CONDIÇÕES DE TRABALHO DA ENFERMAGEM:

UMA DETERMINANTE DA SAÚDE DO TRABALHADOR?

                                                                                             Aline Maciel Moreno[1]

                                                                Rogeria Maria Silva do Nascimento[2]

  

RESUMO

Pesquisa exploratória e descritiva realizada através de revisão de literatura inserida na base de dados da biblioteca virtual LILACS (Literatura Latino Americana da Saúde) livros e outras publicações eletrônicas de respaldo no território nacional, cujo objetivo foi descrever as condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores de enfermagem, bem como a influência destes fatores na ocorrência de acidentes de trabalho. Como resultado encontrou-se 11 estudos publicados no período de 1990 a 2009, que evidenciam riscos físicos, ergonômicos biológicos e químicos, a que se submetem estes trabalhadores.

A partir da análise dos resultados, tornou-se claro que, os trabalhadores de enfermagem estão expostos aos mais diversos riscos ocupacionais até mesmo na atenção primária. As condições de trabalho, em conjunto com os riscos a que se submete esta categoria, contribuem para situação saúde doença destes trabalhadores.

Palavras chaves: Saúde do trabalhador. Risco Ocupacional, Enfermagem.

                                                

 

 

 

ABSTRACT

Exploratory and descriptive research held through inserted literature review in the virtual library database LILACS (Latin American Literature Health) books and other electronic publications of support in the country whose objective was to describe the working conditions and health of workers nursing, as well as the influence of these factors on the occurrence of accidents. As a result, it was found 11 studies published from 1990 to 2009, which show physical, biological, ergonomic and chemical risks in undergoing these workers.

From the analysis of the results, it became clear that nursing workers are exposed to various occupational hazards even in primary care. Working conditions, together with the risks to which it submits this category contribute to disease health situation of these workers.

Keywords: Occupational health.Occupational hazards.Nursing

 

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO..................................................................... 08

2.0 OBJETIVOS..........................................................................09

2.1 OBJETIVO GERAL................................................................09

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO..................................................... 09

3.0 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO.........................09

3.1 REVISÕES DE LITERATURA...............................................09

3.2 RESULTADOS ......................................................................15

3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................17

4.0REFERÊNCIAS......................................................................18

 

1.0 INTRODUÇÃO

O interesse pelo tema, condições de trabalho da enfermagem, se deu a partir da matéria estudada em Saúde do Trabalhador disponibilizado pelo Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família e pela vivência profissional da autora ao observar os fatores que contribui para o processo saúde/doença dos trabalhadores, particularmente os da enfermagem.Reportando o pensamento da política de humanização do Ministério da Saúde, deve-se lembrar que para que o cuidado prestado aos usuários do Sistema único de Saúde (SUS) seja adequado é necessário que haja ambiente satisfatório, recursos e condições dignas de trabalho para que os profissionais de enfermagem desenvolvam suas atividades laborais adequadamente (SILVA; MELO, 2006).

Para Haddad (2000), a qualidade de vida no trabalho é um dos principais determinantes de uma boa qualidade de vida. Vida sem trabalho não tem significado, assim sendo, o trabalho passou a ocupar um lugar central na vida do homem.

Segundo Mendes (1988), vários autores destacam que as condições de trabalho vivenciadas por muitos trabalhadores da equipe de enfermagem, particularmente no ambiente hospitalar,têm-lhes ocasionado problemas de saúde, frequentemente relacionados à situação e setor de trabalho, provocando prejuízos pessoais e socioeconômicos.

Segundo Alves (1996) no contexto hospitalar, a enfermagem tem uma grande força de trabalho e suas atividades são freqüentemente marcadas pela fragmentação de tarefas,rígida estrutura hierárquica para o cumprimento de rotinas, normas e regulamentos insuficiência de profissionais,entre outras questões pelas quais tem repercutido no elevado absenteísmo e afastamentos por doenças.

A Organização Internacional do trabalho (OIT), ciente das inadequadas condições de trabalho oferecidas aos trabalhadores nos hospitais de muitos países, desde a década de 40 tem considerado o problema como tema de discussão e tem feito recomendações referentes à higiene e segurança com a finalidade de adequar as condições de trabalho desses profissionais. Essas condições insatisfatórias se relacionam aos fatores biológicos, físicos, químicos, psicossociais e ergonômicos, os quais podem causar danos à saúde dos profissionais que ali atuam (Marziale; Rodrigues, 2002).

