Poucos adultos fazem profissionalmente “o que gostam”, por se tratar de impossibilidade reducionista, não sabemos a priori do que gostamos, apenas achamos saber, e se nos pautarmos exclusivamente por essa crença, excluiremos todas as demais possibilidades, o que pode nos alijar daquilo em que realmente podemos obter sucesso. Profissionais realizados são os que gostam do que fazem.

O conceito de mercado de trabalho mudou, de forma radical, para grande parte das atividades. Exceto naquelas muito básicas ou muito especializadas, o sistema de produção e emprego assumiu um aspecto que se assemelha ao que, em informática, denomina-se nuvem (cloud computing). Projeta-se na Itália, fabrica-se na China, vende-se nos Estados Unidos e se dá assistência ao cliente a partir da Índia. Há demandas e ofertas de conhecimentos e habilidades específicos em determinados momentos, e esses mesmos conhecimentos e habilidades podem se tornar ultrapassados, ou desnecessários, num momento seguinte. Não apenas as tecnologias de produção e circulação de mercadorias mudam com rapidez assustadora, como o mercado muda com igual velocidade, e nesse contexto vale o batido adágio da oportunidade imbricada com a crise.  

Todo bom executivo sabe que uma empresa deve conhecer a fundo seu empreendimento, e mais do que isso, sabe muito bem qual é o seu negócio. Uma petrolífera que acredita que seu ramo de atividade é petróleo, provavelmente enfrentará problemas sérios quando o petróleo escassear ou perder posição na matriz energética. Será superada pelos concorrentes que sabem, desde já, que seu ramo é energia e, portanto, estarão prontos para mudar se necessário, concentrar seus esforços e investimentos em novas fontes.

Em termos pessoais, nem todo profissional sabe qual é o seu negócio, poucos atentam à exortação de Sócrates: conhece a ti mesmo. Não se trata de conhecimento que possa ser definido pelo método de pontos fortes e fracos, tampouco daquilo que possa ser negociado no mercado de trabalho em troca de posição, poder ou dinheiro. O profissional que obtém sucesso verdadeiro não é o que encara sua profissão como tábua de salvação em um oceano agitado, é o que aprende a nadar em qualquer água.

Adaptar-se não significa apenas aprender novas técnicas e adotar novos procedimentos, mas sim um processo complexo que demanda autoconhecimento e maturidade, assim como bons fundamentos técnicos e capacidade de discernir as inovações reais das meras novidades.  

Quem cursou boas instituições de ensino superior provavelmente teve a formação necessária para o exercício profissional, e também adquiriu a base para o estudo continuado, que é condição indispensável para a permanente atualização que nossos tempos, velozes e vorazes, exigem. As melhores escolas proporcionam, além disso, o convívio com docentes capacitados ao complemento da base cultural e humanista fundamental para a adaptabilidade e interiorização das transformações.

Assim como as empresas precisam saber qual o seu real negócio, os profissionais devem saber quem são, não apenas tecnicamente, mas holisticamente. Aquele que tem uma boa noção de quem é, do que quer e do que pode, enfrentará o ambiente mutável de nossos dias com muito melhores chances de sucesso. Requalificar-se, procurar a formação continuada, manter-se ligado à academia, seja em cursos de pós-graduação ou de extensão, proporciona ampliação da expertise, e normalmente traz um agradável “arejamento” interior, imprescindível para o autoconhecimento, o bem-estar e o ótimo desempenho profissional.

Wanda Camargo – educadora e presidente da Comissão do Processo Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.