Autora: Kelly Porto Ribeiro, Radialista graduada em Comunicação Social com ênfase em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo.

 

 

 

CONCEITOS DE FOTOGRAFIA E VÍDEO: COMO COLOCÁ-LOS EM PRÁTICA

 

 

 

Introdução

        O estudo e prática na criação da imagem é algo cada vez mais requisitado em profissionais como designers, comunicólogos, fotógrafos, cineastas, artistas plásticos e tantos outros.

        Na área Audiovisual, especificamente, são importantes a todos os profissionais o conhecimento básico de alguns conceitos de direção e direção de fotografia e o entendimento dos diversos elementos que compõe uma imagem.

        Este é um texto didático que tem como objetivo, portanto, apresentar os princípios fundamentais para a composição de imagens fotográficas e videográficas, apresentando as principais técnicas, mas estimulando também o exercício destas em função de um aprimoramento artístico e crítico da imagem.

Equilíbrio da Imagem

        O equilíbrio de uma imagem pode ser alcançado pelo arranjo harmônico de formas, volume, localização, cores, conceituação e áreas de luz e sombras que se complementem mutuamente.

        A capacidade para selecionar e dispor os elementos depende, em grande parte, do ponto de vista do fotógrafo ou cinegrafista. Muitas vezes uma alteração, mesmo que mínima, pode alterar drasticamente o equilíbrio da imagem.

        Para os estudantes, aprendizes e profissionais da área Audiovisual é essencial explorar tanto o equilíbrio simétrico, como também não simétrico da imagem, como forma de treinar o olhar analítico e crítico. Experimentos nos auxiliam a conhecer e compreender melhor os diferentes padrões técnicos e artísticos.

 

Foco

        É o ponto para o qual os raios de luz convergem resultando em um efeito ótico de nitidez da imagem. Tanto na fotografia, como no vídeo, o foco é ajustado para que possamos distinguir melhor o objeto/tema de maior importância.

        Na fotografia e no cinema é muito comum a mudança de foco como efeito de linguagem/estética. Em um filme, por exemplo, podemos ver nitidamente o objeto de primeiro plano nítido que, com a mudança de foco, torna-se indefinido, deixando o segundo plano da imagem focalizado. O contrário também é possível; podemos ver com clareza a imagem em segundo plano e com a mudança de foco temos então o objeto de primeiro plano em destaque.

Perspectiva

       

        É o melhor procedimento para se criar uma sensação tridimensional em fotografia. O olho estima a distância entre objetos através de uma analogia baseada na diminuição de tamanho e no ângulo de convergência das linhas. A sensação de profundidade, que é puramente ilusória, dependerá da objetiva e da distância real.

Faz parte do estudo da perspectiva o conceito de ponto de fuga, que consiste em no local de intersecção de duas ou mais linhas paralelas partindo do ponto de vista de um observador fixo. O ponto de fuga também se refere à linha do horizonte e, a partir dele, podemos construir a relação proporcional entre todos os elementos da cena.

        A perspectiva é muito usada também na pintura. Muitos conceitos desta técnica, hoje presentes na fotografia, advém daqueles usados ainda no movimento Renascentista. Algumas obras deste período em que podemos notar o uso de perspectiva são: A Escola de Atenas (Rafael Sanzio) e A Entrega das Chaves a São Pedro (Pietro Perugino).

        

Ritmo

         Importante para o equilíbrio da fotografia, o ritmo é a repetição harmônica de um elemento dentro da cena. Normalmente, o ritmo na foto nos proporciona uma sensação de ordem, regularidade e organização.

        Esta técnica pode ser produzida com quaisquer elementos, desde os geométricos até o que há de mais orgânico, como árvores, por exemplo. O que determina o ritmo não é o elemento em si, mas a forma como este é disposto dentro da cena. Geralmente o princípio de ritmo vem acompanhado do princípio da perspectiva, já citado anteriormente.

 


Ruído


         Em uma imagem dá-se o nome de ruído a pequenos pontos multicoloridos que, na realidade, não fazem parte do assunto fotografado. Normalmente é considerado como um problema na fotografia digital, a menos que seja um efeito produzido de maneira proposital. O efeito de granulação, originado do filme fotográfico, também é considerado ruído.

        Quanto maior a sensibilidade da câmera fotográfica ou filmadora usada, maior é a probabilidade de a imagem conter ruído. Também podemos notar um aumento de ruído proporcional à duração da exposição e temperatura.

Também pode ser considerado como ruído qualquer elemento que estiver fora de contexto ou interferindo no equilíbrio e na estrutura da imagem.