Neste sentido, risco ocupacional pode ser definido como aquele que envolve todos os fatores ou agentes que predispõem o trabalhador à doença profissional, ao permanecer exposto aos riscos durante a dinâmica do trabalho contínuo (SÊCCOet al., 2002).

Segundo a Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9) do Ministério doTrabalho e Emprego (MTE), considera-se riscos ambientais, os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador (BRASIL, 2001).

Portanto, os trabalhadores de enfermagem, na execução de suas atividades laborais diárias, encontram-se expostos a diversos riscos ocupacionais e estes, por sua vez, são os grandes fatores predisponentes de causarem doenças e acidentes de trabalho, justificando assim a realização deste trabalho.

2.0 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral:

Descrever as condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores de enfermagem, bem como a influência destes fatores na ocorrência de acidentes de trabalho.

2.2 Objetivo Específico:

Identificar os principais fatores de riscos de acidentes de trabalho em trabalhadores de enfermagem descritos na literatura.

 

3.0 Metodologia de Desenvolvimento:

    

          Trata-se de pesquisa exploratória e descritiva realizada por meio de revisão na base de dados da biblioteca virtual Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), livros e outras publicações eletrônicas de respaldo em território nacional. As palavras-chave utilizadas foram: saúde do trabalhador, riscos ocupacionais e enfermagem. Foram encontrados 18 artigos, sendo selecionados 11. Os critérios para inclusão dos textos na pesquisa foram: publicados no período de 1990 a 2009;na língua portuguesa; ter os profissionais de enfermagem como sendo a população estudada, e apresentar fatores de riscos ocupacionais relacionados ao trabalho da enfermagem.

           Foram selecionados e lidos os resumos de todos os trabalhos escritos no idioma português. Em seguida excluíram-se os trabalhos que não apresentaram relação com o tema em questão,

3.1 REVISÃO de Literatura.

Durante a assistência ao paciente, os trabalhadores de enfermagem estão expostos a variados riscos ocupacionais e ambientais, causados por fatores físicos, químicos, mecânicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, que podem ocasionar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho (MARZIALE; RODRIGUES, 2002).

                           

Riscos físicos são ruídos, vibrações, radiações ionizantes e não-ionizantes, temperaturas extremas e pressões anormais, umidade, iluminação inadequada. Os riscos químicos dizem respeito ao manuseio de gases e vapores anestésicos, antissépticos e esterilizantes, poeiras, etc. Riscos biológicos estão relacionados aos microorganismos, bactérias, fungos, protozoários, vírus, etc. e material infectocontagioso, podendo causar doenças como tuberculose, hepatite, rubéola, herpes, escabiose e AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida). Os riscos ergonômicos compreendem local inadequado de trabalho, levantamento e transporte de peso,

         postura inadequada, erro de concepção de rotinas e            serviços, mobiliário, entre outros fatores.

Xelegati et al. (2006) evidenciaram outros tipos de riscos a que se submetem os trabalhadores de enfermagem, sendo o risco químico um deles. Sua pesquisa teve como objetivo identificar quais substâncias químicas os enfermeiros tinham contato em seu trabalho, e quais seriam aquelas que podem causar problemas à sua saúde.Os 53 enfermeiros participantes do estudo mencionaram estarem expostos principalmente aos antibióticos e benzina (100%), iodo (98,1%) e látex-talco (88,7%). As principais substâncias causadoras de problemas de saúde citadas foram: antineoplásicos (86,7%), glutaraldeído (79,2%) e óxido de etileno (75,5%). Além disso, apresentaram como alterações à saúde: lacrimejamento, reações alérgicas, náuseas e vômitos, não mencionando outros problemas de saúde que pudessem ser ocasionados pelos produtos citados. Os autores ressaltaram que em relação às substâncias químicas que podem causar alterações à saúde,os antineoplásicos foram citados como causadores das mesmas, além de formaldeído, glutaraldeído, óxido de etileno, antibióticos e látex/talco, entre outras. Os sinais e/ou sintomas que os enfermeiros acreditam ser desencadeados pelos produtos químicos foram: reações cutâneas alérgicas pelo látex/talco, alterações sanguíneas pelas drogas antineoplásicos, diarréias pelos antibióticos, lacrimejamento, náuseas e/ou vômitos e a ocorrência de abortos espontâneos pelo óxido nitroso e lacrimejamento pelo formaldeído e glutaraldeído, entre outros. Nesse estudo, entretanto, os enfermeiros não registraram alterações clínicas na literatura, demonstrando conhecimento insuficiente sobre os fatores de risco ocupacionais de natureza química, aos quais eles se encontram expostos.

