COMPORTAMENTO E SAÚDE: Influências da vida moderna sobre a Saúde Física e Psicológica.

Edjane Aniceto da Rocha.

INTRODUÇÃO

            O presente texto trata do comportamento no contexto da contemporaneidade, da vivência autônoma dos seres humanos em meio às máquinas que modelam uma atitude de evolução e crescimento da modernidade onde todos precisam acompanhar para sobreviver dentro dos diversos meios sociais em que estão inseridos. E mostrar como estes atuais comportamentos modernos podem influenciar tanto positivo quanto negativamente principalmente no que promove à vida das pessoas com relação à saúde. De uma forma geral o que parece facilitar a vida humana, também pode comprometer a sua saúde física e mental.

COMPORTAMENTO

Observando com cautela e discernimento para não entrar em questões que se comparem a julgamentos o comportamento das pessoas e suas atitudes perante a vida em sociedade seja no ambiente corporativo, familiar, político, social, enfim, qualquer que seja o meio no qual estejam inseridas, preocupa-me a instabilidade, a ausência de projetos, propósitos e compromisso consigo mesmo e com os outros. As pessoas parecem tomadas por um ansioso senso de urgência, de uma busca frenética em “estar” e “ter”, na defesa de valores e interesses de curto prazo, isoladas dentro da própria sociedade muitas vezes transformando ou criando uma pequena célula social entre o indivíduo, ele mesmo, seus interesses, seus objetos, seus carros, seus eletro eletrônicos, notebooks, celulares, iphone, ipad, isoladamente e localmente, como se estivessem desconectados do organismo social esquecendo-se do “ser”.

“Não somos um número de cartão de crédito,

nem uma conta bancária, mas seres humanos únicos.

Apesar dos nossos defeitos, somos estrelas

vivas no teatro da existência”.

Augusto Cury.

           

As pessoas não se olham mais, não se cumprimentam não se tocam. Afetividade virou sinônimo de interesse, e gentilezas e atenção ficaram fora de moda. Claro que minha escrita não é uma crítica para que as pessoas não possam ter o mínimo de ambição para trabalhar em construção de uma vida mais confortável. O que eu chamo a atenção é o cuidado com a inversão de valores que está promovendo a troca de pessoas por objetos aparentemente atrativos, mas descartáveis e substituíveis deixando um rastro de vazio e solidão na vida do indivíduo que não sabe mais se comunicar com o outro que não seja um objeto e sim uma pessoa como ele.

O olho no olho está deixando de existir até mesmo dentro das residências entre os casais, os pais e os filhos e entre os irmãos. A família moderna se modela em uma constituição nuclear geralmente composta por quatro pessoas. O pai e a mãe, ou os pais ou a mães, cada um em seu computador, um filho na internet do celular, e o outro filho também.  Todos morando no mesmo endereço, porém cada um ocupando um espaço diferente quase territorial, dentro de uma mesma residência, onde ninguém conhece ninguém. Também não estou tratando de privacidade, isto é outra coisa. Tal comportamento chega a ser preocupante porque as Clínicas, hospitais, emergências e centros médicos estão cada vez mais azafamados de pacientes que muitas vezes só estão precisando “falar e ser ouvido”. O que não é de se fermentar com o aumento das doenças chamadas “Doenças do século”, “Doenças da vida moderna”, os stress, depressões, síndromes de pânico e uma variedade enorme de transtornos de personalidades, fobias sociais geralmente acompanhadas de comorbidades.

FOBIA SOCIAL

Dra. Ana Beatriz B. Silva mostra um exemplo apenas, sobre o que o portador da Fobia Social (TAS) acha que pensam sobre ele numa imagem totalmente distorcida e depreciativa:

  • Que cara idiota.
  • Ele não consegue se controlar e só dá vexame.
  • Ele tem algo de muito errado.
  • Ele é muito estranho mesmo, tem algo de esquisito.

... Se eu tento ser direto, o medo me ataca.

Sem poder nada fazer, sei que tento me vencer

e acabar com a mudez.

Quando eu chego perto, tudo esqueço e não tenho vez.

