Conceito de causalidade em Hume e a influencia da causalidade nas obras de Descartes.

 

                                                                                                                        Acadêmica: Beatriz Moro

RESUMO:

O presente artigo busca abordar o conceito de causalidade a partir do pensamento de David Hume, principalmente o conceito de causalidade apresentado no livro I do Tratado da Natureza humana. A relação da causalidade, ou seja, a relação entre causa e efeito. A associação de fatos passados que podem criar a ideia de causalidade através de objetos futuros  e a relação necessária entre os objetos para que possamos através de eventos futuros relacionar as suas causas a efeitos  que já ocorreram .E o conceito de causalidade também presente  nas obras  de  Rene Descartes

Palavras-chave: Causalidade, David Hume, Crença, Causa, Efeito, Experiência.

Introdução:

 

            O presente trabalho faz uma investigação sobre o problema da causalidade presente principalmente no livro I do Tratado da Natureza humana de David Hume. a relação entre causa e efeito  e sua influencia nos objeto e fatos uma relação entre.  A influência que a crença tem na causa  e efeito e sua importância para a explicação de muitos fatos relacionando assim os acontecimentos que muitas vezes não tem como serem explicado  através  da da ciência.  E o conceito de causalidade também presente nas obras de Rene Descartes, e a influência para a  comprovação  da existência de Deus .  A causalidade é importante  nas obras dos dois autores.

 

 

 

Conceito de causalidade em Hume:

Um dos assuntos que é abordado por Hume no livro I  do ‘’Tratado da Natureza Humana’’,  é a causalidade ou relação  entre causa e efeito. Hume trabalha esse conceito como sendo uma crença de um principio causal que tem uma relação com os fenômenos naturais, formando dessa maneira uma lei geral, universal, gerando através da  causa e efeito uma relação entre tudo o que acontece.  Concluindo que a uma ligação entre todas as coisas assim tornando a percepção possível entre a relação dos objetos e eventos. Um exemplo disso é quando damos existência a um objeto pela existência de outro ou relacionamos um evento como decorrência de outro. Pois se os objetos e todas as coisas não tivessem uma relação então somente o acaso poderia juntá-las, fazendo com que seja possível perceber uma relação entre eles alguma relação entre eles.  As qualidades que nos fazem muitas vezes associar algumas ideias podem ser: semelhança contiguidade no tempo ou no espaço e causa e efeito.

Creio que não haverá muita necessidade de provar que essas qualidades produzem uma associação entre ideias e, quando, do aparecimento de uma ideia naturalmente introduzem outra. (HUME ,2009,pg 35.)

Dois objetos segundo Hume que podem ser usados para entendermos a relação entre causa e efeito. Que podem estar conectados com a imaginação mas essa conexão não é só feita quando os objetos são parecidos em aparência, ou quando um objeto se torna  a causa do outro, pois podem ter  um terceiro objeto que pode manter relação com um dos objetos . Assim surgindo uma cadeia de ligações entre os. Mas ao longo que essa cadeia vai se formando ela vai ao mesmo, se tornando fraca, pois é difícil manter relação entre elas. Como vemos na citação a seguir:

Para que possamos compreender toda a extensão dessas relações, devemos considerar que dois objetos estão conectados na imaginação não somente quando um deles é imediatamente semelhante ou contíguo ao outro, ou quando é sua causa, mas também quando entre eles encontre-se inserido um terceiro objeto, que mantém com ambos alguma dessa relação. Esse encadeamento pode se estender até bem longe, embora, ao mesmo tempo, possa-se observar que, a cada interposição relação se enfraquece consideravelmente. Primos de quarto grau são conectados pela causalidade (se me permitem empregar esse termo), não de modo tão estreito quanto irmãos e menos ainda que uma criança e seus pais. Podemos observar, de maneira geral, que todas as relações de parentesco consanguíneo dependem da relação de causa e efeito, sendo consideradas próximas ou remotas segundo o número de causa e efeito, sendo consideradas próximas ou remotas segundo o número que causas interpostas entre as pessoas por elas conectadas. (. HUME,2009, p.36)

            Tem conhecimentos que dependem unicamente  das ideias que comparamos: semelhança,  proporção em quantidade ou também pode ser por números, graus em qualquer qualidade e contrariedade  e as que podem ser mudadas sem nenhuma mudança nas ideias que são as relacionadas: identidade, relação de tempo e lugar   e causação.  As relações que estão classificadas no primeiro tipo segundo Hume podem ser ‘’objeto de conhecimento e certeza, pois são consideradas como sendo o fundamento da ciência, sendo que das quatro caracterizadas três podem ser descobertas reconhecidas a primeira vista, ou seja, intuitivamente que são elas: semelhança, grau em qualquer qualidade ou contrariedade.  Sendo que somente vai requerer demonstração em que as quantidades e números não aparentem diferença diretamente ao olhar assim requerendo demonstração pra encontrarmos diferenças.