Considerando os riscos de acidentes, os estudos demonstram que estes estão ligados à falta de iluminação, possibilidade de incêndios, piso escorregadio, armazenamento, arranjo físico, ferramentas inadequadas e máquinas defeituosas. Já os riscos psicossociais advêm do grande contato com o sofrimento dos pacientes, dor e morte, trabalho noturno, rodízios de turno, jornadas duplas e até triplas de trabalho, ritmo acelerado, tarefas fragmentadas e repetitivas, entre outros (SILVA; MARZIALE, 2006).

Com relação aos riscos biológicos, Barbosa (1989 apud Sêcco et al., 2002) discute a sua importância em razão da função reprodutora da mulher, uma vez que parte importante dos trabalhadores dos hospitais ou da Atenção Primária são do sexo feminino. Prossegue ponderando que entre os agentes infecciosos, os vírus são os que têm maior capacidade para desencadear malformações fetais, e bactérias que podem alterar a morfologia do feto através de seus processos inflamatórios. Também destaca os riscos biológicos da hepatite B, a que os profissionais de saúde estão sobremaneira expostos.

Buscando entender melhor as condições que oferecem riscos aos trabalhadores, classificam-se os agravos à saúde relacionados ao trabalho em dois grupos: no primeiro estão incluídos aqueles que traduzem uma ruptura abrupta do equilíbrio entre as condições e o ambiente de trabalho e a saúde do trabalhador, como os acidentes de trabalho e as intoxicações agudas de origem profissional. O segundo grupo inclui agravos de caráter crônico, tal como a doença profissional típica, definida como aquela inerente ou peculiar a determinado ramo de atividade (SILVA; ZEITOUNE, 2009).

Neste contexto de agravos à saúde dos profissionais de enfermagem, os acidentes de trabalho têm destaque, uma vez que podem ser vistos como a concretização dos agravos à sua saúde em decorrência da atividade produtiva, recebendo interferências de variáveis inerentes à própria pessoa, do ponto de vista físico ou psíquico, bem como do contexto socioeconômico, político e da própria existência (SÊCCO et al.,2002).

        Para CEL (1990), acidente de trabalho é quando existe uma colisão repentina e involuntária entre pessoa e objeto, ocasionando danos corporais (lesões, morte) e/ou danos materiais. Por ser repentino, o acidente se diferencia da doença ocupacional adquirida em longo prazo.

 

Art.19.Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho(BRASIL, 1991; p 16).

A Lei n. 6.367, de 19 de outubro de 1976, equipara ao acidente de trabalho a doença proveniente da contaminação acidental do pessoal da área médica. Os acidentes envolvendo material biológico, freqüentes entre os profissionais de saúde, não se enquadram na definição legal. Contudo, suas conseqüências, a curto e médio prazo, fazem com que seja de fundamental importância o seu registro junto aos serviços competentes da unidade hospitalar (BRASIL, 1976).

 

Marziale e Rodriguez (2002) enfatizam que o acidente de trabalho deve ser comunicado imediatamente após sua ocorrência, por meio da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que deve ser encaminhada à Previdência Social, ao acidentado, ao sindicato da categoria, ao hospital, ao SUS eao Ministério do Trabalho.

Os profissionais da equipe de enfermagem, especialmente aqueles da assistência hospitalar, estão expostos à ocorrência de acidentes de trabalho de variadas naturezas, resultantes dos processos de trabalho desenvolvidos por eles.Entre os agravantes que predispõem a estas ocorrências, observa-se a proximidade física necessária para prestação da assistência de enfermagem, bem como os processos de trabalho indiretos envolvidos na prestação desta mesma assistência(RIBEIRO,2008).

Dentre os acidentes de trabalho dos profissionais de enfermagem, os ocasionados por material pérfuro-cortante são frequentes devido ao número elevado de manipulação, principalmente de agulhas, que representam prejuízos aos trabalhadores e às instituições.

Considerando o ambiente de trabalho, o hospital é tido como insalubre, pois é vulnerável aos acontecimentos, pois agrupa pacientes portadores de enfermidades diversas. Além disso, alguns procedimentos podem oferecer riscos de acidentes e doenças para os trabalhadores de enfermagem durante a prestação da assistência ao cliente (ALMEIDA FILHO; BENATTI, 2006).

