Sentir que o corpo ainda treme de paixão, que você, apesar dos anos, ainda é mulher, parece algo estranho para aquelas que nunca sofreram com o desprezo ou com a falta de autoestima. Ao longo da caminhada, é inevitável que as marcas da existência vão ficando em você. Há os que as valorizam e dizem que te amam e ponto. Há, porém, aqueles que se sentem poderosos em dizer que você mudou, mas não para melhor. Apontam para seu físico, suas rugas, suas cicatrizes, como se fossem feridas abertas e purulentas, fazendo cara de nojo, dizendo palavras duras, cruéis, rindo do que dizem como se fosse a coisa mais engraçada da face da Terra. São os agressores espirituais, os que vieram para infernizar nossa passagem por aqui e fazer com que percamos nosso precioso tempo com lágrimas e sofrimentos.
Precisamos ficar com os amantes da vida. Com aqueles que possuem nas mãos e nas palavras a doçura do mel. Precisamos nos apaixonar por nós mesmas e, só depois, perceber que há alguém apaixonado ao nosso lado. Precisamos aprender a tapar os ouvidos da alma para não ouvir o que nos fere e perturba. Voltar todos os nossos sentidos para o que nos faz bem. Isso não é uma tarefa fácil. Exige exercícios diários de amor próprio, de tolerância ou até mesmo de indiferença.
Valorizar todos aqueles que nos fazem bem é, antes de tudo, separar o joio do trigo. Quem está me fazendo bem? Quem está me prejudicando? Às vezes, estamos tão viciadas em sofrer que nem percebemos que estamos envoltas na dor. Só você é capaz de viver sua vida. Na relação com o outro, há um espaço que existe para diferenciar quem é você e quem é o outro. Este espaço precisa ser respeitado por ambos. De outra maneira, na haverá relação saudável. Alguém estará machucando alguém. E a paixão? Esta está longe de ser sentida e vivenciada.

Autora: Luciane Mari Deschamps