CONCORDÂNCIA  UNIVERSAL  (parte 5)

                    (tese pluralística)

 

Assim sendo, vimos que o nosso interior é arredio à paralisação e está sempre mudando, conquanto tenhamos um caráter mesmo, único, mas mutável pelas eventualidades, pela Lei imposta à natureza de tudo, desde sua mais recôndita estruturação no seio das coisas.

 

No meu caso, e, por não se contentar, notava que meu psiquismo queria avançar, e, exigia sempre, de mim mesmo, alguma coisa mais: fosse por minha vontade, fosse pela intervenção da Lei progressiva de todas as coisas. A recapitulação íntima e pessoal, repleta de conhecimento já forjado e adquirido, não se encerrava, não fechava suas portas para a minha curiosidade, minha eterna e incessante busca do saber. Sobretudo no que se refere à nossa origem espiritual, minha Razão não se aquietava, e, por vezes, me trazia aborrecimentos por querer e não ter como conhecer motivos mais razoáveis da adversidade e da dor na intimidade animal.

 

Seria tal como se houvesse dois “eus” manifestando-se em mim mesmo, ou seja: o do pretérito, sintetizado em minha personalidade inconsciente, e o outro “eu” consciente, da vida de relação presentemente vivida e experimentada. Noutros termos: havia uma solução plausível e já estabelecida nos arcanos inconscientes de mim mesmo; como também havia e há uma solução já revelada em nosso mundo terreno pela obra ubaldiana, e que eu estivesse bem próximo de ambas, mas não conseguia obtê-las, contudo.

 

E Kardec, e seus seguidores até Xavier, não resolviam o problema.

 

Fundamentados apenas no que se pode denominar: Modelo Evolutivo, eles não solucionavam o problema. Ora, mas então os animais, na condição de Almas Simples e Ignorantes, sofrem tanto sem saber o porquê dos seus sofrimentos? Mas então se peleja e se experimenta, sem o conhecimento mínimo de suas razões?

 

 

 

Se no plano das humanidades, com a consciência desperta para o mundo, sabemos as razões do nosso sofrimento, e, muitas das vezes por erros e por causas pretéritas, o mesmo não se pode dizer da adversidade no animal, que sofre sem o saber, e apenas e tão somente porque Deus assim O quer? Ora, nos planos mais baixos, o entendimento, a consciência e o saber ainda não se despontaram na forma esclarecida e dinâmica dos que já transitam pelos planos conscienciais da humanidade universal, como nós mesmos.

 

Mas este não é o entendimento doutrinário?

 

Do ponto de vista exclusivamente doutrinário, ou seja, do Pentateuco Espírita e das obras que se lhe acompanham e se lhe seguem, sim. É o que está codificado por Kardec e outros mais. Neles temos o entendimento claro e preciso de que os Espíritos são criados Simples e Ignorantes (ESI), mas com propensões para desenvolver suas habilidades latentes durante um longo percurso de aquisição psíquica e consciencial no que se pode conceituar como: Modelo Evolutivo. E mesmo o esclarecido Emmanuel, apesar de prefaciar a mais importante obra de Pietro Ubaldi endossando sua veracidade e, portanto, a veracidade das demais de sua autoria, apesar disso, sua obra, ou seja: de Emmanuel e de Xavier, também está enquadrada neste mesmo entendimento de progressividade anímica a partir de tal ponto:

 

-De uma Individualidade Simples, Tabula Rasa, ou seja, sem conhecimento algum (ESI), mas que, durante o longo trajeto evolutivo nas adversidades e nas dores, de progresso em progresso, de conquista em conquista, chegar-se-á aos seus antípodas, ou seja, a uma nova e superior condição de Espírito Puro e Consciente (EPC).

 

E alguns ainda questionam: Mas, então, qual é o problema?

 

E, não vês? Ora, então Deus, que é a Perfeição, cria Espíritos Simples e Ignorantes (ESI), os cria de forma imperfeita e depois os aperfeiçoa pelos inumeráveis problemas, em suma, pela adversidade e pela dor contida nos processos evolutivos dos diversos reinos subumanos?

 

 

Minha consciência desperta não aceitava esse erro da natureza, não admitia o erro contido na Perfeição Divina que, sendo a Perfeição, não poderia errar e criar Espíritos de uma simplicidade extrema, pequeninos, inocentes, para fazê-los sofrer, corrigindo-os pelos milênios sem conta de sua progressividade espiritual. Óbvio que nem tudo estamos aptos a compreender, faltando-nos o desenvolvimento de outros sentidos, outras faculdades para maior compreensão dos numerosos problemas que se nos levantam. Mas a minha Razão tinha suas razões para descrer de tal posicionamento doutrinário.

 

E, como já proferi alhures: o dúplice fator: simplicidade-ignorância do ESI criado não combina com o dúplice fator da Divindade: Complexidade-Sabedoria e muito menos com a dor a ser experienciada pelo pequenino ser para a sua paulatina evolução. Ora, o ESI não pecou, não cometeu nenhum ato infrator para com a Lei, então porque tão injusto meio de se progredir pelos numerosos séculos e séculos dos mundos universais? Ora, no que resultariam os dons da Divindade, tais como os da Sabedoria, da Justiça e do Amor com tamanha falta de sabedoria, de justiça e de amor?