Silva e Zeitone (2009) realizaram um estudo descritivo exploratório, de abordagem qualitativa, tendo como objetivos: descrever os riscos ocupacionais no contexto de trabalho de uma equipe de enfermagem de uma unidade de hemodiálise; analisar o conhecimento desses trabalhadores acerca das medidas de proteção e segurança nesta unidade de saúde e, discutir o conhecimento desses trabalhadores sobre os riscos ocupacionais e as implicações para sua saúde.

Concluíram que os trabalhadores detêm conhecimento sobre os riscos ocupacionais e sobre as medidas de proteção e segurança, apesar de nem sempre aplicá-las na sua prática profissional. Foram citados como as principais implicações à saúde, os problemas respiratórios, de coluna e as doenças contagiosas. Para que tal situação seja minimizada, os autores supracitados sugerem que essa temática deveria ser incluída no currículo dos cursos de graduação de enfermagem e nos serviços de educação continuada das instituições, explicitando as medidas de segurança apropriadas à diminuição dos riscos ocupacionais, especificamente os químicos e seus efeitos adversos à saúde dos trabalhadores.

 

         Medeiros et al.2006), em seu estudo investigando as condições de trabalho e os riscos ocupacionais vivenciados pelos trabalhadores de enfermagem em um contexto de precarização do trabalho no setor público de saúde, observaram nas narrativas dos trabalhadores entrevistados, a ocorrência de falta de material básico de trabalho, como luvas, máscaras, papel e lençóis, falta de pias nos corredores, entre outros. Detectaram também um reconhecimento da insuficiência dos conhecimentos sobre riscos no trabalho, determinado fortemente pelo caráter mutável deste.

Outro aspecto relatado foi a importância de atualizações para uma maior adesão às boas práticas procedimentais.

Outro estudo realizado por Veiga (2007), uma pesquisa qualitativa com 53 trabalhadores de enfermagem de uma unidade hospitalar federal,teve como objetivo analisar a percepção dos trabalhadores de enfermagem em uma unidade materno-infantil sobre as condições de trabalho, os riscos ocupacionais e os problemas de saúde apresentados pelos mesmos. O estudo demonstrou que a maioria das mulheres tem dupla ou tripla jornada de trabalho e,na percepção dos entrevistados, o trabalho é penoso, o ambiente os expõem a riscos e condições inadequadas que resultam em problemas de saúde e índices de absenteísmo elevado.

Sarquiset al.(2004) enfatizam que os primeiros estudos já demonstravam que a saúde do trabalhador de enfermagem estava comprometida. Este comprometimento, em parte, pode ser detectado através da elevada incidência de acidentes de trabalho e doenças profissionais.

Analisando o conceito de risco, pode-se dizer que ele se refere à identificação dos possíveis agentes capazes de interferir na saúde da população.         

      Nesse sentido, ao salientar a existência do multi emprego em todos os níveis do setor da saúde, especificamente na enfermagem, é importante ressaltar os efeitos da acumulação de escalas de serviço e o conseqüente aumento da jornada de trabalho. A esses fatores, somam-se as características tensiógenas dos serviços hospitalares, tanto pela natureza do cuidado prestado às pessoas em situações de risco como pela divisão social do trabalho e hierarquia presentes na equipe de saúde. Observa-se a importância do sofrimento psíquico como uma questão primordial, uma vez que o profissional freqüentemente lida com a dor e o sofrimento do outro. Além disso, podem existir situações em que o conteúdo do trabalho não lhe é favorável e eleva o risco de agravar a saúde deste trabalhador (MEDEIROS et al.,2006).

    

   Martins et al. (2000), em seu estudo mostram que existem algumas condições que contribuem para o estresse dos enfermeiros no âmbito hospitalar, sendo o tipo de trabalho, um deles. Citam o trabalho por turnos como uma prática freqüente e necessária em várias organizações. Trata-se de um tipo de horário que afeta consideravelmente os técnicos de saúde. Consideram também a sobrecarga de trabalho, já que esse excesso, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, é uma fonte freqüente de estresse.

         Outro estudo encontrado, realizado por Del Valle Royas e Marziale (2001), cujo objetivo foi caracterizar a situação de trabalho do pessoal de enfermagem num hospital argentino, através da identificação das características dos trabalhadores, das atividades executadas e do ambiente laboral, mostrou que existem vários fatores que contribuem para as condições de trabalho do enfermeiro, entre as quais se destacam: (a) características das atividades de trabalho, em que os autores destacaram que, embora as atividades formais encontraram-se legalmente estabelecidas, foi efetivamente observada que os enfermeiros e os auxiliares de enfermagem executavam as mesmas tarefas. A maioria dos sujeitos considerou significativa a demanda de esforço físico e mental para a execução das tarefas                                                                         de enfermagem; (b) a falta de treinamento foi apontada como um problema a ser resolvido; e (c) a falta de informações dos trabalhadores sobre os agentes de riscos peculiares ao ambiente de trabalho.

