CONSIDERAÇÕES SOBRE A ANÁLISE DE DADOS E ALGUMAS QUESTÕES RELACIONADAS À OBJETIVIDADE E A VALIDADE NAS ABORDAGENS QUALITATIVAS

Lécia Regina Costa de Sousa*

Orientadora: Profa. MSc. Maria Augusta Neves*

 

RESUMO

Este artigo apresenta considerações importantes acerca das abordagens qualitativas descritas no texto de Menga Ludke e Marli E. D. A. André. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas, (1986). 4º capítulo. Descreve sobre a análise de dados e questões relacionadas à objetividade e à validade nas abordagens qualitativas nas pesquisas de campo, levantando questionamentos fundamentais para quem pretende exercer a função de pesquisador de qualquer área, principalmente na humana.

Palavras-chave: Pesquisa. Coleta. Análise.

 

ABSTRACT

This article presents important considerations about the qualitative approaches described in the text of Menga Ludke and Marli E. D. A. André. Educational Research: qualitative approaches, (1986). 4th.chapter. Describes about the data analysis and issues related to objectivity and validity in qualitative approaches in the research field, raising fundamental questions for those who want to play the role of researcher in any field, especially in human.

Keywords: Search. Collection. Analysis.

 

*1.ESMAC. Escola Superior Madre Celeste. Aluna da disciplina Metodologia do Ensino da Matemática. Turma 2013. Curso de Pedagogia. E-mail: [email protected].

*4. ESMAC. Profa.  da disciplina Metodologia da Matemática. MsC. Em Gestão e desenvolvimento regional. Coordenadora pedagógica da SEDUC. Profª. das faculdades Ipiranga, UFRA e ESMAC.

1             INTRODUÇÂO

Este trabalho levanta questões relevantes relativas às etapas de análises de dados em abordagens qualitativas na pesquisa. O tema tem fundamental importância na configuração e elaboração de pesquisas acadêmicas, de campo e demais áreas de pesquisas afins. O objetivo é compreender, de forma mais sucinta, como ocorre a análise dos dados coletados, quais procedimentos utilizar na organização dos mesmos, os valores éticos dentro do campo de pesquisa e levantar pontos importantes relacionados aos pesquisadores incipientes apontando sugestões de como proceder diante da tarefa de realizar pesquisas, mesmo deixando claro que não há uma prática pronta e que realizar pesquisas não é tão fácil quanto parece. A organização deste artigo se dar da seguinte forma: após a introdução seguem uma organização dos subitens de que trata esse documento, na seguinte ordem: Análise dos dados qualitativos; Delimitação progressiva do foco de estudo; A formulação de questões analíticas; Aprofundamento da revisão da literatura; Testagem de ideias junto aos sujeitos; Uso extensivo de comentários, observações e especulações ao longo da coleta; A análise após a coleta de dados;  Da análise para a teorização e  problemas éticos, metodológicos e políticos no uso das abordagens qualitativas.

Fazer uma abordagem qualitativa nada mais é que explorar todo o material que é coletado durante a pesquisa. Essa análise, segundo os autores, deve passar por uma série de procedimentos.:1 organização 2 divisão – feita por partes, estas devem ser relacionadas entre si  com o objetivo de encontrar pontos importantes entre elas. Esses pontos devem ser reanalisados com o intuito de se filtrar os pontos mais significantes relacionados ao objeto de estudo.

Cada passo da investigação exigirá análise, ou seja, esta perpassa por diversas etapas ou estágios como os autores citam. Procedimentos de análises são feitos desde o inicio quando se objetiva encontrar questões que fortalecerão as ideias específicas do tema em questão. Diante disso, precisamos tomar muitas decisões sobre áreas que precisam ser mais exploradas, questões que podem ser excluídas ou acrescentadas. Para que essas decisões possam ser tomadas é preciso que haja um confronto entre o que se adquiriu de conhecimento teórico com o que vai se descobrindo ou aprendendo durante o trabalho de pesquisa, e essa ação deve perdurar até o final da pesquisa.

Alguns pesquisadores mais experientes não teriam tanto trabalho em realizar essas análises uma vez que já as fazem no período em que estão em campo realizando a coleta. Os incipientes por sua vez, podem chegar ao final da sua pesquisa com boa parte da análise ainda por ser feita.

Os autores, citando Bodgan e Biklem (1982) estes sugerem que, para quem está iniciando como pesquisador, o ideal é que façam uso de vários recursos estratégicos para não se perderem com tantas informações, correndo o risco de optarem por informações sem significado relevante ou sem sentido para o tema pesquisado. Citam, inclusive, algumas técnicas que podem ser utilizadas pelos menos experientes como, por exemplo, que delimitem o foco do estudo, façam um estudo aprofundado das literaturas fundamentais, testem as ideias encontradas nessas literaturas com os sujeitos da pesquisa e uso prolongado de comentários, observações e especulações durante toda a coleta.

Delimitação progressiva do foco do estudo

A delimitação do foco de estudo é comparada a um funil, o início é mais aberto, amplo, apresentando muito mais informações dando possibilidade ao pesquisador visualizar amplamente o seu objeto de estudo, o espaço e as relevantes questões. A partir desse momento há uma necessidade de delimitar o estudo, fazendo com que a coleta de informações seja mais condensada. Para que isso ocorra é necessária disciplina pessoal para não correr o risco de entender que tudo é importante quando há informações não relevantes que podem ser descartadas. Decisão difícil e deve ser tomada no início da pesquisa, uma vez que, no final, se tornará mais difícil juntar as informações mais importantes ao tema que se estuda.

