COMUNICAÇÃO E DIDÁTICA NO AMBIENTE
DE APRENDIZAGEM


Rosana Ribeiro Fernandes
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
18/12/10


1 INTRODUÇÃO

Parte-se da premissa que um dos problemas no ensino do Brasil, além da desvalorização profissional e da falta de estrutura é a inadequação didática; falta ao professor a noção dos componentes básicos de uma boa comunicação para que possa professar seus conteúdos de forma mais atrativa e que gere resultados, ainda que esta premissa possa ser contestada ao decorrer da pesquisa por tratar-se de uma hipótese.
Buscar nas bases comunicacionais verossimilhanças ao ato de ensinar é tentar tornar mais fácil e eficaz o planejamento escolar, é ajustar a linguagem, adequar meios, traçar objetivos e obter, como se diz em jargão comunicacional, o "share of mind", ou seja; a fatia da mente dos educandos. É induzi-los à compra de idéias e o produto principal se torna o conhecimento.
Um trabalho desta natureza justifica-se no "excentrismo", na oportunidade de fazer da prática de observação uma ferramenta de apoio docente, na multidisciplinaridade que se faz entre comunicação e letras e no objetivo principal que é a melhoria do ensino de língua portuguesa hoje e no porvir.
Esta pesquisa visa implementar pesquisas na área de concentração de Formação Docente para as séries finais do ensino fundamental. A ênfase da mesma se dará em questões relativas ao ensino da Língua Portuguesa.
Dentro deste universo de possibilidades, o tema escolhido para a pesquisa foi: "Comunicação e Didática no Ambiente de Aprendizagem". A idéia partiu de uma motivação pessoal em poder conciliar a prática educativa às formas comunicacionais existentes na construção didática escolar.
A idéia da pesquisa é observar e coletar dados referentes à Comunicação (enquanto base da didática) no Ambiente de Aprendizagem de Língua Portuguesa da Unidade Integrada José Giorcelli Costa, situada à rua Ribamar Pinheiro, 784 ? Madre de Deus, São Luís, MA.
Tem-se por objetivos específicos o traçar de um perfil do ensino da Língua Portuguesa nesta escola, a identificação de aspectos positivos e negativos do ensino, a composição de um relato descritivo em face às observações realizadas e a contribuição com reflexões e/ou sugestões que facilitem o processo de ensino/aprendizagem.
Para a construção do paper serão implantadas pesquisas descritivas, exploratórias e bibliográficas baseadas em fontes primárias e secundárias (livros, artigos, revistas, internet...). Será empregado ainda o método monográfico, que consiste "no estudo de determinados indivíduos, profissões [...] com finalidade de obter generalizações" (LOBATO, 2001c, p.34).
O método tipológico também deve ser contemplado onde, a partir da análise de aspectos essenciais dos fenômenos em observação e ampliando certas qualidades, se ressalta aspectos do fenômeno que se deseja estudar. A pesquisa utilizará também de observação participante, entrevistas e implementação de questionário (in anexo).


2 COMUNICAÇÃO E DIDÁTICA

Passa-se por um grande processo de evolução, onde o Brasil ganha um rumo promissor, norteador (ainda engatinhando). E é nessa perspectiva que se acredita que a educação básica deva ser melhorada.
Há diversos tipos de professores no ensino fundamental. Os mais tradicionais contentam-se em transmitir a matéria que está no livro didático. Suas aulas são sempre iguais, [...] Pode até ser que esse método de passar a matéria, dar exercícios e depois cobrar o conteúdo numa prova, dê alguns bons resultados. O mais comum, no entanto, é o aluno memorizar o que o professor fala; decorar o livro didático e mecanizar fórmulas, definições etc. Esse tipo de aprendizagem (vamos chamá-la de mecânica, repetitiva) não é duradoura. (LIBÂNEO, 2002, p.4)

