Anamarija Marinović

Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa

 

COMPARAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DE APRENDIZAGEM E AS TEORIAS DA AQUISIÇÃO DE LÍNGUAS

Resumo:

Este trabalho pretende dar uma abordagem teórica e histórica dos problemas da aquisição e aprendizagem das línguas, baseando-se sobretudo num trabalho de investigação de Chomsky e Piaget. Serão analisados os processos da aprendizagem e aquisição da língua materna e das estrangeiras, tanto por parte das crianças como dos adultos.

Palavras-chave: aquisição, aprendizagem, língua, crianças, adultos

Abstract:

This work pretends to give a theoretical and historical approach of the problems of acquisition and learning of languages, basing especially on a ressearch work of Chomsky and Piaget. The processes that will also be analyzed are  learning and acquisition of mother tongue and of foreign languages by children as well as by adults.

Keywords: acquisition, learning, languages, children, adults

 

 

 

 

 

Introdução

 

            Nas páginas deste pequeno trabalho serão abordados os seguintes conceitos: a aprendizagem e aquisição da linguagem, seja da língua materna, seja da segunda língua, os factores que influenciam estes fenómenos (as habilidades cognitivas, e os mecanismos necessários para os processos da aprendizagem ou aquisição aconteçam). O nosso objectivo será concentrar-se principalmente no livro do debate entre Noam Chomsky e Jean Piaget intitulado Teorias da Linguagem, Teorias da Aprendizagem, embora sejam mencionados também outros autores e especialistas nesta área. Dado que o domínio da aprendizagem e aquisição das línguas não está relacionado pura e simplesmente com a linguística, serão consultados também livros das áreas de psicologia, psicolinguística e outras disciplinas afins. Prestar-se-á uma atenção especial a forma em que as crianças aprendem (adquirem) a língua materna, porque existe uma ideia geral que os adultos aprendem línguas de maneira diferente ou até com mais dificuldades. Aqui também será discutido se existe ou não um “período crítico” após o qual é impossível aprender uma língua, para se ver até que ponto várias teorias contribuíram para o desenvolvimento dos estudos da linguagem. Nas páginas deste trabalho colocar-se-á a questão da relação que existe entre a linguagem e o pensamento e qual destes processos é anterior ao outro, visto das perspectivas de vários autores.

Várias abordagens possíveis do conceito da linguagem

Quando tentamos definir a linguística, geralmente a primeira ideia que nos surge é determiná-la como “a ciência sobre a linguagem”. Esta definição está correcta, mas parece incompleta, porque serve como ponto de partida para uma série de questões que se levantam ao terminar de ler esta designação. O quê é uma linguagem? Que tipos de linguagens é que a linguística se dedica a estudar (linguagem humana, linguagem animal , linguagem humana, linguagem dos computadores etc.), quais são as funções da linguagem humana, como se pode qualificar e classificar, se é um sistema que se herda  ou  que se aprende e ver-se-á se ele se adquire ou não. É importante saber se a linguagem pode ser um sinónimo absoluto da palavra língua ou se trata de um determinado tipo de língua. Para sabermos a resposta a algumas destas questões, devemos ver primeiro como é que os especialistas na área da linguística observam este problema. Maria Francisca Xavier e Maria Helena Mira Mateus (1992) ao definirem a língua têm a seguinte perspectiva: Língua sistema verbal que se desenvolve espontaneamente no interior de uma comunidade. Este termo opõe-se à língua artificial. Exemplos: Português, Francês etc. As palavras-chave que encontramos aqui são: “sistema verbal” “desenvolver-se espontaneamente”, “comunidade”. Daqui podemos concluir que estas autoras defendem a ideia de que a língua é adquirida e de que o papel social da comunidade é importante, porque um indivíduo não pode começar a falar sozinho, sem ajuda de ninguém, ou seja, sem interacção. Quanto ao conceito da linguagem, as mesmas autoras têm este ponto de vista: Linguagem Capacidade humana de comunicar através do uso sistemático e convencional de sons, sinais ou símbolos escritos. O termo é utilizado para exprimir outros conceitos como meios de comunicação dos animais ou sistemas de programação em informática etc. O que chama a nossa atenção agora é a visão da linguagem como um sistema convencional, isto é dentro de cada língua existem certas regras e convenções que a determinam e fazem tão diferente em relação a todas as outras. Outro aspecto importante desta definição é que o termo linguagem é mais restringido que o termo língua e que se usa em contextos e situações específicos. Embora as professoras não o mencionem, em determinados momentos pode falar-se da linguagem literária, linguagem dos adolescentes, linguagem do jornalismo etc. Malaca Casteleiro (2001) define a língua como: sistema de signos vogais que podem ser transcritos graficamente comum a um povo, a uma nação, a uma cultura e que constitui o seu instrumento de comunicação. Esta conceptualização da língua é bastante diferente da primeira e focaliza-se principalmente na função cultural que desempenha dentro de uma comunidade, e concentra-se na ideia de que a língua faz parte da identidade humana. Outro elemento importante é o papel da comunicação, que cada idioma sem dúvida alguma tem em cada sociedade. No entanto, uma língua não serve apenas e só para comunicar, mas também para transmitir valores culturais e sociais, para criar arte, para ensinar as disciplinas escolares e por aí fora. Estas funções aqui enumeradas denominam-se como funções externas, enquanto também existem as funções internas da língua, nomeadamente o pensamento. (Herculano de Carvalho, 1967). Saussire (1971, 32) observou bem a relação entre a linguagem e o pensamento e disse. “ linguagem serve o pensamento e só por ele existe” . Esta visão ilustra muito bem a necessidade do homem de exprimir os seus pensamentos e a única via possível para o fazer é através da linguagem. Mesmo que não exprimamos oralmente a nossa opinião sobre algum assunto, o pensamento é um processo que ocorre no nosso interior e também precisamos de um sistema linguístico para pensarmos. Também, a linguagem tem um lado individual e um lado social. O social serve para os membros de uma comunidade interagirem entre si, e transmitir todos os valores e funções que acima foram atribuídas a uma língua, e o lado individual tem a função de salientar as características de cada pessoa em particular.

