UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE LINGUAGENS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

CURSO DE LETRAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PAULO MARCOS FERREIRA ANDRADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ATIVIDADE II

TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

 

CONCEITO E UTILIZAÇÃO DE MIMESE, CATARSE E VEROSSIMILHANÇA NA PRODUÇÃO LITERÁRIA MODERNA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cuiabá, MT

2013

 

PAULO MARCOS FERREIRA ANDRADE

ATIVIDADE II

TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

 

CONCEITO E UTILIZAÇÃO DE MIMESE, CATARSE E VEROSSIMILHANÇA NA PRODUÇÃO LITERÁRIA MODERNA

 

 

 

 

 

 

 

Atividade de Aprendizagem apresentado ao curso de letras Espanhol,da Universidade Aberta do Brasil,Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Linguagem,como parcial para avaliação na disciplina de Teoria Literária I Professor Dr.

Cuiabá,MT

2013

 

 

 

 

CONCEITO E UTILIZAÇÃO DE MIMESE, CATARSE E VEROSSIMILHANÇA NA PRODUÇÃO LITERÁRIA MODERNA

O que se pretende nesta produção é estabelecer o conceito de mimese, catarse e verossimilhança, logo evidenciar o uso destes elementos na literatura moderna, tendo Shakespeare como ponto de partida.

Mimese, a grosso modo, significa “imitação” e, nesse sentido, nos possibilita diversas interpretações da realidade, seja ela atual ou de outras épocas da historicidade humana. Numa visão platônica diremos que a arte, sob o prisma mimético, relaciona-se às opiniões e às aparências que representam o real. Portanto, a mimese representa a imitação das aparências, já que Platão vê a realidade como imagem, vulto do plano das idéias eternar.Por outro lado, Aristóteles relaciona o conceito de mimese à imitação das essências do mundo. Desta maneira, o imitar não estaria sujeito à mera duplicação de uma imagem referente, por exemplo.

A configuração mimética, de acordo com o ensinamento aristotélico, implicaria em um profundo conhecimento da natureza humana. Em síntese, pode-se entender que, hoje, a arte, por meio da mimese, recria a realidade, absorvendo sua essência revigorando-a. Criando seu próprio universo.

A meu ver é há exemplo contemporâneo da mimese, quando comparamos a situação de Severino personagem narrador de Morte e vida Severina poema de João Cabral de Melo Neto com um trecho da tragédia Édipo o Rei de Sófocles. A lermos a narrativa de Severino deparamo-nos com sua fuga da epidemia de fome que assola o nordeste, e ao tentar mostrar sua identidade se mostra como muitos outros nordestinos,  ao mesmo tempo que mostra um apelo, um pedido implícito de socorro

"— O meu nome é Severino,

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,deram então de me chamar

Ao mesmo que  Sófocles principia com uma súplica do  Sacerdote, diante do palácio do rei, fazendo um apelo a  Édipo que salve a cidade de Tebas assolada por males

"...Tebas, de fato, como podes ver tu mesmo,

hoje se encontra totalmente transtornada

e nem consegue erguer do abismo ingente de ondas

                      sanguinolentas a desalentada fronte

As mimética aqui traz àtona o contexto situacional existente nas duas obras marcadas pelos males que aflige tanto tebanos como nordestinos.

Atrelada ao conceito de mimese de Aristóteles, o objeto da arte se tornaria real na medida em que se dirigisse purificação que liberta os seres: a saber o nosso segundo elemento em questão a catarse.

Entendo a catarse como uma espécie de prazer próprio da tragédia, resultado da purgação do terror, da angústia, da piedade, felicidade que se evidencia na trama. Penso que no caso da tragédia avaliação positiva está na sua capacidade de levar o público à catarse.