Zoom

         Um zoom ocorre com a aproximação (zoom in) ou distância (zoom out) da imagem, ampliando ou reduzindo o objeto/tema de atenção. No vídeo, apresenta um efeito mais natural quando usado de modo sutil, com a aproximação ou o distanciamento provocados vagarosamente. Caso seja utilizada de maneira rápida pode causar a sensação de impacto ou choque.

        O zoom é muito utilizado na televisão para efeitos de destaque ou sensacionalismo em noticiários. O uso seguido de zoom in e zoom out pode causar certo desconforto no espectador, mas é muito comum em filmes e programas de TV de gêneros humorísticos, como o programa Pânico na TV.

 

Luz

        A luz na fotografia é essencial, não só para que o processo aconteça, como também para criar sensações, volumes e texturas. Por meio do jogo de luzes e sombras damos relevo às imagens, tanto na fotografia, como também em vídeo.

        Já na pintura grandes mestres como Leonardo da Vinci, Caravaggio, Van Eyck, Van Gogh e Monet estudavam os efeitos da luz e da sombra, aplicando-nos em suas obras. Alguns exemplos de pinturas que podem ser analisadas em relação a esse aspecto são: a série de pinturas da Catedral de Rouen (Monet), A Ceia (Caravaggio) e Os Comedores de Batata (Van Gogh).

        A história da arte, aliás, é disciplina essencial para os que buscam aprimorar-se em estética imagética e audiovisual. É preciso analisar e compreender as técnicas de cor e luz antes de aplicá-las em seu trabalho.

        

Técnicas de Iluminação

        A iluminação representa um importante fundamento para o trabalho de fotografia ou audiovisual. A correta combinação de luzes no espaço nos permite ver com clareza cada elemento de cena e as expressões de personagens ou das pessoas presentes.

        No caso da dramaturgia, a luz agrega mais funções contribuindo essencialmente com a carga dramática e definição da estética do produto, seja ele filme, série de TV, videoclipe, publicidade, etc.

        O diretor de fotografia é encarregado de verificar, junto à equipe de iluminação o modo com a luz será usada no set de gravação, de modo que preencha todos os espaços e componha a imagem conforme foi idealizada.

        Segue abaixo uma descrição com os princípios básicos de iluminação para fotografia e vídeo:

  • Luz Pincipal, Chave ou Key Light: É a principal fonte de luz, de temperatura quente, similar à luz do sol. Produz sombras bem marcadas.  

 

  • Luz Secundária, de preenchimento ou Fill Lingth: É mais suave que a luz principal e preenche as sombras de modo sutil, para que consigamos enxergar detalhes na área sombreada sem cancelá-la totalmente.
  • Contraluz ou Back Light: Ilumina o objeto de trás, acentuando pontos de luz na cabeça e nos ombros. Ajuda a “descolar” o objeto do fundo criando a ilusão de profundidade.
  • Luz de Cenário ou Set Light: Ilumina o cenário.

Artifícios como gelatinas coloridas, difusores e outros são utilizados em estúdios e sets a fim de produzir a luz perfeita à obra ou produto visual.

White Balance

 

        O White Balance, ou Balanço de Branco é o sensor que registra a luminosidade refletida pelos objetos que estão sendo fotografados ou filmados, permitindo o ajuste adequado de cor de acordo com a iluminação do espaço.

        As câmeras não conseguem distinguir tão bem quanto o olho humano a cor branca, sendo necessárias algumas adaptações para que a cor seja captada da forma correta. Por isso, devemos ativar esta função na câmera apontando seu visor para uma superfície branca.


        O ajuste incorreto da função pode deixar a imagem azulada, esverdeada, amarelada, etc, causando um efeito indesejado (a menos que já tenha sido feito de forma intencional), por isso é importante o estudo de sua própria câmera e da melhor forma de manuseio.

Enquadramento

         O enquadramento é o campo visual capturado pela objetiva da câmera. A esse elemento capturado chamamos “plano”, o qual, mediante a disposição dos elementos, ganha diferentes valores significativos e diferentes tempos de leitura. São vários os tipos de enquadramento que se podem usar no momento de fotografar e filmar.

Tipos de Planos



        Considerando um homem, por exemplo, como elemento central de nossa cena, podemos dividir o espaço em três grandes áreas:

  • A que representa o ambiente, como um todo;
  • A que nos permite observar a ação executada pelo personagem;
  • A que nos possibilita analisar as expressões dos personagens ou algum outro detalhe específico da cena.

