Antenor era um senhor de idade que morava em uma fazenda. Onde ele morava havia uma vila com muitas pessoas e todos se reuniam, davam as notas de compras, explicavam a ele onde comprar e o que comprar. Como não havia nenhuma loja ou mercado na vila, Antenor trazia tudo da cidade que ficava a 30 quilômetros da vila. Ele era uma espécie de líder da comunidade e o único que tinha uma charrete.

Naquele sábado ele recolheu os pedidos dos sitiantes, recebeu o dinheiro e ia saindo quando apareceu uma moça e pediu que ele lhe comprasse um soutien, pois o único que tinha rasgara.

Antenor ficou meio sem jeito, como comprar um soutien ele era homem, não sabia como comprar aquilo. Ela explicou que era fácil, coisinha simples, bastava ele escolher a cor, uma cor bem bonita, é claro, e deu-lhe o número do tal.

Antenor partiu em sua carroça, vendo os passos lentos do cavalo, o campos florido, os pássaros, o riacho.

Lá pelo meio dia ele chegou à cidade e começou a fazer as compras. Primeiro as dele, e claro. Feita suas compras, passou a fazer a compra dos outros. Fumo de rolo pro Maneco, garrafas de pinga pro João, a seda de Marcela, os bobies de Joana, as calças de Ambrósio. E isto e aquilo e aquilo para aquele, aquele para aquela. E foi assim que ele chegou na peça íntima da moça. Procurou uma grande loja. A loja estava cheia de moças bem jovens. Cada uma mais bonita que a outra. Como seria bom ficar ali olhando aquelas maravilhas. Uma donzela veio logo atendê-lo prazeirosamente:

- O eu o senhor deseja?

- Eu queria um...

Pronto e agora? Ele esqueceu o nome do diabo da peça que a moça usava. O que fazer então? Como explicar à moça a peça íntima pedida? Ficou embasbacado e meio cabrolho. A moça em pé diante dele perguntou novamente:

- O senhor deseja alguma coisa?

- Ah! Sim! Eu quero... quero... ah! Sei lá. Aquela peça que as mulheres usam.

- Como é o nome da peça?

- Aí é que está, eu esqueci o nome da roupa.

- Assim fica difícil, né moço. Se eu puder ajudar. Como é esta roupa?

- Bem, ela é uma peça assim... assim...

- Assim como? Ou melhor, o senhor não explicou nada.

- Bem, tem duas fitas compridas...

A moça pensou um pouco. Foi lá dentro e pegou uma blusa e trouxe.

- Será esta aqui?

- Não, não. É uma bem diferente. Tem umas tiras para amarrar no corpo e é bem pequeno.

A moça foi lá e trouxe umas calcinhas. O homem se assustou. Ele sabia para o que servia aquilo ali. Não era aquilo, não.

- Moço, como é que o senhor vem comprar uma coisa que não sabe o que é? Por que a pessoa mesma não veio comprar?

Ele explicou tudo, onde morava. Explicou como era a roupa. A moça não entendeu nada. Começou com um método diferente para tentar descobrir o que o homem queria.

- Pra que serve esta peça de roupa?

Pela santa madrugada! Para que é que as mulheres usavam aquilo? Nem ele mesmo sabia. Aliás era uma peça na qual ele não via vantagem alguma.

- Bem, bem é uma peça parar segurar... segurar...

Como é que ele iria dizer seios para a mocinha? Se fosse um homem da cidade seria mais fácil, mas para quem nasceu e se criou no mato.

- Onde é que se usa esta peça no corpo? Acima do umbigo ou abaixo dele?

- Por cima, é claro, bem por cima dele.

- Tem duas fitas, se usa acima do umbigo, é pequeno e serve para segurar. O que é que o senhor sabe mais sobre esta peça? Chapéu, não é?

- Não, não, não... bem, tem duas bolas assim...

- Tem duas fitas, se usa acima do umbigo, serve para segurar, é bem pequeno e tem duas bolas.

- Homem também usa esta peça, moço?

- De maneira alguma, moça. O homem não tem os ingredientes necessários para isto.

- Serve para segurar o que mesmo, os seios?

- Isto mesmo, senhorita. Serve para segurar aquilo mesmo.

- Aquilo mesmo, não, moço. Chamam-se seios. O senhor deve estar procurando soutian.

- Acertou. É esta coisa mesmo. A senhorita pode mandar embrulhar que vou levar.

- Espere aí. O senhor não pode levar esta peça assim. Tem que saber o número. Do contrário pode comprar um maior, um menor. Qual é o número?

Danou-se agora. Como é que ele foi esquecer o número daquele maldito cujo?

- Deve ser 97.

- 97 não, moço. Não existe este número. Este soutian é para uma moça ou para uma vaca?

- É claro que é para uma moça. Onde é que se viu soutian para vaca?

- Então. Deve ser um número bem menor. Espere aí que vou buscar alguns.

- Aqui estão. É mais ou menos assim? Posso experimentar no senhor.

- Em mim, não, senhorita. Ainda mais no meio deste povão.

- Como é que vou fazer então? Espere aí. A moça tem a mesma estatura que a minha?

- Sim, é mais ou menos como a senhorita.

Ela pegou um soutian e experimentou nela mesma.

- Segure o senhor esta parte aqui por baixo do meu seio.

- E...e... eu?...

- O senhor mesmo, não é o senhor que quer o soutian?

Com muito custo ele pôs a mão por baixo do braço esquerdo dela e segurou uma ponta do soutian.

- Fica bem assim lá nela?

- Sim, senhorita. Assim fica muito bem.

- Então é este mesmo.

Chegada a uma conclusão final, ele comprou logo dois e deu uma gorjeta à moça. Pediu desculpas e saiu prometendo nunca mais comprar roupas íntimas femininas. No caminho foi pensando: "e se algum rapaz lhe pedisse para comprar algumas cuecas naquela loja, o que ele faria no meio de tantas moças somente de cuecas"? Nem pensar numa coisa daquela.