A geometria mesmo podendo ser considerado precisa  não atinge nem a perfeita exatidão nem a precisão pelo motivo que seus princípios se baseiam na aparência geral dos objetos assim gerando de certa maneira uma insegurança. Esse critério também pode ser aplicado a maior parte dos juízos fundamentais da matemática. As únicas disciplinas consideradas “científicas”  pois podem ser comprovadas são a  ‘’ álgebra e a aritmética ‘’ pois segundo Hume as demais cairiam  no domínio da ‘’probabilidade ‘’. Como vemos o exemplo a seguir:

Restam, portanto, a álgebra e a aritmética como as únicas ciências em que podemos elevar em que podemos elevar uma serie de raciocínios a qualquer nível de compressibilidade e ainda assim preservar sua perfeita exatidão e certeza. Aqui estamos de posse de um critério preciso que nos permite julgar acerca da igualdade e proporção de números. E conforme esses números correspondam ou não a tal critério, determinamos suas relações, sem probabilidade de erro. Quando dois números se relacionam de tal forma que cada unidade de um corresponde sempre a uma unidade do outro, afirmamos que eles são iguais. É por falta de critério de igualdade semelhante aplicável á extensão que a geometria dificilmente pode ser considerada uma ciência perfeita e infalível.(HUME,2009,p 99)

             Segundo Hume o que foi apresentado faz parte das quatro relações  fundamentam  a ciência e as três que não dependem da relação com as ideias podem estar ausentes ou presentes enquanto a ciência permanece a mesma, essas relações são a identidade, situações no tempo e no espaço ,e causalidade .Todos os raciocínios são formados de uma comparação, que podem ser constantes ou não, que podem ser entre dois ou mais objetos  e os dois objetos devem estar presentes nos sentidos, mas se torna valido  mesmo estando somente um objeto presente .

Segundo Hume os objetos se encontram presentes  no sentido junto com a relação  isso é chamado de percepção. Temos em nossa mente observações que podem ser tanto de identidade e as de tempo e espaço mas a mente  não consegue pensar além do que  se apresenta nos sentidos aos sentidos . A causalidade é a única que pode fazer com que o homem recorde através da experiência a existência de   algum objeto que havia sido perdida. Pode ocorrer de algumas das impressões que temos ultrapassar  as impressões que temos em nossos sentidos assim levando a conclui que ela tenha se fundado em um único lugar que é a relação de causa e efeito .

            Pois segundo o autor é um dos únicos modos que temos para que não sejamos enganados com os objetos que nos são apresentados, assim a identidade que temos sobre o objeto é formada através da conclusão que temos em relação a causa e efeito.  A compreender as impressões das quais a ideia de causação podem ser origem se faz importante também para que se torne possível a compreensão entre as ideias de raciocínio que a envolvem. 

            Ao analisarmos dois objetos os quais nos chamamos de causa e efeito, podemos de começo já observar  as qualidades de cada um  em particular , essas podendos estar ligadas a ideia de causação ou não . Pois para qualquer um deles sempre podem ter objetos que não aparecem e mesmo assim acabam caindo na causalidade.

Voltaremos, assim, nosso olhar para dois objetos quaisquer, que chamaremos de causa e efeito, e examinemo-los de todos os lados ,a fim de encontrar  a impressão que produz uma ideia de tamanha impressão que produz uma ideia  de tamanha importância. Logo à primeira vista, percebo que não devo buscar essa impressão em nenhuma das qualidades particulares dos objetos, pois,  qualquer que seja a qualidade que escolho , entro sempre um objeto que não possui e que não obstante se inclui sob a denominação de causa e efeito .De fato , não existe nada ,interno nem externo, que não deva ser considerado  uma causa ou um efeito. E, entretanto, é claro que não existe nenhuma qualidade quer pertença universalmente a todos os serres, e que lhes de o direito a essa denominação (HUME,2009, pg.103).

