CONSIDERAÇÕES SOBRE A DISLEXIA

RESUMO

Este artigo objetiva analisar a questão da dislexia, como fator que interfere ou gera problemas de aprendizagem. Toda criança necessita de apoio e paciência. Muitas crianças disléxicas sofrem de falta de autoconfiança, pois se sentem menos inteligentes que seus amigos. Porém, um bom tratamento pode ajudá-lo a conviver com a dislexia. Muitos disléxicos tiveram grande sucesso profissional; existe uma alta porcentagem de disléxicos entre os grandes artistas, cientistas e executivos. Muitos especialistas acreditam que pessoas disléxicas, por serem forçadas a pensar de forma diferente, são mais habilidosas e criativas e têm ideias inovadoras que superam as de não-disléxicos. Apesar da lotação das salas de aula e da falta de recursos para pesquisas, a dislexia precisa receber uma atenção especial. Muitos casos de dislexia passam despercebidos em nossas escolas. Na maioria dos casos, são crianças com desempenho intelectual satisfatório, mas que sofrem de dislexia, aparentando ser péssimos alunos; muitas dessas crianças se envergonham de suas dificuldades acadêmicas, abandonam a escola e se isolam de amigos e familiares. Muitos pais, por falta de conhecimento, envergonham-se de ter um filho disléxico e evitam tratar do problema. Isso é lamentável, pois crianças disléxicas que recebem um tratamento apropriado podem não apenas superar essa dificuldade, mas até utilizá-la como benefício para se sobressair pessoal e profissionalmente.

Palavras-Chave: dislexia; dificuldades de aprendizagem; superação

OS DISTÚRBIOS DA FALA E DA ESCRITA

            O aluno disléxico é aquele que apresenta uma dificuldade de aprendizagem, não relacionando o signo à unidade fonética que ele representa, ou seja, a relação letra/fonema, tão explorada na 1ª série do Ensino Fundamental. Portanto, o aluno disléxico pode não dominar os processos de leitura acima definidos, não dominando, conseqüentemente, a leitura e a escrita, pois a dislexia atinge todas as habilidades da linguagem verbal ou todas as destrezas lingüísticas.

            Ainda analisando considerações do lingüista Vicente Martins, podemos destacar as funções essenciais da leitura através de três verbos: transformar (passar da linguagem escrita para a oral), compreender (relacionar significante ao significado) e julgar (captar o sentido da mensagem no contexto social). Nossos alunos disléxicos encontram barreiras para executar tais verbos, uma vez que não lêem ou não conseguem compreender os textos escritos.

            Por isso, as críticas de pais com filhos em processo inicial da alfabetização vêm sendo tão freqüentes. Somente o aluno que executa a leitura praticando as três ações acima citadas está alfabetizado.

            Aqueles alunos que não conseguem, em geral, repetem o ano. Simplesmente atestar que a criança não está madura e por isto não obteve êxito na alfabetização seria no mínimo um pouco arriscado ao professor.

            Apesar disso realmente ser uma causa para o fracasso escolar, os alunos que apresentam dificuldades na aquisição da escrita precisam ser avaliados por outros profissionais, para que seja vista a possibilidade de eles sofrerem de algum distúrbio de aprendizagem. Buscamos aqui esclarecer a cerca de um deles: a dislexia.

 

A DISLEXIA

           

Existem inúmeros estudiosos que teorizam sobre a dislexia. São profissionais de variadas áreas, como Psicopedagogia, Fonoaudiologia, Neurologia, Psicologia, Pedagogia, Lingüística, entre outras, por se tratar de dum distúrbio que envolve a todas essas áreas, que desperta o interesse de todos esses profissionais que estão ligados direta ou indiretamente a questões a cerca do desenvolvimento e dos processos de aprendizagem humanos.

Seguindo este pensamento, CINEL (2001) expõe que:

“[...] O termo dislexia é aplicável a situações nas quais uma criança na consegue ou é incapaz de falar ou ler com a mesma facilidade dos seus iguais, ainda que seja inteligente, sadia e tenha órgãos sensoriais intactos, seja livre emocionalmente, tenha motivação, seja incentivada e didaticamente orientada” (p. 20).

                Sendo, ao mesmo tempo, um problema na aquisição da linguagem e na aprendizagem, a dislexia dificulta a leitura, o aluno disléxico é um mau leitor, pois não consegue entender eficientemente o que está lendo. Martins (2001) revela que pelo menos 15 milhões de crianças e jovens brasileiros sofrem com distúrbios de letras e o autor acredita que a dislexia é a maior causa do baixo rendimento escolar.

            A dislexia tem três graus: leve, moderado e severo.