Conceitos e definições dos processos da aquisição e da aprendizagem

 

É de conhecimento geral que todas as crianças saudáveis são capazes de aprender a sua língua materna ao longo dos primeiros anos de vida. A língua que foi aprendida primeiro, chama-se primeira língua ou em inglês first language. No caso de os pais serem falantes de duas línguas diferentes e de exporem a criança às duas desde o mesmo início da comunicação com ela, a criança terá duas primeiras línguas et c. O que tem sido interesse dos cientistas ao longo dos anos foi a forma em que a criança aprende a sua língua materna. Durante vários anos chegou-se à conclusão de que neste processo existem características em comum para todas as crianças no mundo. É um processo que envolve o desenvolvimento cognitivo, psicológico, linguístico e social da criança em questão. A componente social é muito importante, tendo em conta que a linguagem é um meio através do qual uma criança não aprende apenas a formar frases gramaticais, mas adquire também os valores culturais, sociais, religiosos e outros, que estão em vigor na sua comunidade. Aqui é que introduzimos a diferença entre os significados das palavras “aprendizagem” e “aquisição” importantes em igual medida quando se trata das línguas, seja maternas, seja estrangeiras. A aquisição é geralmente considerada uma forma fácil e rápida de se adoptar um sistema linguístico, diferente do modo formal e institucionalizado em que as línguas são aprendidas na sala de aula. A aprendizagem relaciona-se com a recepção da informação, a sua transformação em conhecimento e a acumulação doesse conhecimento mediante o exercício da memória Schütz (2006). No entanto, a aquisição ou assimilação de uma língua está mais ligada ao convívio humano e às situações naturais. Sendo constantemente exposta a uma língua falada pelos pais e pessoas que a rodeiam, a criança ouve-a, repete, imita e finalmente cria as suas próprias frases. Desta maneira ela implicitamente intui as regras existentes nessa língua. Em outras palavras, tudo isto chama-se aquisição da linguagem. Neste processo a criança deve ser capaz de aprendera língua a vários níveis, desde a fonética até a sintaxe e fá-lo sem grande esforço. (Wiesler, Milekic, 1999). Partindo desta hipótese, muitos autores levantam a questão se a língua e a fala são capacidades inatas, se se trata dum alcanço cultural ou é um simples processo de imitação. (Alyshmerini, Taugbr, 1970). As respostas podem ser diversas, dependendo da perspectiva científica da qual se observa este problema, e isso será analisado ao longo deste trabalho. A imitação propriamente dita tem um papel importante no desenvolvimento da língua, mas não é o único nem o principal, porque se fosse só a imitação, uma criança aprenderia a produzir frases completas e correctas logo no início da sua vida. No entanto, vemos que na prática não acontece assim, porque as crianças passam por várias fases ao longo do seu desenvolvimento linguístico. Nos primeiros meses de vida é capaz de reduzir o sentido completo da frase à uma única palavra, depois passa à chamada “fase telegráfica” em que a frase já tem dois elementos categoria é adquirida mais tarde. (Tomasello, 1992) O primeiro que se aprende são as formas regulares e depois a criança adopta as formas irregulares (o  plural irregular de alguns substantivos,, as irregularidades dos verbos, a comparação supletiva dos adjectivos). Numa fase que se encontra entre a aquisição das formas completamente regulares e a adopção das irregularidades, a criança tenta regularizar as formas ou intuir como seria correcto dizer um determinado verbo ou substantivo. De acordo com ,Warner e Gleitman, (1989), as crianças que têm o inglês como língua materna nas etapas iniciais da aquisição da sua primeira língua tendem a pronunciar singed em vez de sang, bringed  em vez de brought  ou childs em vez de children. Estes erros servem como testemunho de que as crianças neste período recorrem ao mecanismo da generalização das regras já existentes.

À medida em que a criança cresce, aumenta o seu conhecimento da própria língua, e o diálogo entre ela e os pais torna-se cada vez mais fluente e mais natural, e por isso os pais têm cada vez menos necessidade de utilizar a linguagem modificada e simplificada, abundante em diminutivos e formas compreensíveis para a criança. A opinião geral que as pessoas têm sobre os processos de aquisição e aprendizagem é que as crianças adquirem, enquanto os adultos aprendem melhor. Nesta frase há verdade, mas estes processos não se excluem mutuamente. O termo “aprendizagem” relaciona-se mais com um processo explícito ou com uma instituição formal, mas na realidade trata-se de duas maneiras diferentes de a pessoa se familiarizar com uma determinada língua. A aquisição da linguagem por parte de uma criança depende muito da forma em que os familiares se lhe dirigem. Quando falamos com as crianças, segundo afirmam Snow e Ferguson (1979) a estrutura da frase é diferente, repetem-se com grande frequência as mesmas palavras, as frases longas dividem-se em partes pequenas com sentido próprio, fala-se mais devagar com pausas, a entonação das frases é muito importante. Da forma em que interagimos com a criança depende o input linguístico que ela vai receber e a partir daí ela vai ser capaz de produzir as frases não espontâneas (que reproduz imitando) ou frases espontâneas que inventa sozinha utilizando o vocabulário que já sabe..

No processo da aquisição a criança desenvolve o lado prático e funcional da sua língua, sem receber nenhuma instrução teórica. Os pais, quando falam com os filhos, não lhes explicam as regras gramaticais, nem utilizam a terminologia linguística, no entanto habilitam a criança empregar a língua correctamente. Veremos agora como os termos de aprendizagem é aquisição são definidos num dos dicionários de referência para a língua portuguesa. O input linguístico que a criança recebe é enorme , mas por sua vez também limitado, porque uma criança não vai ser exposta a todas as variedades linguísticas (sociais, culturais etc.) do sistema que adquire, segundo refere Rosser (1994), mas só à uma, a do meio sociocultural em que os pais vivem. A tarefa da aquisição da língua pela criança não é fácil, tendo em conta que poucas palavras (geralmente as onomatopeias) são parecidas com o objecto que denominam. A  criança tem de descobrir e activar os mecanismos característicos da sua língua para a poder usar correctamente.

Veremos agora como os termos de aprendizagem é aquisição são definidos num dos dicionários de referência para a língua portuguesa.

