COMPLETAR  OU  REVISAR  OBRA  DE  KARDEC? 

Estariam as plantas dotadas não só de vitalidade, mas também de alguma forma rudimentar de percepção, cognicidade, memória, sensibilidade e outras particularidades dos seres viventes a elas superiores, onde se destaca o homem como ápice da escala evolutiva das espécies, da vida estuante em nossa globalidade terrena? 

Creio que sim, que as plantas não poderiam e não podem estar desprovidas de alguma atividade psíquica, quando, por maior ou por menor determinismo da Lei, elas, além das mais complexas funções celulares, e intracelulares, realizam a sábia e importantíssima fotossíntese, processo pelo qual as plantas, algas e certas bactérias sintetizam compostos orgânicos a partir da presença da luz, da água e do gás carbônico produzindo, mais ainda, o tão necessário oxigênio da respiração animal, e cuja fórmula, conquanto a grande incompreensão de tantos de nós, está disponibilizada nos mais importantes  compêndios de Biologia.

 

Por outro lado, sabe-se que o renomado Espírito André Luiz, em sua obra “No Mundo Maior” (Francisco C. Xavier – 1947 – Feb), num breve trecho do seu capítulo III, vai algo discorrer sobre o desenvolvimento de suas funções de memória, do que se deduz, obviamente, que as demais propriedades da energética espiritual das plantas, tais como cognição, sensibilidade, instinto, e etc, do mesmo modo, participariam desse processo vital de contínua expansão e progressividade interior, onde se instala a essencialidade anímica.

 

Mas será em “Evolução Em Dois Mundos” (F. C. Xavier/Waldo Vieira -1958 – Feb), que o confiável autor abordará mais amplamente a conquista gradativa dos referidos potenciais das plantas, a iniciar-se, certamente, nas cristalizações atômicas e nos minerais, desenvolvendo-se em atualizações sucessivas e ininterruptas do seu dinamismo interno, essência causal da materialidade das formas e das coisas, ou seja, desde os referidos aglomerados atômicos ou minerais. E isto pelo fato de que: “o arcanjo começou por ser átomo”, como já afiançava “O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec – 1857- Feb).

 

E mesmo a Física moderna tem confirmado que: “não há mais, no início, o objeto material, porém forma, simetria matemática”, ou seja, alguns cientistas proclamam haver no átomo, não mais a matéria propriamente dita, mas sim, algo detentor de um: “conteúdo intelectual”. (Vide: “Problemas da Física Moderna” – Max Born, Pierre Auger, E. Schrodinger e W. Heisenberg – Editora Perspectiva).

 

Mas retornemos à ótica precedente, onde se abordava algo relativo às potencialidades psíquicas das plantas, que não só André Luiz houvera de fazer suas ponderações, como também outros destacados e sábios autores espiritualistas do nosso movimento, tais como Emmanuel e Pietro Ubaldi.

 

E o fato é que tais autores, indiscutivelmente, anteciparam as famosas experiências de Clave Backster, agente da CIA norte-americana. Este, em tedioso dia de trabalho no ano de 1966, teve a feliz idéia de aplicar o sensível psicogalvanômetro – aparelho detentor de mentiras – em uma planta, um filodendro. Na verdade, Backster pretendia medir a velocidade com que a água subia da terra para as folhas, logo que se regasse dita plantinha. Para sua surpresa, ele constatou que ao regar-se a planta, o polígrafo (dispositivo que grava no papel as sensações recebidas), passou a registrar sinais gráficos que um ser humano emitiria em face de uma agradável sensação.

 

Numa outra das experiências que se seguiram, o especialista notou que ao simples pensamento de prejudicar a planta como, por exemplo, a idéia de queimá-la, o polígrafo reagia de forma frenética, numa clara demonstração de que a planta sabia de sua maldosa intenção. Outros importantes experimentos puderam evidenciar que as plantas memorizam fatos ocorridos ao seu derredor, retendo informações tal como se verifica com o cérebro animal. E as conclusões dos muitos pesquisadores que se interessaram pelo referido fenômeno em todo o mundo, são as de que as plantas percebem e reagem ao que se passa à sua volta, são portadoras de memória, sentem estranhas dores, e, portanto, por isto e por aquilo, são detentoras de sentimentos. (Vide: “Em Busca da Matéria Psi” – H. Rodrigues e M. B. Tamassia – Casa Editora O Clarim; e “A Matéria Psi” - tese de H. G. Andrade).

