"Consciência branca"

 

 

É preciso, não o dia da consciência negra e, sim, a do branco que, por sinal, deve estar muito pesada. É como se o negro implorasse por apenas um dia, para dizer que a luta ainda continua e que é preciso muita capoeira para vencer o mais forte dos seus inimigos; o racismo. O branco, como num gesto "altruísta", todo ano, para que sua consciência fique mais tranquila, ele deixa o negro comemorar o seu dia, mas, no íntimo pensa: eu tenho trezentos e sessenta e quatro dias, porém, o que custa ofertar apenas um?

Somos um povo que a mistura de raças predomina, porém, existe uma seleção, na qual, o branco, com a palma das mãos sem calos e sem as marcas do chicote que ajudaram a construir esse país, se julga no direito de açoitar, ainda mais, a dignidade daqueles que só querem lutar por uma "ABOLIÇÃO", que os livrou das senzalas, mas não deu a carta de alforria chamada igualdade.

Nós não temos a ku- klux- klan, que mata e elimina, todavia, temos a pior das seitas, O SILÊNCIO, que expurga, massacra e é indefensável, pois age sempre com ardil, não deixando espaço para o clamor. Se Zumbi se tornou herói por sua luta constante contra a escravidão, como chamaremos esses negros que, numa sociedade hipócrita, são colocados à prova todos os dias? Não é necessário, hoje em dia, fugir para os QUILOMBOS, mas correr pra a constituição, que garante igualdade para todos.

O branco, durante toda a história, vem se apossando de tudo que o negro trouxe e construiu; o samba que alegrava as noites de solidão, o gingado que enlouquecia os senhores de engenho, o ritmo de suas batucadas e, até mesmo, as nádegas tão famosas das negras as loiras conseguiram copiar e com todos esses roubos explícitos digo: o branco só não furta a cor dos negros, pois, ainda, não lhe interessa.

 

Mário Paternostro