 Segundo Malaca Casteleiro (2001:305) esta entrada é definida da seguinte forma: “Aprendizagem . de aprendiz+ suf. -agem) 1. Acção de adquirir conhecimentos e a prática necessários para exercer uma certa actividade, acto ou efeito de aprender”. Como vemos, este autor não separa absolutamente os dois processos, referindo-se à aprendizagem em geral, mas esta mesma definição talvez possa ser aplicada também na aprendizagem duma determinada língua.

A aquisição, porém, neste dicionário não está muito relacionada com a linguagem, porque é definida da seguinte forma: “acção de obter a posse de alguma coisa por meio de compra, herança ou dádiva” (idem, 317). A palavra herança aqui poderia ser importante se quisermos compreender o processo da aquisição de uma língua como algo inato ou escrito nos genes de cada indivíduo e como se poderá observar mais adiante, há autores que explicam este processo justamente desta forma. A aquisição é um processo subconsciente e segundo Krashen “requer uma interacção significativa na língua-alvo e a comunicação natural.” Esta ideia pode-se referir tanto à aquisição da primeira como da segunda língua. O que nos interessa aqui é a palavra “interacção” que pode sublinhar o papel do ambiente em que o aprendente de uma língua vive e também a importância da função social e cultural da própria linguagem. Vimos já que estes processos são distintos, mas não se excluem, completam-se. O primeiro que chamou a atenção para esta diferença existente entre eles é o autor Stephen Krashen desenvolvendo uma teoria sobre estes dois conceitos. Apontou para a aprendizagem como para uma abordagem tradicional, em que a língua é vista na sua estrutura formal e o aprendente tem de fazer um maior ou menor esforço intelectual para se familiarizar com os conteúdos aos que se expõe. A aprendizagem formal pode servir para monitorar a fala, isto é, o falante tem primeiro de pensar na regra e depois aplicá-la, o que pode levá-lo a produzir frases correctas, mas pode fazer a comunicação mais lenta. Também, segundo R. Shütz, os factores da introversão e extroversão da pessoa têm grande importância na aprendizagem ou aquisição. Isto é, afirma que as pessoas com menos autoconfiança e mais tímidas, mesmo que dominem bem a gramática, terão dificuldades na comunicação, enquanto as pessoas mais abertas e comunicativas, interessar-se-ão mais na fluência da linguagem e as formas de exprimirem –se, que nas regras formais da gramática.

Além disso, devemos também salientar o papel do professor nativo ou não nativo no processo da aprendizagem, tendo em conta a existência da hipótese, segundo a qual a aprendizagem da pronúncia é melhor com os falantes nativos.

Já está comprovado que as crianças adquirem a linguagem, e as seguintes questões que se levantam são como ocorre o processo da aquisição, qual é a origem da fala, se existem capacidades inatas que facilitam a adopção de um sistema linguístico, e quais são, se aprender a falar é o mesmo que aprender qualquer outro comportamento, se isso é uma habilidade cognitiva específica do género humano etc. As posições dos cientistas sobre estes temas variam e será interessante considerar aqui algumas delas.

 

 

 

 

 

Aprendizagem e aquisição da linguagem: o que diz a ciência

 

A capacidade dos homens a produzirem frases com sentido e significado tem sempre tido grande interesse para os cientistas de várias áreas: linguistas, psicólogos, biólogos etc. e cada um deles, de acordo com as investigações feitas e conhecimentos que adquiriu tem uma postura diferente. Se o desenvolvimento da capacidade fosse algo completamente natural, parecido com o processo de aprender a caminhar, o papel da sociedade em ensinar à criança a sua primeira língua não teria nenhuma importância, porque cada criança seria capaz de a aprender sozinha. Sapir (1970) salienta que enquanto o processo de aprender a andar é instintivo e natural, aprender a falar não o é, porque com a linguagem adquire-se também a sua dimensão cultural, para a qual é preciso que a criança receba ajuda da família e da comunidade em que vive.

Há autores, no entanto, que defendem a ideia de que na aquisição de cada língua o que tem um papel decisivo são os mecanismos biológicos do organismo. J. Aitchison# (in: Clark V. Et al. 1994)[1]  considera que a aquisição da linguagem é “a biologically triggered behaviour that must occur during a specific critical period if i is to occur normally.” Como acabámos de verificar nesta citação, as palavras importantes são “comportamento biologicamente incentivado” e “período crítico”. A palavra “comportamento” sugere-nos uma visão próxima dos behavioristas, enquanto o sintagma  a seguir significa que há uma base biológica no organismo de cada indivíduo que determina a aquisição da linguagem. Por último, a ciência tentou demostrar a existência de um período crítico após o qual a aprendizagem da linguagem seria impossível e chegou-se à conclusão de que a data-limite é aproximadamente o período da puberdade e daí provém a ideia do factor da idade na aquisição da linguagem. A seguinte questão que se coloca aqui é quanto pode ser aprendido de forma implícita ou explícita e também quais são os processos que se aprendem implícita ou explicitamente. Dekeyser (in: Doughty, Long, 2005) comprova que, apesar de todas as vantagens da aquisição da linguagem, salientadas em vários livros, o que realmente se aprende implícitamente é apenas entre 55 e 70 % dos conhecimentos. Este número é significante, mas mostra também que a aprendizagem implícita não é suficiente quando se trata da linguagem e que é preciso introduzir também a forma explícita de aprender. Agora vemos que a aquisição e a aprendizagem não são processos completamente opostos e que devem coexistir e complementar-se. A apresentação explícita das regras é útil só se for acompanhada pela prática. Os pais, por exemplo, não podem dizer ao filho que uma palavra é incorrecta e serem eles próprios a continuarem a usar esta forma. Segundo as palavras do mesmo autor, a criança aprende implicitamente as situações complexas e explicitamente as regras fáceis. Esta hipótese pode ser comprovada se olharmos para as porcentagens anteriormente citadas.