Desta forma há três grupos de planos: os que nos localizam no ambiente, os que se baseiam na ação da pessoa/objeto em questão e os que enfatizam expressões ou detalhes.


        Os planos de ambiente podem ser:

  • Plano Muito Geral: Plano bem aberto que contém, essencialmente, o ambiente. O elemento humano quase que não é visível na imagem.
  • Plano Geral: Plano aberto, baseado no ambiente, mas que permite a percepção do elemento humano na imagem. Este plano pode já contar com a ação de algum personagem, apesar da localização de espaço ainda ser o principal elemento.

Os planos de ação podem ser:

  • Plano Geral Médio (PGM) ou Inteiro: É aquele que é definido pela altura da pessoa, exibindo-a de corpo inteiro, da cabeça aos pés.
  • Plano Americano (PA): Neste plano, apesar do ambiente estar presente, o conteúdo principal é a ação das personagens. O limite inferior da imagem localiza-se na aproximadamente na altura dos joelhos do personagem/pessoa em questão.
  • Plano Médio (PM): Caracteriza-se fundamentalmente pela ação da parte superior do corpo humano. O plano é marcado pela posição da cintura do personagem e é considerado intermediário entre a ação e a expressão.

Os planos de expressão podem ser:

  • Plano Próximo (PP): Este plano é delimitado pela altura um pouco abaixo das axilas. Este tipo de plano privilegia o que é transmitido pela expressão facial. É muito usado nos âncoras de telejornais.
  • Grande Plano (GP) ou Close: É a expressão em sua máxima importância. O plano é delimitado pela parte superior dos ombros. Este plano retira a ação e o ambiente da imagem. Muito usado em filmes, novelas, seriados e videoclipes.
  • Muito Grande Plano (MGP) ou Super Close: Plano de expressão enfatizada. É um plano que, ao ser definido entre o queixo e a testa do personagem, permite que a carga dramática seja evidenciada.
  • Plano de Detalhe (PD): Foca apenas em uma parte do corpo ou objeto com o objetivo de chamar a atenção do espectador para este elemento. É muito usado em entrevistas, intercalando-se com os planos próximos, com a intenção de agregar maior dinamismo. Este plano proporciona também a carga emotiva máxima em dramaturgia. Um exemplo deste último caso é mostrar apenas os olhos da pessoa quando esta chora ou se emociona.

 

        Quando trabalhamos com vídeo, temos uma nova característica que modifica nossas imagens: o movimento. Em decorrência disso, há a adição dos planos de movimento, que atuarão em conjunto com os planos já descritos acima. Os mais comuns são:

  • Plano-Sequência: É quando a câmera filma uma sequência de ações ou cenas distintas sem cortes. Muito usado no cinema, videoclipes e algumas vezes em publicidade e vídeos institucionais.

 

  • Pans ou panorâmicas: A câmera se move em um plano horizontal, geralmente da esquerda para a direita, de acordo com nosso padrão de leitura. É um movimento sem cortes, que deve ser feito cuidadosamente, sem ser excessivamente rápido ou devagar.
  • Tilts: Desta vez a câmera move-se no sentido vertical, de cima para baixo ou vice-versa, sem cortes. Aqui também deve se controlar a velocidade de movimento para que o efeito seja natural e não incômodo.
  • Travelling: A câmera normalmente fica sobre trilhos e se movimenta realizando um percurso. É muito usado no cinema e cada vez mais na televisão, tanto em novelas, como também em programas de auditório e de gêneros diversos. Em alguns casos a câmera persegue o personagem ou objeto em questão (mais comum em filmes e séries).

Últimas Considerações

 

         A fotografia, assim como o cinema e o vídeo constituem verdadeiras formas de arte, fazendo de seus realizadores artistas completos, que atuam com um tipo de poesia visual e que, com suas obras, despertam emoções e sensações diversas no espectador.

        Entretanto, para se atingir o público como o intencionado, é preciso o domínio de algumas técnicas do fazer imagético. Se conhecermos e aprendermos a usar corretamente as ferramentas oferecidas para a produção fotográfica e audiovisual teremos em nossas mãos um poderoso arsenal para nossos trabalhos.

        Além disso, a área de Audiovisual e Fotografia está em constante atualização, dispondo de cada vez mais recursos, equipamentos e instrumentos úteis a serem utilizados. É importante o incentivo ao estudo técnico, criativo e crítico de obras, pois somente assim teremos profissionais qualificados para atuar nesta área tão fascinante.