em caixa para a produtora, estes casos recebem a denominação de "caça níqueis", podemos ter como exemplo o caso do filme "O Exorcista" que originalmente foi filmado nos Estados Unidos da América em 1973 e voltou aos cinemas no ano de 2000 com uma edição expandida com cenas que haviam sido cortadas pelo diretor na época (na verdade apenas com apenas 11 minutos a mais que o original de 1973).
Benjamin ao mesmo tempo acreditava que o cinema é formativo e deformativo, pois somente com o cinema e suas técnicas inovadoras de fotografia, do zoom e do close da câmera em determinada cena podemos presenciar detalhes, movimentos que a olho nu seriam imperceptíveis, como as cenas de luta protagonizadas pelo personagem Neil (Keano Reaves) no filme Matrix de 1999, onde a técnica de congelamento da imagem e de Slow Motion nos dão uma percepção diferente de tudo o que já vimos, ali os detalhes dos movimentos do corpo humano estão mais claros e são mais perceptíveis, mas em contra partida, em conseqüência dos cortes nas cenas não temos a noção do todo, da interpretação de determinada ação e da emoção que quem representa (ator) coloca na cena (tornando-a autentica, pois o ator a interpreta de seu jeito assim tornando aquele momento único e singular), logo a cena de um filme, seja de Spielberg ou Walter Sales é programada e fria, dado que uma cena é filmada milhares de vezes sobre diversos ângulos, tendo assim uma divisão por partes da mesma cena impossibilitando que o ator e o ato da cena seja contemplado por inteiro tornando aquilo um momento único.

Encontramos hoje, com efeito, dentro das massas, duas tendências igualmente fortes: exigem de um lado que as coisas se lhe tornem, tanto humanas como espacialmente "mais próximas", de outro lado, acolhendo as reproduções, tendem a depreciar o caráter daquilo que é dado apenas uma vez (BENJAMIN, 1983, p.9)

Ademais outra "arte" que é citada por Benjamin como inautentica e que não segue os nenhum dos dois princípios para ser denominada de arte é a fotografia porque que não podemos distinguir o que é uma fotografia original ou uma cópia, sendo que estas não têm nenhuma característica que possa alegar a sua autenticidade diferentemente de pinturas que tem traços e a assinatura do autor que pode identifica-los, na pior das hipóteses não existindo a assinatura é feito um exame de carbono quatorze que determinara sua data como também outros exames complementares que determinarão o tipo de material utilizado na obra (vide a investigação do Santo Sudário).

Temos que lembrar que após a invenção do software Photoshop é muito fácil corrigir imperfeições e mudar traços indesejáveis das fotografias (com certeza os admiradores da revista Playboy sabem do que estou falando), sendo que não temos mais a noção se aquilo que vemos em uma fotografia é o real ou o como que determinada pessoa (fotógrafo e muitas vezes fotografado) gostaria que fosse.