 

 

 A posição behaviorista

 

A escola behaviorista apareceu primeiro na área da psicologia e relaciona-se principalmente com os nomes de Pavlov, Tordike, Watson e Skinner. O nome provem da palavra inglesa behaviour que significa comportamento e s ideias principais destes cientistas são que tudo aquilo que aprendemos é um tipo de comportamento que depende de determinadas condições, que a aprendizagem surge como reacção ao estímulo e quanto mais forte for o estímulo, melhor será a aprendizagem. Os seus experimentos foram feitos nos animais e depois generalizados . Tendo estes factores em conta, poderíamos pensar que a mesma lógica é seguida no caso da linguagem. Nomeadamente Skinner considerava que a linguagem era um comportamento igual a todos os outros e que se submete a regras e princípios iguais para todos os comportamentos. Expõe as suas ideias no livro The Verbal Behaviour. Por exemplo, a criança começa a produzir os primeiros sons e palavras e se a reacção da família é positiva, ela sente-se reforçada e estimulada e vai continuar a falar. A sua análise da língua baseia se nem tanto na noção da forma, quanto na função que ela tem. Por tanto, defende a ideia de que o ambiente social desempenha um papel importante no desenvolvimento do comportamento verbal. A criança nasce dentro de uma determinada sociedade, ouve a fala e para interagir socialmente é obrigada a aprender a língua. Para Skinner, a língua das crianças não é uma mera imitação da fala dos adultos e sublinha a característica da produtividade e criatividade de cada língua. Os adultos escutam o que a criança diz e reforçam as formas correctas que ela produz. Desta forma, a linguagem da criança não é simplesmente um modelo de estímulo e resposta, mas chega a ser um comportamento socialmente aceitável. Ele está a favor de que as crianças aprendem e não adquirem a língua dos pais, dado que, segundo ele, se trata de uma forma de comportamento e todos os comportamentos, na perspectiva behaviorista, são aprendidos.

Há autores que consideram que a capacidade da linguagem é uma maneira de agir (Bolinger 1975) tal e como o são as acções de chorar ou respirar, mas a linguagem é mais complexa e por isso não se pode considerar um simples comportamento. Na perspectiva de Bloomfield (1973)  language enables one person to make a reaction (R), when another person has a stymulus. (S)[2].  Pelo que vemos, a teoria de Bloomfield é claramente beahviorista, ou seja observa a linguagem como uma espécie de comportamento condicionado e baseado no estímulo e resposta, semelhante ao estudo de Pavlov.  Além disto, considera também que a divisivisão do  trabalho e a  hierarquização da sociedade se  devem à linguagem, por tanto, não se discute simplesmente da língua como um comportamento aprendido, mas também e salienta o seu papel e valor social. No uso da língua o estímulo e a resposta são importantes, mas no caso da língua, existe uma questão específica e diferente do caso do estímulo da fome e outras necessidades do organismo. Isto é, quando alguém dirige a palavra a uma pessoa, ela pode não responder verbalmente, ou até outra pessoa pode intervir na conversa e responder em vez da pessoa que foi perguntada.. Aqui o que se impõe é a importância da sociedade e dos grupos sociais que partilham uma determinada língua. Outro ponto que Bloomfield salienta na sua teoria é a relação entre o pensamento e a linguagem na criança. Quando crianças, falamos em voz alta para nós próprios, e só quando somos corrigidos pelos adultos aprendemos a falar e exprimir as nossas opiniões e desejos. Na sua visão o valor da linguagem depende das pessoas que a usam. A imitação dos adultos que a criança usa é também uma espécie de hábito. O que Bloomfield não consegue responder é quais são os mecanismos que levam uma pessoa dizer certas palavras em certas situações, nem por que razão damos as respostas certas ou erradas em determinados momentos.

 

 

A perspectiva de Vigotsky

            O cientista russo L. Vigotsky tem uma visão ligeiramente diferente da do seu colega Skinner. Para ele, não se trata dum comportamento, mas sim vê a linguagem e a sua aquisição como um processo biológico, cultural e social. Na sua opinião a linguagem e o pensamento são dois processos separados nos primeiros dois anos da vida da criança, e a partir dessa altura  a fala torna-se cada vez mais racional e relacionada com o pensamento. A sua teoria vê o desenvolvimento de cada indivíduo como um processo histórico-social e enfatiza o papel da linguagem neste sentido. A linguagem, na sua perspectiva é adquirida na interacção do indivíduo com o meio que o rodeia e que o aspecto cultural tem um papel importante na construção dos significados pelos indivíduos. Analisando o funcionamento do cérebro humano, chegou à conclusão de que a linguagem como uma função superior é um passo muito grande na evolução humana porque ela ajuda a transmissão dos conhecimentos culturais e sociais.

 

 

O desenvolvimento da linguagem segundo Jean Piaget

 

            O biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget, através da observação cuidadosa dos seus próprios filhos e muitas outras crianças introduziu uma novidade na ciência da sua época, descobrindo que as crianças pensam duma forma diferente da dos adultos e que, de acordo com isso, passam por diversas fases ao longo do seu desenvolvimento biológico, psicológico, intelectual e linguístico. Foi um dos primeiros autores Piaget,1984)  que chamou a atenção para o conceito do desenvolvimento da pessoa e distinguiu entre os factores biológicos, educacionais, culturais, psicológicos, factores que servem para equilibrar s acções da pessoa.

Ao longo dos seu estudos chegou à conclusão de que em todas as partes do mundo as crianças interagem da mesma forma, porque “em todos os meios há indivíduos que se informam, colaboram, discutem, se opõem etc. e esta troca inter-pessoal intervém ao longo de todo o desenvolvimento que interessa que interessa tanto à vida social das crianças entre elas como às suas relações com os mais velhos ou adultos de qualquer idade. “ (Piaget, 1984, 64) A capacidade de aprender a linguagem é vista como uma habilidade cognitiva e o nível linguístico que uma criança possui depende do seu conhecimento do mundo. Na primeira época da sua vida, a criança é “egocêntrica”,  o que significa que começa a produzir os primeiros sons para si própria, explorando desta forma as possibilidades linguísticas do sistema que está a ouvir no meio que o rodeia. Quando começa a repetir as sílabas que ouve, não sabe que na realidade, está a imitar a fala dos outros. Nessa fase é característica a repetição das combinações de uma consoante e uma vogal. A primeira etapa (a sensorial-motora) começa no período entre o próprio início da vida e dura aproximadamente até aos 24 meses de idade. Caracteriza-se por ser um período pré-linguístico, mas que nas crianças saudáveis demostra a existência de alguns sons, que depois a levarão à aquisição da sua língua- mãe. Já a partir dos 18 meses cada criança normal é capaz de compor frases simples de duas palavras e a isso chama-se a “fase telegráfica”, em que geralmente , (Slobin, 1969)  se combinam um substantivo e um verbo, de modo a satisfazer as necessidades mais imediatas que fazem parte do mundo do pequeno falante.