 

Tortura é crime mesmo para as leis humanas, quanto mais não o seria para um Criador Insano e Cruel? Um Criador que mais se coaduna com o Deus Irascível, Temeroso e Vingativo do Velho Testamento.

 

Com efeito, é impossível conciliar a grandeza divina com tamanha pequenez genética e progressiva na dor. E, se eu, tão pouco sapiente como sou, de tão pouca grandeza e de tão pequenina justiça, ainda apegado ao egoísmo e ao desamor, posso pensar tal como ouso pensar, quanto mais e quanto maior não pensaria Deus em termos de Sabedoria, de Justiça e de Amor? E o Espiritismo, em sendo o Cristianismo Redivivo, não poderia e não pode, em tempo algum, contrariar o Deus-Amor das máximas cristãs. E, por isto, Erasto, numa comunicação referente a esta questão dos ESI, observou sabiamente:

 

“Compreendei, se o puderdes, ou esperai a hora de uma exposição mais Inteligível, isto é, mas ao alcance do vosso entendimento”. (Vide: “Revista Espírita” – Allan Kardec – Março de 1864 – Edicel)

 

Prestando, pois, uma informação absolutamente precisa de que tal questão, dos Espíritos terem sido criados Simples e Ignorantes (ESI), precisaria ser re-analisada e aprofundada no futuro, nos desenvolvimentos lógicos do Espiritismo filosófico e doutrinário.

 

E assim, de dúvidas e mais dúvidas levantadas, de questionamentos e interrogações que este autor viera a fazer a si mesmo e aos seus superiores hierárquicos, seu resultado viera culminar no conhecimento da luminosa filosofia universalista unitária de Pietro Ubaldi, que teve o dom e a capacidade de resolver a contenda que se debatia dentro de mim, que me incomodava e me afligia o ser.

 

Por ela se pode constatar que o Espírito Simples e Ignorante (ESI) decorre de um fenômeno cíclico involutivo que, para o nosso parco entendimento, podemos classificar como uma despotencialização psíquica de criaturas conscientes (EPC), porém rebeldes à Lei, criaturas provenientes de uma condição espiritual genética anterior ao universo físico e astronômico de nossa subida evolutiva. Neste caso, a simplicidade e inocência dos ESI, no presente, são apenas aparentes, pois que, em sua latência psíquica, em seus arcanos psicológicos, trata-se de um indivíduo que tinha consciência do erro que praticara e mesmo assim viera a errar, se rebelara, e agora quita seus débitos no lento despertar das adversidades e da dor, evoluindo paulatinamente.

 

A adversidade e a dor hoje vividas pelo ESI no processo evolutivo decorrem, pois, de uma doentia situação psicológica anterior; decorre, pois, de seus próprios atos, de sua livre consciência, rebeldia e insatisfação como EPC, que redundara no fenômeno involutivo e todas as suas conseqüências despertadoras evolutivas mostrando que: a Dor resulta da Rebeldia, e a Evolução decorre da Involução. Situação que levanta a hipótese do Princípio Doutrinário Completo dos ESI, ampliando o Espiritismo de Kardec na sentença de que:

 

“Os Espíritos Simples e Ignorantes (ESI) que iniciam sua potencialização intelecto-moral nas engrenagens da Evolução, decorrem de uma restrição psíquica anterior determinada pela Involução dos Espíritos Puros e Conscientes (EPC) rebeldes à Lei”.

 

E indicando, pois, que se trata de uma cura; a vida biológica e material saneia os males da criatura rebelde que, por não saber valorizar a felicidade que Deus lhe concedera no ato da criação, vai tudo reaprender pelas adversidades e pela dor, curando-lhe os males de sua própria incúria e insatisfação dos tempos primordiais.

 

De tal forma que, na medida em que se processam estímulos evolutivos, ou, de ampliação consciencial no ESI, tais estímulos excitam-lhe, igualmente, as tendências negativas do trágico passado e que precisam dissipar-se em prol das positivas, e daí mesmo, em sua reeducação evolutiva, verificar-se a lentidão dos progressos experimentados pelo ser que vai reconstruindo o equilíbrio espiritual, a anterior normalidade psíquica de obediência e de docilidade para com tudo quanto vige em seu mundo originário, de Plena Espiritualidade em Deus.

 

Eis, pois, a solução... Eis, pois, a montagem do quebra-cabeça da enigmática mecânica funcional do universo, do como e do porque ele se materializara; do como e do porque ele, um dia, por meio da Evolução, da Matéria ao Espírito, vai então retornar à sua essencialidade divina, pois que estará de retorno às suas origens de onde procedera por Involução.

 

E, por isto, defendo o axioma contido na ‘Lei de Causalidade Ampla’ preconizando que:

 

“Não há efeito sem causa: a Involução, como Função Contrativa da Consciência (FCc) se dera pela rebeldia da criatura; e a Evolução, como Função Distensiva da Consciência (FDc) se dá por sua cura na adversidade”.

 

 

(fim da parte 5)

 

Propositor: Fernando Rosemberg Patrocínio

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