COMPARAÇÕES

de Romano Dazzi

 

Tudo, na vida, é baseado em comparações.

 

Você compara  cores, pesos, pessoas, gostos, imagens, palavras.

As comparações permitem-lhe tomar decisões o tempo todo.

 

Você compara a temperatura de hoje com a de ontem: e assim descobre que hoje pode sair sem casaco, porque está mais quente do que ontem.

  

Aquela pessoa especial, alegre, inteligente, que você encontrou hoje, faz você compará-la com  outras,  que estão ao seu redor. 

E assim ela passa a ser a sua companhia preferida.   

 

Visitando uma nova casa, você estabelece paralelos entre esta e aquela; a sala é menor, mas mais iluminada; a cozinha é maior mas menos “jeitosa”; o jardim...bem o jardim “nem se compara”!...

 

Se você não pudesse comparar, como “aprenderia”  seus gostos, suas preferências, seus desejos ?

Claro que, quando não existem unidades de medida, a comparação é um ato meramente subjetivo, pessoal.

Imagine se usássemos unidades para medir as sensações, os sentimentos, os laços de relacionamento com os outros.

Assim, por exemplo, eu diria à minha esposa:

- “Querida, te amo  32 quilos”. 

E ela com certeza viria com:

- “Ah é? Você não me ama mais; no verão passado me amava 47 quilos!”

E o aluno, zangado com a professora,diria, entre dentes:

- “Eu odeio esta mulher, Detesto-a  44 litros!”

Mas logo viriam as comparações, novamente:

Mamãe diria: Gostei 38 libras deste vestidinho; mas gosto 44 libras deste outro.

(Nada a ver com o tamanho, visto que ela hoje só cabe num 46, ajustando um pouco aqui e ali)

 

 A coisa complica quando somos obrigados a comparar, no mesmo sistema de unidades, objetos e pessoas.

Você não poderá dizer à sua namorada que a ama muito, digamos 63 metros; porque ela sabe que você ama uma Ferrari, no mínimo 87 metros.

Seria uma declaração de guerra!

Melhor deixar tudo como está.

Então, fica decidido: nenhuma unidade de medida ao declararmos nossos sentimentos às pessoas; a qualquer pessoa.

 

 

Pensando bem,  até os verbos foram sabiamente limitados:

Primeiro grupo, de baixo índice de envolvimento:  aprecio, estimo, simpatizo, admiro ;

Segundo grupo, onde a gente se arrisca de verdade :  gosto, amo, venero, adoro.

 

Acabou aí. Dizem tudo, sem dúvida;  e com uma precisão suíça.

Mas são secos, sem graça,  sem paixão; 

Então, temos que ajudar com  acompanhamentos,  complementos;

estes são como o enchimento de lingüiça ou de travesseiros: são os advérbios:

 

Alguns são dúbios,  como “bastante”,  “mais ou menos”  ou “ suficiente”;

dizem apenas o mínimo necessário, nem um pingo a mais;

parece que saíram de uma máquina de fazer suco.

Quem diz : - “Te amo bastante!”  não define nada. Deixa tudo no ar.

E quem afirma “Gosto dela mais ou menos” – já disse tudo. Se foi!

 

Outros são mais largos,  como  “muito”,  “demais”; 

mas também, não agradam;  são comuns, ordinários.

Dizer “gosto muito de você” é como dizer “gosto muito de macarrão”.

Quem solta “te aprecio demais” – mostra que carrega um peso...

Não são satisfatórios.

 

Há o recurso do sufixo; um deles, infalível, é o  “mente”: 

abundantemente , profundamente, completamente......   Bom para rimas.

Dizer “Te adoro infinitamente – te amarei eternamente!” já é um bom passo adiante.

 

Mas evite sempre as quantificações;

Quando você diz “te amo muito”  a pergunta capciosa vem rápida: “Quanto?” 

E aí você deve  estar  pronto para a resposta:

“Dez quilos!”  ou   “Quatro metros!” ou “Trinta e dois litros!”...

 

Nas comparações, você pode sempre ganhar o que perdeu na quantidade:

 

“Quero muito bem a você;  mais que a um pastel...”

“Me dou melhor com você do que com ele...”

“Te desejo tanto, tanto.... mais que uma aspirina... apesar da  minha dor de cabeça!”..

 

 Mas atenção: você já recomeçou a misturar sentimentos (amo, odeio, adoro) com pessoas (você, ele, ela, o amigo, a colega) e com as malditas comparações (mais, menos, muito, pouco)

A gramática lhe dá  o básico; o resto, é a expressão. E esta, é com Você!

Dirija com cuidado!