Quando pensamos sobre a história da criança e da infância, fazemos isso com um olhar no passado, pois os conceitos referentes à criança e à infância se complementam e são culturalmente determinados e historicamente construídos.
Segundo Sarmento a infância tem sofrido um processo de ocultação, há uma ausência de infância:
Esse processo de iluminação-ocultação exprime-se nos saberes constituídos sobre as crianças e a infância: tanto dela sabemos quanto, numa ciência que tem sido predominante produzida a partir de uma perspectiva adultocentrada, as vivências, culturas e representações das crianças escapam-se ao conhecimento do que temos.
A criança está a margem, ela não é adulta, mas não é tratada como uma criança, há uma invisibilidade histórica e cívica da infância, no que respeita a ideia ou margem de infância no passado, que correlata da marginalidade social em que foi dita.
O sentimento de infância, então, configura-se como um aspecto de relevância que se vislumbra, que torna possível uma visão mais ampla, pois a ideia de infância não está vinculada unicamente à faixa etária, à cronologia, a uma etapa psicológica ou ainda a um tempo linear, mas sim ao acontecimento, a uma história. Infância, nesse, sentido, é aquela que constitui um modo de vida, que inspira maneiras de pensar, que cria momentos de viver.
Para Sarmento:
As condições sociais e culturais são heterogêneas, mas incidem perante uma condição infantil comum: a de uma geração desprovida de condições autônomas de sobrevivência e de crescimento e que está sob o controle da geração adulta. A condição comum da infância tem a sua dimensão simbólica nas culturas da infância.
O olhar sobre a infância e a criança e ainda sua valorização nas sociedades não ocorrem e nem ocorreram sempre da mesma maneira, e sim da forma como a organização de cada sociedade e suas estruturas culturais, sociais e econômicas estavam no momento. Porém, mesmo no interior do mesmo espaço cultural, a variação das
concepções da infância é fundada em variáveis como classe social, o grupo que pertença étnica ou social, religião predominante, o nível de instrução da população.
Pensar a infância e a criança fora do contexto histórico é reduzir seus significados, significa considerá-la apenas como um organismo em desenvolvimento, ou simplesmente uma categoria etária, esquecendo-se de que a criança é uma pessoa enraizada em um tempo e um espaço, uma pessoa que interage com outras categorias, que influencia o meio onde vive e também é influenciado por ele.
Destacamos o quanto a palavra infância é complexa, pois o que a criança vive é infância, mas depende de muitos fatores. Se a criança vem de classes baixas, onde a pobreza é um fator crucial, levando ao trabalho, ou das classes da burguesia, onde as crianças não possuem carências materiais, faz toda a diferença para a maneira como ela viverá sua infância.
Conforme Sarmento, independente da idade, devemos dar voz a criança, ouvir a criança, não podemos desconsiderar o que já existe, o direito de ir e vir, de cuidados. A sociologia da criança diz: a criança não pode ser vista do adulto para a criança, devemos exercer o direito de democracia, dar o direito a criança de participação.
Para a autora Saião, ser criança é algo singular cada um é um ser único. Porém o sistema de poder maltrata as crianças, as ricas são tratadas como dinheiro e as crianças pobres são tratadas como lixo. E mantém atadas às patas do televisor as crianças de classe média. O sistema trata como descartável aquilo que é temporário.
Nesta perspectiva, para dar visibilidade à infância, é preciso compreender os sistemas culturais que engendram e quais as relações que esta estabelece com os outros membros de seu grupo e de outros grupos.
A autora faz uma defesa que há um abandono da cultura infantil, falam segundo o que os adultos falam sobre elas e segundo as culturas dos adultos. Relacionam às culturas da infância estas experiências se misturam no plano da realidade e do imaginário, visto que as crianças pensam sob a ótica do imaginário da fantasia e não da realidade.
Sarmento e Pinto, ainda afirmam que “ser criança varia entre sociedades, culturas e comunidades, podem variar no interior fratria de uma mesma família e varia de acordo com a estratificação social. Do mesmo modo, varia com a duração histórica e com a definição institucional dominante em cada época”...