Na fase a seguir (período pré-operativo) que dura entre os 2 e os 7 anos de idade, a criança começa a relacionar o significado das palavras com o objecto que elas  designam de  forma a satisfazer algumas necessidades que tem. O seu vocabulário começa a aumentar rapidamente e até aos sete anos já sabe produzir as primeiras frases complexas. A socialização da criança tem um papel importante neste período do seu desenvolvimento, porque interagindo com outras crianças e pessoas adultas, vai aprender mais vocabulário e vai conseguir formar mais frases complexas. A gramática das crianças baseia-se principalmente na aquisição da semântica e não na sintaxe, como no caso dos adultos, sendo a semântica um sistema menos abstracto e complexo que a sintaxe, segundo afirma Hayams (1986).

Na aquisição do vocabulário a criança tem a tendência da expansão de um significado que já sabe a todos os objectos parecidos de alguma forma com o que ela já conhece. Por exemplo, uma vez que aprendeu a palavra “bola”, nesta fase vai utilizá-la para se referir a todos os objectos redondos, como refere Yule, (1996).

Na opinião de Slobin (op.cit), quando as crianças começam a produzir frases complexas, nota-se a estrutura e a hierarquia estrutural dentro da frase. Na etapa pré-operacional a criança ainda não sabe os sentidos figurados ou ambíguos das palavras e por isso muitas vezes não é capaz de perceber alguma expressão idiomática, ou fixa ou os provérbios e ditados populares. No entanto, esta fase do desenvolvimento da linguagem é bastante criativa, porque as crianças inventam as suas próprias palavras, utilizando os mecanismos linguísticos que já conhecem para se referirem a alguns objectos e tentando generalizar algumas regras já adquiridas. Estes “erros” para eles têm lógica para eles. Esta é a etapa em que a criança deseja saber muito e faz perguntas constantemente sobre o mundo que o rodeia. Começa a construir as frases interrogativas, geralmente encabeçadas pela palavra “porquê”. No período das operações concretas (entre os 7 e os 12 anos) a criança aprende que é possível transformar a realidade através da linguagem. A construção das frases é cada vez mais complexa, alguns conceitos abstractos já começam a fazer parte da linguagem etc. A última fase descoberta por Piaget chama-se período das operações formais e surge logo a seguir o período anterior, durando entre os 12 e os 15 anos de idade. Nesta fase, a criança começa a reflectir sobre a linguagem, pode conscientemente dizer quais são as frases aceitáveis e gramaticais e explicar a razão pela qual uma oração é correcta ou não, é capaz de reflectir, expressar-se e escrever sobre os temas abstractos e complexos. O importante é que para Piaget a linguagem não é um comportamento aprendido, mas uma capacidade cognitiva que se desenvolve com o tempo. O que é importante na teoria de Piaget é que não acredita nas capacidades e conhecimentos inatos. Na sua opinião um indivíduo não pode adquirir um novo conhecimento sem ter já um conhecimento anterior que possa transformar ou assimilar Esta forma de ver o conceito e o processo do conhecimento será uma das diferenças principais entre Piaget e Chomsky, o que será analisado mais detalhadamente ao longo deste trabalho. Piaget defende a opinião de que a inteligência se constrói e por isso a sua teoria é denominada construtivismo. O conhecimento não é uma mera imitação nem cópia da realidade mas é uma construção própria de cada ser humano que se realiza através dos esquemas que ele possui já na mente.

 

As diferenças entre as teorias de Vigotsky e de Piaget

 

Ao longo das partes anteriores deste estudo podíamos ver algumas ideias básicas sobre como estes dois cientistas interpretam a linguagem e o seu papel no desenvolvimento de cada indivíduo. A diferença básica entre eles vê-se melhor no conceito do desenvolvimento das pessoas, e consequentemente, no conceito do desenvolvimento linguístico. Para Vigotsky, o desenvolvimento é visto de forma retrospectiva, isto é, a linguagem desenvolve-se de acordo com a cultura, e na visão de Piaget, a linguagem é desenvolvida progressivamente, de acordo com os processos mentais e intelectuais. No entanto, os dois autores consideram que existe a fase da linguagem egocêntrica e que ela não serve para a criança comunicar com os outros, mas sim para explorar as possibilidades da sua língua, e dessa forma “comentar em voz alta o que está a fazer”, como refere Adriano Pasqualotti no artigo “A teoria de Piaget sobre o pensamento da criança” . Em que medida se trata de verdadeiros comentários da realidade em que a criança vive não é fácil determinar. Em relação à fase da fala socializada, para Vigotsky, ela precede a fase egocêntrica enquanto Piaget tenta provar o contrário- No entanto, Vigotsky defende a hipótese de que não nos podemos limitar só nas etapas do desenvolvimento evolutivo se desejamos saber qual é a relação verdadeiramente existente entre o desenvolvimento da criança e o seu nível da aprendizagem, isto é que estos dois factores se influenciam mutuamente e que se inter-relacionam. Como argumento para isso, Vigotsky aponta para a existência de uma “zona do desenvolvimento próximo” e de dois níveis evolutivos, o primeiro em que se desenvolvem as funções mentais da criança, e o segundo em que a criança tenta resolver um problema por si própria, não o consegue e pede ajuda a um adulto, e essa interacção com os adultos tem grande importância para o seu desenvolvimento e para a aprendizagem da linguagem. 