Libâneo comenta que "por mais limitações que uma professora possa ter (falta de tempo para preparar aulas, falta de material [...] etc.), quando a professora entra na sua classe, ela tem consciência de sua responsabilidade em proporcionar aos alunos um bom ensino. (LIBÂNEO, 2002, p.4)
Sabe-se que "a atividade docente tem a ver diretamente com o ?para quê educar?, pois a educação se realiza numa sociedade formada por grupos sociais que têm uma visão distinta de finalidades educativas". (LIBÂNEO, 2002, p.5)
Os professores têm, portanto, componentes básicos de uma Comunicação; o porquê, para quê, para quem e de que maneira estão ensinando.
Do ponto de vista psicológico, conceitua-se comunicação como a relação estabelecida pela transmissão de estímulos a um organismo e as respostas deste. Este conceito de comunicação aplica-se a qualquer tipo de intercâmbio realizado entre os seres vivos. (LOBATO, 2001a, p.44)
Do ponto de vista educacional, conhecer os elementos de comunicação é essencial para a adequação dos meios aos objetivos do ensino.
A comunicação em educação é meio, mas é sobretudo objetivo. O professor comunica-se, revela-se e revela o mundo para que o discípulo também se torne apto a externar seus conceitos de mundo e na ação e, no diálogo, inserir-se na sociedade. (LOBATO, 2001b, p.109)

Assim, tratar-se-á aqui a educação como uma ferramenta de Comunicação, pois "educação é comunicação, é diálogo na medida em que não é só transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados". (LOBATO, 2001b, p.109)
Comunicação é, de modo geral, o estabelecimento de uma unidade social a partir de indivíduos pelo uso da linguagem ou de signos, ou ainda, a compartição em conjuntos comuns de regras para diversas atividades em busca de objetivo?. (CHERRY, 1974, p.45)

Ao estudar seus meios, locutores, interlocutores, se há ruído (falhas na comunicação), o que pode ser melhorado; tem-se uma pesquisa de grande valia para a prática educativa, no ponto de vista também comunicacional.
"A comunicação exige um esforço de transcendência, a capacidade de sair da situação pessoal e colocar-se na do outro". (LOBATO, 2001b, p.109)
A Didática, portanto, trata dos objetivos, condições e meios de realização do processo de ensino, ligando meios pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos. Não há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de sociedade, como não há concepção de homem e sociedade sem uma competência técnica para realizá-la educacionalmente. (LIBÂNEO, 2002, p.5)

O papel do professor, então é o de planejar, selecionar e organizar os conteúdos, programar tarefas, criar condições de estudo dentro da classe, incentivar os alunos, ou seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria aprendizagem. (LIBÂNEO, 2002, p. 6)
Mas, qual é a dinâmica do processo de ensino? Como se garante o vínculo entre o ensino (professor) e a aprendizagem efetiva decorrente do encontro entre o aluno e a matéria. (LIBÂNEO, 2002, p. 6)
Em se tratando de materiais didáticos, o modelo adotado pela Escola Tradicional está centrado nos livros-texto, repletos de conteúdos informativos e conceituais, fragmentados de forma a serem mais facilmente memorizados pelos alunos. A avaliação dos alunos constitui-se no controle da aprendizagem e realiza-se unicamente mediante exames, que refletem a capacidade de retenção e de acúmulo de conhecimento memorizado pelos alunos. (MARTINS; MENDES, 2006, p.8)

"A discussão acerca dos métodos pedagógicos é freqüentemente reduzida a um mero conjunto de técnicas para serem aplicadas na sala de aula" (MARTINS; MENDES, 2006, p.6) Esta é ainda a dinâmica mais aplicada em sala de aula; a dinâmica tradicional?
A idéia desta pesquisa de estágio é descrever a prática educativa vivenciada, não só em seus métodos, mas a comunicação estabelecida, seu roteiro de dinâmica e análise destes fatos observados.


3 A ATIVIDADE DOCENTE NA UNIDADE INTEGRADA JOSÉ GIOCELLI COSTA

A escola tem por dirigente a srª Zélia Duarte. No período noturno desenvolve-se a educação destinada aos jovens e adultos (EJA). As salas escolhidas foram duas; 5ª e 6ª, 7ª e 8ª, ambas sob regência da professora Thereza.
A professora Thereza é licenciada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Inglesa, considera o trabalho como algo desvalorizado, porém recompensador. Leciona de segunda à quinta e afirma possuir um bom relacionamento com os educandos e com a escola.