Segundo Hume todas as ideias de causação  derivam de alguma relação entre os objetos, e investiga essa relação  que inicialmente é concluída por ele como sendo que todos os objetos que podem ser considerados causa e efeito são ‘’contíguos’’, isso significa que os objetos não podem  atuar em lugares ou momentos diferentes , ele tem que atuar juntos ou  com uma certa semelhança.

Então quaisquer objetos que são classificados como causa e efeito são contíguos, ’’Podemos, portanto, considerar a relação de contiguidade como essencial a de causalidade (HUME,2009, pg.104)”. A prioridade temporal da causa pensada em  relação ao efeito  se torna algo muito importante e essencial a relação de causalidade. Se  pensado e relacionado aos casos individuais de causa e efeito,  acabamos pensando que não tem nada de novo que possa ser descoberto, além da contiguidade e da sucessão. Talvez as suas relações apresentadas não sejam suficientes segundo Hume para demonstrar a causalidade ,”um objeto pode ser  anterior a outro sem que seja considerado sua causa ‘’com o que devemos buscar para que possamos chegar a compreensão é busca as impressões das quais surgem as conexões .

            O conhecimento da causalidade é revelado através da experiência. O raciocínio causal não admite que  haja uma  diferenciação em seu pensamento pois para que haja uma verdade a causa e o efeito devem ser semelhantes  entre si. Para Hume a determinação a ‘’priori’ ’dos efeitos  de algum objeto não podem ser realizadas sem a experiência, pois sem a experiência não haveria modo de fazer uma ligação entre eles.

A causa e efeito  são distintos entre si mas não surgem de um único evento, só podem serem assemelhadas depois do fato, pois primeiro temos que conhecê-las para que posteriormente possamos relacioná-las:

Em segundo lugar é certo que essa repetição de objetos similares em situações similares não produz nada, nem nesses objetos, nem nos corpos eternos. Pois concordar-se-á imediatamente que os diversos casos de conjugação de causa e efeito semelhantes não em si mesmos inteiramente independentes, e que a comunicação de movimentos que vejo agora resultar do choque de duas bolas de biliar é totalmente distinta daquela que vi resultar de um impulso semelhante ha um ano. Esses impulsos não exercem nenhuma influencia uns sobre os outros. São inteiramente separados pelo tempo e pelo espaço; e um poderia ter existido.(HUME,2009,pg.197,198)

            O raciocínio a cerca das questões de fato fundam na relação de causa e efeito, porque o fundamento dessas relações se encontra na experiência. Hume busca explicar os fundamentos de todos os dados que surgem através da experiência. O problema da inferência causal é mesmo que de termos todas as experiências, muitas vezes as conclusões expostas não se fundam em qualquer processo de entendimento.

Muitas vezes vemos alguns objetos semelhantes a algum que temos experiência, mesmo assim muitas vezes isso nos leva a acreditar que seu efeito é igual a experiência existente. Mas algumas vezes isso não pode ocorrer, pois o objeto erra parecido somente em aparência e não em causa.

            O problema da inferência causal segundo Hume, esta em encontrar um modo para descobrir de que modo o entendimento humano através das experiências foi dado anteriormente possam ser repetidas  e usadas no futuro  perante as causa e efeitos como por exemplo sabemos que o calor é efeito do fogo porque anteriormente já tivemos contato com o fogo então cada vez que veros fogo pela experiência saberemos que seu efeito serra o calor. Assim quando causas similares as passadas surgirem possam ser assemelhadas aos efeitos que ocorreram no passado. Levando a mente uma informação concreta. Hume atribui o conhecimento da causa e efeito inteira mente a experiência pois é só através dela que temos o conhecimento da causalidade .

Quando temos a ocorrência de algum evento que faz  com que aconteça outro decorrente do primeiro as pessoas muitas vezes acabam acreditando que já tinham um conhecimento prévio sobre o que iria ocorrer relacionando o primeiro acontecimento aos posteriores  como uma relação entre causa e efeito. As crenças existente nas pessoas sejam elas religiosas ou  culturais muitas vezes não pode ser eliminada, mas muitas vezes essa crenças não tem comprovação , não podem ser comprovadas de nenhum um tipo de argumento , dedutivo ou indutivo, podemos tomar por exemplo a a crença  no mundo exterior a crença em divindades .