Quando o pensamento se torna cada vez mais abstracto, começa a depender cada vez mais da linguagem. Como é óbvio, a linguagem e o pensamento estão relacionados e não é possível pensar sem linguagem, como mais uma vez o afirmou  Bolinger (1975)

 

 

A teoria do Chomsky sobre o desenvolvimento da linguagem

 

O que foi revolucionário e inovador no trabalho de Chomsky era não ter acreditado em que a gramática se adquire através do contacto do indivíduo com a língua da sua comunidade, e ter defendido a ideia duma gramática universal e inata. Isso significa que nos genes de cada ser humano existe uma capacidade para aprender ou adquirir a língua. De acordo com isso, a base genética é anterior aos processos de desenvolvimento da linguagem e do pensamento.

Chomsky (1986) constata que frequentemente o conhecimento da linguagem é visto como uma habilidade prática de falar e de perceber, e acrescenta que as pessoas podem ter exactamente o mesmo nível de conhecimento de uma língua, mas também possuir duas maneiras diferentes de usarem essa habilidade. A habilidade de saber uma língua pode melhorar ou piorar, sem ter de afectar o conhecimento da língua. O próprio Chomsky (2002) vê a linguagem como um órgão, mas não um órgão que faz parte do corpo, mas, sim representa um sub-sistema dentro de uma estrutura complexa. Esta visão será o ponto de partida para as suas debates com Piaget, o que será explicado melhor nas páginas a seguir. Sé a linguagem é um órgão, a sua característica básica deve ser a expressão nos genes. Na sua perspectiva, a linguagem desenvolve-se do seguinte modo: a fase inicial é a aquisição, o input linguístico que o indivíduo recebe é a experiência e a própria linguagem é um output interiormente representado no cérebro. Como vemos, Chomsky tenta relacionar os conhecimentos e procedimentos de várias ciências para explicar de que forma surge a linguagem humana, sendo ela um fenómeno muito complexo e difícil de ser determinada de uma única forma. Este autor também deseja investigar quais são os mecanismos que o cérebro utiliza no processo da aquisição da linguagem. Compara (Chomsky, 2002,7) a aquisição da linguagem na criança com o crescimento dos órgãos do seu corpo, “é algo que acontece à criança e não algo que a criança faz.” Desta afirmação vemos que a teoria de Comsky defende a aquisição e não a aprendizagem da língua materna por parte da criança, como o acreditavam os behavioristas. Dado que ele considera as habilidades da aquisição da linguagem inatas e predeterminadas, na sua opinião o papel do ambiente em que a criança vive é secundário, mas não é possível recusá-lo por completo. A linguagem é, na sua perspectiva, (Chomsky , 1975) um “espelho do espírito”, um processo que não depende nem da vontade da criança, nem da sua consciência.

A linguagem humana é uma espécie de “órgão mental” que, se for apropriadamente estimulada vai ser capaz de criar uma gramática, e a partir daí o indivíduo pode começar a produzir frases com características formais, gramaticais e semânticas. Por tanto, aprender ou adquirir uma língua é um modo de preencher una estrutura inata. Chomsky acredita na existência de uma “gramática universal”, isto é uma série de regras e princípios que são válidas para todas as línguas do mundo e que estão “escritas” no nosso cérebro quando nascemos.

Diferentemente da escola empirista, Chomsky recusa a ideia de que o homem nasce como tabula rasa, isto é. que no momento do seu nascimento, dentro do cérebro não existe nenhum tipo de conhecimento., Aapesar da existência das universais linguísticas, cada língua tem a sua própria estrutura e organização hierárquica, e a tarefa de cada criança, ao começar a adquirir a sua língua materna é tentar descobrir quais são os parâmetros que funcionam dentro da sua própria língua, segundo afirma. Littlewood (in: Davis, Elder, 2004). As crianças bilingues tornam a interpretação desta tarefa ainda mais complexa, embora sejam capazes de adquirir com uma determinada rapidez as estruturas e os mecanismos de funcionamento das duas línguas.

Bolinger (2004) considera também que os mecanismos da linguagem são gravados de certa forma na mente da criança. Chomsky também critica a posição funcionalista segundo a qual o uso da linguagem determina a sua forma, comparando-a com as funções biológicas do organismo. Na sua opinião (Chomskuy, 1998,86): “cada órgão tem certas funções, mas essas funções não determinam o desenvolvimento ontológico do organismo”. Embora considere que existe uma gramática universal, Chomsky nunca afirma que a linguagem concreta (langue no sentido de F. de Saussire) é inata e continua (idem,98): “se o francês fosse inato, eu falava-o”.

Este investigador  concorda que na aquisição da linguagem (principalmente da primeira língua) existe um período crítico após o qual é cada vez menos possível adooptar um sistema linguístico, citando o exemplo das “crianças-lobos” crescidas num  selvagem e privadas da possibilidade de aprender uma língua natural. Se mais tarde conseguiram voltar à civilização e aprender a língua que deveria ser a sua língua materna, falavam-na com um sotaque, como se fossem estrangeiros. Por tanto, os genes humanos funcionam de uma forma logo a seguir o nascimento e mais tarde adquirem outras funções, o que dificulta cada vez mais a aquisição subconsciente, fácil e intuitiva duma língua.

            A rapidez com que uma criança adquire uma língua independentemente da raça, cultura, país ou meio social em que nasce, leva os cientistas a pensar que existem alguns factores inatos que influenciam o seu desenvolvimento linguístico. Para a criança começar a adquirir a língua, é preciso que não tenha problemas com a saúde (no cérebro ou nos ouvidos, porque a criança que não ouve, não vai ser capaz de reproduzir palavras e frases que existem na sua língua)  Embora exista uma parte genética muito importante que determina a assimilação de um sistema linguístico, a língua em si não é um sistema hereditário, como já vimos citando uma  frase ilustrativa de Chomsky e por esta razão cada nova geração tem de a adquirir partindo de zero e interagindo com  os membros da sua comunidade.

Alguns argumentos que apoiam a teoria do inatismo lançada inicialmente por Chomsky são os seguintes: no organismo humano existem órgãos e estruturas destinadas somente ao uso da fala, todas as crianças normais adquirem mais ou menos o mesmo nível da linguagem mais ou menos ao mesmo tempo e todas elas aprendem a empregar a língua com rapidez e naturalidade extremas, o que não seria possível pura e simplesmente por métodos da imitação ou aprendizagem condicionada. No entanto, nem a natureza, nem a instrução ou interacção da criança com o ambiente podem nem devem ser estudadas e analisadas isoladamente porque cada uma delas é uma componente importante do desenvolvimento linguístico de cada pessoa.

