A natureza humana é um fenômeno sui genens marcado por um espaço-temporalidade definido no hic et nunc (aqui e agora) cujo conhecimento desenvolveu-se e/ou evolui conquistando um espaço teórico e prático, tendo então inexplorado e/ou em exploração por diferentes ideologias estas: religiosas, morais e científicas.

As diversidades na busca do saber e do conhecimento, segundo caracteres e potenciais humanos, originaram continentes teóricos e práticos diferentes a serem destacados em níveis e espécies.

Assim, essas informações permitem-nos compreender que não basta insistirmos em memorização, levando o aluno a preencher espaços ou responder questões totalmente descontextualizadas da construção do ser.

Além do que, vivemos sob a construção do ensino por ciclo, conforme direciona os Parâmetros Curriculares Nacionais, onde:

Os critérios não expressam todos os conteúdos que forma trabalhada no ciclo, mas apenas aqueles que são fundamentais para que se possa considerar que um aluno desenvolveu as capacidades previstas de modo a poder continuar aprendendo no ciclo seguinte, sem que seu aproveitamento seja comprometido. Os critérios de avaliação (...), por área e por ciclo, ainda que indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera que os alunos tenham realizado a respeito dos diferentes conteúdos, apresentam, formulação suficientemente para ser referência para as adaptações necessárias em cada escola, de modo a poderem se constituir em critérios reais para a avaliação. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998:81)

A adequação dos critérios estabelecidos nestes parâmetros e dos indicadores especificados ao trabalho que cada escola se propõe a realizar não deve perder de vista a busca de uma meta de qualidade de ensino e aprendizagem explicitada na proposta pedagógica das instituições. Lembrando que o ensino depende de uma prática educativa que tenha como eixo, a formação de um cidadão autônomo e participativo. Essa prática pressupõe que os alunos sejam sujeitos de seu processo de aprendizagem e que construam significados para o que aprendem, por meio de múltiplas e complexas interações com os objetivos de conhecimento, tendo, para tanto, o professor como mediador.

A informação avaliativa deverá funcionar para o aluno como um incentivo, para sua aprendizagem; sem incentivos ou estimulo ele terá poucas condições de enfrentar os desafios que a aprendizagem lhe apresenta. O pressuposto fundamental é de que sem uma atitude favorável em relação à aprendizagem dificilmente ele avançará.

Se, queremos compreender a questão da avaliação nos sistemas de ensino, precisamos primeiramente compreender como indivíduo consegue responder aos processos que lhes são oferecidos dentro da instituição. O que necessariamente sugere compreender a concepção da natureza humana.

O aprendiz é um sujeito protagonista do seu próprio processo de aprendizagem. É alguém que vai produzir, pois irá transformar as informações que recebeu em conhecimento próprio para melhor assimilá-la. Essa construção, pelo aluno, não se dá por si mesmo e no vazio, mas a partir de situações nas quais ele possa agir sobre o que é objeto do seu conhecimento, pensar sobre ele, recebendo ajuda, sendo desafiado a refletir, interagindo com outras pessoas.

Para que ocorra a aprendizagem e necessário um sujeito ativo, que de sentido as informações que estão disponíveis, buscando recursos suficientes para avançar. O conhecimento não é gerado do nada, é uma permanente transformação a partir do conhecimento que já existe. Completando a fala de Libâneo:

 

A avaliação e urna tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle em relação às quais se recorre a instrumentos de verificação do rendimento escolar. O papel do professor é de extrema responsabilidade, pois e deverá criar situações que permitam reconhecer no aluno um aprendizado, não com uma visão quantitativa do que se foi ensinado, mas no sentido de verificar a qualidade da construção desse avanço. (LIBÂNEO, 1994:195).

Recorrendo a literatura de Demo (1995:323) podemos perceber que: "...

avaliação precisa ser intrinsecamente educativa e ser processo permanente, não evento superou interveniente, de fora para dentro ou de cima para baixo”.

. Dessa maneira, é preciso romper com a necessidade de avaliação enquanto nota, valor, somatória, uma atitude de sumarizar aprendizagens de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais ao mesmo tempo de aprendizado. Até porque, avaliação deve contemplar o processo pessoal de cada aluno, uma vez que acreditamos que a aprendizagem é um processo de desenvolvimento individual, com ritmos e estilos pessoais, a informação avaliativa precisa estar também relacionada aos objetivos do grupo a que cada aluno pertence.

A avaliação não se limita aos conhecimentos que o aluno desenvolveu, mas também o esforço e o progresso que realizou. Em última análise, como diz Zabala (1998), precisamos estar conscientes, em relação a cada aluno, do que esperamos, do processo seguido, das dificuldades enfrentadas, da aplicação na aprendizagem, dos resultados obtidos e das medidas que devemos tomar

Libâneo vem enfatizar que:

A prática da avaliação em nossas escolas tem sido criticada, sobretudo por reduzir-se à sua função de controle, mediante a qual se faz uma classificação quantitativa dos alunos relativa ás notas que obtiveram nas provas. Os professores não têm conseguido usar os procedimentos de avaliação — que sem dúvida implicam o levantamento de dados por meio de testes, trabalhos escritos etc, - para atender a sua função educativa. Em relação aos objetivos, funções e papel da avaliação na melhoria das atividades escolares e educativas, têm-se verificado na prática escolar alguns equívocos (...) ainda hoje há professores que se vangloriam por deter o poder de aprovar ou reprovar. (LIBÂNEO, 1984:78).

 

Desta maneira é urgente à necessidade dos procedimentos avaliativos passarem por uma reflexão e adequação frente às novas exigências do homem, do ser criativo, que não pode vislumbrar modelos prontos e inadequados com as suas necessidades.

 

De acordo com o que Libâneo expressa, percebemos que a avaliação da aprendizagem vem responder a uma necessidade social, por compreender que a escola é uma instituição social. Enquanto que o professor nesse processo tem por função ajudar o educando a construir seus próprios conhecimentos. É esse processo de ensino-aprendizagem que o professor tem que ir observando o aluno e contribuindo com o mesmo para o seu crescimento.

A avaliação deve ser um instrumento para o educador reformular a ação educativa que exerce, de modo a contribuir decisivamente para o desenvolvimento integral do potencial.

Observar e avaliar a nossa própria forma de atuar, estar atento ao comportamento do aluno, à sua forma de pensar tem muito a ver com o processo de avaliação e com a educação de boa qualidade.

Estudar a avaliação em uma perspectiva transformadora significa situá-la como elemento de uma escola democrática - aquela que favoreça não só o acesso das camadas populares, mas, acima de tudo, a sua permanência no sistema de ensino. Significa articular a avaliação a um projeto educacional para a formação como cidadãos crítico, principalmente autônomo, cuja apropriação significativa e crítica do conhecimento constituem o objetivo do processo ensino - aprendizagem, concebido aqui como um processo de construção.

Cabe assim redefinir conceitos de como se realizar uma avaliação que envolva compromisso. A resposta a essas perguntas definirá nossas escolhas educacionais e, entre estas as decisões sobre avaliar de forma a participar da construção do homem rumo a sua cidadania. 

REFERÊNCIAS 

BRASIL Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 

DEMO, P. Lógica e Democracia da Avaliação. Ensaio. Rio de Janeiro, vol.3, jul/set. 1995. 

LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1987. 

_______. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. 

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1995. 

PERRENOUD. P. La construcción Dei êxito y del fracasso escolar. 2 ed. Madrid:Ediciones Morata, 1996. 

_______. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens — entre duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. 

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed,1998. p. 195 -220.