3.1 UM PERFIL DOS ALUNOS

Para traçar um perfil destes alunos utilizou-se de um questionário, com respostas abertas e fechadas, onde se tentou conhecer o educando em um contexto escolar, familiar e suas relações sócio-culturais. As duas salas somam 41 alunos, sendo 19 de 5ª e 6ª série e 22 de 7ª e 8ª série. Estes compreendem o universo desta pesquisa.
Os questionários foram distribuídos individualmente, os alunos se apresentam em idades diversas, que variam de 16 a 63 anos de idade, sendo exatos 51% na faixa etária de 16 à 18 e os outros 49% acima de 26 anos.
25 alunos, ou seja, 61% da amostra não leu nenhum livro durante o ano (além, é claro, dos didáticos fornecidos pelo colégio). Aproximadamente 17% afirma ter lido a bíblia, ou parte dela, 10%, ou seja, 4 alunos não compreenderam bem a pergunta, fornecendo como respostas os próprios livros didáticos do período (matemática, português, geografia...).
Dos 12% restantes nota-se algo em comum, a maioria jovens, leram dois livros ou mais, dentre os livros um tipo de literatura que vem tomando o gosto entre essa faixa etária, a exemplo "Crepúsculo", "Harry Potter", "A volta dos que não foram".
Cerca de 61% tem a língua portuguesa como disciplina preferida, muito embora os erros gramaticais se insiram em 90% dos questionários entregues. Palavras com grafia errônea, tipo; condição (condisão), centro (sentro), professora (profeccora), gosto (goto), coroadinho (coradinho), disciplina (deciplina), empresária (impresaria), comportamento (comprotamento), futebol (futibou), além das ausências de "s" nos plurais e demais concordâncias imperfeitas.
Para os estudantes entrevistados, os momentos fora da sala de aula se dividem entre a televisão, o trabalho, a lan house e a igreja, tendo a televisão o maior prestígio entre suas escolhas. Percebe-se entre eles famílias extensas, numerosas, com número de irmãos por família chegando a 16 e uma média acima de 6 irmãos por família.

3.2 O PLANEJAMENTO DAS AULAS

A professora Thereza realiza um planejamento quinzenal que serve de referencial para a exposição de suas aulas, porém, este planejamento sofre alterações ao decorrer do ano letivo para que as aulas se adequem à realidade da sala, ela comenta que tem alunos na 7ª e 8ª que mal sabem ler e escrever, falta-lhes uma base que deveria ser incutida nas séries iniciais e que agora se faz necessária.

3.3 O NÍVEL DE APRENDIZAGEM DAS TURMAS

O nível de aprendizagem da turma é regular, há uma mistura entre jovens e adultos, o que dificulta um pouco o trabalho docente. A sala se divide entre pessoas que querem aprender pois chegaram a uma certa idade e lhes falta conhecimento, jovens que querem aprender apenas o básico para se formarem e jovens que não tem tanto interesse pois acham que ainda tem a vida inteira pela frente.

3.4 PROSPECTO PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR

Foi perguntada à professora "o que falta para obtermos um bom resultado na educação", sua resposta se deu em três palavras: acompanhamento, responsabilidade e sequência. De certa forma ela assume a responsabilidade do mau desempenho escolar para si e para os outros professores que a antecederam.
O acompanhamento depreende-se tratar de uma vigilância, que pode ser feita pela coordenação da própria unidade ou pela supervisão regional. Acompanhar a atividade docente, a assiduidade, a satisfação e o resultado para com os alunos, é também essencial para a construção de um saber. Daí pode-se tirar a responsabilidade e a sequência como dever do educador para que se desenvolva um conhecimento ininterrupto e satisfatório.