Me consolo, foi errado o momento, talvez,

Mas na verdade, nada esconde essa minha timidez.

Ana Beatriz B. Silva. Apud

Biquine Cavadão

COMORBIDADE

Comorbidade é um termo da medicina do comportamento para mostrar como um transtorno sempre pode vir acompanhado de outros. No caso do Transtorno de Ansiedade Social (TAS), a depressão e o abuso de álcool, outras drogas e automedicação é muito comum para atenuar o sofrimento e tornarem-se pessoas mais sociáveis. Nesses casos o alívio obtido pelo abuso de álcool e outras drogas e medicamentos ansiolíticos impróprios, podem desencadear muitos problemas e prejuízos para toda a vida se não forem devidamente tratados.

UM CASO INTERESSANTE

Trabalhei durante muitos anos em um Hospital e certa vez presenciara um atendimento na urgência que nunca esqueci: Uma senhora deu entrada na urgência do hospital sentindo um grande mal-estar, sua pressão arterial estava um pouco elevada. Ela sentou na cadeira em frente ao médico e chorava copiosamente. Ele simplesmente com muita paciência ficou parado observando seu choro. Depois de um tempo ela parou de chorar, ficou mais calma, respirou fundo e o médico voltou a verificar sua pressão que já estava normalizada. Então ele perguntou como ela estava se sentindo para dar continuidade ao atendimento, ela respondeu: “Agora estou muito bem doutor e não preciso de medicações, o senhor foi muito atencioso comigo, muito obrigada” e foi embora.

“Quando sou ouvido, torno-me capaz de rever meu mundo e continuar.

É incrível como alguns aspectos que antes pareciam insolúveis tornam-se

 Passívéis de solução quando alguém nos ouve. É incrível como as

confusões que pareciam irremediáveis transformam-se

em correntes que fluem com relativa 

facilidade quando somos ouvidos”.

Rogers(1983).

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente texto veio nos trazendo a discussão de como o comportamento humano pode interferir na qualidade de vida de um determinado indivíduo. É do conhecimento científico nos estudos da Psicologia e Psiquiatria que o meio exerce bastante influência sobre a nossa qualidade de vida. Há quem afirme que o indivíduo é produto do meio. Eu não considero literalmente que tenha que ser sempre este o resultado final. Porém concordo que muitos de nós, até mesmo por questões de adaptação e sobrevivência passamos a agir de diferentes formas acompanhando esse frenesi de conhecimentos cibernéticos, acompanhando a evolução e a modernização que com certeza nos facilita muito a vida. Porém como tudo tem os próis e os contra. Neste caso o que estamos perdendo com a modernização e atualização das máquinas que falam e fazem contatos quase que “humanos” é justamente o que temos de mais precioso a “humanização”. A tão esperada humanização alcançada nas últimas décadas dentro das instituições de saúde. No entanto nós sabemos que o comportamento de humanização só pode acontecer no contato de pessoa para pessoa através dos sentidos do ser humano. Do olhar, do tocar, do falar e do ouvir. Mas, principalmente de saber como “escutar e sentir” dentro de um movimento de relação e interação empática com outro.

“O ser humano pode viver amordaçado dentro de si,

ainda que sua língua esteja livre para falar.

Pode viver acorrentado, ainda que suas

pernas estejam soltas. Pode viver asfixiado,

ainda que seus pulmões estejam abertos”.

  Augusto Cury. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÉFICAS

SILVA, Ana Beatriz B. Mentes com medo: da Compreensão à superação/ Ana Beatriz B. Silva. – São Paulo: Integrare editora. 2006.

CURY, Augusto, 1958. O código da inteligência: A formação de mentes brilhantes e a busca pela excelência emocional e profissional/ Augusto Cury – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil/ Ediouro/2008.

KLÕECKNER, Francisca Carneiro de Sousa. Abordagem Centrada na Pessoa: A Psicologia humanista em diferentes contextos/ Francisca Carneiro de Sousa Klõckner. - 2ª Edição – Londrina : EdUniFil, 2010.