 

Para nós, os espiritistas, se as coisas do mundo físico são a manifestação da energética espiritual, então os fatos da realidade material refletem, necessariamente, os fatos da realidade espiritual, donde pensar-se que as propriedades mnemônicas e perceptivas das plantas, dentre outras, residem em seu psiquismo rudimentar que, por sua vez, entrosa-se aos registros imponderáveis de um “cérebro vegetal”, perispirítico, que, num todo complexo, recebem as mais diversas influências do meio, executam os seus registros e emitem suas reações, pois que trata-se de um ser vivo, conquanto desprovido de cérebro animal, e que, na escala biológica das espécies, cumpre estágios evolutivos primários, ou seja, nas fases inaugurais do psiquismo e, portanto, de manifestações simples, embrionárias de tudo quanto há nos indivíduos de mais alta expressividade intelectual e moral.

 

Note o leitor espiritista que, conquanto sua sabedoria, e, neste aspecto, sobretudo, o referido “O Livro dos Espíritos” (Allan Kardec – 1857) tinha e tem mesmo de ser desenvolvido, pois o capítulo “Dos Três Reinos”, que trata do considerável tema – potencialidades psíquicas dos vegetais – é muito sintético, com respostas pouco abrangentes, e, portanto, tenho de reconhecer, um tanto “impreciso” em suas colocações como, por exemplo, a contida na resposta ao item 587.

 

Ressaltando-se, entrementes, que o “impreciso”, ao nível comparativo do que hoje se afiança com André Luiz, Emmanuel e Pietro Ubaldi, e, nos experimentos de Clave Backster, poderia estar, indiscutivelmente, preciso e correto com os progressos de ontem, dos tempos de Allan Kardec, pois que tudo muda, avança, prospera, deixando bastante claro que o adepto espiritista não deve se ausentar da idéia de que o Espiritismo é Doutrina essencialmente evolutiva em seus ensinos e dilatação de seus postulados, oportunizando desenvolvimentos e aprofundamentos que lhe permite caminhar com o avanço das luzes, quando não as antecipa de modo bastante considerável. Mas o fato é que “O Livro dos Espíritos” mesmo esclarecia haver sempre anéis de contato que ligam as extremidades da cadeia dos seres e das coisas, dos seus diversos reinos, o que confirma sua beleza, harmonia e atualidade, conquanto se admita desdobrá-lo e desenvolvê-lo na constituição monista de suas teses abrangentes e universais.

Pois bem: todo o retro citado já é, de há muito, do conhecimento de todos nós, sobretudo do estudioso espiritista que acompanha todos os progressos da atualidade. Mas, porque, então, retornar-se ao tema? E digo que o faço porque, volta e meia, é possível vermos, aqui e ali, sobretudo de alguns mais afoitos, idéias infames de se revisar e de consertar o referido “O Livro dos Espíritos”, de atualizá-lo conforme a moderna Ciência e o que há, de mais atual, em matéria de Espiritismo no Brasil e no Mundo.

 

Santa ignomínia! E, da qual, sou absolutamente contra!!!

 

A não ser assim, o nosso referido “Livro Básico”, daqui há pouco, tornar-se-á uma verdadeira miscelânea, como se vê com a “Bíblia Sagrada” mesma, encontrando-se, hoje, totalmente desfigurada, irreal, tantas foram as atualizações e revisões em cima de revisões, que a deturparam, lhe descaracterizando no curso dos séculos.

 

Ora, “O Livro dos Espíritos” é revelação divina, código moralizante da Nova Era do Espírito, cujos pilares se levantam para que adentremos em uma fase superior das expectativas humanas e sobre-humanas, espirituais e morais. Como é óbvio, reconheço que tal “Livro” comporta aprofundamentos, mas não retificações e revisões que lhe desnaturariam seu caráter divino, não nos cabendo o direito de fazê-lo para que a posteridade o conheça, o respeite e o compreenda como o marco inicial do Espiritismo na face terrena consoante as necessidades científicas, filosóficas e morais do tempo em que fora codificado.

 

Devo explanar, mais ainda, que os Espíritos codificadores não disseram tudo quanto sabiamente conhecem; noutras palavras: eles dosaram suas informações, e o fizeram por respeito à mentalidade de então, ao caráter positivista do Codificador que por certo haveria de recusar, como por certo recusara tudo quanto pudesse extrapolar sua psicologia, seu bom senso, sua razão. E nós, esclarecidos que somos, exceto pelos que se recusam ao constante estudo, não vamos rechaçar os fatos escancarados da progressividade das coisas, das revelações, consoante a evolução espiritual, e cultural, de cada instante terreno.