            PINHEIRO (1994) afirma que:

“[...] Quando descrevemos a leitura pela via de mediação fônica, afirmamos que esse processo de leitura causava dificuldades para a leitura de palavras irregulares e de homônimos. Desde pois que, no caso da dislexia superficial, a leitura é feita basicamente pela rota fonológica – devido à impossibilidade de uso da rota lexical, que se encontra danificada – é de se esperar que os pacientes que sofrem dessa condição apresentem erros nessas classes de palavras.” (p. 51)

                Na dislexia severa, as palavras concretas são lidas muito mais facilmente do que as abstratas. O disléxico tem dificuldades em ler palavras funcionais e, conseqüentemente, substituem artigos, pronomes, conjunções e advérbios por outras palavras de mesma classe gramatical. Além disso, faz confusões entre letras, sílabas ou palavras, tanto nos processos de estrutura silábica como em processos de substituição e assimilação.  São comuns ainda as abolições de flexão verbal, utilizando apenas o infinitivo, demonstrando assim, dificuldades na utilização de palavras derivadas ou decomposição das palavras em elementos fonológicos.

O disléxico tem como característica principal uma grande dificuldade na leitura de palavras desconhecidas ou de palavras inventadas, como resultado de uma perda na capacidade de conversão de letra em som.

Para BAGLIOLI (2004) a dislexia também pode estar ligada a fatores genéticos e até neurológicos, daí vem a confirmação de que o psicopedagogo deve percorrer por várias áreas de estudo para investigar com sucesso os problemas na aprendizagem.

                Segundo AJURIAGUERRA (1990):

“[...] Os sinais da dislexia podem aparecer em maior ou em menor intensidade, dependendo de vários fatores como: idade, estimulação, etc. E podem também se agravar com o decorrer do processo de crescimento da criança. Alguns desses sinais são: história familiar, falta de atenção e memória, atraso na aquisição da fala e da linguagem, dificuldade de nomeação de objetos, imaturidade, timidez excessiva, mudança de humor, atraso ou falta de coordenação fina (desenhar, escrever, etc), dificuldade na transcrição da escrita e da língua falada entre outros.”

A Neurologia realiza importantes estudos sobre a dislexia e já foi comprovada sua origem genética, pois o gene DYXC1 pode ser o causador do distúrbio que atinge cerca 10% da população mundial, segundo pesquisas feitas na Universidade de Helsinque, na Finlândia e no Instituto Karolinska, na Suécia. Esses estudos afirmam que o problema é genético e complexo e que atinge, majoritariamente, os homens (70%).

Enquanto isso, na Universidade de Granada, na Espanha, a professora Francisca Dolores Serrano, concluiu que o descaso ou atendimento inadequado a alunos disléxicos é um dos principais fatores que agravam os casos, bem como seu diagnóstico equivocado.

Assim, é possível concluir que a dislexia é realmente um distúrbio complexo, pois não será sanada do indivíduo, apenas amenizada, por se tratar de um problema neurobiológico, perfeitamente agravável, se não tratado adequadamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Com essa pesquisa podemos constatar que pais e professores devem estar atentos ao desenvolvimento da fala de crianças em processos de aquisição de linguagem e, se constatarem que a criança possui dificuldades que já deveriam ter sido superadas de acordo com sua idade, é importante que procurem as causas destes problemas na fala, com orientações de profissionais em Fonologia, Psicologia e outros afins, já que os distúrbios da linguagem podem estar relacionados à história pessoal da criança.

Constatamos que a dislexia pode ter variadas origens (neurológicas, genéticas, psicológicas...), portanto o diálogo entre pais e professores deve ser constante, assim como a orientação profissional.

É comum haver nas escolas preconceito com alunos disléxicos antes e depois do diagnóstico. Antes, os alunos são vistos como incapazes, com inteligência inferior aos demais, lentos, relapsos. Depois, como exigem algumas formas de tratamento diferenciadas, estes alunos são vistos como “protegidos” pelos professores.

Portanto, acreditamos que devem ser feitos esclarecimentos sobre a dislexia entre os pais, professores, ou seja, a comunidade escolar como um todo para que fique evidente os motivos pelos quais os alunos disléxicos recebem tratamento diferenciado em sala de aula.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiquiatria Infantil. São Paulo: Masson, 1990.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA. hptt://www.dislexia.org.br/ Download realizado em 2006.

BRAGGIO, M. A. A inclusão do disléxico na escola. hptt://www.dislexia.org.br/ Download realizado em 2006.

CINEL, N. Dislexia. Revista do professor. N. 68. p.19-24, outubro/dezembro, 2001.

MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita. São Paulo: Cortez, 2003.

MARTINS, V. Como descobrir uma criança disléxica. http://www.pedagogiaemfococom.br/ Download realizado em 2001.

________________ Educação Especial: Psicolingüística e Dislexias. http://www.pedagogiaemfococom.br/ Download realizado em 2003.

SILVEIRA, J. A. Quem é a criança disléxica e como desenvolver um trabalho eficaz na alfabetização. http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao.  Download realizado em 2004.