No trabalho hospitalar, as atividades exercidas pelo enfermeiro requerem atenção constante, pois caso haja qualquer intercorrência em ambos os contextos –assistencial ou administrativo –deve ser solucionada imediatamente, estando esse profissional em constante estado de alerta para desempenhar atividades altamente estressantes.

 

Esses mesmos autores mencionam as cargas psíquicas às quais os trabalhadores de enfermagem estão expostos,tais como: atenção constante (pacientes sedados, inconscientes, anestesiados e que necessitam de vigilância); supervisão estrita (controle e falta de autonomia, de criatividade e não participação na tomada de decisões); ritmo acelerado; trabalho parcelado, monótono e repetitivo (forma como o trabalho é organizado e dividido); comunicação dificultada (tempo restrito imposto pelo ritmo de trabalho); trabalho feminino (dupla ou tripla jornada); desarticulação das defesas coletivas; agressões psíquicas (verbais de pacientes, desconsideração pelas atividades técnicas); fadiga; tensão; estresse; insatisfação.

Silva;Melo (2006) destacam a Lei n° 3.048, de 06 de maio de 1999, que reconhece o estresse e a depressão como doenças do trabalho que podem vir a se tornar um grave problema de saúde pública. Os autores consideram este fato relevante, uma vez que o trabalho dos profissionais de enfermagem é referido por diversos autores como estressante, destacando-se como uma das profissões passíveis de desenvolvimento da síndrome de Burnout ― fase mais avançada do estresse que leva ao esgotamento ― e que se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais que

mantêm relação constante e direta com outras pessoas, principalmente, quando esta atividade é considerada de ajuda.

Martins (2003) em seu estudo sobre as situações indutoras de estresse nos enfermeiros no ambiente hospitalar, concluiu que a sobrecarga de trabalho, a falta de relacionamento e comunicação, características da instituição foram alguns agentes estressores encontrados em seu estudo. Como sugestões para melhorar estes agentes estressores o autor destacou algumas delas, como:a melhoria no planejamento do trabalho o aspecto de humanização e adequação dos recursos Humanos.

3.2 RESULTADOS

Silva; Marziale (2006), em seu estudo para identificar os problemas de saúde que acometem os trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário, concluíram que os índices de absenteísmo e doença entre os trabalhadores de Enfermagem apresentavam-se elevados. Alguns dos problemas de saúde apresentados podem estar relacionados às condições de trabalho peculiares da enfermagem e ao ambiente laboral, devido à presença de agentes de risco (biológicos, químicos, físicos, ergonômicos e psicossociais), indicando a necessidade de uma análise aprofundada e diferenciada dos vários setores do hospital. Os autores ressaltaram que a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores interferem na qualidade da assistência prestada ao paciente nos hospitais, havendo necessidade de seus gerenciadores voltarem sua atenção e investirem em questões fundamentais como adequação dos recursos humanos e do ambiente de trabalho, equipamentos, tecnologias empregadas e principalmente na saúde de seus trabalhadores.

       Fica claro ser necessário compreender que os assuntos relacionados à saúde do trabalhador de enfermagem não podem ser analisados isoladamente às condições de vida no trabalho, bem como aos fatores determinantes para riscos de acidentes, doenças profissionais e do trabalho.

      Na opinião dos trabalhadores de enfermagem, constituíam-se problemas no seu ambiente laboral principalmente a falta de

organização do trabalho e a dificuldade de comunicação e relacionamento inter e intra-equipes de enfermagem e médica.

      Os trabalhadores também demonstraram falta de conhecimentos sobre os riscos ocupacionais presentes no ambiente de trabalho. Visando a melhoria das condições de trabalho destes profissionais, os autores supracitados sugerem: motivar a participação conjunta da gerência, dos trabalhadores de especialistas (assessores) com vistas a discutir a organização do trabalho; utilizar estratégias para melhorar o relacionamento e a comunicação intra e inter-equipes; oferecer treinamento e programas de reciclagem; orientar os trabalhadores quanto aos

fatores de risco do ambiente hospitalar e das atividades executadas; conscientizar e estimular os trabalhadores ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI); reorganizar a distribuição de atividades do trabalho de acordo com cada categoria profissional; adequar ergonomicamente os espaços físicos, equipamentos e mobiliários, de acordo com os padrões antropométricos dos trabalhadores; adequar a temperatura, o nível de ruído e a iluminação dos postos de trabalho; incentivar a realização de pesquisas e aplicação dos resultados das mesmas a fim de adequar a prática profissional e a situação de trabalho(SILVA; MARZIALE,2006).