4 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

1ª aula observada foi a da turma de 7ª e 8ª série (E.J.A.), uma aula informal, de linguagem acessível, tendo sob assunto os verbos (o uso do partcípio). Uma aula descontrída e bem humorada. São dados exemplos de frases incorretas como; "agente fomos", "se eu tivesse trago", "nós fumo".
A professora utiliza somente a explanação no quadro, onde dá outros exemplos, como; tivesse acendido ou aceso, explicando o correto e o porquê. Valoriza a opinião de cada aluno, mesmo quando o educando está errado, fazendo-o perceber o erro, socializando sua opinião e incitando à dúvida.
A professora exerce boa comunicação e tem exata noção do "quê" está ensinando, "para quem", com "quais objetivos" e através de "quais meios". Percebe-se isto nas colocações frasais, na paciência, na disponibilidade e no comprometimento que tem com seus alunos.
Os meios mais utilizados em suas aulas são; quadro e cartolina (devido à falta de equipamentos na unidade), embora isto não a impeça de realizar um bom trabalho. Ela tem uma programação diária que se adequa à realidade da sala, pois muitos são adultos, trabalham o dia inteiro e não podem estudar em casa.
Segue a chamada e inicia questões para que os alunos respondam oralmente; são frases para completar, como; o animal foi (salvo ou salvado?) pelos homens, as garrafas foram (cheias ou enchidas?) por mim, este livro foi (imprimido ou impresso?).
O aluno tenta "zombar" do colega que havia errado, a professora então chega perto do aluno e lhe faz uma pergunta. O aluno acerta, então ela lhe indaga o porquê da resposta, e ele responde que não sabe. Ao final ela lança uma pergunta recriminando-o: - Se você não sabe, então porquê está zombando do colega? Nisso ela tira-lhe o boné, fazendo-o perceber que ele está errado em vários sentidos. E assim se encerra a aula.
Na sala de 5ª e 6ª série (E.J.A.) a professora passa um ditado para treinamento de s ou z, ao final faz a correção no quadro (cada aluno se desloca até o quadro para escrever uma palavra). São citadas palavras como: roseira, cinzenta, atrasado, organização, trazer, vazar, empresa, pesquisa, analisar. Destas, algumas erradas, a exemplo de sizenta, atrazado, analizar.
Nesta aula pôde-se observar um exemplo de valorização do educando. Uma aluna responde errado e a professora pergunta: - "Todos concordam"? Alguns alunos respondem que está errado e a professora logo interrompe dizendo; "- Não perguntei se está certo ou errado, eu ainda não corrigi, estou perguntando quantos de vocês escreveram desta forma?".
Esta iniciativa foi uma forma de apoiar e incentivar a aluna, evitando constrangimento. Nota-se que os alunos prestam atenção à aula e participam bastante. A aula termina interrompida por um professor que deseja implantar uma prova com antecedência.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro desta análise cabe um acréscimo, na verdade um reforço da proposição desta pesquisa, que é fazer do professor um comunicador, aliando os elementos comunicacionais à didática.
Para uma pesquisa observacional, como esta do Estágio I, não se pode induzir à eficácia desta premissa, mas cumpre-se o dever de iniciar um campo para discussão. Este, então se torna um relato para que mais tarde se consiga unir a prática educativa ao ato comunicacional em si.
O uso do quadro e da voz é o meio pelo qual a professora propaga suas aulas. As aulas são as mensagens a serem enviadas pelos meios, a professora é emissora e receptora de uma comunicação que se estabelece em duas vias (ida e volta), tornando os alunos receptores e emissores, construindo um saber em conjunto com a professora e os demais alunos.
Em toda esta vivência conseguiu-se observar facilmente estes elementos comunicacionais presentes, ainda que não classificados como tal, eles existem, e se o professor tiver a noção de trabalhá-los como elementos de comunicação, poderá persuadir o aluno à busca pelo conhecimento.
Poderá incitá-lo às descobertas, através da adequação de meios e mensagens, verificando seu público (seu perfil), adequando linguagens aos fins propostos no plano de aula. Mas esta descoberta se fará em outro degrau, a partir desta escada que se acaba de encontrar.


REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.

CHERRY, Colin. A Comunicação Humana. 2aed. São Paulo: Cultrix, 1974.

LIBÂNEO, José C. DIDÁTICA; Velhos e novos temas. Edição do autor, Mai. 2002. Disponível em: < http://www.4shared.com/document/nv9ZqZAZ/Jose_ Carlos_Libaneo_-_Livro_Di.htm>

LIBÂNEO, José; OLIVEIRA, João; TOSCHI, Mirza. Educação escolar. 7.ed. SÃO PAULO: Cortez, 2009.

LOBATO, Raimundo. Andragogia. São Luís: Edições UFMA, 2001a.

LOBATO, Raimundo. Fundamentos da Educação. São Luís: Edições UFMA, 2001b.

LOBATO, Raimundo. Metodologia Científica. São Luís: Edições UFMA, 2001c.

MARTINS, André F.; MENDES, Iran. Tendências históricas do pensamento didático. Natal: EDUFRN ? Editora da UFRN, 2006.

UNIASSELVI. Diretrizes e Regulamento de Estágio e Trabalho de Graduação. Indaial: Ed. Grupo Uniasselvi, 2010.