 

Para tanto, aí estão, presentemente, os grandes nomes do Conhecimento, da Filosofia, da Ética, da mais reluzente Espiritualidade, tendo alguns, confirmado, e outros, aprofundado, sucessivamente os mais diversos aspectos e temas do Espiritismo codificado; este, portanto, comporta contínua progressividade, avançando com a Ciência do mundo em função das Revelações que de si mesmo dimanam no tempo, comportando a mais alta, mais excelente e admirável Ética cristã. Portanto, não é porque o “Livro Básico” comporte ampliações e desenvolvimentos de suas pérolas e ensinos doutrinários, que o mesmo seja suscetível de sofrer revisões lhe adulterando e descaracterizando sua originalidade.

 

Ora, se o Espiritismo codificado, como um Todo, é revelação divina, sendo os Espíritos Superiores os responsáveis por tal, ele não deixa, ainda assim, de ser fruto, igualmente, do trabalho do homem, da pesquisa e do estudo, não lhe sendo interdito a observação e o exame, sendo os mesmos, recomendados; mas no caso em questão, não deverão sê-los para a revisão da “Obra Básica”, e das demais que se lhe seguem e lhe acompanham, mas sim, quero acreditar, para a compreensão de que o Espiritismo, de fato, constitui uma Doutrina incompleta nos dizeres do próprio Kardec em tantas ocasiões, e que sabia, portanto, das necessidades de sua complementação.

 

Portanto, o universo cultural espírita ampliou-se muito neste sesquicentenário do Espiritismo no mundo, estando a exigir de nós todos incessantes trabalhos, compenetrados estudos, seríssimas reflexões de sorte a peneirarmos e retirarmos de tantas obras, tantas coleções mediúnicas, ou não, tudo quanto possa auxiliar o engrandecimento desta verdadeira Universidade do Espírito, estando Kardec como o seu primeiro e mais legítimo representante, cabendo-nos, pois, a ele, e a essa plêiade de Espíritos superiores que lhe assessoraram, nosso pleito de gratidão, respeitando-lhes e admirando-lhes pelos séculos porvindouros de nossa existencialidade no mundo, no processo cíclico das reencarnações.

 

Portanto, tenho cogitado que:

 

COMPLETAR-SE A OBRA DE KARDEC, SIM!

Sou favorável a tal complementação pelos mais diversos meios, ou seja: por outros trabalhos, outros estudos, novos e confiáveis tratados científicos, filosóficos, mediúnicos ou não; este autor mesmo pondera haver dado sua modesta contribuição intuitiva, conquanto não se possa agradar a todos, com dezenas de páginas abordando os temas: “Psi-Matemática dos Universos” (17 artigos); “Concordância Universal” (tese pluralística - 10 artigos); “Teoria da Criação Espiritual” (10 artigos); e etc.

 

Mas, por outro lado, penso que:

 

REVISAR-SE A OBRA DE KARDEC, NÃO!

 

A meu ver, não creio seja esta a melhor e mais sábia opção que, como já visto, o desfiguraria de sua realidade, deturpando-lhe as fontes sublimes e altaneiras de sua divina revelação. Ora, no aspecto das informações mediúnicas, não há consenso por parte dos mais diversos intelectuais espíritas quanto ao que se deva revisar, verificando-se muitas informações novas em meio a desconfianças e desentendimentos difíceis de serem sanados; e, no aspecto científico, do conhecimento já realizado pela Ciência do mundo, temos muita confirmação dos postulados do Espiritismo, e, na contrapartida, irrisória, e também, não muito confiável informação que possa vir a fazer parte dos ensinos espiritistas sendo, pois, muito cedo para que tais avaliações possam constituir doutrina e, por conseqüência, revisões, em face da arrogância, imaturidade e incredulidade de muitos de tais profitentes, rebaixando-os em sua espiritualidade e moralidade. Num e noutro caso, pois, é inadmissível que se possa consolidar uma revisão da obra de Kardec.

 

Neste encerramento, pois, quero crer que:

 

A obra de Kardec deve ser complementada sim!  Mas revisá-la, não creio seja esta a mais acertada e inteligente das nossas opções!

 

Compêndios Consultados:

 

 

1-O Livro dos Espíritos: Allan Kardec – Feb;

2-A Gênese, os Milagres e as Predições: Allan Kardec – Feb;

3-Obras Póstumas: Allan Kardec – Feb;

4-No Mundo Maior: André Luiz - Feb;

5-Evolução Em Dois Mundos: André Luiz - Feb;

6-O Consolador: Emmanuel – Feb;

7-A Grande Síntese: Pietro Ubaldi – Fundapu;

8-Em Busca da Matéria Psi: Henrique Rodrigues e M. B. Tamassia – Casa Editora O Clarim;

9-A Matéria Psi: Tese de Hernani G. Andrade, diretor do IBPP;

10-Problemas da Física Moderna: Max Born, Pierre Auger, E. Schrodinger e E. Heisenberg – Editora Perspectiva. 

Autor: Fernando Rosemberg Patrocínio

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