No ambiente hospitalar, o trabalho dos enfermeiros é um tipo de trabalho desenvolvido em circunstâncias altamente estressantes que podem levar aos inúmeros problemas como: desmotivação; insatisfação profissional; absentismo; rotatividade e tendência a abandonar a profissão. No que se refere ao horário de trabalho, os enfermeiros devem trabalhar por turnos de 8 horas que podem ser praticadas no período da manhã (das 8 às 16 horas), da tarde (das 16 às 24 horas) e da noite (das 24 às 8

horas). Na maioria das vezes, o número de horas trabalhadas pode ainda ser prolongado por diversos motivos, excesso de

atividades a realizar, tempo gasto na passagem de turno (transmitindo informação), atraso por parte dos colegas, ou ainda situações inesperadas e urgentes relacionadas aos doentes.

  Verifica-se, porém, que o acréscimo de horas trabalhadas fora do horário normal de serviço dos enfermeiros não é objeto de qualquer compensação. (VEIGA, 2007).

                                                                                 

  A partir da análise do estudo realizado, pode-se evidenciar que os trabalhadores de enfermagem estão expostos aos mais diversos riscos ocupacionais, visto que os resultados encontrados mostram riscos físicos, ergonômicos, biológicos e químicos a que esta categoria está exposta. As condições de trabalho em conjunto com os riscos a que se submete esta categoria. contribuem para situação de saúde-doença destes trabalhadores.           Fica, portanto, a contribuição deste estudo mostrando que, apesar do conhecimento dos riscos, aplicação prática de medidas com vistas à diminuição da exposição aos riscos e, até mesmo,

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do adoecimento desses trabalhadores.É de suma importância àmelhoria nas condições ambientais e no exercício do trabalho para diminuir a ocorrência de acidentes, prevenir o surgimento de doenças ocupacionais, diminuir o absenteísmo,valorizar a autoestima e proporcionar melhora contínua da qualidade de vida (ALVES, 1996).

 

3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou identificar e descrever as condições de trabalho e de saúde dos enfermeiros.A partir dos dados ficou evidente que os trabalhadores de enfermagem estão expostos a diversos riscos ocupacionais. Acredita-se que seja necessário investir no processo educativo e, em prevenção e controle do ambiente de trabalho, através de treinamentos, cursos e palestras visando reduzir a exposição aos riscos e prevenir o surgimento das doenças ocupacionais.

Destaca-se, ainda, a importância do Serviço de Saúde do Trabalhador para acompanhar as condições de saúde e do ambiente de trabalho, implementando medidas de promoção e prevenção da saúde dos trabalhadores. No entanto, nenhuma política de gestão do trabalho se desenvolverá de modo efetivo sem o apoio de uma política de saúde do trabalhador de saúde. Em especial no nível da atenção básica, há que reconhecer a dívida sanitária com seus trabalhadores, já que as especificidades do trabalho neste nível são pouco contempladas do ponto de vista normativo e das ações de prevenção e controle. Além da busca do estabelecimento dos fatores determinantes destes problemas de saúde, deve o SUS desenvolver processo de avaliação, prevenção e controle de riscos e danos ocupacionais que atendam às necessidades de saúde dos trabalhadores que atuam nas unidades de saúde da Atenção Básica.

Embora reconheçamos que no ambiente hospitalar há inúmeros fatores que podem interferir na saúde dos trabalhadores sugerimos que os pesquisadores da área possam também voltar suas análises para outros cenários nos quais o trabalho em saúde ocorre,como os centros de saúde, instituições de ensino e ambiente domiciliar. Espera-se que este estudo seja ponto de partida para uma nova era do conhecimento, com visão integrada na qual o conhecimento dos riscos e a aplicação das medidas de proteção e segurança da equipe dos trabalhadores de enfermagem.

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[1] Enfermeira, Pós-Graduanda do Curso de Enfermagem do Trabalho da Universidade Iguaçu. [email protected]

[2] Enfermeira Mestre em Enfermagem/ EEAN/ UFRJ, Coordenadora e Professora do curso de Pós-graduação em enfermagem do Trabalho [email protected]