 

Visão da aquisição dada por Cambell e Wales

 

         Estes dois autores (Campbelle Wales in: Lyons, 1976) criticam a perspectiva de Chomsky e outros autores influenciados por ele afirmando que ele deixa de dar grande importância ao papel do ambiente em que a criança vive ao longo do seu desenvolvimento linguístico. Nas suas investigações referem que o desenvolvimento da linguagem não se pode ver isoladamente de todo o desenvolvimento da criança. Distinguem a competência linguística fraca da competência linguística forte, sendo na sua opinião a primeira  uma capacidade mais geral e a segunda específica da linguagem.. Partem dum conceito completamente ao de Chomsky, focalizando o ambiente e as possíveis fontes de onde a criança recebe a informação sem negarem a existência de uma parte dos factores inatos dentro do organismo da criança.

 

.Diversas opiniões de Chomsky e Piaget  sobre o processo da aquisição

 

            Os diversos pontos de vista entre o psicólogo suíço Jean Piaget e o linguista americano Noam Chomsky foram publicados num livro de polémicas intitulado como Teorias da Linguage, Teorias da Aprendizagem e as divergências entre estes dois cientistas serão expostas e analisadas mais profundamente neste capítulo. Trata-se principalmente das visões diferentes que surgem entre o construtivismo de Piaget e generativismo do Chomsky acerca de como um indivíduo assimila uma língua, principalmente materna. Para sabermos mais claramente de quê estamos a falar, convém antes de mais, definir estes conceitos. O construtivismo é uma teoria segundo a qual os novos conhecimentos se desenvolvem e constroem numa interacção constante do indivíduo com o meio., enquanto o generativismo ou gramática generativa é una competência interna do falante-ouvinte que lhe possibilita o facto de produzir e compreender as línguas segundo afirma Chomsky, (apud. Abraham 1974).

Piaget defende a ideia de que no homem não existem estruturas cognitivas a priori ou inatas que determinem a sua capacidade de adquirir uma determinada língua. Na sua perspectiva só o funcionamento da inteligência é hereditário e esse funcionamento engendra estruturas (Piaget, Chomsky, 1975:51) “por uma organização de acções sucessivas exercidas sobre os objectos.”

. Na opinião de Chomsky o que existe é uma capacidade da linguagem geneticamente determinada que especifica uma série de gramáticas humanamente acessíveis. Estas duas posturas diferentes fazem com que se levantem as seguintes questões: qual é o papel da inteligência no processo da aquisição da língua, se o conhecimento é algo que se constrói na interacção do indivíduo com o mundo ou é o organismo que determina as nossas habilidades de o adquirirmos, se existem alguns factores inatos quais são e em que medida são significativos para a linguagem. Chomsky é de opinião que a criança conhece a língua assim determinada pela gramática que adquiriu

. A gramática que a criança adquiriu poderia ser a chamada “gramática universal” definida por Chomsky como uma característica existente em todas as línguas do mundo. Partindo desta ideia este investigador pretende demonstrar que no organismo humano há uma capacidade estruturada pelos genes que nos permite adquirir uma gramática e uma língua, e qual será a língua a adquirir, depende do ambiente em que um indivíduo nasce. Estas estruturas inatas representam para este autor argumentos evidentes que mostram o carácter espontâneo, uniforme e complexo das regras da produção e compreensão das frases gramaticais.

Piaget, porém, salienta a complexidade e densidade do processo construtivo e a combinação das subestruturas em evolução que levam ao enclausuramento do comportamento cognitivo. Isto é, o processo cognitivo compõe-se de vários elementos menores que se desenvolvem e completam e contribuem para o desenvolvimento linguístico de cada pessoa. Além disto Piaget considera que as teorias da aprendizagem e da aquisição dos novos conhecimentos são coerentes do ponto de vista da lógica humana e que se podem verificar experimentalmente. Para Piaget o importante é que o desenvolvimento cognitivo começa a ser visível com a construção da novidade. Salienta a interacção entre a pessoa e o mundo que a rodeia . Chomsky, discordando desta ideia, afirma que as teorias da aprendizagem que implicam também a aquisição no sentido restrito da palavra, em que o indivíduo se apropria das novas estruturas mediante a experiências sobre o ambiente contêm uma impossibilidade lógica e um vazio experimental.

 Apesar de todas as diferenças que surgiram entre os estudos feitos por Piaget e por Chomsky, entre eles existe um ponto comum muito importante. A rejeição do ponto de vista behaviorista, segundo o qual a linguagem é um comportamento aprendido como qualquer outro. O maior contributo de Piaget para a psicologia é que a linguagem surgiu como um produto da inteligência ou razão humana e não um comportamento ou hábito. Desta forma, ele apontou para a relação estreita entre a linguagem e o pensamento. Mesmo que não concorde com o inatismo do Chomsky, afirma que para o desenvolvimento e elaboração de todas as línguas deve existir um “núcleo fixo”. Está de acordo com que existem alguns factores inatos, mas que a outra parte das competências é adquirida e deve–se às influências do ambiente externo. À diferença do seu colega, Chomsky fala sobre a capacidade da linguagem como de um órgão mental, mas não como um órgão que se pode extrair do corpo ou delimitar fisicamente. O crescimento deste órgão tem características gerais dos outros órgãos do corpo humano. nesta linha da investigação Piaget chama a atenção para a confusão que o Chomsky faz entre as capacidades gerais e inatas e que o nome geral seria mais apropriado para o que Chomsky chama inato.