Como Aristóteles mesmo diz:

O mais importante é a trama dos fatos, pois a tragédia não é imitação de homens, mas de ações e de vida, de felicidade [e infelicidade; mas felicidade] ou infelicidade reside na ação, e a própria finalidade da vida é uma ação, não uma qualidade. Os homens possuem tal ou tal qualidade, conforme o caráter, mas são bem ou mal aventurados pelas ações que praticam. Daí que na tragédia não agem as personagens para imitar caracteres, mas assumem caracteres para efetuar certas ações.

O que se percebe é que a vida se consolida essencialmente em ação, em decisão, deste modo está sempre em risco pois, a ação coloca o indivíduo numa linha de riscos. É isso que vemos no encontro de Édipo Rei com a Esfinge, tragédia de Sófocles. A mesma ação ora jubilosamente louvada e lembrada pela terrível desgraça dos acontecimentos que desencadeiam. Ele era mesmo um homem trágico, rodeado de elementos catárticos.

Em Romeu e Julieta de Shakespeare, se observa uma trama cercada de elementos catárticos. Pois a paixão que abrasa, leva o jovem casal a purgar o sentimento de piedade, de plena angústia ao lado da felicidade de ainda que mortos ficam juntos, e suas famílias tem suas divergências aparentemente resolvidas, imbuídas pela dor da perda. Diga-se de passagem a morte aqui nada tem de mórbido, mas muito pelo contrário, perfaz a condição de possibilidade da vida e da paixão ardente. Do mesmo modo, a dor e o sofrimento em seu contraponto com a alegria e o bem estar.

Já verossimilhança   cujo grau maior exigido pela ação é a necessidade que não precisa ser historicamente “verdadeira”, bastando que seja verossímil. Já que diria Aristóteles que “é melhor o verossímil que convença à verdade que não convença.” Isso soa meio paradoxal, todavia a de se concordar que a vida real é bem isto ao invés de uma verdade que deixa dúvidas, que provoca conflitos, porque não uma mentira que apazigua.

Quero me arriscar a trazer para foco do verossímil a obra Navio Negreiro de Castro Alves, o poeta que coloca a tragédia negreira no cenário da literatura. Se observarmos os versos desta obra identificaremos que a verossimilhança está presente na construção poética de Alves.

“Stamos em pleno mar...” não obstante o destino que reserva os negros tripulantes na nau seja trágico e violento a expressão usada pelo poeta dá uma sessão de liberdade e conquista. A expressão é verossímil por substituir realidade da prisão escravocrata pela ideia de liberdade e conquista simbolizada em “Stamos em pleno mar...” um lugar aprazível onde a imensidão recria a imagem de liberdade e harmonia. Essa ideia vai sendo reforçada com expressões do tipo:

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

 

Quando o navio encontrava alguma dificuldade durante seu trajeto, o comandante da embarcação ordenava que os negros moribundos ou mortos fossem lançados ao mar, como alternativa para reduzir o peso do navio. Nestes casos, o mar acabava se tornando a única saída dos negros para a luz, antes de chegarem aos destinatários do comércio. E pequeno navio de guerra continua ininterruptamente a cortar as águas “Como roçam na vaga as andorinhas...” indiferente a dor da trágica saga negreira, isso dá um certo sentimento de fábula ao texto que transfere a sórdida realidade ao doce roçar das andorinhas.

O que se pode dizer é que os conceitos aristotélicos aqui aludidos são universais que não se ultrapassam, pelo contrário se constituem ferramentas eficazes da poética contemporânea.

Referências

Aristóteles. A Poética. Trad. e Comentário Eudoro de Sousa. Lisboa: Casa da Moeda, 1990. pág.

RICOEUR, Paul. O Mal – Um desafio à Filosofia e à Teologia. Trad. Maria da Piedade Eça de Almeida. Campinas: Papirus, 1988.

VERNANT e Vidal-Naquet. Mito e tragédia na Grécia Antiga. Trad. Anna Lia A. de

Almeida Prado. São Paulo: Perspectiva, 1999.