A formulação de questões analíticas

 

Durante a delimitação do foco, é útil que se levante algumas questões específicas que favoreçam a análise, além de ajudar na junção do que foi estudado teoricamente com o que está se obtendo da realidade.

Aprofundamento da revisão da literatura

 

Muitos autores não concordam com o aprofundamento da literatura, porém voltar à literatura pode ajudar a fazer a análise uma vez que pode indicar pontos e questionamentos importantes. Esse fato pode ajudar o pesquisador a tomar decisões mais conscientes sobre o destino a que deva dar as suas proposições no percurso da coleta.

Testagem de ideias junto ao sujeito

 

Essa atividade pode ser aconselhável uma vez que se quer confirmar suas opiniões acerca do objeto, mas é importante considerar que as informações prestadas pelos tais nem sempre poderá ter um interesse pessoal, complicando o avanço da pesquisa, porém não é de todo aconselhável desprezar essas informações porque podem ajudar a tornar claros pontos implícitos da análise.

Uso extensivo de comentários, observações e especulações ao longo da coleta.

De acordo com o andamento do estudo, muitas ideias podem surgir, nesse momento é interessante que o pesquisador evite escrever muitos detalhes do que foi observado, mas registar, também, as sensações, reflexões etc. Tudo deve ser registrado, pois podem ajudar a elucidar questões relevantes dentro da pesquisa.

Análise após coleta de dados

 

Quando a coleta de dados está praticamente finalizada, é momento propício para fazer a análise porque o pesquisador já tem condições de identificar os principais pontos da pesquisa. O primeiro passo é criar as categorias descritivas; Ler e reler o material até que se internalize o seu conteúdo; Dividir o material sem perder a capacidade de estabelecer relações entre suas partes; Considerar o conteúdo sem desprezar o que não está evidente.

Da análise para a teorização

 

Apresenta-se aqui uma etapa complexa que requer a revisão, por parte do pesquisador, de todo o repertório de informações com o objetivo de tornar o texto mais coerente e claro. Procedimento fundamental é a revisão de ideias iniciais, repensá-las e avalia-las. Essa atitude pode fazer surgir novas ideias que podem ser exploradas em estudos posteriores.

Problemas éticos, metodológicos e políticos no uso das abordagens qualitativas.

Esses problemas podem surgir como resultado da interação entre o pesquisador e o sujeito. Os principais problemas são: omissão da identidade do pesquisador; a observação é feita sem permissão de quem está sendo observado. A sugestão é de que haja um entendimento entre ambos –pesquisador e sujeito- no sentido de que este último tenha o direito de vetar informações das quais não deseja que vá a conhecimento público. Dessa maneira, omitem-se muitas informações relevantes, o melhor é ter um diálogo claro e aberto com o informante de maneira que a veracidade e a qualidade das informações não sejam comprometidas.

Outra questão importante se refere à subjetividade do pesquisador. Há autores que defendem que valores e posturas do agente não devam influenciar a coleta e a análise dos dados. Outros, porém, já defendem a impossibilidade da subjetividade. A postura ideal seria aquela que, não conseguindo separar seus valores pessoais da pesquisa, procurem encontrar medidas para controlar os efeitos da subjetividade. Uma das formas de se conseguir separar essas questões é expor ao sujeito, os seus valores, preconceitos etc.

A objetividade é ponto chave para que o estudo seja válido. Outras questões importantes estão diretamente relacionadas ao período de tempo que se passou no campo da pesquisa, o tempo das observações e a segurança das informações. O tempo, quanto mais longo, poderá possibilitar resultado mais preciso e interpretações mais aprimoradas. E se esse tempo precisar ser encurtado, a sugestão é de que se mantenha uma comunicação intensa entre pesquisador e sujeito(s) da pesquisa. Se o pesquisador pretende mostrar os resultados de forma completa terá que criar vários mecanismos de informações como: explicar a metodologia usada para obter as informações, reflexão acerca da frequência, tempo e período das observações. O problema nesse tipo de trabalho em curto prazo diz respeito à veracidade e fidedignidade das informações, pois o processo de investigação tem uma dimensão totalmente diferente às práticas de pesquisas tradicionais.

Não se espera que esses observadores alcancem os mesmos resultados, mas que consigam alcançar, pelo menos uma concordância, e ainda que por pouco tempo, que essa representação de uma realidade possa ser aceita, isso significa a existência de outras práticas igualmente aceitáveis. O que importa é deixar evidente que outras maneiras de se fazer interpretações podem ser sugeridas e igualmente discutidas e aceitas por ser uma atitude aberta e com flexibilidade.

 

Considerações finais

Considerando que este é apenas um estudo do fragmento da obra de Menga Ludke e Marli E. D. A. André.,o capítulo 4, acerca das abordagens qualitativas, porém os esclarecimentos referentes aos passos de uma coleta e sua análise é fundamental para quem pretende compreender como acontece uma pesquisa, porque ela acontece e quais procedimentos o pesquisador precisa adotar para tornar suas informações válidas, e principalmente para quem pretende exercer a função de pesquisador mesmo que seja um período curto. Pesquisar não é uma tarefa fácil, porém quem pode viver sem as informações para desvelamento de questões complexas numa sociedade? O que seria dos estudantes, professores, pais, repórteres sem a pesquisa, sem as informações? Conhecer os procedimentos necessários para explicar determinado fato pode ser uma das mais excitantes formas de reflexão e transformação de uma sociedade que muitas vezes está escondida nos escombros da omissão e da inverdade.

              Referências bibliográficas

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. E.D. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. –São Paulo: EPU,1996.p.45-52.