O que concluímos lendo o tratado da natureza humana é que que nos temos uma crença na causalidade semelhante a um instinto  que se baseia nas lembranças que temos em nossas  mentes que são criadas através da experiências. A crença muitas vezes não pode ser provada, verdadeiramente  por meio de nenhum argumento encontrado  nem dedutivo nem indutivo , como podemos tomar por exemplo e crença no mundo exterior  ou nas divindades.

Rene Descartes na sua obra Meditações Metafísicas na sua meditação terceira busca explicar a existência de Deus através da causalidade.  Na meditação terceira Descartes  a duas  provas para a existência de Deus essas provas partem dos efeitos para tentar encontrar as causas .  Descartes utiliza  a relação de causalidade para esclarecer a natureza da ideia de Deus e também a natureza da Res Cogitans. Descartes não tem confiança no conhecimento que é revelado através dos sentidos ao mundo das substancias , que são o Res cogitans ou Res extensa .  Res cogitans é o universo do pensamento das atividades intelectuais e também da liberdade de agir, e na Res extensa é o plano da extensão que equivale a tudo o que já esta determinado. Essa substancia só tem modo pelo qual elas podem se fundir que é através de Deus, após se fundirem eles constituem um todo, eles se fundem através de Deus porque é dele segundo Descartes que eles surgiram. Descarte afirma que do nada vem o nada, esse axioma se faz importante para explicar a causalidade, podemos tomar como exemplo para explicar a causa e efeito, pois de onde viria o efeito se não tivesse a causa . uma exigência que a entre a relação de causa e efeito é que ambos devem compartilhar do mesmo nível de realidade .

O principio da causalidade pode ser usado como uma prova da existência de Deus, que é que do nada ,nada vem, coisas que são consideras perfeitas não podem ter vindo de coisas  menos perfeita . Então o que pode ser considerado a causa de todas as coisas que é perfeito seria Deus então todas as coisas viriam dele ..  A causa deve ser  real quanto o efeito  como vemos na citação a seguir:

Agora, é coisa manifesta pela luz natural que deve haver pelo menos tanta realidade na causa eficiente e total quanto em seu efeito; pois, de onde o efeito pode tirar sua realidade senão de sua causa? E como esta causa poderia comunicá-la a ele se não a tivesse em si mesma? E daí resulta não somente que o nada não poderia produzir coisa alguma,mas também que o que é mais perfeito, ou seja, que contém em si mais realidade, não pode ser uma consequência e uma dependência do menos perfeito. (DESCARTES, 2005, p. 65-66)

As principais características da causalidade em Descartes e que do nada ,nada vem, que algo real não pode vir de algo menos real , de onde o efeito tiraria sua realidade além da causa , que a causa não poderia comunicar realidade ao efeito se ela não fosse real ,e que a causa deve possuir tudo o que o efeito tem. O ser humano como ser pensante possui em si a ideia de ser perfeito, e se tenho a ideia de realidade e de Deus e ela não pode ter vindo de algo menos real, então  o pensamento sobre ser só pode ter vindo de algo real.

        Conclusão:

 

Concluímos que a causalidade é um paradoxo pois ela não faz com que a ciência se torne algo natural e ao mesmo tempo ela faz com que ela se torne um campo aberto onde é capaz de colocar a prova muitas teorias acerca da realidade dos fatos. Ao pensarmos a causalidade perante ao mundo  vemos que não tem uma causalidade que já venha inserida nas coisas, pois se isso existisse ela  teria que existir antes mesmo da causa e isso não seria possível. Então o que temos na verdade é uma crença causal sobre os fatos. Segundo Hume podemos fazer uma relação entre os fatos  passados então no futuro quando nos depararmos com uma causa parecida podemos  prever os efeito através da experiência. Essa  relação que existe entre as impressões  de ideias crença e também da causalidade , é um fato que a natureza dos seres humanos  que ao inferir impressões produz as ideias ,  e pode através da imaginação associar ideias  e através disto também produzir as crenças.  Para Descartes a causalidade se faz importante na sua comprovação da existência de Deus.

Referencias:

DESCARTES, R. Meditações metafísicas. Tradução de Maria Ermantina Galvão. 2ª ed.São Paulo: Martins Fontes, 2005. 155 p. (Clássicos).

HUME ,David. Tratado da natureza humana. Tradução Deborah danowski . São Paulo : Editora Unesp ,2000.

HUME ,David. Investigação a Cerca do Entendimento Humano. Tradução Anoar Aiex. São Paulo : Editora Nova Cultura ,1996.