            Este linguista não recusa por completo o papel do ambiente, mas afirma que todos os recursos do ambiente não são suficientes, analisados sozinhos, para explicarem a criatividade e espontaneidade da criança na formação da sua linguagem e de seu pensamento ao longo dos primeiros anos da sua vida. No entanto, os dois cientistas rejeitam a ideia dos empiristas de que o homem nasce como uma tabula rasa sem saber absolutamente nada. Para Chomsky uma criança no seu desenvolvimento parte dum estádio inicial  que ele chama S0  e até a altura da puberdade passa por uma série de estádios para se desenvolver linguisticamente, o que é em certa medida semelhante com a visão que Piaget expõe sobre as fases do desenvolvimento previamente citadas.  Nem Piaget nem Chomsky tiveram em consideração um análise profundo da relação entre a linguagem e o pensamento. Para Piaget, a linguagem é uma condição necessária, mas não única e suficiente que ajuda o desenvolvimento das operações lógicas. Na perspectiva chomskyiana não existem as acções específicas que resultam apenas e só do uso das funções linguísticas. Acrescenta, aliás, que a linguagem não é o mesmo que o pensamento embora a linguagem seja um elemento necessário para os indivíduos poderem exprimir o que pensam sobre um determinado assunto. Os dois cientistas recorrem ao uso da biologia para comprovarem as suas teorias importantes tanto para a área de psicologia, como para o domínio da linguística.

Seja como for, após a leitura desta polémica não é fácil decidir nem determinar qual dos dois autores “tinha razão”, porque os dois tinham argumentos fundamentados na ciência e as suas ideias baseiam-se nas investigações que fizeram ao longo do seu trabalho. Há uma base de verdade em tudo aquilo que eles tentaram demostrar, o que serviu como ponto de partida para muitas outras pesquisas e teorias da aprendizagem ou aquisição da linguagem.

Aprendizagem e aquisição da L2 por parte das crianças e dos adultos

 

            Até agora nas páginas deste trabalho concentrámo-nos mais na aquisição da primeira língua por crianças no ambiente natural, isto é dentro da família e demostrámos que  se trata da aquisição em pleno sentido da palavra, dado que a linguagem não é um  comportamento que se aprende de forma condicionada. Agora o que nos interessa mais é vermos como é que de adquire uma língua segunda, tanto por crianças como por adultos. Muitos estudos foram feitos até agora e comprovaram que as crianças cujos pais falam distintas línguas têm a possibilidade de adquirir as duas línguas com grande rapidez e naturalidade, se forem expostas regularmente à audição das duas desde o início da vida. Nelas não existe a tendência de “misturar” ou confundir as línguas , o que nos poderia levar a pensar que existe uma gramática universal inata, como acreditava Chomsky e também que a interacção com o ambiente desempenha um papel extremamente importante no desenvolvimento de cada criança, como observava Piaget. Outro caso que vale pena ser considerado aqui são os filhos dos imigrantes, que, mesmo que não tenham nascido no país de acolhimento, mostram uma grande habilidade de adquirir a nova língua. Trata-se de alguns dos mecanismos que foram usados ao longo do processo da aquisição da língua materna (a imitação, a repetição, a criação espontânea das frases etc.) no caso das crianças no estrangeiro é importante salientar o factor[3] da “imersão linguística”, por causa do qual, a criança aprende mais vocabulário, linguagem coloquial etc., do que aprenderia na sala de aula sem estar no país de acolhimento. Quando em casa fala uma língua e na escola fala outra, uma criança é praticamente obrigada a interagir mais com os falantes nativos e a desenvolver desta forma a sua capacidade linguística. A frase de um autor desconhecido  que encontrámos nas fontes electrónicas, “children learn faster and adults learn better” faz-nos reflectir sobre as diferenças que existem entre o processo da aprendizagem da língua por parte das crianças e dos adultos. É verdade que as crianças aprendem rápido e que depois esquecem dificilmente os conteúdos adquiridos, mas também é verdade que os adultos têm uma outra forma de estudar línguas. Além do factor idade, no processo em que os adultos aprendem, vale a pena mencionar outros factores que podem facilitar ou dificultar o seu estudo de línguas (a motivação, os preconceitos e ideias que um indivíduo tem sobre o valor de uma determinada língua etc. ). Agora vamos analisar um pouco se é ou não é verdadeira a parte da frase de que os adultos aprendem melhor. Se aprendem formalmente uma língua dentro de uma escola ou outra instituição autorizada, estruturas que aprendem com os sistemas de outras línguas que já conhecem. Os adultos estudam mais sistematica e mais organizadamente que as crianças, o que lhes permite observar com mais clareza as leis da lógica que existem e se respeitam numa determinada língua. Uma das desvantagens deste tipo de aprendizagem da L2 é que os adultos quase sempre falam com uma espécie de “sotaque” que os diferencia dos falantes nativos, que as crianças raramente têm. Os adultos também podem adquirir, embora com mais dificuldades, e as crianças também podem aprender línguas na escola, e com muito sucesso, o que demostra que estes processos não são absolutamente polarizados e opostos.

 

Conclusões

 

            Ao longo deste pequeno trabalho tentámos abordar os conceitos da língua e linguagem, da aprendizagem e aquisição tanto da língua materna como da língua estrangeira. Foram observados dois grandes grupos de aprendentes: as crianças e os adultos e foram vistos os mecanismos e formas usadas para o processo do desenvolvimento da linguagem se realizar. A linguagem foi analisada de acordo com várias teorias e vários autores (desde os behavioristas, até aos inatistas e cognitivistas), o que demostra toda a complexidade deste fenómeno tão natural no ser humano, e, depois de um primeiro olhar, tão fácil de definir. Dado que este trabalho é da natureza teórica, as fontes usadas, foram muitos manuais de linguística, tal e como alguns livros de psicologia, o que nos ajudou a abordarmos o assunto desde várias perspecticas e tentarmos explicar quanto melhor possível alguns fenómenos complexos que acontecem na mente e no organismo humanos, tendo em conta também o papel de diversos factores externos que influenciam o desenvolvimento da linguagem e a sua aquisição ou aprend

 

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[1] (ing.) É um comportamento biologicamente incentivado que tem de ocorrer durante um específico período crítico se há-de ocorrer normalmente. (tradução nossa.)

[2]  A linguagem habilita uma pessoa a fazer a reacção  (R )enquanto outra pessoa tem o estímulo (S) N. da. ª

[3] As crianças aprendem mais rapidamente e os adultos aprendem melhor. (N. da A.)